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A construção de um destino turístico: uma história social do desenvolvimento do turismo em Natal

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

A construção de um destino turístico:

Uma história social do desenvolvimento do turismo em Natal

Dissertação de Mestrado em Gestão do Turismo

Elisabete de Melo Pinheiro

Orientador: Professor Doutor José Fernando Bessa Ribeiro

Vila Real

2014

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

A construção de um destino turístico:

Uma história social do desenvolvimento do turismo em Natal

Dissertação de Mestrado em Gestão do Turismo

Elisabete de Melo Pinheiro

Orientador: Professor Doutor José Fernando Bessa Ribeiro

Composição do Júri:

Professor Doutor Carlos Duarte Coelho Peixeira Marques – presidente do júri Professora Doutora Véronique Nelly Paul Marie Joukes - arguente

Professor Doutor José Fernando Bessa Ribeiro - orientador

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À memória do meu pai

Domingos Pinheiro

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Índice geral

Lista de siglas ... 10

Agradecimentos ... 13

Resumo ... 15

Introdução ... 23

Capítulo I: Problema, método e teoria ... 25

1. Problema e metodologia ... 25

2. O turismo: perspetivas teóricas ... 31

Capitulo II: Natal: contextualização geográfica e económico-social da cidade ... 35

1. Localização, origem e trajeto histórico de uma cidade nordestina ... 35

2. A cidade de Natal: demografia, economia e cultura ... 42

Capitulo III: O turismo na cidade de Natal antes da massificação: viajantes, militares e marinheiros ... 47

1. Os primeiros anos: hotelaria e aviação ... 47

2. Os Americanos em Natal ... 55

3. Coca-Cola, jeans, forró e banho na praia ... 60

Capitulo IV: Os “gringos” descobrem Natal: a massificação do turismo na cidade ... 67

1. Os marcos da história do turismo Potiguar: Via Costeira, ABAV e PRODETUR/RN ... 67

2. Os primeiros voos de turismo charter internacional . ... 86

3. A divulgação de Natal como cidade turística . ... 86

Conclusão ... 103

Referências bibliográficas ... 107

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Índice de quadros, gráficos, figuras, fotografias e anexos

Quadros

Quadro 1: Evolução populacional 42

Quadro 2: Fluxo turístico 2012 43

Quadro 3: Primeiras unidades hoteleiras de Natal 49 Quadro 4: Primeiras unidades hoteleiras de Natal Via Costeira 70

Quadro 5: Número de hóspedes 83

Gráficos

Gráfico 1: Movimento Aeroporto Augusto Severo 2005 92 Gráfico 2: Movimento passageiros Aeroporto Augusto Severo 2008 93 Gráfico 3: Movimento passageiros Augusto Severo 2005/2008 93 Gráfico 4: Fluxo turístico Natal de 2003 a 2012 94 Gráfico 5: Fluxo Turístico Rio Grande do Norte 2003 a 2012 95 Gráfico 6: Fluxo turístico total 2003 a 2012 (Natal e Rio Grande do Norte) 96

Figuras

Figura 1: Mapa localização de Natal 35

Figura 2: Mapa região Nordeste do Brasil 36

Figura 3: Mapa Rio Grande do Norte 37

Figura 4: Mapa região metropolitana de Natal 38

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Figura 6: Horários da empresa Aéropostale Rio de Janeiro/Natal (1931) 48 Figura 7: Periodização das etapas evolutivas do turismo em Natal 105

Fotografias

Fotografia 1: Vista Panorâmica de Natal (cidade antiga) 40

Fotografia 2: Praça André Albuquerque. Natal – RN 41

Fotografia 3: Passeio de buggy nas dunas de Genipabú 44

Fotografia 4: Praia de Ponta Negra 45

Fotografia 5: O Grande Hotel, em Natal 51

Fotografia 6: O Grande Hotel, em Natal – 1942 51

Fotografia 7: Hotel Reis Magos 53

Fotografia 8: O Presidente norte-americano Roosevelt

visita a Base de Natal - 1943 56 Fotografia 9: Parnamirim Field Vista Aérea

Pátio de Estacionamento e oficinas 57

Fotografia 10: Avião Catalina dos Estados Unidos – Base Aérea de Natal 58 Fotografia 11: Norte-americanos na varanda do Grande Hotel, Ribeira (1941) 59 Fotografia 12: Namoro entre as moças natalenses

e os soldados norte-americanos 63

Fotografia 13: Soldados americanos em Ponta Negra na Segunda Guerra 64 Fotografia 14: Via Costeira (Hotel Serhs/Parque das Dunas) 70 Fotografia 15: Natal Mar Hotel e Centro de Convenções 72

Fotografia 16: Dunas via costeira 78

Anexos

Anexo 1: Identificação dos entrevistados 113

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Lista de siglas

ABAV: Associação Brasileira de Agências de Viagem

APAVT: Associação Portuguesa de Agências de Viagem e Turismo Bandern: Banco do Estado do Rio Grande do Norte

BNB: Banco do Nordeste Brasileiro

CODERN: Companhia das Docas do Rio Grande do Norte COSERN: Companhia Energética do Rio Grande do Norte CTI: Comissão de Turismo Integrado

EMBRATUR: Empresa Brasileira de Turismo

EMPROTURN: Empresa de Promoção e Desenvolvimento do Turismo do Rio Grande do Norte EMPROTUR: Empresa de Promoção e Desenvolvimento do Turismo

EUA: Estados Unidos da América GA: Gravação Áudio

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS: Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços

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Infraero: Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária NE: Nordeste

OMT: Organização Mundial de Turismo ONU: Organização das Nações Unidas

PD/VC: Plano de Desenvolvimento da Via Costeira

PRODETUR: Programa Regional de Desenvolvimento do Turismo RN: Rio Grande do Norte

SETUR: Secretaria Estadual de turismo TAP: Transportes Aéreos Portugueses

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Agradecimentos

Ao meu orientador, Professor Doutor Fernando Bessa Ribeiro, agradeço o apoio, a crítica e as sugestões imprescindíveis na construção deste trabalho. Agradeço igualmente o interesse que demonstrou pelo meu percurso académico.

À minha orientadora da Secretaria de Turismo de Natal, Dra. Elizabeth Bauchwitz, pelos conhecimentos transmitidos. Agradeço especialmente a amizade e a confiança depositada em mim, possibilitando a minha participação em todos os seus projetos.

Ao Secretário de Turismo Municipal de Natal, Dr. Fernando Bezerril, por disponibilizar toda a informação necessária à realização deste trabalho, facultando o acesso a todos os documentos e projetos. Agradeço especialmente o carinho que recebi durante os seis meses de estágio, que ali realizei. Obrigado, por abrir as portas da secretaria à primeira estagiária “gringa”.

Ao meu companheiro, João Pereira, pelo amor, pelo incentivo, pela amizade, pelo apoio incondicional, pelo ânimo, por me fazer rir todos os dias, enfim, por tornar a minha vida mais feliz.

À minha mãe, Leonor Pinheiro, que sempre acreditou em mim, que nunca duvidou das minhas capacidades, que quando me via desanimada não media esforços em me ajudar com as suas palavras de incentivo. Obrigada, por tudo...

Ao Engenheiro Marcelo Alvim, da Secretaria de Turismo de Natal, meu orientador, vizinho e amigo.

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14 À Dra. Ana Cristina Felinto, da Secretaria de Turismo de Natal, pela disponibilidade e orientação.

A todo o pessoal da Secretaria de Turismo de Natal, pela forma como me acolheram. A todos os entrevistados, a quem estou grata pela disponibilidade e informações que contribuíram decisivamente para o enriquecimento deste trabalho.

Aos meus amigos, Ana, Emídia, Natali e Juan pela preciosa ajuda na tradução do resumo da dissertação.

A todos os Natalenses, do setor turístico, pelas conversas informais acerca da temática da dissertação, que assim me ajudaram a compreender melhor a evolução do turismo na região.

A todos os meus professores, pelo conhecimento e valores transmitidos.

