• Nenhum resultado encontrado

Os marcos da história do turismo Potiguar: Via Costeira, ABAV e PRODETUR/RN

Capitulo IV: Os “gringos” descobrem Natal: a massificação do turismo na cidade

1. Os marcos da história do turismo Potiguar: Via Costeira, ABAV e PRODETUR/RN

As políticas públicas de turismo começaram a ser desenvolvidas no Nordeste do Brasil a partir da década de 1980, surgiram com o objetivo de investir em segmentos geradores de renda e emprego. Apesar de algumas iniciativas25 anteriores por parte do estado em Natal, a

construção da Via Costeira, o congresso da Associação Brasileira das Agências de Viagem e o primeiro programa de desenvolvimento do turismo do Rio Grande do Norte foram os elementos chave para a consolidação da atividade turística.

A Via Costeira, localizada entre o oceano atlântico e o parque das dunas, foi inaugurada em 1982; consistia na ligação de duas praias urbanas da cidade: as praias de Areia Preta e Ponta Negra. O projeto conjeturava entre outros equipamentos turísticos, a construção de hotéis de luxo à beira-mar e um centro de convenções no parque das dunas.

O projeto Parque das Dunas/Via Costeira acabou por criar as condições necessárias para que a realização do XV Congresso Brasileiro das Agências de Viagem se realizasse em Natal que decorreu no centro de convenções de 18 a 22 de Agosto de 1987 com o tema “valorização profissional do agente de viagens”. O evento é considerado uma referência para a consolidação da atividade já que até esta data o destino era praticamente desconhecido.

25 As primeiras iniciativas do estado para o desenvolvimento do turismo em Natal foram a construção do hotel Reis Magos, primeiro hotel de

turismo à beira-mar, em 1965 e a criação da empresa de promoção do turismo do Rio Grande do Norte (EMPROTURN) em 1972. Referidas no capítulo III.

68 O Programa de Ação Para o Desenvolvimento do Turismo do Nordeste (PRODETUR/NE) foi criado pelos Governadores dos estados do Nordeste, com o apoio do Governo Federal e financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, com o objetivo de desenvolver e consolidar a atividade turística na região Nordeste, esta política veio a resultar no primeiro PRODETUR/RN.

. Segundo a Secretaria Estadual de Turismo do Rio Grande do Norte, O PRODETUR/RN, na sua primeira fase26 investiu cerca de 44 milhões de dólares no estado,

recursos que foram aplicados em obras de infraestrutura, tais como: requalificação e ampliação do terminal de passageiros do Aeroporto Internacional Augusto Severo, construção de acessos rodoviários às principais praias, continuação da Rota do Sol (Praia de Cotovelo à Barreta), saneamento básico na Via Costeira, parte de Mãe Luiza e Ponta Negra, pavimentação e urbanização da orla de Ponta Negra, melhorias no Parque das Dunas e elaboração dos Planos Diretores das cidades de Ceará-Mirim, Extremoz, Parnamirim, Nísia Floresta e Tibau do Sul.

No início de 1980 iniciava-se em Natal o fenómeno de habitação de segunda residência no litoral, seguindo as tendências nacionais. No entanto a atividade turística natalense era ainda muito incipiente, fruto do elevado preço das viagens aéreas, resultado da falta de pacotes turísticos institucionalizados, fazendo com que a maioria dos turistas optasse pelo transporte rodoviário (Lopes Júnior, 2000).

Apesar dos esforços do poder público para atrair empresários a investir na Via Costeira, “através de incentivos financeiros para aquisição de terrenos e para edificações de hotéis e de incentivos fiscais e de incentivos fiscais para os empreendimentos quando estes entrassem em operação” (Cruz, 1994:84 in Fonseca, 2005:231), os investidores mostravam-se relutantes em investir recursos numa atividade que ainda não tinha iniciado, na época, os fluxos turísticos para a região eram pouco significativos.

Com a construção na Via Costeira, ocorre um boom no turismo potiguar, na segunda metade dos anos oitenta. Entre 1986 e 1990, o fluxo de hóspedes considerando-se todos os meios de hospedagens, aumentou 44%, o número de meios de hospedagens classificados ou em fase de

26 Fonseca (2005:20) refere que o PRODETUR/RN foi “implementado no decorrer dos dois mandatos consecutivos do governo Garibaldi

69 classificação, 69%, as unidades habitacionais, 51% e as agências de viagens, 204% (SETURN/RN in Fonseca, 2005:231).

