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A DOCUMENTAÇÃO ARQUITETÔNICA DE RIO DE CONTAS

QUADRO 4: DOCUMENTAÇÃO E TECNOLOGIAS DIGITAIS

4. A DOCUMENTAÇÃO ARQUITETÔNICA DE RIO DE CONTAS

Este capítulo descreve uma experimentação baseada na estrutura teórica desenvolvida no contexto da linha de pesquisa em que ele se insere: o da documentação arquitetônica e de sítios de interesse histórico-cultural através da tecnologia digital.

Este trabalho de documentação foi dividido em três etapas: a coleta de dados sobre o objeto de estudo, o processamento destes dados em laboratório e a formulação de um esquema de representação do acervo digital obtido das etapas anteriores que resultou na elaboração de um website, para sua divulgação e acesso.

A etapa inicial do projeto de documentação consistiu em coletar um conjunto de dados mínimos necessários para a composição de um acervo digital preliminar sobre o patrimônio histórico arquitetônico e cultural da cidade de Rio de Contas, classificado da seguinte forma:

 Produtos Fotográficos: fotografias históricas, fotografias atuais do conjunto arquitetônico, do cotidiano da cidade e das edificações;

 Produtos fotogramétricos: ortofotos e restituições (desenhos);

 Desenhos: ilustrações, desenhos técnicos (plantas, cortes, elevações e detalhes) e croquis cotados;

 Textos: históricos, acadêmicos, técnicos e legislativos como relatórios de estado de conservação, manuais de preservação e leis;

 Panoramas: interior das edificações e de seu entorno, panorama planificado;  Modelos geométricos: modelo simplificado do sítio histórico e modelos

detalhados de edificações tombadas, e

 Vídeos: depoimentos de moradores, filmagem do cotidiano da cidade.

Estas categorias foram definidas em função dos recursos disponíveis para produzi- las, pela experiência em documentação arquitetônica de trabalhos anteriores e de projetos similares consultados em revisão bibliográfica.

Foram definidos como objetos para compor esta base preliminar do acervo inicial da base de dados multimídia as edificações do conjunto arquitetônico tombado e os

edifícios da Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento, da Igreja de Senhora Santana e do Fórum Barão de Macaúbas, sendo incorporados posteriormente os edifícios do Teatro São Carlos, a Capela de Bom Jesus e a casa número 05 da Rua Comendador Souza.

Os métodos utilizados para a coleta de dados e para o processamento destes estão diretamente relacionados com os produtos59 finais desejados pertencentes a este acervo. Por exemplo, na categoria “produtos fotogramétricos”, para a produção de uma ortofoto são necessários métodos específicos de captura (fotogrametria e medição direta) e de processamento (programas específicos). Portanto, o nível de detalhe e o conteúdo do produto final foram decisivos para a definição dos procedimentos adotados, tanto na coleta de dados como no processamento destes.

A coleta de dados foi realizada em duas fases complementares: uma fase inicial com o objetivo de verificar a documentação existente sobre a cidade de Rio de Contas e uma segunda fase, planejada a partir da avaliação deste material, que consistiu de trabalho de campo para coleta de dados in loco.

4.1 A COLETA DE DADOS PRÉ-EXISTENTES

A documentação pré-existente do sítio histórico de Rio de Contas foi pesquisada em fontes oficiais como o IPHAN, o Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, a Prefeitura Municipal de Rio de Contas, o Arquivo Público Municipal de Rio de Contas, o IBGE, o Sistema de Informações Geográficas do Estado da Bahia, a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (CONDER), a Fundação Biblioteca Nacional, o Arquivo Nacional e a Fundação Clemente Mariani (Centro de Documentação e Informação Cultural sobre a Bahia).

Nestas fontes oficiais foram encontrados livros, material acadêmico (teses e dissertações) e documentos sobre a formação da cidade além de descrições de viajantes, entre os quais destacam-se o relatório do mestre dos engenheiros de campo Miguel Pereira da Costa (1720), o relatório dos naturalistas Johann Baptiste

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No contexto deste trabalho “produto” significa o resultado obtido do processamento dos dados coletados (como por exemplo ortofotos, modelos geométricos e desenhos técnicos) como também o próprio dado bruto (fotografias e textos).

von Spix e Carl Friedrich Phillipp von Martius (1818), o diário de campo do engenheiro Theodoro Sampaio (1880) e as descrições de Durval Vieira Aguiar (1888).