Aos colegas da Fundação INATEL, agência de Bragança, João e Iracema, pela compreensão e paciência.

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Resumo

Natal é uma cidade do Nordeste Brasileiro, cuja atividade turística se tem vindo a desenvolver cada vez mais. Assim considerámos essencial compreender como se construiu, enquanto destino turístico e quais os fatores que contribuíram para o seu desenvolvimento.

A elaboração desta dissertação teve como objetivo analisar a evolução do turismo em Natal, tentar perceber quais foram as suas principais etapas e de que modos contribuíram para o aumento do fluxo turístico na cidade.

Com esta finalidade, consideramos necessário iniciar o nosso estudo a partir da fundação da cidade de Natal. O presente estudo foi realizado através de três etapas:

1) Pesquisa bibliográfica em fontes secundárias,

2) Pesquisa documental em fontes primárias, realizada na Secretaria de Turismo de Natal e na Biblioteca da Universidade Potiguar, focando o período compreendido entre a data da fundação da cidade, até ao boom turístico,

3) Entrevistas semiestruturadas a quinze profissionais ligados ao setor do turismo. Esta dissertação apresenta um estudo acerca da história do turismo no Rio Grande do Norte, cuja reflexão originou a elaboração da periodização da atividade turística em sete etapas evolutivas, entre 1920 e 2014. As pesquisas elaboradas ajudam a compreender as transformações ocorridas na época referida e o seu contributo para a implementação do turismo massificado no Rio Grande do Norte.

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Abstract

Natal is a city in Northeast Brazil, whose tourism industry has been developing increasingly. Therefore we considered crucial to understand how it grew into a tourist destination and which factors that contributed for its progress.

The preparation of this dissertation had the purpose to analyze the evolution of tourism in the city of Natal, trying to understand what were the big milestones of the potiguar tourism and in what ways contributed for the increase of the tourist flow in the city.

With this aim, we consider necessary to begin our study since the foundation of the city of Natal. The present study was carried out through three phases:

1) Bibliographical research with secondary sources;

2) Documentary research with primary sources, carried out in the office of the Secretary of Tourism of Natal and in the Library of the University of Potiguar, in the period between the date of the city foundation, up to the tourist boom,

3) Semi structured interviews to fifteen professionals connected with the Tourism sector.

This dissertation presents a study of the history of tourism in Rio Grande do Norte, whose reflection results in the elaboration of the periodization of tourism in seven evolutionary stages between 1920 and 2012. The elaborated researches help to understand the changes occurring at the time and their contribution for the implementation of tourism in Rio Grande do Norte.

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Résumé

Natal est une ville au nord-est du Brésil, dont l'industrie du tourisme se développe de plus en plus. Donc, il nous a semblé fondamental de comprendre comment la ville s’est construit, comme une destination touristique et quels facteurs ont contribué à son progrès.

L’objectif de cette thèse est analyser l'évolution du tourisme à Natal, essayer de comprendre quelles sont les principales étapes du développement du tourisme là et quels sont les moyens qui ont contribué à l'augmentation du flux touristique dans la ville. Alors, nous considérons qu'il est nécessaire de commencer notre étude depuis la fondation de la ville. Cette étude a été réalisée en trois étapes:

1) De la recherche bibliographique dans des sources secondaires;

2) De la recherche documentaire dans des sources primaires, faites au secrétariat du tourisme de Natal, et à la Bibliothèque de l'Université de Potiguar, depuis la date de la fondation de la ville, jusqu'au boom touristique.

3) Des interviews semi-structurées faites à une quinzaine de professionnels liés à l'industrie du tourisme.

Cette thèse présente une étude de l'histoire du tourisme à Rio Grande do Norte, dont les résultats réflexion dans l'élaboration de la périodisation du tourisme en sept étapes de l'évolution entre 1920 et 2012. Les enquêtes élaborées aident à comprendre les changements qui se sont produis à l'époque et quelle leur contribution à l’incrémentation de tourisme à Rio Grande do Norte.

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Resumen

Natal es una ciudad en el noreste de Brasil, cuya industria del turismo se viene desarrollando cada vez más. Así creemos que es esencial entender cómo se construyó, como destino turístico y qué factores contribuyeron para su desarrollo.

El objetivo de esta tesis es analizar la evolución del turismo en la ciudad de Natal, tratar de entender cuáles fueron sus principales hitos y qué ha contribuido para su desarrollo en la ciudad. Para este fin, consideramos que es necesario comenzar nuestro estudio desde la fundación de la ciudad de Natal. La elaboración de este estudio se llevó a cabo en tres etapas:

1) búsqueda de la literatura en fuentes secundarias,

2) investigación documental en fuentes primarias realizadas en la Secretaría de Turismo de Natal y en la Biblioteca de la Universidad Potiguar, en el período compreendido desde la fecha de fundación de la ciudad hasta el “boom” turístico,

3) entrevistas semi-estructuradas con quince profesionales vinculados a la industria del turismo.

Esta tesis presenta un estudio de la historia del turismo en Rio Grande do Norte, que originó la periodización del turismo en siete etapas evolutivas entre 1920 y 2012. Las encuestas realizadas ayudan a entender los cambios que ocurren en la época referida y su contribución al turismo en Rio Grande do Norte.

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Introdução

O estudo do turismo ajuda a compreender o fenómeno que transforma uma determinada região em destino turístico, desencadeando a necessidade de refletir a sua evolução, para assim abranger quais as tomadas de decisão, que projetos, que comportamentos e acontecimentos contribuíram para esse desenvolvimento. Como tal torna-se necessário enquadrar os acontecimentos no espaço e no tempo, de forma a poder relacioná-los com o desenvolvimento turístico da região. Após esta reflexão surge a questão: Que fatores contribuíram para o surgimento do turismo em Natal?

A investigação desenvolvida neste trabalho tem como objetivos: a) compreender e contextualizar a evolução do turismo; b) identificar os fatores que contribuíram para o nascimento da atividade turística; c) elaborar uma proposta de periodização enunciando as principais etapas do desenvolvimento turístico da região.

O primeiro capítulo divide-se em duas partes, na primeira é dado a conhecer o problema e o método utilizados para a realização deste estudo. É definido o objeto de estudo, bem como a demarcação do período temporal da pesquisa, que se traduz no levantamento de causas que possam ter contribuído para o nascimento do turismo em Natal, fixando-se a data desde a fundação da cidade, a 25 de dezembro de 1599 até ao boom turístico da cidade. As viagens apresentaram características diferentes, permitindo identificar várias etapas evolutivas segundo o seu desenvolvimento. Ao longo dos tempos as viagens apresentaram características diferentes, permitindo identificar várias etapas evolutivas segundo o seu desenvolvimento, na segunda parte é apresentado um enquadramento teórico através da revisão da bibliografia consultada sobre alguns estudos que possibilitam a sua contextualização.

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24 No segundo capítulo apresenta-se a contextualização geográfica e económico-social de Natal, desde a sua posição geográfica, à sua dimensão para uma melhor compreensão da realidade do nosso objeto de estudo: Natal.

No terceiro capítulo são descritos os primeiros passos do turismo, relativos à história da aviação e da hotelaria natalense. De seguida, passa-se para o período da segunda guerra mundial. Decorria o ano de 1943, Natal, uma cidade pacata do litoral nordestino do Brasil, vê-se de repente no centro do teatro de operações da vê-segunda guerra mundial. A sua localização estratégica contribuiu para que fosse escolhida por Roosevelt, para a instalação de uma das mais importantes bases aérea da época, o que viria a modificar as mentalidades potiguares.

