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Capitulo IV: Os “gringos” descobrem Natal: a massificação do turismo na cidade

3. A divulgação de Natal como cidade turística

Itamar de Souza (1999:330) considera que o turismo do Rio Grande do Norte “entrou firme na fase internacional” com o segundo governo de José Agripino Maia46, através de “um

trabalho de divulgação” do destino Natal no estrangeiro, com o qual conseguiu captar, sobretudo, turistas da Itália e da América do Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai).

Nesta fase estabeleceu-se a rota Milão-Roma-Natal. “Empresários e agentes de viagens do Rio grande do Norte estiveram presentes em quatro feiras internacionais de turismo na Europa e Argentina. Além disso, de 1991 a 93, foram realizadas oito campanhas publicitárias na Argentina e na Itália. Em Natal, no mesmo período, foram realizados também 14 workshops e fanturs, com o objetivo de divulgar o nosso Pólo turístico” (O POTI – 13 de Março de 1994 in Itamar de Souza, 1999: 330).

A divulgação de Natal como cidade turística a partir de 1990, foi resultado do esforço conjunto de operadores turísticos, hoteleiros, agentes de viagem e outros operadores do setor, feita normalmente através da participação em feiras internacionais, workshops e campanhas publicitárias internacionais:

Com a implantação de grandes hotéis na via costeira, nos períodos de baixa estação era necessário vender a cidade de maneira mais intensa, e a partir dos anos 90 a competitividade dos destinos turísticos do nordeste levou a se trabalhar as grandes operadoras como CVC oferecendo pacotes com preços atrativos para a classe média do sul e sudeste do Brasil, levando a um processo de massificação do destino até os dias atuais. Soares Júnior, GA5). Essas ações contribuíram para que em 1994 Natal recebesse mais de 900 voos internacionais, incrementando o fluxo de turistas estrangeiros, assim como a captação de investimentos turísticos na capital Potiguar, por países da América do Sul e da Europa (Furtado, 2007 in Santos 2010). Segundo Ana Carolina (GA,11), “o que foi mais divulgado a vida toda foi as dunas de Genipabu, foi o que mostrou Natal em novelas, programas de TV; foi realmente um cartão postal”.

Segundo Ana Carolina (GA,11) a massificação do turismo em Natal deve-se à qualidade da rede hoteleira. A agente de viagens refere: “os bons hotéis que temos atraem

90 muitos turistas, houve um aumento do número de hotéis; o nosso aeroporto47 teve um

aumento mas é deficiente, eu acredito. As nossas rodovias são péssimas”.

No que se refere aos investimentos em divulgação do destino, a maioria dos entrevistados considera que a aposta nesta área tem de ser maior e de forma contínua; falta um planeamento de marketing turístico. Nos últimos anos tem-se notado um decréscimo ao nível da procura, ocasionado pela diminuição de charters com destino a Natal, mas também por falta de uma maior divulgação, “pelo número de leitos, pela capacidade de receber. Natal investe muito pouco em divulgação; nós divulgamos muito menos do que outras cidades bem menores em leitos” (Neivaldo, GA 13).

As opiniões acerca do investimento em promoção e divulgação do destino são díspares, se uns consideram que tem sido feito um bom trabalho nesta área outros pensam precisamente o contrário. Agrupamos as pessoas em dois grupos: o primeiro constituído por profissionais do setor privado e o segundo por profissionais do setor público. Todos eles exercem funções diretamente ligadas à atividade turística na região. As opiniões divergem conforme o grupo de pertença de cada entrevistado. Segue-se o testemunho de um membro do primeiro grupo:

Os investimentos são poucos e são essencialmente voltados para o público do sul do país. O público internacional precisa ser mais divulgado, já foi mais. Já tivemos mais turistas. Essa divulgação tem de ser contínua para que possamos captar cada vez mais turistas estrangeiros. A diminuição da procura deve-se à menor captação de turistas. Eu acho que tem de se fazer um trabalho contínuo, eu acho que tem de ver com a falta de divulgação, não foi chuva, não foi dengue, não foi o dólar. Recife está lotado, Fortaleza está lotado. Eu acho que a captação de eventos e a divulgação do destino no exterior, que caiu. O governo não deu tanta prioridade e consequentemente baixou a procura turística (Ana Carolina, GA 11).

