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A Disseminação da Carne Suína no Rio Grande do Sul

3 A PARTICIPAÇÃO DA SOJA, MILHO E CARNE SUÍNA NAS EXPORTAÇÕES DO RIO GRANDE DO SUL

3.4 A Disseminação da Carne Suína no Rio Grande do Sul

Em meados de 1900 o Rio Grande do Sul detinha grande potencial produtivo de abate de animais, porém inicialmente voltados à produção de gordura animal para abastecimento do mercado interno e externo gaucho. Após a ampliação da produção do óleo vegetal a produção do gaucha voltou-se à comercialização de carne, tanto suína quanto bovina. Porém somente a partir dos anos 1970 que a carne suína gaucha passou a ter importância no comércio exterior.

O aumento na qualidade e quantidade produzida foram alguns dos principais fatores que desencadearam as exportações. Já na década subsequente (1980) o setor passou por um momento de estagnação que desacelerou o mercado gaucho em função do momento de grande instabilidade econômica pelo qual passava o país.

Após o final deste período de incerteza, pelo qual passou o produto, a produção retomou seu crescimento e a busca por um cenário mais favorável para este tipo de mercado. Em 1994 (ano de implantação do plano real) após muitos investimentos por parte dos produtores, visando principalmente a qualidade e o ganho em escala, a carne suína passou a “abrir” novos mercados internacionais, este período pode ser considerado como grande marco da consolidação a atividade no Rio Grande do Sul.

A partir daí se intensificou, visto que o inicio desta modalidade de produção foi na década de 1960 o processo de produção integrada dos suínos no estado. A produção integrada consiste em um acordo na maioria das vezes firmado via contrato a transferência de tecnologia, elementos básicos para subsistência animal (ração, farelo), medicamentos, por parte das agroindústrias, empresas que abatem ou revendem os animais, com os produtores, que entram com a estrutura física e mão de obra a fim de viabilizar a operação.

A característica fundiária do estado permitiu a difusão da cultura de produção integrada no RS. Visto que as agroindústrias ou empresas emitentes destes contratos firmavam estes compromissos com diversos produtores, muitas vezes por medo de um eventual desabastecimento causado por alguma falha no sistema produtivo, por este motivo a tecnologia distribuída e cobrada pelas empresas teve uma penetração muito grande vista à alta quantia de produtores existentes principalmente em pequenos municípios, assim sendo a produção de suínos gaucha foi muito beneficiada em um curto espaço de tempo e fazendo

com que a grande maioria dos produtores optantes pela produção integrada tivesse produção com alto padrão tecnológico e de ótima qualidade. Desta forma, se pode admitir dois momentos cruciais para a evolução da suinocultura gaucha. A década de 1960, por marcar o início do processo de produção integrada de suínos e o ano de 1994 que marca a estabilização do mercado o aumento da tecnologia implantada na produção e finalmente a abertura efetiva do comércio exterior.

A implantação do modo de produção integrado dentro da suinocultura teve uma contribuição fundamental para a expansão do mercado. Tanto o Rio Grande do Sul quanto Santa Catarina possuem um modo produtivo muito parecido, o qual através das injeções de capital/tecnologia das agroindústrias, mais precisamente empresas que no período de 1995 á 2010 dominaram este mercado (Perdigão e Sadia), fizeram com que os valores das exportações tivessem um incremento significativamente positivo.

Na tabela 8 observa-se a evolução dos números das exportações da carne suína no Rio Grande do Sul no período de 1995 – 2010.

Tabela 10 - Exportação de Carne Suína Congelada entre 1995 e 2010 (em milhões US$)

Ano Exportação carne suína (A)

Total Exportação RS (B) A/B (%) 1995 ND 5.181 ND 1996 ND 5.663 ND 1997 29,2 6.271 0,47 1998 41,5 5.628 0,74 1999 37,9 4.998 0,76 2000 47,0 5.779 0,81 2001 59,2 6.345 0,93 2002 62,0 6.375 0,97 2003 95,7 8.013 1,19 2004 171,4 9.878 1,74 2005 234,6 10.453 2,24 2006 454,5 11.774 3,86 2007 529,3 15.017 3,52 2008 572,0 18.460 3,10 2009 403,0 15.236 2,65 2010 459,0 15.382 2,98

ND= Dados não disponíveis ou não encontrados Fonte: MDIC (s.d., s.p.).