O quarto capítulo refere-se à massificação do turismo na cidade e à identificação dos principais causadores para o surgimento desse fenómeno. Começamos por descrever todo o processo que levou à construção da via costeira, em 1985, projeto que surgiu com o propósito de ligar as praias urbanas à zona sul de Natal, dando início ao projeto turístico da cidade, com a construção dos primeiros hotéis de 4 e 5 estrelas. Posteriormente são mencionados os acontecimentos que contribuíram para a realização do XV congresso da ABAV em Natal, evento que colocou Natal na rota dos destinos turísticos das agências de viagem. Aborda-se também a importância do Programa de Desenvolvimento do turismo no Rio Grande do Norte, através do qual foram feitos vários investimentos ao nível das infraestruturas turísticas, que tinham o objetivo de capacitar a região com equipamentos turísticos competitivos enquanto destino regional e nacional. No final destaca-se a narração da história dos primeiros voos de turismo charter internacional e apresentam-se as opiniões dos entrevistados relativamente aos investimentos em divulgação do destino e ao crescimento do turismo no Rio Grande do Norte.

Este estudo trata de uma forma geral a temática da história do turismo em Natal, tal justifica concluir este trabalho com uma sugestão de periodização das etapas evolutivas que contribuíram para o desenvolvimento da atividade na região.

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Capítulo I

Problema, método e teoria

1. Problema e metodologia

Segundo Quivy (1998:30) “o investigador deve obrigar-se a escolher rapidamente um primeiro fio condutor tão claro quanto possível, de forma que o seu trabalho possa iniciar-se sem demora e estruturar-se com coerência”. Assim chegamos à pergunta de partida:

Que fatores contribuíram para o surgimento do turismo em Natal?

O influxo turístico em Natal revela-se um fenómeno social de complexidade e implicações várias, especialmente nas áreas da economia e da cultura. A ausência de um estudo crítico, monográfico, faz-nos colocar questões cujas respostas permanecem indefinidas, nomeadamente quanto à sua caracterização e conceptualização. Há um espólio bibliográfico considerável, múltiplo, mas que se encontra completamente por sistematizar. Urge identificar e compreender a evolução do turismo natalense, contar a sua história, perceber quais foram os grandes marcos para o início da atividade e as suas consequências. Propomos encerrar esta investigação com uma proposta de periodização de elaboração própria.

A explicação científica requer o uso de informação, bem como o seu tratamento e análise, através do uso seletivo da informação considerada relevante para a compreensão do problema e para a fundamentação da ação correspondente, tendo isto em mente adotamos uma abordagem qualitativa. Esta escolha viabiliza de forma mais profunda a compreensão do objeto em análise. De acordo com Richardson (1999:80):

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26 Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades dos comportamentos dos indivíduos.

Neste trabalho foram adotados simultaneamente vários procedimentos metodológicos: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e entrevistas semiestruturadas. Preconizamos Igea et al., citados em Calado e Ferreira (2004:1)

O fato do investigador utilizar diversos métodos para a recolha de dados, permite-lhe recorrer a várias perspetivas sobre a mesma situação, bem como obter informação de diferente natureza e proceder, posteriormente, a comparações entre as diversas informações, efetuando assim a triangulação da informação obtida. Deste modo, a triangulação é um processo que permite evitar ameaças à validade interna inerente à forma como os dados de uma investigação são recolhidos.

Aspeto fundamental na elaboração do trabalho aqui apresentado foi a escolha do Orientador, o Professor Doutor Fernando Bessa da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, docente do curso de turismo desde o seu início, com trabalho de investigação feito na região de Natal na área do turismo.

Decidimos realizar um estágio1 curricular na secretaria de turismo de Natal com a

duração de seis meses, o que permitiu conhecer a realidade in loco, assim como os seus intervenientes principais. O estatuto de estagiário permitiu que pudéssemos ter acesso a informação privilegiada, nomeadamente projetos públicos e jornais antigos da época facilitando o processo de comunicação e proximidade entre o investigador e os entrevistados na realização das entrevistas semiestruturadas. Carl Rogers e Stevens (1987:47) defendem a empatia como condição fundamental ao sucesso da entrevista, referindo que “a eficácia na utilização na técnica da entrevista em profundidade, não só depende do domínio da metodologia em que se insere, mas também exige uma atitude antropológica do entrevistador”. Por outro lado, criaram-se laços de proximidade que poderiam influenciar na escolha dos entrevistados, assim e para evitar prejudicar a nossa investigação, tentamos escolher um universo de informantes com interesses distintos entre si, para isso recolhemos depoimentos de responsáveis políticos, mas também de jornalistas, hoteleiros, agentes de viagens, técnicos de turismo, professores...

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27 De acordo com Marconi e Lakatos (2003) e Ribas (2004), a entrevista é o encontro entre duas pessoas para que uma delas possa obter informações sobre determinado assunto, por meio de uma conversação de natureza profissional. O objetivo é obter informações do entrevistado sobre determinado assunto ou problema.

A entrevista, segundo Tuckman (2000:517) “é um dos processos mais diretos para encontrar informação sobre um determinado fenómeno, consiste em formular questões às pessoas, que, de algum modo nele estão envolvidos. As respostas de cada uma dessas pessoas vão refletir as suas perceções e interesses”. Surge assim no sentido de compreender quais os fenómenos que contribuíram para o nascimento e desenvolvimento do turismo em Natal agrupando informantes com distintos interesses e profissões, do setor público e privado, ligados ao setor do turismo, que possibilitem ao investigador obter diferentes perspetivas da evolução do turismo na região. A realização das entrevistas possibilitou também recolher relatos de pessoas que tiveram um papel crucial para a construção do destino, como é o caso dos primeiros hoteleiros de Natal, que contam a história na primeira pessoa, atores principais cuja história faz parte da história do turismo.

Para Quivy e Campenhoudt (1998) a entrevista é um procedimento de recolha de informação em que se aplicam processos fundamentais da comunicação e interação humana, permite ao investigador retirar informações e elementos de reflexão muito ricos e variados, que não se encontram em fontes documentais e que sejam relevantes e significativos. Cracteriza-se por uma abertura na formulação de perguntas e respostas, dando uma certa liberdade ao entrevistado para se expressar aberta e informalmente sem se afastar dos objetivos da entrevista.

Das vária formas de entrevista existentes, optámos pela semiestruturada, uma vez que o entrevistador tem um guião estruturado com os tópicos fundamentais que quer abordar, mas onde é permitido ao entrevistado uma razoável autonomia das respostas, embora dentro do quadro estrutural definido pelo entrevistador (Quivy & Campenhaudt, 1998).

Para a elaboração das entrevistas foi previamente elaborado um guião onde constavam questões a colocar aos entrevistados, estas foram realizadas individualmente, utilizando um gravador áudio para registar os testemunhos garantindo assim uma maior fidelidade e veracidade dos testemunhos, pois tal como referem Marconi & Lakatos (2003), a única

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28 maneira de reproduzir com precisão as respostas é registá-las durante a entrevista, para se acautelarem falhas de memória ou distorção da informação.

A escolha do local para a realização das entrevistas foi deixada ao critério dos entrevistados, no entanto foi pedido subtilmente que as mesmas fossem realizadas em ambientes tranquilos e onde pudesse decorrer sem interrupções, assim a maioria escolheu o local de trabalho para a sua realização, à exceção do jornalista Hélio Cavalcanti que escolheu a sua residência e a jornalista Cristina Lira que optou por uma esplanada de café num local bastante tranquilo. Estas opções individuais contribuíram para que os informantes se sentissem no seu habitat natural e se sentissem naturalmente descontraídos, estabelecendo-se um diálogo que decorreu sem interrupções, com uma duração média de cerca de uma hora cada.

Foram elaboradas algumas perguntas previamente, no entanto geraram-se outras perguntas à medida que a entrevista decorria, permitindo quer ao entrevistador, quer à pessoa entrevistada flexibilidade para aprofundar ou confirmar, se necessário algumas das questões colocadas. O roteiro para a realização das entrevistas continha as seguintes questões:

1- Quais os fatores que mais contribuíram para o nascimento do turismo em Natal? 2- Quais os primeiros projetos ou programas do governo federal e estadual que

impulsionaram o turismo em Natal? O PRODETUR?

3- O que era esse programa e quais foram os primeiros investimentos? (Construções urbanas, como a via costeira foi uma delas?)

4- Quais foram, na sua opinião, os principais acontecimentos históricos para o desenvolvimento do turismo em Natal?

5- O que levou os primeiros turistas a conhecer Natal? O que foi mais divulgado como atrativo turístico da cidade e como se dava essa divulgação?

6- A que se deveu a massificação do turismo em Natal? A que está ligada a massificação do turismo na cidade, rodovias? Aeroportos? Aumento de hotéis e de voos?

7- Quem foram os principais responsáveis por esse desenvolvimento? Qual o governo estadual e municipal que implementou o programa de desenvolvimento?

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29 8- Atualmente quais os principais atrativos turísticos de Natal? O mercado está em

crescimento? Por quê?

9- Há investimentos em divulgação? Qual o principal público? Nacional ou internacional?

10- Que futuro para o turismo em Natal? Quais os principais investimentos/planeamento para o futuro do turismo na cidade?

11- Segundo dados da Infraero a procura de Natal como destino turístico tem vindo a diminuir nos últimos anos, quais são os fatores que na sua opinião têm contribuído para este facto?

12- Que estratégias devem ser tomadas para mudar este quadro? Há planos estratégicos voltados para buscar “soluções” para a queda no turismo?

Os entrevistados foram escolhidos pela sua ligação profissional ao turismo natalense, alguns pela sua idade, feitos e vivências outros pelos cargos que foram desempenhando, ou pelas suas obras, tentou-se escolher pessoas que pudessem representar o mais possível os profissionais do setor.

Os entrevistados foram divididos em dois grupos, o primeiro composto por um grupo de profissionais ligados ao turismo, com profissões independentes da política tais como jornalistas, professores, empresários e técnicos de turismo distinguindo-se do segundo grupo pela isenção política dos seus constituintes. Segue-se uma breve descrição dos membros que compõem o primeiro grupo:

Fernando Paiva, no ramo da hotelaria desde 1977, data da inauguração do hotel sol no centro da cidade. O hoteleiro é também proprietário do Imirá Plaza Hotel, que se localiza na via costeira, desde 1987, data do congresso da Associação Brasileira de Agentes de Viagens e motivo pelo qual o empresário se viu forçado a antecipar a data da inauguração do seu empreendimento que previa abrir apenas um ano mais tarde.

Sami Elali, responsável pela construção do primeiro hotel na via costeira, o Natal mar Hotel que inaugurou em 1984 dando inicio ao projeto turístico da cidade.

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30 Os jornalistas António Roberto, Cristina Lira e Hélio Cavalcanti, três dos mais conceituados jornalistas na área do turismo.

Jurema Márcia Dantas da Silva, arquiteta, especialista em planeamento e gestão de empresas turísticas. Professora fundadora do Curso de Turismo na Universidade Potiguar.

Ana Carolina Costa, diretora da agência de viagens Sunlinetur, foi presidente da Associação Brasileira de Agentes de Viagens do Rio Grande do Norte, cargo que ocupou de 2007 a 2011.

Os membros do segundo grupo são essencialmente pessoas com cargos políticos e do qual fazem parte:

Fernando Bezerril, secretário municipal de turismo em 20082

Soares Júnior, secretário municipal de turismo em 2009 Carlos Alberto, Coordenador do PRODETUR

Cármen Vera, Técnica da Secretaria Estadual de Turismo Fernando Fernandes, secretário estadual de turismo

Neivaldo Guedes, diretor da Espacial Eventos, uma empresa de organização de eventos e presidente do centro de convenções de Natal

Carlos Alberto Sodré, técnico da secretaria de turismo municipal

Elizabeth Bauchwitz, detentora de um bacharelato na área do turismo e técnica na Secretaria Municipal de Turismo.

Todas as entrevistas foram efetuadas em finais de 2008, início de 2009, referindo-se os dados acima a essa época. Entretanto, decorre o ano de 2014, temos feito um esforço para manter contato com a maioria dos entrevistados e com várias pessoas do ramo turístico daquela região, através das novas tecnologias de comunicação como o correio eletrónico e o facebook. Consideramos importante deixar um testemunho acerca da realidade atual do

2 Fernando Bezerril, atual Secretário de Turismo de Natal, tendo ocupado a mesma pasta de 2005 a 2008. Foi também Secretário de Turismo

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31 turismo no rio Grande do Norte, assim em fevereiro de 2014, pedimos a Elizabeth Bauchwitz para elaborar um resumo onde constasse a sua opinião acerca da evolução e panorama turístico atual na região, o qual pode ser consultado no final do último capítulo deste trabalho. Na impossibilidade de pedir a todos os entrevistados a sua opinião sobre a realidade atual, optamos por Elizabeth por vários motivos que vão desde a sua disponibilidade à proximidade com a investigadora. De salientar que Elizabeth se encontrava no início do ano no desemprego e portanto livre de qualquer vínculo de cargo público, de referir também que apesar de fazer parte do segundo grupo de pertença, a informante mostrou sempre isenção politica, só tendo sido colocada nesse grupo por trabalhar na época da entrevista num órgão público.

2. O turismo: perspetivas teóricas

Numa dissertação que pretende estudar a construção de um determinado destino turístico, parece-nos indispensável definir o conceito de turismo, para poder identificar o momento em que se dá o boom turístico dessa região e assim poder compreender quais os fatores que possibilitaram esse fenómeno. Assim escolhemos usar as definições da Organização Mundial de Turismo por serem as, que a nosso ver, reúnem maior consenso entre os investigadores da área. A Organização Mundial de turismo (1995) define turismo como “Atividades de pessoas que visitem e permaneçam em locais, fora da sua residência habitual não mais do que um ano consecutivo, por motivos de lazer, negócios ou outros”

A chegada dos “gringos3” a Natal expõe características distintas ao longo do tempo. Tentar perceber qual o início do turismo na cidade, como foi construído o destino e o que contribuiu para o seu desenvolvimento, leva-nos a uma reflexão acerca da evolução do turismo, bem como à reflexão acerca do verdadeiro significado de turismo.

Resolvemos partir do contributo teórico e empírico de alguns autores como Cunha (1997), Acerenza (1995), Lickorish e Jenkins (2000), Molina (2003) e a OMT (1998) sob forma de uma análise sumária da evolução do turismo ao longo dos tempos, para podermos definir o período sobre o qual deve assentar a nossa investigação,

3 O termo gringo é aplicado para indivíduos estrangeiros, residentes ou de passagem pelo país. Há certa controvérsia se o termo é ou não

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32 Cunha (1997) argumenta que o início do turismo acontece apenas no seculo XIX, no entanto identifica três etapas do turismo, que contribuíram para a evolução do setor: a idade clássica até ao seculo XVIII, a segunda etapa denominada idade moderna até ao seculo XIX e a terceira etapa a “idade contemporânea", até aos dias de hoje.

Acerenza (1995) estabelece a primeira etapa das viagens na Antiguidade e na Idade Média, a segunda etapa no seculo XVI com a expansão marítima e a evolução tecnológica dos meios de transporte, destacando o Grand Tour4; a terceira etapa nos meados do seculo XIX, com o conceito de viagens organizadas, tendo por pioneiro Thomas Cook, a quarta etapa após a primeira guerra, com a expansão das rodovias e da expansão do transporte aéreo; a quinta etapa no final da segunda guerra com um avanço ainda maior do transporte aéreo, no qual o avião passa a ser o principal transporte internacional, caracterizando-se também pelo início do turismo de massas; a sexta etapa refere-se às últimas décadas e distingue-se das demais pelo planeamento dos destinos turísticos, a diversificação e segmentação do turismo e pelo aumento dos efeitos multiplicadores do turismo nos destinos turísticos.

Lickorish e Jenkins (2000) apontam quatro etapas evolutivas do turismo, com a primeira a começar nos primórdios da humanidade e a terminar no início do seculo XIX. A segunda denominada pelos autores como a “era das ferrovias”, na qual se destacam os transportes, teria o seu início a meados do seculo XIX e o seu fim no início do século XX. Os autores sugerem a terceira etapa para o período entre guerras, da primeira à segunda guerra mundial. Consideram os autores que a “decolagem” do turismo se deu na quarta etapa, ainda em vigor e que teve o seu início nos finais do século XX.