Observamos que, regra geral, os depoimentos do primeiro grupo manifestam um descontentamento perante a forma como o destino é divulgado, cobram essencialmente uma aposta mais forte e continuada no setor, apesar disso reconhecem o esforço do governo:

Eu acredito que hoje há uma aposta maior na divulgação do turismo nacional. O governo participa muito das feiras internacionais, mas só as feiras não bastam, nem toda a feira se

47 O novo aeroporto chama-se Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves. Localiza-se na Região Metropolitana de Natal, no

91 fecha negócios, deverá ter uma ação contínua permanente, não só nacional mas também internacional (Cristina Lira, GA 10).

Os membros do segundo grupo, por norma consideram que o trabalho desenvolvido nessa área tem sido positivo. Em 2008, o Secretário de Turismo Estadual afirmava:

O governo do estado, inclusive falando particularmente do governo do estado, o ano passado a governadora Wilma, ainda em novembro destinou para esse ano, 2009, dez milhões de reais em divulgação. O objetivo vai ser mercado nacional e o turismo de eventos, são os dois mercados, focado naquele que são os principais compradores nossos que é o Sudeste: São Paulo, Rio, Minas. O turismo regional terá um trabalho muito forte. A gente sabe da importância que terá. Nós vamos buscar o turismo da Paraíba e de Pernambuco que pode ser facilmente integrado com o Rio Grande do Norte. O foco maior será o mercado nacional sem esquecer o mercado internacional, nos mercados também que já são nossos conhecidos e que nós já trabalhamos: mercado português, mercado espanhol, mercado italiano. Estamos trabalhando o mercado francês. É uma perspetiva que nós temos. O mercado argentino que retomou também está vindo novamente e o mercado da Escandinávia. O escandinavo gosta realmente do estado Rio Grande do Norte e a gente está trabalhando esse mercado. Esse seria o foco internacional. (Fernando Fernandes, GA 12).

Quando realizamos as entrevistas tínhamos a perfeita noção da diminuição da demanda turística face ao turismo externo, sabíamos que o turismo doméstico continuava em crescimento e que na sua totalidade o número total de turistas continuava a crescer, embora de uma forma mais lenta. Uma espécie de provocação amigável obrigando os inquiridos a responderem com base nos números reais. Os inquiridos ficavam a saber que tínhamos na nossa posse dados da INFRAERO que não podiam ser desmentidos, embora não lhos mostrássemos pois queríamos perceber qual o verdadeiro entendimento acerca destes números e qual a reação de cada um deles. O conhecimento ou desconhecimento destes números, as justificações que poderiam dar, acabavam por revelar a perceção que cada entrevistado tinha acerca do assunto. Fomos deliberadamente ardilosos na elaboração da questão, senão analisemos a pergunta número 11: Segundo dados da INFRAERO a procura de Natal como destino turístico tem vindo a diminuir nos últimos anos, quais são os fatores que na sua opinião têm contribuído para este facto?

Os membros do primeiro grupo confirmam de imediato a diminuição da procura dos gringos pelo destino Natal e atribuem culpas à falta de investimentos em marketing na

92 atividade por parte dos órgãos públicos; já os do segundo grupo tendem a relativizar a diminuição do turismo externo, sobrevalorizam o turismo interno e reforçam que apesar de tudo o turismo se encontra em crescimento.

Elaboramos dois gráficos com base nos dados estatísticos48 da INFRAERO, de

salientar que os números apresentados referem-se ao somatório número de passageiros de embarques, desembarques e conexão no Aeroporto Augusto Severo em Natal. Os números apresentados referem-se ao ano de 2005 e 2008. Escolhemos o ano de 2008 por se referir ao ano em que se realizou grande parte desta investigação. A maioria das entrevistas decorreu no início de 2009, pelo que a escolha nos pareceu óbvia. Tratar os dados anuais mais recentes (2008) face a um ano anterior, com um intervalo de anos mínimo.

Gráfico 1 – Movimento passageiros Aeroporto Augusto Severo em 2005

Fonte: Elaboração própria baseado nas estatísticas da INFRAERO

O gráfico 1 apresenta um movimento anual de passageiros no Aeroporto Augusto Severo, em 2005 de 8.440.836 milhões. Destes 6.877.991 milhões provinham de voos domésticos e 1.562.845 milhões de voos internacionais.

48 Os gráficos foram elaborados tendo por base os números da INFRAERO. O número de passageiros refere-se ao somatório de embarques,

desembarques e conexão no Aeroporto Augusto Severo em Natal. Sendo que nos dados se encontram também as conexões podemos deduzir que alguns destes passageiros não têm Natal como destino ou origem, fazendo ali apenas escala.

