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2.2 Dimensões da competência

2.2.4 A dimensão política

Segundo Japiassú e Marcondes (2006), o termo política designa as condições sob as quais o homem pode atingir o bem-estar na sociedade, em sua existência coletiva.

A atividade política pode ser, se assim quisermos, uma espécie de atividade social transformadora, ou ainda, de um instrumento para a vida em sociedade. Cabe, portanto, à política – no seu sentido básico – privilegiar o estudo e a transformação das condições objetivas na sociedade que permitam renová-la estruturalmente, com novas relações sociais e políticas, de modo a garantir a plenitude da vida individual (MAAR, 2006).

Para Marchionni (2008), Aristóteles já esclarecia a função do político: fazer os cidadãos tornarem-se justos e adquirirem o hábito de fazer o bem, para serem felizes. Mas, Maar (2006, p. 18) questiona: “como casar a necessidade de canalizar esforços em conjunto com a diversidade das possibilidades individuais?”.

Numa visão macro, as chances de desenvolvimento dos profissionais se correlacionam mais com a qualidade política das pessoas do que com as condições econômicas (DEMO, 2001). Por outro lado, como já afirmava Rosenfield (1990, p. 136):

O homem é, portanto, definido de acordo com as normas vigentes e com os critérios delas resultantes, o que quer dizer que enquanto estas normas derem legitimidade a tal modo de relacionamento humano o homem permanecerá adscrito às condições particulares de sua enunciação. Será somente a partir do momento em que estas normas forem questionadas, pondo em questão a própria legitimidade dos seus valores [...] morais, que se criarão condições para o estabelecimento de outras maneiras de organizar as relações sociopolíticas.

A política é assim, no entender de Arendt (2009, p. 45), como uma necessidade imperiosa para a vida humana e, na verdade, tanto para a vida do indivíduo como da sociedade. Mas, segundo a referida autora, a mais importante dessas ideias é a de liberdade, pois essa concepção é comum a todos os movimentos políticos e ideológicos mundo afora.

Tanto é importante que os governos de diversos países têm empreendido esforços no sentido de incentivar programas voltados à competência em informação de seus cidadãos, visando à participação destes nas decisões e nas transformações referentes à vida social, ou seja, ao exercício de sua cidadania e da liberdade de expressão. Em declaração firmada e divulgada pela Casa Branca dos Estados Unidos da América (EUA), o ex-presidente Barack Obama (2009, tradução nossa) proclamou:

Todos os dias, somos inundados com grandes quantidades de informação. Um ciclo de notícias 24 horas e milhares de emissoras de televisão e de rádio, juntamente com uma imensa variedade de recursos on-line, desafiam nossas percepções sobre a informação. Ao contrário do que a simples posse de dados, devemos também aprender as habilidades necessárias para adquirir, utilizar e avaliar informações para qualquer situação. Este novo tipo de alfabetização exige também habilidades para lidar com a comunicação e com as tecnologias, incluindo o uso de computadores e de dispositivos móveis que podem ajudar na nossa tomada de decisões no dia a dia. Destacamos a necessidade, nesta Declaração, que todos os americanos devem ser competentes em informação [...] Uma cidadania informada e educada é essencial para o funcionamento da nossa sociedade moderna e democrática, e eu encorajo instituições de ensino e comunidades em todo o país para ajudar os americanos a encontrar e avaliar as informações que procuram, em todas as suas formas.

Uma cidadania ativa e responsável requer que as pessoas estejam aptas e motivadas para exercer seus direitos e deveres em relação à comunidade e ao Estado, participando assim da vida pública. A cidadania, como atividade que visa um bem comum, articula-se diretamente com o conceito de política. Quando se fala em “homem político”, temos em mente o sentido da dimensão da competência em administrar o seu próprio trajeto histórico, mudando a natureza e as relações sociais. É inclusive aquele que tem consciência histórica: sabe dos problemas e busca soluções, não aceita ser objeto, quer comandar o seu próprio destino. Ator, não espectador. Criativo, não produto. Homem político é aquele politicamente competente, ou seja, não se ilude sobre as suas limitações e exatamente por causa disso consegue enfrentá-las (DEMO, 1988, p. 17-18).

Se a cidadania é caracterizada pela capacidade dos indivíduos de fazerem escolhas, de tomarem decisões baseadas em informações e de serem ativos, individualmente e como parte de processos coletivos, para exercer efetivamente seu papel de cidadãos e serem civicamente engajados por meio do exercício da responsabilidade moral, eles precisam adquirir habilidades participativas e serem competentes informacionais, ao menos em um nível básico (CORREIA, 2002).

Harris (2008) afirma que o processo de criação, localização, avaliação e uso da informação nos mais variados suportes e formatos não acontece no vácuo, longe dos contextos da comunidade, em que significados e valores estão em jogo. Porque a produção, a disseminação e o uso da informação estão intimamente ligados ao envolvimento de indivíduos em uma comunidade, esses processos assumem invariavelmente um caráter sociopolítico. Esse modo de entender a política como uma experiência que se reflete nas pessoas, harmonizando-a com o coletivo, faz da política uma ética, um referencial para o comportamento informacional individual diante do coletivo social e da multiplicidade da polis (MAAR, 2006). Sendo ética, a atividade política tem uma função pedagógica, a de transformação dos homens em cidadãos.

Levando-se em consideração o que se disse nesse último parágrafo e, articulando as questões aqui enunciadas com o item seguinte, procuraremos apresentar alguns aspectos históricos e de abrangência do termo para possibilitar a compreensão contextualizada da competência.