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QUADRO 4: DOCUMENTAÇÃO E TECNOLOGIAS DIGITAIS

3. EXPERIÊNCIAS DE DOCUMENTAÇÃO

3.4 DISCUSSÃO DOS PROJETOS

Os trabalhos descritos neste capítulo foram analisados sob três aspectos, a relevância para o contexto deste trabalho, o método de documentação adotado pelo projeto e a forma de disseminação deste.

De uma forma geral, todos os projetos vinculados à pesquisa de documentação arquitetônica histórica, utilizam ambas as tecnologias tradicionais (analógicas) e digitais, tanto na aquisição de dados como no processamento destes.

Nos projetos em que foi possível verificar a metodologia de documentação utilizada, verificou-se que normalmente na fase de aquisição de dados (ou fase cognitiva) são demandados os maiores investimentos (técnicos, financeiros e de tempo), sendo esta fase, em alguns casos a mais importante. A preocupação com uma documentação mais robusta e fidedigna, e de fontes diversas, para a produção das simulações e reconstruções digitais, legitima este instrumental na produção de uma documentação analítica. Verifica-se isto nos modelos geométricos produzidos, reflexos não tanto pela tecnologia que os produziram, mas pelo aporte documental que os fundamentaram.

Dos modelos geométricos mais simplificados, mas que cumprem sua função de transmitir as informações de forma clara e precisa (como é o caso do projeto The

Theban Mapping), aos modelos geométricos fotorrealisticos, que só poderiam ser

elaborados desta forma, dada a carga de informação que contém (como é o caso da Casa de Dona Yayá), os dados utilizados para sua construção dependem de parâmetros de estudos científico documentais (TIRELLO, 2008).

Nesse sentido, projetos como o Rome Reborn, impecável no realismo dos modelos em sua versão 2.0, por si só pouco acrescenta em termos de documentação arquitetônica de uma época (um dos objetivos do projeto), pois a obsessão pela busca da reconstrução fidedigna preencheu as lacunas em virtude de uma unidade da imagem, o que recaiu em simulacro. Não se diferencia neste projeto, o que é fruto de um trabalho exaustivo de documentação, do que é “abstração”.

As simulações de reconstrução fazem parte do exercício, e é uma das vantagens das técnicas digitais, enquanto forma de se apreender as várias épocas históricas de um mesmo objeto, suas transformações e evoluções, simulando eventos ou testando intervenções, desde que claramente explicitadas enquanto simulacro.

Com exceção dos projetos Theban Mapping e dos projetos do CyARK, poucos apresentam os metadados dos objetos digitais que disponibilizam. O que dificulta qualquer avaliação sobre estes dados, e em alguns casos inviabilizam a sua utilização. A importância dos metadados reside na divulgação de informações sobre os dados, que são imprescindíveis para algumas técnicas digitais como a restituição fotogramétrica de uma imagem, que utiliza certos parâmetros da máquina digital, como distância focal, por exemplo.

No aspecto da disseminação, a plataforma web é a mais utilizada, tanto que projetos concebidos em outros formatos estão sendo atualizados e migrados para esta plataforma. Nesse aspecto, notam-se duas abordagens, uma de visualização e outra de interação. Sendo esta última o recurso mais utilizado atualmente, e aparece em diferentes graus, nos projetos aqui analisados.

Os projetos que permitem apenas visualização do seu conteúdo, mesmo que com certa interação, valendo-se de panoramas são o Acervo do Patrimônio Arquitetônico de São José dos Campos e Jacareí, o Projeto Fortalezas Multimídias, Projeto Missões e o Projeto Lençóis.

Os projetos que foram concebidos, em sua estrutura (tipo de modelo, tipo de navegação e forma de interação) como interativos, visam uma maior participação do público seja na forma de “exploração” do objeto (Gilded Age Plains City, Casa D. Yayá e Theban Mapping) ou na forma de colaboração na ampliação de suas bases de dados (CyARK, e Fortificações Mundiais).

Todos os projetos analisados inserem-se, no âmbito da educação, na divulgação do patrimônio histórico que representam. Seja na forma de visualização de conteúdo, ou na disponibilização (download) dos objetos digitais integrantes da sua base de dados. Dentro desta temática, destaca-se o CyARK, que além de disponibilizar todo o conteúdo do site (mediante cadastro gratuito) fornece em arquivos material e roteiros de aulas, incentivando assim o uso de sua base de dados.

Verificou-se ainda nestes projetos a questão da atualização das bases de dados, que requer demanda de pessoal especializado ou sistema específico, como exemplo nos casos aqui analisados, o projeto Fortalezas Multimídia resolve esta questão com uma excelente programação e estruturação de seu sistema, de forma que sua base de dados é constantemente atualizada. Da mesma forma, com estrutura mais simples, mas não menos eficiente, a aplicação multimídia (em formato HTML) desenvolvida para o Acervo do Patrimônio Arquitetônico de São José dos Campos.

Uma das vantagens (e desvantagens, pela ótica do armazenamento) da tecnologia digital na documentação, é a produção de imensos acervos de dados brutos e processados que compõem estas coleções digitais. E, uma crítica geral aos projetos aqui analisados, este material bruto não é disponibilizado, ficam em seus acervos a espera de processamento.

Por fim, foram analisados também os websites do IPHAN, do Programa Monumenta58, do IPAC-BA e o website da UNESCO, no sentido de ressaltar as qualidades e deficiências descritas por Cohen (2006) em projetos de temática histórica com o uso de tecnologias digitais e do trabalho em rede.

Nos websites dos órgãos oficiais, IPHAN, IPAC-BA e UNESCO, não foram encontradas ferramentas que facilitem ou permitam que usuários comuns (não acadêmicos) tenham um acesso claro, dinâmico ao acervo (problemas de acessibilidade e de leiturabilidade). Além de pouco atraentes, são destinados apenas a divulgação de resultados de pesquisas e trabalhos elaborados pela instituição que os desenvolveu, ou seja, tem caráter institucional e não utilizam plenamente os recursos que as tecnologias digitais e a web oferecem.

Assim, nos projetos aqui analisados, apesar de diversos em suas aplicações e objetivos, nota-se que a potencialidade de um website como ferramenta colaborativa e interativa, no sentido de favorecer o diálogo e o debate, ainda é pouco utilizada. À forma de representação e comunicação destes acervos, sobrepõem-se o aspecto de difusão e divulgação ao aspecto de disseminação, tópico que será abordado no capítulo 4, no item 4.5 “A disseminação do acervo digital”.

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Monumenta é um programa de recuperação do patrimônio cultural urbano brasileiro, executado pelo Ministério da Cultura e financiado pelo BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento.