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O SEGUNDO ENCONTRO

No documento GILVANICE DE SOUSA PACHECO (páginas 133-139)

Em princípio, foi distribuída massa de modelar e solicitado ao grupo pesquisador modelar os rins conforme sua imaginação. Em seguida, pedi para cada um falar sobre as funções dos rins e seus sentimentos a respeito da dinâmica.

Um cliente não quis fazer a modelagem, falei que a modelagem era de acordo com a imaginação de cada um, dei-lhe a opção de desenhar, mas não quis, os colegas tentaram estimulá-lo, mas recusou-se, então respeitamos a sua vontade.

Neste segundo encontro, percebi que estavam um pouco introspectivos, mas após o inicio da dinâmica sentiram-se mais à vontade. Um dos clientes estimulou os outros a falar e exporem suas opiniões, pois gostava muito de falar suas experiências e sua opinião.

Percebeu-se que um outro cliente subestimava-se o tempo todo, evitando fazer comentários e a modelagem dos rins, disse que não sabia e que não iria fazer, enquanto isso todos tentavam. Ofereci-lhe uma folha de papel e caneta para desenhar, ele aceitou, mas não desenhou nada, no fundo, no fundo queria mesmo modelar. A sua colega ao lado começou a incentiva-lo, foi então que o resolveu modelar os rins (Figuras 3A, 3B, 3C).

Figura 3B. Prática artística da oficina sociopoética. Figura 3A. Prática artística da oficina sociopoética.

Depois solicitei que todos colassem a modelagem dos rins em uma folha de papel, e finalmente construímos um cartaz caracterizado pela seguinte expressão de uma co- pesquisadora: “Aí está a nossa obra de arte” (Figuras 3D, 3E).

No momento da explicação das funções dos rins, todos só conheciam a função excretora. Um dos clientes, por exemplo, comparou os rins a um filtro de cozinha, destacando as velas como o local onde ficam as impurezas.

Depois de relatarem o seu conhecimento a respeito das funções renais, os clientes também comentaram sobre a dinâmica de modelar.

O rim funciona assim em etapas.Vamos admitir, por exemplo, lá na cozinha tem o filtro a gente tem que de vez em quando, uma vez por semana, assim mais ou menos, a gente tira as velas e lava para filtrar, funcionar direitinho, um tratamento nas velas. Então os rins também para funcionar, filtrar como é necessário é preciso um cuidado, um tratamento.

Os rins, eu acho que são dois e eu vejo na figura, assim o formato mais ou menos, formato de feijão.

A função do rim é filtrar, também ajuda recompor células.

Figuras 3D. Prática artística sociopoética: modelagem dos rins.

Figuras 3E. Prática artística sociopoética: modelagem dos rins.

A modelagem dos meus rins ela mostra apenas um rim onde os pontinhos brancos representam os filtros, os buracos que filtram o sangue e a camada branca em torno do rim é para provar que o rim é totalmente poroso e ele realmente trabalha como uma esponja, ele realmente recebe o sangue e daqui a pouquinho expulsa o sangue filtrado, é uma esponja igual detergente de cozinha, a esponja de cozinha.

O que vocês acharam de modelar os rins? (pesquisadora)

Adorei é uma forma... Não sei se o meu rim é o normal é o convencional, junto ao que foi construído, mas é importante eu descrevê-lo sob o meu prisma de como ele deve funcionar.

Eu achei ótimo, acho que é até um tipo de terapia, ajuda a gente ficar mais leve, foi bom, eu gostei.

Após todos verbalizarem o seu conhecimento sobre as funções dos rins, iniciou-se a explanação sobre noções acerca da anatomofisiologia renal, valorizando e aprofundando a discussão conforme as indagações e inquietudes do grupo pesquisador. Como estratégia para facilitar o entendimento do grupo sobre o processo de filtração dos rins pelos glomérulos criou-se um instrumento formado por um novelo de lã, representando os capilares glomerulares envolto por recipiente plástico, arredondado, que representava a cápsula de Bowman, utilizando linguagem acessível para entendimento do assunto (Figura 4).

Na hora do lanche, sugeriu-se um brinde, e todos gostaram, brindamos a saúde, foram tiradas fotos e todos demonstravam estar gostando de tudo (Figuras 5A, 5B, 5C).

Ressalta-se que uma cliente verbalizou que achou importante a participação da esposa de um dos participantes, e que gostaria que ela continuasse participando dos outros encontros, os demais concordaram. No final perguntei o que acharam do encontro e agendamos o encontro seguinte.

Figuras 5A. Momento de confraternização do grupo pesquisador.

Figuras 5B. Momento de confraternização do grupo pesquisador.

Figuras 5C. Momento de confraternização do grupo pesquisador.

A aula de hoje foi muito esclarecedora, tinha muito mistério sobre os rins, o funcionamento, mas eu acho que esclareceu bem.

Para mim foi um encontro e uma aula, porque eu estou aprendendo. Eu acho que ficou bom, bem esclarecido.

Vamos combinar uma coisa importante, não vamos faltar.

A Co-laboração; União para Libertação e Fase 3 do GP – desenvolvimento dos assuntos do plano de ensino validado pelo grupo pesquisador.

Os indivíduos se unem em co-laboração para desvelarem o mundo, neste caso, o ensino do autocuidado e as noções sobre a anatomofisiologia renal e as mudanças ocasionadas pela DRC. Nesse momento foram discutidos inclusive alguns mitos ou verdades sobre o acometimento da doença renal crônica: ligação desta com a morte, todo cliente com DRC em tratamento conservador é dependente de dieta, medicamentos e exames periódicos; com a evolução do estágio da doença, é acometido por complicações e mais limitações, entre elas o controle da ingesta de líquidos, as quais o fazem enfrentar novamente o sentimento de negação vivenciado no diagnóstico da doença, aumentando o medo de depender da máquina de diálise ou mesmo a ansiedade pelo transplante renal, muitas vezes idealizado erroneamente como forma de cura. Estes fatores dificultam mais a adesão ao tratamento.

Desvelando este mundo do viver deste cliente, lembra-se: “o desvelamento do mundo e de si mesmas, na práxis autêntica possibilita às massas populares a sua adesão” (FREIRE, 2003 p. 173).

Desse modo, atuou-se com os clientes em uma abordagem educativa, propiciando-se dentro do grupo para que houvesse entre as pessoas confiança, dedicação, autenticidade e comunhão, o que foi necessário para a libertação ser transformação. Concordamos, portanto,

com Freire (2003, p.169) que tão bem conceituou: “A comunhão provoca a co-laboração que leva liderança e massas àquela fusão. Fusão que só existe se a ação revolucionária é realmente humana, por isto, sim-pática, amorosa, comunicante, humilde, para ser libertadora”.

No documento GILVANICE DE SOUSA PACHECO (páginas 133-139)