0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 JAN EIR O FE VE RE IRO MAR ÇO AB RIL MAIO JU N H O JUL H O AG OST O SE TE M BRO OU TU BRO N OVE MB RO DEZ EMB R O DOMÉSTICOS INTERNACIONAIS

93

Gráfico 2 – Movimento passageiros Aeroporto Augusto Severo 2008

Fonte: Elaboração própria baseado nas estatísticas da INFRAERO

No gráfico 2, pode verificar-se um movimento anual de passageiros no Aeroporto de Natal em 2008 de 11.003.969 milhões. Destes 9.812.060 milhões derivavam de voos domésticos e apenas 1.191.909 de voos internacionais.

Gráfico 3 – Movimento passageiros Aeroporto Augusto Severo 2005/2008

Fonte: Elaboração própria baseado nas estatísticas da INFRAERO 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 1.400.000 1.600.000 JAN EIR O FE VE RE IRO MAR ÇO AB RI L MA IO JU N H O JU LH O AG OST O SE TE M BRO OU TU BRO N OVE MB RO DEZ EMB R O DOMÉSTICOS INTERNACIONAIS 0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 12.000.000

DOMÉSTICOS INTERNACIONAIS TOTAL PASSAGEIROS

2005 2008

94 O gráfico 3 permite comparar o movimento anual de passageiros no Aeroporto de Natal do ano de 2005, relativamente ao ano de 2008; provenientes de voos domésticos e internacionais. Concluímos que o crescimento total de passageiros de 2005 para 2008 se deve ao aumento da procura de passageiros provenientes de voos domésticos. Todavia nota-se um decréscimo relativamente aos passageiros de origem internacional. Tais resultados podem querer significar um decréscimo por parte do turismo externo e um aumento significativo do turismo interno.

Os dados da INFRAERO contabilizam, como já referimos dados de passageiros em conexão, cujos passageiros podem estar apenas de passagem e cujo destino poderá não ser o Rio Grande do Norte. De seguida, apresentamos números da SETUR, acerca do fluxo turístico para Natal e para o Rio Grande do Norte desde 2003 a 2008, estes dados permitem uma comparação com os dados da INFRAERO e uma análise acerca da tendência da demanda turística de 2003 a 2012.

Gráfico 4 – Fluxo turístico Natal de 2003 a 2012

Fonte:Elaboração própria baseado nas estatísticas da SETUR 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 1.400.000 1.600.000 1.800.000 BRASILEIROS ESTRANGEIROS

95

Gráfico 5 – Fluxo Turístico Rio Grande do Norte de 2003 a 2012

Fonte: Elaboração própria baseado nas estatísticas da SETUR

Da análise comparativa Infraero/SETUR para os anos de 2005 e 2008 observamos uma disparidade enorme entre os números da Infraero e os números da SETUR. A Infraero apresenta números muito superiores aos da SETUR. Isto deve-se, como já foi referido, à contabilização dos passageiros em conexão e o somatório de embarques e desembarques (O mesmo passageiro acaba por ser contabilizado duas vezes). Apesar disso, a tendência é a mesma em ambas as fontes; registando-se uma tendência de crescimento do fluxo turístico de 2005 para 2008, embora este se deva apenas ao turismo interno, já que se verifica uma descida da demanda turística internacional.

Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, é efetivamente o destino do Rio Grande do Norte, que recebe mais turistas, se assim não fosse a diferença entre ambos teria de ser muito mais elevada.

Observando os dados da SETUR, que apresenta o fluxo turístico desde 2003 até 2012, quer para Natal, quer para o Rio Grande do Norte, concluímos que o crescimento efetivo da demanda turística se deve ao crescimento do turismo interno.

O turismo externo teve um aumento significativo até 2005; ano em que se verifica o maior fluxo turístico de estrangeiros na região, tanto para Natal (269.664), como para o Rio Grande do Norte (344.183) em geral. A diminuição da procura turística verifica-se a partir do ano de 2006, vindo a decrescer gradualmente até 2012. Exceção para o ano de 2011,

0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 3.000.000 BRASILEIROS ESTRANGEIROS

96 relativamente ao ano anterior, mas com valores muito pouco significativos. Sofrendo um ligeiro aumento de turistas em Natal de 120.591 para 122.264 e no Rio Grande do Norte de 168.276 para 168.741.