Para Molina (2003) a evolução do turismo passou por três grandes fases: a primeira seria o pré-turismo onde se destacou o Grand Tour; a segunda fase reporta ao turismo industrial com início no seculo XIX até aos finais da década de 1980 e a terceira e última fase o pós-turismo a partir da década de 1990 estendendo-se até ao século XXI assinalada pelo uso de tecnologias de alta eficiência proporcionando o aparecimento de produtos turísticos desenvolvidos através do uso de capital e de tecnologia.

A Organização Mundial de Turismo (1998:10) destaca quatro etapas distintas para a evolução das viagens e turismo. A primeira situa-se nos anos cinquenta até à década dos anos

4 Fenómeno social típico da cultura europeia do seculo XVIII, caracterizada pelas viagens aristocráticas pela Europa, realizadas sobretudo

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33 oitenta na qual se verifica que o aumento das viagens internacionais no âmbito mundial duplicou, a cada dez anos. De referir que durante este período se verificou um aumento pela procura de bens diversificados. A década de oitenta é apontada pela OMT como a segunda etapa, na qual o turismo atinge um estado de saturação, que ocorreu pelo excesso de oferta e uma menor procura, a rondar anualmente os 4,5%. Quanto à terceira etapa, com início nos anos noventa caracteriza-se pela resistência às flutuações económicas mundiais que ocorreram nesse período. Só em 1991 e 1993, durante a guerra do golfo é que se verificou uma diminuição na taxa de crescimento. A quarta etapa refere-se à atualidade e caracteriza-se pelo aparecimento de novos produtos turísticos e pela emergência de novos destinos, com um ritmo de crescimento pouco estável.

Fica estipulada a data de 25 de dezembro de 1599 como início deste estudo, por ser a data da fundação da cidade de Natal, estudaremos esse intervalo de tempo até ao boom turístico dos dias de hoje. Este período alargado viabiliza uma pesquisa desde o começo, permitindo identificar os acontecimentos sociais, económicos, políticos e culturais que possam ter contribuído para o aumento do fluxo turístico ao Rio Grande do Norte e podermos, à semelhança dos autores aqui apresentados, arriscar enunciar algumas das etapas evolutivas do turismo do Rio Grande do Norte na conclusão do nosso trabalho.

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Capitulo II

Natal:

contextualização geográfica e socioeconómica da cidade

1. Localização, origem e trajeto histórico de uma cidade nordestina

Natal é a capital do Rio Grande do Norte, localiza-se na costa atlântica da região Nordeste do Brasil, sendo a capital estadual brasileira mais próxima do continente europeu e Norte de África.

Figura 1 – Mapa localização de Natal

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36 A região Nordeste conta na sua totalidade com nove estados, da qual fazem parte Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Pernambuco (incluindo o distrito estadual de Fernando de Noronha e o Arquipélago de São Pedro e São Paulo), Rio Grande do Norte (incluindo a reserva biológica Marinha do Atol das Rocas) e Sergipe.

Figura 2 – Mapa região Nordeste Brasil

Fonte: http://www.baixarmapas.com.br/mapa-da-regiao-nordeste/

O Rio Grande do Norte é circunvizinho ao estado do Ceará a Oeste e ao estado da Paraíba a Sul. A Norte e a Leste tem por vizinho o oceano atlântico.

Devido à sua localização geográfica, que forma um vértice a Nordeste da América do Sul; o Rio Grande do Norte é denominado como uma das esquinas do continente, posição que também lhe confere uma grande projeção para o Atlântico. O estado conta com uma extensão aproximada de quatrocentos quilômetros,

A população do estado estimada para 2013 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística foi de 3 373 960 habitantes, sendo o décimo sexto estado mais populoso do Brasil.

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Figura 3 – Mapa Rio Grande do Norte

Fonte: http://www.guianet.com.br/rn/maparn.htm

Em 1997 foi instituída a Região Metropolitana de Natal, através da Lei Complementar nº152, articulando seis municípios: Natal, Parnamirim, São Gonçalo de Amarante, Macaíba, Ceará-Mirim, e Extremoz. Os principais causadores para a institucionalização e configuração do espaço metropolitano foram a expansão urbana acelerada, a demanda por serviços e a necessidade de investimentos em parceria. Em 2002, através da Lei Complementar nº 221, foram incluídos os municípios de são José de Mibipu e Nísia Floresta. O Decreto-lei nº 15.873/02 estabeleceu o estatuto do conselho de desenvolvimento da Região Metropolitana de Natal. Atualmente composta por dez municípios, como mostra o mapa da figura 4, caracteriza-se pela forte centralidade exercida pela capital, Natal, no que refere às relações económicas.

A importância económica e a gama de prestação de serviços tanto públicos como privados, além de setores económicos, como o turismo, fazem com que natal seja responsável por toda a dinâmica e mobilidade populacional da região. Detentora de 65% da população metropolitana, Natal é o principal pólo dinâmico do estado, concentrando nesse espaço maiores ofertas de trabalho, bem como melhores condições de reprodução social (Clementino & Pessoa, 2008 in Ferreira, 2009:19).

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Figura 4 – Mapa região Metropolitana de Natal

Fonte:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Munic%C3%ADpios_da_Regi%C3%A3o_Metropolitana_de_Natal.svg

O nome Natal é usado para vender todo o destino norte-rio-grandense e não apenas a sua capital, esse critério será também usado ao longo deste estudo. Deste modo passamos a apresentar o litoral natalense que é formado pelas suas praias urbanas, mas também pelo litoral Norte e litoral Sul do estado.

O litoral natalense é formado por seis praias urbanas: Ponta Negra, Via Costeira, praia dos Artistas, praia do Meio, praia do Forte, e depois do rio Potengi, a praia da Redinha.

São Miguel do Gostoso, Maracajaú e Touros são as praias mais conhecidas do litoral Norte e no litoral Sul as praias de Pipa e Barra do Cunhaú parecem ter a preferência dos turistas.

A Norte a maior atração são as famosas dunas móveis próprias para o passeio de buggy, passeios em dromedários e o complexo de piscinas naturais de Maracajau e os seus famosos corais. A Sul as paisagens revelam algumas das mais belas praias da região, entre elas, as do vilarejo de Pipa e a baía dos Golfinhos. Em Pirangi encontra-se maior cajueiro do mundo e ponto de partida rumo às piscinas naturais. Já em Pirangi do Sul, as águas tranquilas e cristalinas são perfeitas para a prática de desportos náuticos.

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Figura 5 – Mapa do litoral- Grande Natal

Fonte: http://natal.home.sapo.pt/praias.html

São várias as versões que nos aparecem sobre a origem do nome da cidade, uma delas refere “Natal assim se chama pelo fato de se ter inaugurado sua igreja matriz em 25 de dezembro de 1599” (Vicente Lemos in Onofre Júnior 2002:9), já o padre Serafim Leite argumenta “chamou-se Natal porque foi esse o tempo em que a armada entrou a barra do Rio Grande do norte” (Serafim Leite in Onofre Júnior 2002:9). Note-se que este acontecimento dar-se-ia no ano de 1597, anterior à data da versão anterior, e é por este motivo que esta versão é a que parece ser mais consensual e é a que normalmente nos é apresentada pelos vários guias turísticos da cidade.

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Fotografia 1 – Vista Panorâmica de Natal (cidade antiga)

Fonte:http://www.natal.rn.gov.br/fotos/index.php?id=7&nm=Natal%20Antiga

A cidade de Natal teve vários nomes. Deixamos aqui a título de curiosidade alguns deles: Cidade dos Reis, na “História do Brasil” de Frei Vicente de Salvador; Rio Grande conforme consta nas cartas dos Séculos XVII e XVIII; Cidade de Santiago, referido por Cascudo, e Nova Amsterdam ou simplesmente Amsterdam, teria tido esta designação durante o domínio holandês, como pode ser lido na “História da Fortaleza da Barra do Rio Grande” por Hélio Galvão (Onofre Júnior 2002:10).