O secretário de turismo estadual Fernando Fernandes27 é da opinião que as obras realizadas a partir de 1980 foram determinantes para o desenvolvimento do turismo em todo o estado:

O grande impulsionador do turismo na cidade como um todo, não digo só Natal mas da Grande Natal e o seu corredor foram: a rota do sol, a interligação das praias, o acesso a Ponta Negra, o acesso a Cotovelo a Pirangi, a Buzios, Tabatinga, a Pipa e subindo no sentido Norte as praias de Genipabu, Redinha, Jacumã. Até ao final dos anos setenta, início dos anos oitenta eram acessos muito difíceis. Não tinha calçamento. Esses foram os primeiros investimentos realmente, depois a construção do centro de convenções, que eu também acho que é um grande produto para o Rio Grande do Norte. Ainda dentro dessas obras mas aí iniciando recursos do PRODETUR a reforma do aeroporto Augusto severo, no início dos anos 2000, que nós tínhamos um terminal aeroportuário muito pequeno. A conclusão da Via Costeira foi muito importante. A Urbanização da orla de Ponta Negra e urbanização da orla da cidade são pontos também fundamentais e o início de tratamento esgotamento sanitário. (Fernando Fernandes, GA 12).

Verificamos que todos os nossos entrevistados indicaram como principal projeto de desenvolvimento para o turismo de Natal a implementação da Via Costeira. O ex-secretário de turismo Soares Júnior refere a este respeito que “O primeiro grande projeto foi exatamente a implantação da Via Costeira, um distrito turístico composto de hotéis de lazer à beira mar, interligando o centro da cidade e a praia de ponta negra” (Soares Júnior, GA 5).

Efetivamente, a promoção do turismo natalense consolidou-se nos anos 80, logo após a construção da Via Costeira, do centro de convenções e dos primeiros hotéis construídos naquela via, que permitiu receber o congresso da ABAV, no qual os agentes de viagem brasileiros puderam conhecer a cidade e passar a vender esse destino. A Via Costeira aparece assim como o grande impulsionador do turismo potiguar:

O primeiro projeto que impulsionou o turismo foi um projeto estadual que foi a construção da Via Costeira, que impulsionou e tirou o turismo desta fase embrionária [1970], para uma fase já de início de um turismo de grande escala, com a Via Costeira

70 nós nos tornamos um destino. Nós ultrapassamos outras cidades do Nordeste, nós nos consolidamos como um grande destino do Nordeste, junto com Salvador, com Recife e com Fortaleza. Então a via costeira é um projeto estadual, que foi concebido pelo governador Lavoisier Maia no final da década de setenta, início da época de oitenta. Lavoisier Maia iniciou o projeto e no primeiro ano do governo de José Agripino em 1982, a via Costeira foi inaugurada (Carlos Alberto, GA 8).

Fotografia 14 - Via Costeira (Hotel Serhs/Parque das Dunas)

Fonte: http://www.sospontanegra.org/2012/05/belas-imagens-de-natal-e-do-rn-por.html

A construção da via costeira, e por conseguinte a sua ligação à praia de ponta Negra contribuiu para que esta praia se viesse a transformar no maior cenário turístico de Natal. Nela abundam hotéis, motéis, pousadas, restaurantes, boîtes, centros de artesanato, várias lojas de comércio, casas de câmbio, bancos, redes de prostituição, oferta de passeios de buggy.

Rasgando a paisagem, separando o Oceano Atlântico do Parque das Dunas, separando a natureza da civilização, surge a Via Costeira, uma extensão da Praia de Ponta Negra, por um lado, junto à praia surgem os hotéis luxuosos de 4 a 5 estrelas, e alguns poucos restaurantes; do outro lado o magnifico Parque das Dunas - uma ampla área verde preservada pelo IDEMA.

71 Em 1984 foi inaugurado o primeiro hotel da via costeira - o Natal Mar Hotel, que foi construído inicialmente com 100 apartamentos e depois de inaugurado, com a alta taxa de ocupação que apresentava, foi ampliado para 149 apartamentos. Com a inauguração do Natal Mar Hotel, a capital potiguar ganhou um entusiasmo pelo turismo na cidade e com isso houve maior divulgação. Segundo Cavalcanti (1993), entre 1984 e 1986 foram inaugurados mais três hotéis: o Barreira Roxa (1985), o hotel Vila do Mar (1986) e o Mar Sol Hotel (1986).

