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Capítulo 2. Conteúdos audiovisuais, descrição e partilha

2.2 Arquivos audiovisuais e património audiovisual

2.2.3 A digitalização do património audiovisual

Dado o volume gigantesco de informação produzida, sob diversos formatos e suportes, torna-se necessário selecionar aquela que é considerada útil ou relevante para guardar e preservar. “Do mesmo modo que hoje podemos aceder e consultar um registo significativo da informação produzida pelas gerações que nos antecederam (em particular as dos últimos cinco séculos), é necessário garantir que as gerações futuras irão ter acesso a um registo igualmente significativo e relevante da produção informativa contemporânea” (Ferreira 2006, 11, 12). Desta forma, a preservação digital, que é definida por Ferreira (2006, 12) como a atividade que garante que a “comunicação entre um emissor e um recetor é possível, não só através do espaço, como também através do tempo”, assume uma importância fundamental no contexto social e tecnológico.

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Ao longo da bibliografia consultada são vários os autores que destacam o papel da digitalização como forma de preservação digital, sendo incontornável para manter a capacidade de acesso permanente à informação que se encontra em formatos cada vez mais frágeis, e que só podem ser lidos com equipamentos obsoletos e quase inexistentes. Tendo como base a afirmação de Pinho et al. (2012, 13), a “digitalização dos acervos é a única forma de salvaguarda e preservação a longo prazo do património audiovisual”.

Borbinha et al. (2002) referem que os suportes dos documentos audiovisuais (por exemplo, filmes, cassetes), mesmo nas condições de arquivo ótimas, com níveis adequados de temperatura, humidade e luz, estão sempre sujeitos a um estado natural de degradação contínua com o tempo, a qual pode chegar a um ponto que torne o restauro impraticável, realçando desta forma o potencial que a digitalização pode representar para os meios analógicos tradicionais.

A preservação a longo prazo só pode ser plenamente alcançada no campo digital por alguns motivos principais. Primeiramente, em função da sua codificação binária - na qual a informação está representada sob a forma de números (sempre zero e um) - os arquivos digitais podem ser copiados com precisão. O segundo ponto tem uma relação direta com o primeiro, de facto no campo digital não ocorrem perdas de informação no momento de transição de um sistema para o outro. Comparando com o campo analógico, quando se gera uma cópia de uma fita de uma cassete, por exemplo, por muito bons que sejam a fita, os equipamentos e os acessórios envolvidos no processo, haverá sempre perda de informação, algo que é, na maior parte das vezes, percetível para o ouvinte/ espetador. Finalmente, no campo digital, os dados podem ter a sua integridade verificada e, dentro de certo limite de erros, serem recuperados (Buarque 2008).

Embora a digitalização não seja ainda uma prática comum nos arquivos audiovisuais nacionais, é importante ter a noção de que, nos dias de hoje, o pretendido é que tudo esteja acessível a todos os utilizadores em formato digital. Para que tal aconteça, a digitalização em massa seria o método ideal, mas os arquivos não estão em condições de digitalizar de uma só vez a totalidade do seu fundo documental, uma vez que havendo uma grande quantidade de horas de gravação a tarefa se torna mais dispendiosa. (Goyanes 2005).

Existem organizações especializadas na digitalização de documentos vídeo e áudio, mas, antes de digitalizar, importa investigar se o documento em causa não terá já

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sido digitalizado por alguém e se a instituição verificou a existência de quaisquer restrições de direitos de autor (do inglês copyright). “É frequente estas verificações serem muito difíceis, não permitindo avançar rapidamente, mas elas são absolutamente necessárias. Pode ser útil para as organizações participarem em projectos de digitalização partilhados, para facilitar a divisão dos custos e para garantir que cada documento só é digitalizado uma vez” (Royan e Cremer 2006, 10).

Goyanes (2005) enumera um conjunto de motivações por parte dos arquivos para a prática da digitalização, que passam por uma pesquisa e recuperação da informação mais rápidos, acesso de um maior número de pessoas em simultâneo aos documentos, garantia de que os documentos não sofrem o risco de ser modificados ou excluídos por qualquer utilizador, e possibilidade de disseminação na Internet.

Na linha da última motivação identificada, alguns arquivos de emissoras de televisão começam a disponibilizar na web parte dos seus fundos digitalizados, proporcionando aos telespetadores a possibilidade de visualizar e aceder aos conteúdos mais antigos. Uma vez mais são tidos como referências para este projeto, a BBC e a RTP. Estas emissoras de televisão não só estão presentes no Youtube, como também em portais criados exclusivamente para a disseminação dos seus conteúdos. A cadeia de televisão BBC permite o acesso público e gratuito aos seus arquivos entretanto digitalizados,

através do portal “BBC Archives”20 para uso não comercial (Pinto 2013). Tal como é

informado na página, de momento o portal encontra-se arquivado e deixou de ser atualizado, no entanto, os conteúdos continuam acessíveis aos utilizadores devido ao seu valor histórico. Também a RTP é detentora de um portal de acesso público online, “RTP

Arquivos”21, onde dispõe os seus arquivos audiovisuais do serviço público de rádio e

televisão. O portal encontra-se em “permanente atualização num trabalho continuado, destinado a disponibilizar progressivamente conteúdos desde a década de 30 do século passado até à atualidade, devidamente catalogados e contextualizados de modo a assegurar uma pesquisa fácil e eficaz” (RTP Arquivos 2017).

Nos portais disponíveis na web, para além de conteúdos digitalizados, podem também ser encontrados conteúdos produzidos originalmente em formato digital. Algumas organizações, para além da tarefa de digitalizar os seus conteúdos que se

20 Disponível em: http://www.bbc.co.uk/archive/ 21 Disponível em: https://arquivos.rtp.pt/

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encontram em formato analógico, deparam-se com uma segunda tarefa, que é adotar o formato digital na produção. As tecnologias da Web Semântica desempenham um importante papel no que concerne à recuperação e à descrição dos conteúdos (digitalizados e produzidos em formato nativo digital) na web.