A cidade nordestina tem várias alcunhas: capital espacial do Brasil, cidade presépio e cidade do sol. Esta última acaba por ser um pregão turístico (Onofre Júnior 2002).

Natal, concentrada inicialmente no bairro da Ribeira, com seus casarios, é separada geograficamente pelo rio Potengi, realçando sua beleza, onde de um lado ficam os bairros de Santos Reis e as Rocas e na outra margem a praia da Redinha. Como argumenta Onofre Júnior (2002:11):

Natal nasceu no chão da atual praça André de Albuquerque. Os motivos da preferência por esta localização deviam-se a razões de ordem estratégica. Do alto da colina ficava mais fácil repelir eventual ataque de índios ou de piratas. Aliás, muitas cidades da era colonial tiveram os seus núcleos iniciais em situação idêntica.

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Fotografia 2 – Praça André Albuquerque. Natal – RN5

Fonte: http://www.natal.rn.gov.br/fotos/index.php?id=7&nm=Natal%20Antiga

Segundo este autor (2002:23), no começo do século XIX, Natal assemelhava-se em tudo a uma aldeia, sendo apenas considerada oficialmente cidade por ser a capital da capitania, o que obrigava à condição de cidade. Acerca da fundação da cidade, Onofre Júnior escreveu,

A cidade teria sido fundada a 25 de dezembro de 1599, dia de Natal: daí o nome. Sua origem, o Forte dos Reis Magos. Fundador: João Rodrigues Colaço ou, ainda, Mascarenhas Homem, segundo outras interpretações (Onofre Júnior 2002:24).

Primitivamente, a cidade era a Igreja Matriz rodeada de meia dúzia de casinhas. No início do século XIX notou-se uma pequena mudança, com a construção de várias casas de comércio, três igrejas, a casa do governador, a casa da câmara e a cadeia pública, e algumas casas de habitação, embora a totalidade de habitantes não ultrapassa-se os 1200 habitantes. De notar que a cidade de Recife possuía cerca de 25000 habitantes, enquanto a cidade da Paraíba, atualmente João Pessoa, tinha aproximadamente 3000 habitantes (Rocha Pombo in Onofre Júnior 2002:24).

5 Acredita-se que a fotografia tenha sido tirada entre 1940 a 1950. No site original não constam a data nem o nome do autor. A Praça André

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42 O impulso para o crescimento da cidade ocorreu de facto na década de 1940, com a Segunda Guerra Mundial. Com ela, o setor militar foi sendo desenvolvido, havendo então a instalação das bases militares aérea, naval e do exército, o que, segundo Cunha (1991), contribuiu para a expansão do sector terciário e imobiliário.

2. A cidade de Natal: demografia, economia e cultura

Segundo o IBGE, o Rio Grande do Norte divide-se em 167 municípios, com uma área total de 52 811,047 km², o que equivale a 3,42% da área do Nordeste e a 0,62% da superfície do Brasil.

Em 2010, ano que foi realizado o último censo demográfico do IBGE, a população total do estado do Rio Grande do Norte era de 3 168 027 habitantes. Nesse ano, o estado concentrava cerca de 1,7% da população brasileira e apresentava uma densidade demográfica de 59,99. De acordo com este mesmo censo demográfico, 2 464 991 habitantes viviam na zona urbana (77,81%) e 703 036 na zona rural (22,19%).

Quadro 1 – Evolução populacional

Fonte: IBGE: Censo Demográfico 1991, Contagem Populacional 1996, Censo Demográfico 2000, Contagem Populacional 2007 e Censo Demográfico 2010

Relativamente à capital do estado os dados do IBGE indicam 803 739 habitantes no ano de 2010. Em Natal concentravam-se nesse ano 25,4% da população estadual. O município possuía a maior densidade demográfica do Rio Grande do Norte, 4 808,20 hab./km².

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43 Através de uma análise dos dados do IBGE, concluímos que que a maioria da população se concentra na capital do estado, por ser aquela que possui melhores infraestruturas e que oferece melhores e mais oportunidades de emprego. Dos 167 municípios do estado, apenas três possuíam população superior a cem mil habitantes: Natal, Mossoró e Parnamirim.

Entre 2000 e 2010, o Rio Grande do Norte registrou um crescimento populacional 14,30%, superior às médias da região Nordeste (11,29%) e do Brasil (12,48%).

Segundo o IBGE (2010), as atividades económicas do estado contribuem da seguinte forma para o produto interno bruto estadaual: agropecuárias com 5,1%; indústria 24% e serviços 70,9%.

Devido ao seu clima tropical o estado tem no setor do turismo a sua principal atividade económica. Com pouco mais de 3 milhões de habitantes, atraía em 2012 mais de 2 milhões de visitantes por ano, chegando a concentrar atualmente 25% da sua população economicamente ativa nesta atividade.

Quadro 2 – Fluxo turístico 2012 2012 DISCRIMINAÇÃO FLUXO % NATAL BRASILEIROS 1.590.187 93,48 ESTRANGEIROS 110.912 6,52 TOTAL 1.701.099 100,00 RIO G. DO NORTE BRASILEIROS 2.449.726 93,56 ESTRANGEIROS 168.622 6,44 TOTAL 2.618.348 100,00 Fonte: SETUR/RN

As praias em conjunto com os seus inúmeros monumentos históricos e culturais como o Forte dos Reis Magos, o Teatro Alberto Maranhão, o Palácio da Cultura, a Igreja do Rosário dos Pretos, o Instituto Histórico e Geográfico; o prédio da Associação Comercial, a Capitania

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44 das Artes, o Farol de Mãe Luiza, a Pedra do Rosário e tantos outros, formam as principais atrações turísticas da cidade.

Embora os principais atrativos naturais estejam ao longo da costa, fora dos limites do município, é na zona urbana onde está concentrada a maior parte dos hotéis, shoppings, restaurantes, bares. Os hotéis encontram-se principalmente na via costeira, em contrapartida os bares, restaurantes, shoppings e lojas de artesanato localizam-se na praia de Ponta Negra.

A praia de Ponta Negra é a principal da cidade, é também onde está concentrada a maioria de sua atividade turística. Neste lugar encontra-se o morro do careca, uma enorme duna de areia que é o cartão postal turístico da cidade.

O Rio Grande do Norte é conhecido pelos passeios de buggy6 pelas dunas, precedidos

sempre da pergunta “com emoção ou sem emoção?”7

Fotografia 3 – Passeio de buggy nas dunas de Genipabú

Fonte: http://www.tempodeaventura.com.br/pt-BR/passeio/dunas-de-genipabu

A cidade possui na sua história traços das colonizações holandesa e portuguesa, sediou uma das mais importantes bases militares da segunda guerra mundial; abriga o segundo maior parque florestal urbano do Brasil (o Parque das Dunas) e conserva o charme de uma cidade de médio porte, oferecendo conforto e segurança aos turistas.

6 Buggy é um jipe aberto. Em natal uma das principais atrações são os passeios efetuados neste transporte.

7 O passeio mais famoso e mais procurado pelos turistas é o passeio nas dunas de Genipabú. As dunas são móveis e a ação do vento, muito

intensa no litoral, move a areia. A sensação é de uma “montanha russa”, que pode ser “com ou sem emoção”. Com emoção, as manobras são radicais, com adrenalina, sem emoção o passeio é mais tranquilo.

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45 Soares Júnior8 comparou dados estatísticos do turismo brasileiro com os de outros

países como o Uruguai, a Argentina e a Venezuela nas décadas de 70 e 80 do século passado. Utilizou dados relativos ao fluxo, oferta hoteleira, receita gerada, empregos gerados no setor e concluiu com essa análise que “a atividade turística no Brasil é insignificante, não sendo levada a sério pelos sucessivos Governos” (Soares Júnior, GA, 5).