Quadro 4 - Primeiras unidades hoteleiras Via Costeira

Data Hotel Proprietário

1984 Natal Mar Hotel Sami Elali

1985 Barreira Roxa Praia Hotel Governo

1986 Marsol Hotel Felipe Lundgren

1986 Hotel Vila do Mar Álvaro Alberto Barreto 1987 Imirá Plaza Hotel Fernando Paiva

1990 Hotel Parque da Costeira Milson dos Anjos e Frederico Mainberg 1995 Ocean Palace Hotel Arnaldo Gaspar

1996 Hotel Porto do Mar Sónia Pacheco 1997 Pirâmide Palace Hotel Sami Elali

Fonte: elaboração própria, baseado no Diário de Natal

Na opinião de Fonseca (2005) a construção do megaprojeto Parque das Dunas/Via Costeira e o programa de desenvolvimento PRODETUR/RN foram, em momentos distintos, os grandes impulsionadores para o desenvolvimento do turismo no Rio Grande do Norte. A autora considera a Via Costeira como o marco para o desenvolvimento do turismo no Rio Grande do Norte,

Até à sua implantação o Rio Grande do Norte ocupava posição marginal no turismo nordestino e segundo entendimento do poder público, tal situação era decorrente da precariedade da rede hoteleira existente no estado, assim visando inserir o estado potiguar nas rotas do turismo regional, o governo regional começa a idealizar o PD/VC

72 no final da década de setenta, com o objetivo de implantar meios de hospedagem e, assim, propiciar as condições mínimas para o desenvolvimento do turismo estadual. (Fonseca, 2005:230).

Sami Elali construiu o primeiro hotel da via costeira, o Natal Mar Hotel, localizado frente ao centro de convenções. O hoteleiro refere a importância geográfica de Natal, como a principal responsável pela sua aposta em construir o primeiro hotel na via costeira da cidade:

Nós acreditamos que o potencial de Natal é muito grande e a posição geográfica também é muito importante, porque é a cidade brasileira que fica mais próxima à Europa. E aí pelas belezas naturais a gente tinha a certeza que um dia o turismo ia realmente acontecer. Aí nós projetamos o Natal Mar Hotel, que ficou concluído em 1984 (Sami Elali, GA 3).

Fotografia 15 - Natal Mar Hotel e Centro de Convenções28

Fonte: http://www.natalmarhotel.com.br/br/localizacao

A localização do hotel, frente ao centro de negócios, teria sido estrategicamente pensada, já que o industrial de hotelaria acreditava que a cidade poderia vir a ser um importante destino de turismo de eventos e de negócios. A proximidade do Mar Hotel à vila de Ponta Negra foi uma escolha feliz, pois permitiu facilitar a ligação de energia e esgotos do hotel à Vila, doutra forma os custos seriam mais elevados. A rede de transportes de Ponta

28 Natal Mar Hotel e Centro de Convenções, ambos assinalados com um x de cor vermelha. O hotel, junto à praia e o centro de convenções

73 Negra, que passava junto ao hotel, facilitava as acessibilidades e comunicação de trabalhadores e hóspedes. (GA, 3) O empresário fala-nos da oferta hoteleira que existia nesta época, e recorda que recebeu uma homenagem feita pela ABAV, por ser o primeiro e maior incentivador da divulgação do turismo de Natal,

Quando chegava nas agências de viagem naquela época e quando falava de Natal, eles não sabiam nem onde ficava Natal. Não tinha nem um hotel onde pudesse fazer turismo. Tinha hotéis mas que era de negócios, não de turismo, eram hotéis para os viajantes que vinham em negócios, para comerciantes (Sami Elali, GA 3).

Segundo Sami Elali (GA, 3) a oferta hoteleira era escassa, existiam apenas o “Ducal, no centro da cidade, o hotel Tirol e o dos Reis Magos, que não eram voltados para o turismo, mas sim para os viajantes que vinham. Os comerciantes”. O hotel dos Reis Magos fica localizado à beira-mar, na praia do Meio, pelo que quisemos perceber o motivo do nosso entrevistado não o considerar um hotel vocacionado para o turismo. Explica-nos:

O Reis Magos era muito pouco divulgado para fora, o turismo não existia, quem vinha eram os viajantes. Aí é que está a diferença, existia o hotel mas não existia divulgação, só quem vinha para ele, era quem vinha para Natal (Sami Elali, GA 3).