De salientar também que o fluxo turístico externo em 2003 era maior que em 2012. Em 2003 registaram-se em Natal 168.855 turistas estrangeiros e em 2003 apenas110.912; no Rio Grande do Norte registaram-se 205.793 no ano de 2003 contra 168.622 em 2008. De fato o ano de 2012 é o que apresenta o fluxo turístico externo mais baixo de todo o período. Podemos afirmar que o ano de 2005 foi o que recebeu mais turistas estrangeiros e o de 2012 o que recebeu menos turistas estrangeiros.

Relativamente à demanda turística total (considerando o somatório do turismo interno e externo) verifica-se um crescimento do fluxo turístico relativo ao período de 2003 a 2012; exceção para o ano de 2007 que sofreu uma ligeira diminuição comparativamente ao ano de 2006: a diminuição do turismo externo em 2007 foi superior à subida do turismo interno no mesmo ano, traduzindo-se numa descida efetiva do fluxo turístico total no ano de 2007. Este resultado deve-se à descida do turismo externo que já vinha a decair desde 2006. Por outro lado, o crescimento do turismo interno de 2006 para 2007 foi quase insignificante, não conseguindo colmatar a descida do turismo externo, como aconteceu no ano de 2006.

Gráfio 6 – Fluxo turístico total 2003 a 2012 (Natal e Rio Grande do Norte)

Fonte: Elaboração própria baseado nas estatísticas da SETUR 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 3.000.000 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 NAT= Interno+Externo RN = Interno+Externo

97 Carmen Vera destaca o papel das políticas públicas da Comissão de Turismo Integrado do Nordeste e da EMPROTUR:

Outra coisa que impulsionou o turismo foi o CTI Nordeste, Comissão de Turismo Integrado do Nordeste que existe como Nordeste, que é formada por todos os secretários do nordeste, então essa união fez com que eles começassem a fazer trabalhos de divulgação do Nordeste. No Brasil principalmente, em São Paulo, foi feito um trabalho de divulgação muito importante. A CTI também deu um grande impulso ao desenvolvimento do turismo, Natal claro, no meio. Com Natal participando ativamente de todas as ações da CTI Nordeste. Com o Governo de Lula, em 2003, foi criado o Ministério do Turismo, antes era Ministério do Turismo e Esportes. Só Turismo [Ministério de Turismo] foi em 2003. É uma aposta maior, né? Foi criado o Programa de Regionalização do Turismo, então em vez de você pensar em trabalhar o município isoladamente, você tem um enfoque, agora, na região. Então para isso a gente [SETUR], o Estado do Rio Grande do Norte dividiu o estado em cinco pólos, cinco regiões denominadas pólos: pólo Costa das Dunas, que é onde Natal está inserido, pólo Costa Branca, pólo Seridó, pólo Serrano e pólo Agreste/Trairí. A gente sai mostrando novos produtos, a gente pretende mostrar não só Natal, mas toda a região do Rio Grande do Norte, quando a gente sai vai divulgar não só de Natal, mas de todo o estado, divulgando vários produtos, não apenas sol e mar [...] Há um grande investimento em divulgação, a importância é tão grande, tanto que foi criada novamente a Empratur. A gente [SETUR] ficou com o planejamento; a parte PRODETUR planejamento e toda a parte de divulgação e promoção ficaram com a EMPROTUR. Ultimamente houve uma queda no internacional, 90% dos nossos turistas são nacionais. Quem salvou a gente foi o nacional. Penso que a EMPROTUR tem feito um bom trabalho de divulgação, participação em feiras, eventos, participação, divulgação. E a nível internacional tem também feito um bom trabalho, tentando atingir novos mercados. (GA,9).

Regra geral, as pessoas que compõem o segundo grupo tentam esquivar-se a esta questão, confrontados com a realidade dos números das chegadas dos voos internacionais a Natal aventam algumas explicações:

Como eu não trabalho nessa área do internacional fica difícil responder. Talvez a competitividade, não sei. Eu penso que teria de haver um estudo sobre o que aconteceu, eu não sei. Será que a gente não deixou de apresentar novos produtos? Preparar melhor a cidade? Ou divulgar mais? Porque eu acho assim, Pernambuco aumentou o turismo internacional. Porque é que Pernambuco aumentou e a gente não? Tudo bem, que lá eles não têm quase turismo internacional, então mesmo aumentando eu acho que eles ainda não chegaram no número da