Fotografia 4 – Praia de Ponta Negra

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Praia_de_Ponta_Negra_(Natal)

O desenvolvimento do turismo traz associados impactos negativos e positivos para as regiões onde se insere. Assim, se por um lado a atividade turística ajudou ao desenvolvimento económico da região, sendo um dos principais geradores de emprego e riqueza na região, por outro lado trouxe impactos negativos bastante graves ao nível do ambiente como a construção de complexos turísticos literalmente em cima do mar, sem respeitar as dunas, nem o mar, como descrevem Ribeiro e Sacramento (2006: 4-5):

Uma encosta belíssima debruçada sobre o mar, com uma faixa de areia interrompendo a vegetação. Ao longo dos cerca de dois quilómetros da estreita língua de areia que dá corpo à praia erguem-se hotéis, pousadas, aparthotéis, restaurantes e bares. Em plena praia posicionam-se pequenos espaços de apoio aos veraneantes, oferecendo esteiras, guarda-sóis e

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46 serviço de bar. Os prédios altos, que dão um ar americanizado à cidade, situam-se precisamente por detrás da primeira linha de praia. A presença italiana faz-se notar através dos inúmeros anúncios escritos na língua de Leonardo da Vinci, nomeadamente identificando

ristorantes, pizzerias e outros negócios ligados ao turismo. Embora muito diferente em termos

paisagísticos e a uma escala mais reduzida, os prédios que ficam na encosta da praia fazem lembrar alguns dos piores exercícios urbanísticos do Algarve e da costa andaluza espanhola. O turismo no Nordeste tem sido importante na atração de populações, tendo em vista as múltiplas possibilidades de investimento, a geração de renda e de emprego, a implementação de infraestrutura básica, a existência de paisagens naturais e a melhor qualidade de vida. Esse quadro tem favorecido a dinamização e ampliação de diversas atividades, tais como: o comércio, o setor imobiliário, a prestação de serviços, o setor de transportes, além de aumentar arrecadação de impostos e ampliar o mercado formal e informal de trabalho.

(47)

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Capitulo III

O turismo na cidade de Natal antes da massificação:

viajantes, militares e marinheiros

1. Os primeiros anos: hotelaria e aviação

A proximidade de Natal em relação à Europa integrou a cidade potiguar9 na rota dos

voos internacionais, assinalando-se a sua presença desde 1920, ano em que Natal recebia pela primeira vez voos comerciais internacionais, que passavam pelo local, seguindo para a Argentina.

No final da década de 1920, com a expansão da aviação comercial europeia para a América do Sul, “Parnamirm10 passou a ser campo de pouso para aviões internacionais vindos

da Europa” (Souza 1999:288). Onofre Júnior reportando-se aos finais da década de 1920 comenta,

Naquele tempo, Natal era ponto de escala obrigatória dos aviões que ligavam Brasil e Europa. As estranhas máquinas saltavam o Atlântico, desciam aqui e só desciam de novo lá pelo Sul.11 Como se vê um privilégio natalense, dada a situação geográfica da cidade (2002:32).

Segundo o autor (Onofre Júnior 2002:32), é de referir que em 1929 existiam já na cidade duas companhias de viação, ambas francesas: Compagnie Generale Aero-Postale e

9 Potiguar (potiguares no plural) é uma denominação dada a quem nasce no estado do Rio Grande do Norte (assim como norte-rio-grandense

ou rio-grandense-do-norte). Potiguar é o nome de uma grande tribo tupi que habitava a região litorânea do que hoje são os estados Rio Grande do Norte e Paraíba. Em tupi quer dizer "comedor de camarão" (potï, "camarão" e war, "comedor"). Vários descendentes da tribo dos potiguares adotaram, ao serem submetidos ao batismo cristão, o sobrenome Camarão.

10 Parnamirim é um dos Municípios do Estado Rio Grande do Norte, intensamente ligado a Natal. 11 Os aviões pousavam em Parnamirim e decolavam em direção ao Rio de Janeiro e Buenos Aires.

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48 Latécoére, que se dedicavam principalmente ao transporte de correio aéreo, assegurando também o transporte de passageiros. Este movimento intensificar-se-ia ao longo da década de 1930. Neste período encontravam-se instalados no bairro da Ribeira, em Natal, várias empresas: Compagnie Generale Aéropostale (francesa), Sindicato Condor (alemã), Panair do Brasil (representante da Pan-american), Ala Littoria (italiana).

A compagnie générale aéropostale12 foi uma das pioneiras da aviação no mundo e

principalmente no Brasil, sublinha Medeiros (2012),

Em 25 de dezembro de 1918, a empresa começou a servir a sua primeira rota entre Toulouse e Barcelona, na Espanha. Em fevereiro de 1919, a linha foi estendida para Casablanca, no Marrocos. Em 1925 estendeu-se a Dakar, a capital e a maior cidade do Senegal, onde as malas postais eram enviadas por navio para a América do Sul. Em novembro de 1927 iniciou voos regulares entre o Rio de Janeiro e Natal. Suas rotas foram se expandindo até o Paraguai e depois, em julho de 1929, foi criada uma rota regular, até Santiago, Chile, passando sobre a Cordilheira dos Andes.

Figura 6 – Horários da empresa Aéropostale Rio de Janeiro/Natal (1931)

Fonte: Publicação de um jornal do Rio de Janeiro apud http://tokdehistoria.wordpress.com/tag/compagnie-generale-aeropostale/

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49 Medeiros (2012) assevera que a primeira rota aérea transatlântica regular e comercial implantada no mundo, aconteceu no dia 7 de fevereiro de 1934, com a chegada a Natal de um hidroavião da empresa aérea alemã Lufthansa.

Os agentes de viagem das empresas acima referidas pressionavam o governo do Estado para construir um hotel de boa qualidade na cidade, essa questão foi muito debatida, um cronista da época escreveu,

Muitos compatriotas e estrangeiros deixaram de nos visitar por falta de hospedagem confortável. Os aviões da Panair e da Condor regularam os seus horários com pernoite em Recife e Fortaleza, pelo motivo referido (A Répubica:13 de Maio de 1939 in Souza 1999:288).

Quadro 3 - Primeiras unidades hoteleiras de Natal

Data Hotel Proprietário/responsável

193513 Hospital Miguel Couto Estado

1939 Grande Hotel Estado

Arrendado a Theodorico Bezerra 1948 Hotel Bom Jesus Mário Cabral

1965 Hotel Reis Magos

Estado-Governador Aluízio Alves Arrendado à companhia Tropical de Hotéis

(integrante do grupo Varig) 1968 Hotel do Tirol José Pacheco – empresário 1976 Ducal Palace Governador Aluízio Alves

União de Empresas Brasileiras (UEB) 1977 Hotel Sol Fernando Paiva – empresário

Fonte: elaboração própria, baseado no Diário de Natal

13 O hospital existe desde 1855, à data conhecido como hospital da caridade. Em 1935, adota o nome de hospital Miguel Couto. Muitas

autoridades hospedavam-se nos apartamentos do atual Hospital Universitário, na época hospital Miguel Couto, o hospital usava as suas melhores suítes para albergar hóspedes ilustres. No ano de 1946, amplia suas dependências com capacidade para 379 camas. Em 1984, o Hospital, através da resolução nº 68/68 do Conselho Superior da Universidade Federal do Rio Grande do Norte passa a denominar-se "Hospital Universitário Onofre Lopes”.

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50 Em Janeiro de 1939 outro cronista do jornal A Republica comentava,

Por falta de um bom hotel ficamos privados da pernoite do Norte e do Sul do país. Além desta circunstância, numerosas pessoas acostumadas ao conforto de habitações decentes, fugiam de Natal à falta de uma casa onde se pudessem hospedar. Ultimamente, chegamos ao extremo de transformar, por vezes, os apartamentos de luxo do hospital Miguel Coutinho em dormitório de hóspedes ilustres… (A República: 01 de Janeiro de 1939 in Souza 1999:288).