Consciente da falta de marketing, associada ao destino de Natal, e acreditando que a divulgação do destino poderia atrair potenciais turistas ao seu hotel, Sami Elali percorre o país, visitando as agências de viagem, divulgando a “capital do sol”29

Foi aí que eu iniciei um trabalho na hotelaria pegando o folder30do hotel, saindo para

fazer visitas em todas as agências de viagem do Brasil inteiro. Teve uma época que eu cheguei a ficar 45 dias fora de casa para fazer esse trabalho de divulgação porque o Brasil é um país muito grande e eu ia em todas as capitais. Bom, aí eu comecei a fazer esse trabalho sozinho depois vem o segundo hotel, vem o terceiro hotel, o segundo hotel acho que foi o Marsol, o terceiro hotel foi o Vila do Mar, depois começamos a fazer uma divulgação conjunta, com os hotéis e o governo (Sami Elali, GA 3).

Em 1999 foi inaugurado a Pirâmide Palace Hotel, o maior hotel do Rio Grande do Norte, com todos os detalhes e requintes das grandes cadeias internacionais de hotéis padrão 5 estrelas. Ao todo são 315 unidades, sendo 300 apartamentos e 15 suítes. O parque aquático do

29 Natal, conhecida como a capital do sol. Expressão usada pelo marketing em associação ao turismo de sol e praia. 30 Palavra em inglês que significa folheto ou brochura.

74 hotel é considerado por profissionais da área de turismo como um dos mais bonitos do Brasil. Possui uma área de 10 mil metros quadrados, um bar e um restaurante grill, área de lazer para crianças, além de uma piscina integrada com jardins e dotada de cascata e hidromassagem. Na entrada do do hotel, destacam-se 3 características: o espaço físico na entrada do hotel, o maior tapete persa do Brasil, com 70 metros quadrados e a pirâmide de vitrais.

A promoção do turismo potiguar consolidou-se no final dos anos 80, início dos anos 90, logo após a construção da Via Costeira, do centro de convenções e dos primeiros hotéis edificados na via. No segundo governo de José Agripino Maia foi realizado um grande trabalho de divulgação do turismo do Rio Grande do Norte:

Com a implantação de grandes hotéis na via Costeira, nos períodos de baixa estação era necessário vender a cidade de maneira mais intensa, e a partir dos anos 90 a competitividade dos destinos turísticos do nordeste levou a se trabalhar as grandes operadoras como CVC oferecendo pacotes com preços atrativos para a classe média do Sul e Sudeste do Brasil, levando a um processo de massificação do destino até os dias atuais (Soares júnior, GA 5). As belezas naturais do Estado foram bastante divulgadas a nível internacional, conquistando assim os turistas provenientes da Itália e da América do Sul como Argentina, Uruguai e Paraguai. Podemos considerar que a presença de empresários e agentes de viagem do Rio Grande do Norte em quatro feiras internacionais de turismo na Europa e Argentina em muito contribuíram para isso. De referir ainda oito campanhas publicitárias, entre 1991 e 1993, na Argentina e Itália. Um grande contributo para a divulgação de Natal foram certamente os 14 workshops e fantours realizados em Natal, na mesma época. Os resultados não tardam em surgir: no ano de 1993 chegaram a Natal 90 voos internacionais. A rota Milão- Natal-Milão vem contribuir para a melhoria da infraestrutura, o governo manda asfaltar e duplicar a rota do sol que compreende o troço de ponta negra a Pirangi (Souza 1999: 330- 331).

Em entrevista Jurema Dantas31 faz uma avaliação acerca do nascimento do turismo

Potiguar,

Eu avalio que o nascimento do turismo em Natal foi um pouco por acaso, porque a cidade já existia, já existia tudo, mas nunca tinha sido, identificada ou descoberta como

31 O Curso de turismo no Rio Grande do Norte, tem o seu início em 1990, em Natal, pela Universidade Potiguar. A Professora Jurema Dantas

75 uma cidade turística. Isso na verdade aconteceu em 1987, quando aconteceu aqui um evento da ABAV. Foi a partir de se trazer esse evento, que era um evento nacional que acontece até hoje, que é a reunião da ABAV, é que a cidade começou a despertar para o turismo, entrando nos roteiros turísticos do Estado (Jurema Dantas, GA 2)

Durante a entrevista a professora Jurema, analisa o desenvolvimento do turismo no estado do Rio Grande do Norte, e tece as seguintes considerações:

Quando você vai fazer uma retrospetiva do desenvolvimento do turismo em Natal, você vê que em 1970 foi elaborado o plano diretor de turismo para o Nordeste. Em 1980 o Governador Cortejo Pereira elaborou um plano chamado PRODETUR/RN. Para esse efeito o governador contratou uma consultadoria Italiana que veio para Natal a fim de fazer o primeiro projeto de desenvolvimento do turismo em Natal. Eu não quero dizer com isso que impulsionou o turismo, não. Mas de qualquer forma ele pensou nisso. Apesar de terem sido elaborados esses documentos, a atividade não se lançou. Aí veio o congresso da ABAV, aí o turismo começou a crescer. Aí depois desse período, mais recentemente nos anos noventa, aí sim o PRODETUR, o que eu considero o grande alavancador. Agora só uma coisa, antes do projeto PRODETUR teve um projeto pontual, no caso que foi o projeto parque das Dunas via costeira, sem dúvida nenhuma que isso aí é uma referência. Então a gente tem esses planos dos governos antigos, a gente tem a via costeira, esse sim foi o grande alavancador e a gente tem o PRODETUR. A via costeira, a ABAV e o PRODETUR são na minha opinião os três grandes marcos para o desenvolvimento do turismo em Natal. Do ponto de vista da história, a construção da via costeira e do centro de convenções, a reunião da ABAV, e o PRODETUR, eu acho que são três aspetos do ponto de vista da história que marcam a atividade turística em Natal e no Rio Grande do Norte. (Jurema Dantas, GA 2)

As ligações rodoviárias às praias urbanas eram bastante precárias como recorda o jornalista Hélio Cavalcanti32

Antes da Via Costeira, o próprio natalense dava as costas para a praia da cidade, a gente sempre tinha uma praia para fazer o veraneio, ninguém curtia Natal, era Muriú, era Genipabú, a minha família ia para Santa Rita ali em Genipabú, para você ir para ponta negra era uma viagem, você tinha de ir por uma estradazinha estreita. Pirangi, eu nem sei se tinha acesso. Pipa era uma vilazinha bem pequenininha” (Hélio Cavalcanti, GA 6).

76 A construção da Via Costeira não foi uma decisão consensual, pois a obra previa a construção de uma via de acesso das praias do Meio e de Areia Preta à praia de Ponta Negra. Esta via de acesso localizar-se-ia à beira-mar passando pelo parque das dunas, uma área protegida devido às suas dunas e à sua mata atlântica, área que pertence à marinha, ora a cessão de uma parte do terreno para a construção dessa via não era bem vista quer pelos ambientalistas da altura. Soubemos também através de conversas informais que o jornal Diário de Natal era contra este projeto por motivos ambientais e que muita da população natalense não via o projeto com bons olhos. Mais tarde o jornal Diário de Natal muda a sua opinião, e pode ler-se numa edição especial em 1999 o fascículo 11 e 12, que tratam o turismo no Rio Grande do Norte antes da via costeira e o depois da via costeira respetivamente, como um dos grandes marcos para o turismo na cidade. Fernando Paiva conta que,

Para implantar a Via Costeira foi briga grande, o diário de Natal era contra e como era muito forte, ainda hoje é, fez com que muitas pessoas também tivessem essa opinião, chegou até ao ponto de dizer o seguinte no dia que for fazer a Via Costeira o mar ia degenerar o morro e o morro iria invadir Natal. As pessoas liam e ficavam com medo. Depois, mais tarde, o jornal mudou de diretor e se convenceu de que o projeto era bom, mas foi difícil para as pessoas acreditarem e apoiarem. (Fernando Paiva, GA 4)

Várias foram as vozes que então se levantaram contra a construção da Via Costeira, estas manifestações começaram de acordo com Souza,

Logo que o escritório do arquiteto Luís Forte Neto entregou ao governo do estado o projeto parque das dunas, em 20 de Julho de 1977, a sociedade civil de Natal começou a manifestar as suas críticas ao projeto. O Diário de Natal, jornal de tradição ecologista, foi o veículo que mais espaço concedeu aos ecologistas para eles manifestarem as suas críticas (1999: 315).

Nos jornais da época, abundam textos contra a construção da Via Costeira, que consideravam o projeto nefasto para o ambiente, como o texto abaixo, que acusa os dirigentes da cidade de quererem construir um projeto megalómano em Natal, semelhante a

Documentos relacionados