O Arquivo Nacional forneceu um mapa do município de Rio de Contas (Figura 56) na escala de 1:100.000, datado de 1940 que, apesar de conter informações sumárias, apresenta uma ampliação na escala de 1:10.000 do perímetro urbano , indicando as poligonais das quadras, que confrontada com a planta mais recente disponível do sítio histórico se revelou útil para verificar a expansão urbana do município.

Figura 56: Mapa do Município de Rio de Contas datado de 1940. Em destaque o perímetro urbano Fonte: Arquivo Nacional, 2008

A consulta ao Arquivo Histórico Municipal de Rio de contas consistiu na coleta de informações sobre a formação da cidade, iconografia, textos e de informações sobre os edifícios tombados como a Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento, a Igreja Nossa Senhora Santana, o Fórum Barão de Macaúbas e o Teatro São Carlos. Foram encontradas também fotografias de edifícios já demolidos como a Igreja Nossa Senhora do Rosário (Figura 57) e fotografias de épocas diversas revelando as transformações urbanas e paisagísticas da Praça Senador Tanajura.

Figura 57: Demolição da Igreja Nossa Senhora do Rosário em 1930 Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Rio de Contas, 2008.

O Arquivo Histórico Municipal de Rio de Contas foi criado em 1989 e reúne uma série de documentos relativos à história da cidade no período de 1724 a 1900 que revelam a riqueza da cidade no ciclo da mineração do ouro. Estes documentos são, na sua maioria de cunho jurídico, como documentos de posse, cartas de alforria e cartas de sentenças eclesiásticas.

Em consulta à 7a Superintendência Regional do IPHAN e ao seu Escritório de Representação Técnica, sediado em Rio de Contas, constatou-se que a

documentação arquitetônica, utilizada para os trabalhos técnicos deste órgão no município, consiste no levantamento publicado no IPAC no período de 1978 a 1980 onde constam fotografias da edificação tombada, planta baixa dos pavimentos em escala reduzida e dados como a tipologia da construção, o sistema construtivo, o uso, as restaurações e intervenções realizadas, dados históricos da edificação, o grau de proteção e número de tombo e o estado de conservação da edificação (na época do inventário).

Não foi encontrado qualquer material recente de cadastro arquitetônico60, salvo alguns croquis em relatórios técnicos de estado de conservação de alguns edifícios. Da mesma forma a planta do município utilizada para os trabalhos técnicos da 7a SR IPHAN é uma planta elaborada a partir de um levantamento semi-cadastral61 executado em 2001, cedido pela Empresa Baiana de Água e Saneamento S. A. (EMBASA). A planta base do projeto de documentação aqui descrito, deriva desta planta cedida pela IPHAN 7a SR, com alguma atualização.

Portanto, nesta fase inicial foram encontrados dados como bibliografia específica sobre a região (textos históricos), imagens históricas, desenhos técnicos (planta do município de 1940, planta do município de 2001, e estudos da fachada do Teatro São Carlos). Esta fase foi importante para uma melhor apreensão do objeto de estudo, sua formação e importância histórica bem como para constatar a falta de documentação atual e disponível, como plantas de cadastro arquitetônico das edificações e de todo o conjunto, levantamento topográfico e imagens de satélite. Esta avaliação permitiu definir e planejar o trabalho de campo a céu aberto, segunda fase desta coleta de dados.

4.2 A COLETA DE DADOS NO LOCAL

A segunda fase de coleta de dados, desenvolvida no período de 2 a 11 de agosto de 2008, segundo cronograma apresentado no Quadro 5, consistiu no levantamento de

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Cadastro arquitetônico compreende a rigorosa e detalhada representação gráfica das características físicas e geométricas da edificação, do terreno e dos demais elementos físicos presentes na área a ser levantada (OLIVEIRA, 2006).

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Este levantamento semi-cadastral, foi realizado com o objetivo da implantação da rede de abastecimento de água, consistindo apenas de informações planialtimétricas, das poligonais das quadras e testadas dos lotes.

dados in loco baseado nas técnicas de registro e documentação disponíveis, convencionais e digitais, visando testar as técnicas e metodologias.