Itamar de Souza (1999:288) evidencia que “foi para resolver este problema que o interventor14 Rafael Fernandes Gurjão15 construiu o grande hotel16, no bairro da ribeira,

naquela época era o mais movimentado da capital do estado”. Durante a Segunda Guerra Mundial este hotel iria viver os seus tempos áureos, “vivia superlotado”. Com o fim da guerra o hotel começa a perder qualidade, a própria cidade entra em crise económica, os americanos regressam ao seu país e com eles os dólares que circulavam pela cidade.

Nascia assim a necessidade de se construir o primeiro hotel da cidade, denominado Grande Hotel e que data de 1939, dando início ao estabelecimento do turismo na cidade e sendo o único até 1960, quando houve a construção do Reis Magos:

Na década de 1920 Natal entra na rota dos voos internacionais, Parnamirim serve de campo de pouso para os aviões comerciais que se destinavam para a Argentina. Da frequência destes voos nasce a ideia da construção de um hotel, já que na época se utilizavam como hospedagens apartamentos do Hospital Miguel Couto para pernoites. Em 1939 é inaugurado o grande hotel na Ribeira. Até os anos 60, foi o único hotel na cidade (Elizabeth Bauchwitz, GA 15).

Hélio Cavalcanti, jornalista de turismo de Natal, comenta acerca da hotelaria na cidade nordestina que,

Em 1960, para você ter uma ideia, Natal não tinha um hotel de grande porte. Tinha um Grande Hotel que era voltado para o turismo de negócios, era ali na Ribeira. Então em 1965 é que foi

14 Na época do governo Getúlio Vargas, vários estados brasileiros possuíam interventores e não governadores, os interventores eram

nomeados pelo próprio presidente. Eram responsáveis pela administração do estado.

15 Considerado como personagem ilustre no que diz respeito ao desenvolvimento da região, exerceu as profissões de interventor federal,

governador do estado do Rio Grande do Norte, deputado estadual, médico e industrial. Foi Governador do Estado no período de 09/10/1935 a 29/04/1945. Em 24 de novembro de 1937, foi nomeado interventor Federal, através do presidente da República Getúlio Vargas.

16 O Grande Hotel, propriedade do estado, inaugurado a 13 de maio de 1939, passa a ser o escritório do deputado federal Teodorico Bezerra

(Souza 2002). O edifício é atualmente utilizado como tribunal de pequenas causas. O antigo Grande Hotel é desde 1991, parte do património histórico estadual.

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51 inaugurado o primeiro hotel beira-mar, o Reis Magos, mas isso também não é apenas em Natal, isso era no nordeste inteiro. O Nordeste inteiro não valorizava o seu litoral (Hélio Cavalcanti, GA 6).

Fotografia 5 - O Grande Hotel, em Natal

Fonte: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1870-350X2007000200006&script=sci_arttext

Fotografia 6 - O Grande Hotel, em Natal – 1942

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52 A 7 de setembro de 1965 é inaugurado o hotel Reis Magos, na praia do Meio, primeiro hotel à beira-mar. A inauguração deste edifício fez com que a COSERN17 iluminasse tudo à

sua volta, desde a avenida Hermes da Fonseca às praias do Meio, Areia Preta e do Forte. O povo participou da festa dançando ao som do frevo18 de Nelson Ferreira, animador dos

carnavais pernambucanos (Souza 2002:291). Fernando Bezerril relembra com entusiasmo a inauguração do hotel Reis Magos,

Isso foi uma festa, Bete, você não imagina, tinha que ver, tudo iluminado, o povo pulando, fazendo a festa, o hotel tinha até uma discoteca. Sabe, o Reis Magos foi o grande responsável em trazer iluminação para essa parte da cidade. Então, o povo estava feliz. (...) Natal não tinha grande hotelaria, tinha o Grande Hotel, na Ribeira e depois o hotel dos Reis Magos na praia do Meio. Mas antes disso tudo tinha o hospital Miguel Couto, na época, metade dele era hospedaria. O primeiro hotel de Natal foi o hospital Miguel Couto, metade dele, as suítes luxuosas eram destinadas a receber hóspedes que vinham pernoitar a Natal (GA, 1).

A evolução da hotelaria até à construção do Reis Magos, foi acontecendo de costas voltadas para o litoral, o que acontecia um pouco por todo o Brasil, na época, a oferta hoteleira ficava-se pelo centro da cidade, o que não se tornava muito apelativo para o turismo de lazer. Fernando Paiva sustenta a nossa afirmação,

Natal era até menor que João Pessoa em 1950, por isso mesmo ela ficou com a área litoral muito livre, muito à vontade, ela era como se fosse uma nova descoberta. Os hotéis estavam todos necessariamente no centro da cidade. Inaugurei o hotel Sol em 1977, no centro da cidade. Você pode perguntar porque não à beira-mar, mas a praia era uma coisa que você só ia uma vez por ano. Em 1965, o governador Aluízio Alves decidiu fazer um hotel na praia, e fez o hotel que se chamou Reis Magos. Esse governador fez por capricho, mas toda a gente dizia que não ia dar certo. E deu certo. De um modo geral no Brasil não havia hotéis à beira-mar, só o Rio de Janeiro é que tinha uns hotéis na praia. Os principais hotéis localizavam-se no centro da cidade, aqui, em Fortaleza, em Salvador. Não havia muito o turismo de lazer, o turismo era só comercial, industrial. O hotel Reis Magos foi feito com dinheiros públicos, mas aí ele pôs

17 A Companhia Energética do Rio Grande do Norte (COSERN) é a empresa responsável pela distribuição de energia no estado do Rio

Grande do Norte, Brasil.

18 A palavra frevo vem de "ferver" simbolizando a alegria do povo durante a festa. A primeira vez que a palavra foi usada para simbolizar

esse movimento cultural foi no Jornal Pequeno, na edição de 09 de fevereiro de 1907, segundo o pesquisador Evandro Rabello no livro "Memória da Folia - O carnaval do Recife pelos olhos da imprensa 1822/1925". A dança do frevo surgiu com inspiração na capoeira, forma de luta e defesa desenvolvida pelas populações negras trazidas como escravos para o Brasil no período colonial. Os escravos tinham que disfarçar esse tipo de treinamento de luta para não serem castigados, mas necessitavam treinar para se defender. Por isso, misturavam os golpes ao estilo de dança, com piruetas e saltos.

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53 uma empresa para administrar o hotel, a Varig19. Grande jogada a dele para trazer o pessoal para cá. O hotel só tinha sessenta apartamentos mas estava muito bem projetado, tinha piscina, tinha uma boate20, tinha um restaurante muito bom. Era muito difícil conseguir

operacionalizar esse hotel. Quando instalou um elevador para subir apenas três andares a energia não tinha força, aí o governador mandou montar um motor de energia independente da cidade para ter força para o elevador funcionar. É por isso que tem ao fundo do hotel, uma rua chamada rua do motor que não tem mais motor hoje, porque depois de um certo tempo a companhia elétrica melhorou muito. Para você imaginar lá não passava ônibus, não tinha telefone, o telefone só foi posto nessa zona por causa do hotel Reis Magos. (GA, 4)

Fotografia nº 7- Hotel Reis Magos

Fonte: Jaeci Emerciano http://nataldeontem.blogspot.com/2009/08/os-americanos-e-os-habitos-do-natalense.html

A secretaria municipal de turismo e certames21 foi criada a 31 de dezembro de 1968, pelo perfeito da cidade Agnelo Alves, através da lei nº 1.789, tomando posse como secretário o jornalista Paulo de Macedo. No Diário de Natal pode ler-se acerca deste secretário o seguinte:

19 Empresa de aviação.

20 A palavra boate é um estrangeirismo, deriva da palavra boîte, na língua francesa. Significa estabelecimento comercial, geralmente noturno,

onde é usual beber, ouvir música e dançar. "boate", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/boate.

Imagem

Figura 1 – Mapa localização de Natal
Figura 2 – Mapa região Nordeste Brasil
Figura 3 – Mapa Rio Grande do Norte
Figura 4 – Mapa região Metropolitana de Natal
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