Nota-se que as exportações gaúchas de carne suína apresentam valores de incremento durante a maior parte do período. Quanto ao maior volume de carne exportada este se deu no ano de 2007 com mais de 205 mil toneladas do produto. Já o maior impacto monetário ocorreu em 2010 onde as exportações alcançam US$ 459 milhões de dólares. Quanto a maior participação/representatividade em relação exportação da carne suína versus exportações totais do RS, a maior representatividade se dá em 2006, ano em que o RS teve uma variação positiva em suas exportações se comparado a 2005 e ainda os suínos alcançar 3,86% do total dos 100 produtos mais exportados pelo estado.

Registra-se também a evolução na produção bruta exportada que apresentou incremento nas exportações de 1995 até 2007. Ano em que foi registro o maior volume exportado pelo estado durante todo o período da análise, alcançando 205 mil toneladas do produto.

As sanções sanitárias tem se mostrado um dos grandes problemas a exportação da carne suína do estado. Países principalmente do leste europeu, Rússia, Ucrânia são alguns dos principais mercados para o produto, porém por diversas vezes as exportações foram paradas para estes países em função de suspeitas de contaminação da carne gaucha, o mercado chinês nos últimos anos também tem se mostrado bastante atrativo ao exportador gaúcho, grandes carregamentos partiram em direção ao oriente.

Neste momento de abertura de mercado da carne suína novos compradores passaram a adquirir a carne suína gaucha. A argentina é um dos destinos da carne produzida no estado, após as sanções impostas pelos países do leste europeu o vizinho gaúcho passou a importar a carne.

Em 2010 os acordos firmados com Rússia e Argentina garantiam um bom número à exportação gaúcha. Neste ano, a Rússia importou aproximadamente 12 mil toneladas/mês do Brasil, onde aproximadamente metade deste valor é proveniente do RS, em função dos frigoríficos do estado atenderem as predefinições russas. Já Argentina, por meio deste acordo, comprometeu-se a importar cerca de 3 mil toneladas por mês do país, também praticamente com o mesmo percentual que a Rússia sendo oriunda dos frigoríficos gaúchos, muito também em função da logística de transporte do produto.

A evolução do preço do suíno dentro do período em estudo não sofreu grande valorização no período. Até 2007 o valor do KG pago ao produtor, segundo dados do site Agrolink (s.d.), não ultrapassou a barreira do 1,00 R$/KG, somente em 2008 o valor da carne chegou a R$ 2,41, maior valor registrado dentro do período em questão.

Tabela 11 - Valor do Quilo da Carne Suína e a Variação do Dólar (1995-2010)

Ano R$ por US$ R$ por Quilo

1995 0,91 0,84 1996 1,00 0,74 1997 1,07 0,87 1998 1,16 0,74 1999 1,84 0,55 2000 1,82 0,59 2001 2,34 0,52 2002 2,92 0,42 2003 3,07 0,52 2004 2,92 0,74 2005 2,43 0,93 2006 2,17 0,79 2007 1,94 0,94 2008 1,83 2,41 2009 1,99 1,80 2010 1,75 2,14 Fonte: Agrolink (s.d,. s.p.).

O valor mais baixo registrado no período em estudo pode ser visualizado em 2002 quando chegou a R$ 0,42/quilo. A média de preços registrada no intervalo de tempo da pesquisa ficou em R$ 0,97/quilo.

Os melhores números apresentados da exportação suína gaúcha foram registradas entre 2006 e 2008. Em 2007 foi registrado o maior volume exportado, e o preço ao produtor ficou muito próximo da média do período R$ 0,94/quilo.

Sem sobra de dúvida por se tratar de um produto exportado pelo Brasil e RS, a carne suína sofre pressão da variação cambial, fazendo com que o valor de comercialização pago ao produto oscile.

O cenário por diversas vezes não foi nada favorável ao produtor. Em diversos momentos em função do baixo preço praticado, o produtor foi obrigado a diminuir seu custo e a forma mais utilizada foi a eliminação das matrizes produtoras o que fatalmente atingia os

volumes produzidos, fazendo com que em diversos casos produtores abandonassem a suinocultura e buscassem outra atividade de maior rentabilidade.

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