98 gente. Mas eu acho que eles tiveram uma política mais agressiva, eu acho que a gente tem de ter uma política mais agressiva, essa é a minha opinião. Eu não trabalho nessa área. Uma política mais agressiva. Apresentar mais oportunidades, mais vantagens, mais destinos, mais produtos. Eu acho que chegou uma época de acomodação. Está vindo muito turista, vamo-nos acomodar. Está muito bem, maravilhoso. Um deslumbramento. A praia, Ponta Negra que é o auge, ficou mal cuidada, a prostituição49. Não é só por isso, mas tudo isso. Vinha muita família que chegava, vinha, via aquilo ali. O pessoal não fala isso mas eu...é uma opinião minha, eu acho que a cidade foi deixada um pouco de lado. Chegamos ao boom e o pessoal se acomodou. Você tem de ter novidades para o turista, não pode ficar pela mesmice, não teve novidade (Cármen Vera, GA 9).

Quando tentamos pressionar, perceber de quem é a culpa deste “comodismo”, obtemos a seguinte resposta:

A culpa é de todos. Você não pode culpar só o governo, o governo não faz as coisas sozinho. A iniciativa privada está recebendo o seu dinheirinho. Aí só reclama, só reclama quando tá ruim. Na hora que está bom, está bom daquele jeito, não se preocupa em mudar, qualificar. Então aconteceu isso, infelizmente, que é o que acontece com muitos lugares pelo mundo (Carmen Vera, GA 9)

De uma forma geral culpabiliza-se a crise financeira para a diminuição dos voos internacionais com destino a Natal, mas aventam-se outras justificações:

Um dos problemas que afeta a vinda dos turistas, que é de ordem mundial, é o turismo sexual, muitas pessoas culpam o governo mas não é só isso. É uma crise social, o mundo inteiro tem prostituição, é uma coisa que preocupa. Então para determinados lugares com pólo turístico, tem de haver um programa social das secretarias de ação social para ajudar aquelas famílias, para evitar esse tipo de coisas. O turismo sexual, de repente, prejudica a vinda de turistas. No turismo, você deve investir no turismo familiar (o pai, a mãe, o filho, amigos) e não aquele turismo que vem o homem sozinho. Deve ter o cuidado de vender o pacote, hotel e passagem já fechado, que aí já não tem perigo (Cristina Lira, GA 10).

49 Há efetivamente um nicho de mercado que viaja a Natal por motivações sexuais, colocando Natal na rota do turismo sexual. Ribeiro e

Sacramento, dois investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro desenvolveram investigação nessa área resultando disso alguns documentos escritos e uma preocupação do governo em implementar campanhas desencorajando o turismo sexual em Natal: RIBEIRO, Fernando Bessa e Octávio Sacramento (2006). “A ilusão da conquista: sexo, amor e interesse entre gringos e garotas em Natal”, Cronos, vol. 7 (1), 161-172.

RIBEIRO, Fernando Bessa e Octávio Sacramento (2009), “Imagens, erotismo e culturas ‘on the road’: perspetivas sobre o Brasil como destino turístico”, Configurações, nº 5/6, 241-255.

99 De uma forma geral os entrevistados do segundo grupo tentam negar a diminuição do turismo internacional:

Eu vi no jornal um absurdo, um jornalista dizendo que não está havendo turista estrangeiro na praia. É porque depende da praia. O turista estrangeiro, se não está na Redinha, não está em Pitangui, em algumas praias ele está: em Ponta Negra, em Búzios, em Pipa. O turista estrangeiro está nesses lugares, porque ele é um turista que tem mais experiência em viagens, então antes de vir para o lugar, ele pesquisa, se informa com pessoas que já visitaram o destino, então ele vem para cá com dica de restaurantes. Então, por exemplo, tem um restaurante de que eu gosto muito que é o Pacífico, na praia da Pipa. Então inúmeras vezes que eu vou ao Pacifico, eu sou o único brasileiro que estou lá. Nas mesas do lado todos são estrangeiros: ingleses, alemães. São turistas até que fogem às nossas estatísticas, são turistas que descem em Recife, eles vêm de voo nacional para cá, às vezes acontece isso. Inúmeras vezes eu vim de Salvador e eu encontro estrangeiros vindos de Salvador para Natal. Nosso turismo estrangeiro é bem maior que o que está sendo divulgado (Carlos Alberto, GA 8). Os entrevistados do segundo grupo tendem a refutar os números da Infraero sustentando os seus argumentos com o crescimento do mercado:

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