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ECONOMIA DA INOVAÇÃO E ECONOMIA TERRITORIAL DA INOVAÇÃO

CAPÍTULO 1 – A ABORDAGEM DA ECONOMIA DA INOVAÇÃO

3. A economia da inovação

Nesta parte do trabalho atentar-se-á nos aspectos relativos à economia de inovação nas áreas mais particularmente ligadas aos mecanismos através dos quais as inovações são geradas, escalpelizando igualmente o conceito de sistema de inovação, bem como os aspectos referentes à difusão tecnológica.

A economia de inovação estuda as modificações tecnológicas e o seu impacte na matriz económica, focando, especialmente, a questão da interdependência entre inovação no produto e inovação no processo produtivo. A economia da inovação, importa explicitar, possui uma componente marcadamente tecnológica, relegando-se, nesta óptica, os aspectos de organização e gestão empresarial para lugares de somenos importância, em termos de estudo e análise.

3.1. O conceito de inovação

Importa, desde já, desfazer alguns equívocos relacionados com o conceito de inovação que, não raras vezes, é utilizado fora do seu correcto enquadramento. Alves et alii (1987: 2) referem que a inovação não deve ser confundida com:

- alta tecnologia, dado que uma inovação nem sempre advém do recurso às novas tecnologias e pode ser um simples produto novo, vendável, resultante da utilização de tecnologias tradicionais;

- Investigação e Desenvolvimento (I&D), porque esta actividade, conceptualizando o modelo de geração da inovação pelo lado da oferta, é apenas uma fase do processo, encontrando-se a montante da inovação que supõe implantação no mercado;

- invenção, uma vez que esta é apenas uma ideia nova que requer posterior transformação em novo produto ou processo e o seu casamento com o mercado, a inovação.

De acordo com a proposta avançada por Freeman (1982: 19), a noção de invenção está associada à ideia ou modelo para um processo, produto ou sistema novo ou melhorado, enquanto a inovação, já com uma semântica económica, tem a ver com a entrada da invenção no campo do mercado, com a primeira transacção económica. Hall (1986: 27) vai mesmo mais longe ao referir que o processo de inovação se pode enquadrar em três fases: a invenção ou a fase pura da criação, a montante do mercado, a inovação, que corresponde, grosso modo, ao casamento da invenção com o mercado e, por último, a difusão, ou seja, a subsequente produção e alastramento da inovação por todo o espectro económico. Da mesma forma se pronunciam Monck et alii (1988: 21-23), para quem a inovação engloba a invenção e todos os estágios de implementação, como a Investigação, o Desenvolvimento, a Produção e o Marketing. A inovação é, portanto, a substanciação de uma ideia, ou conjunto de ideias, num determinado artefacto (Andersson, 1995: 14), ou, na versão muito sintética de Edquist (1997: 1), uma nova criação com significado económico, a que devemos acrescentar a dimensão da assimilação e da exploração das esferas económica e social (CE, 1996: 9)3.

Há, portanto, que salientar que a invenção decorre de um processo altamente criativo, dependendo, crescentemente, das actividades de I&D, podendo, no entanto, existir sem qualquer vínculo a laboratório ou centro de I&D. A inovação segue, contudo, de um modo geral, uma tramitação económica, cujo conceito sugere que se trata da entrada da invenção no mercado, como já se referiu. Quando se dá a primeira transacção comercial concretiza-se a inovação, ou seja, só se verifica a inovação quando um novo produto ou processo é comercializado. Fica igualmente o registo que a inovação pode decorrer apenas da sua incorporação directa num determinado processo produtivo, sem nunca passar pela fase de comercialização, como acontece, por exemplo, frequentemente no caso de protótipos ou da inovação adaptativa de processos tecnológicos no seio das empresas.

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Para uma análise crítica dos vários indicadores de actividade inventiva e de actividade inovadora, veja- se, por exemplo, a excelente súmula elaborada por Clark e Guy (1998: 370).

Segundo a Comissão Europeia (op. cit.), a inovação pode assumir diferentes cambiantes:

• a renovação e o alargamento do leque de produtos e serviços, bem como dos respectivos mercados;

• o estabelecimento de novos métodos de produção, fornecimento e distribuição; • a introdução de modificações na gestão, na organização laboral, nas condições de

trabalho e na formação dos recursos humanos.

Esta acepção abrangente do conceito de inovação evita o entendimento restritivo e redutor que durante muitos anos foi dominante e que levava a associar apenas a esta temática a dimensão tecnológica (Freeman, 1990: 106). A inovação alarga-se, pois, às esferas da gestão, da estrutura organizacional interna e externa à empresa (networking, por exemplo), do design, do marketing, do financiamento e do posicionamento nos mercados. Não pode deixar de ser assim entendida, dado que toda a dinâmica conducente à inovação implica a participação interactiva de todos os departamentos da empresa, sendo frequentemente a inovação tecnológica apenas a face mais visível de uma dinâmica empresarial inovadora alicerçada numa cultura de mudança. As actividades de I&D e a utilização de novas tecnologias (o factor tecnológico) constituem elementos-chave no processo de inovação, mas não são os únicos. Para a sua incorporação ser bem sucedida, a empresa necessita de proceder a ajustamentos organizacionais, adequando os seus métodos de produção, gestão e distribuição – a adopção de uma inovação tem reflexos imediatos sobre o posicionamento competitivo de toda a estrutura empresarial. Esta é uma das razões objectivas pelas quais a definição de inovação proposta pela OCDE (1992), no seu Frascati Manual, tem sido apontada como inadequada à realidade sócio-económica – justamente porque não contempla as respectivas vertentes sociais e organizacionais (CE, 1995b: 12).

É comum, na bibliografia sobre economia da inovação, fazer-se a distinção entre inovação do processo e inovação do produto. A razão principal pela qual se tem enveredado por este tipo de análise prende-se com o facto de os dois tipos de inovação terem diferentes implicações no campo económico. Assim, as inovações no produto estão frequentemente associadas a fases de retoma e expansão da actividade económica, enquanto as inovações no processo têm geralmente lugar em alturas de recessão, em que, muitas vezes, o factor importante, perante mercados de procura estagnados, é a

redução dos custos de produção (Clark, 1986: 97). A distinção entre inovação no produto e inovação no processo é, também, essencial na temática do desenvolvimento regional, uma vez que, associado ao papel das transnacionais no âmbito da divisão internacional do trabalho, a inovação no produto tende a ocupar posições de centralidade, enquanto a inovação no processo se alarga, tendencialmente, a áreas periféricas.

A inovação no produto refere-se, como se deixou antever, à introdução no mercado de novos bens ou à melhoria de bens já existentes; a inovação no processo diz respeito a novas técnicas de produção, ou seja, à consecução de novas agregações dos factores produtivos para a produção de um determinado bem. E, nesta óptica, perfilhamos o conceito defendido por White et alii (1988: 14) acerca da inovação no produto: a inovação no produto assume significados diferentes para diferentes pessoas. Algumas, por exemplo, tendem a pensar em termos de um produto que seja o primeiro do seu género. Naturalmente que poucas empresas realizam inovação com esse perfil. E, além do mais, é preciso referir que esse tipo de inovação radical não é necessariamente mais importante do que a inovação gradual e incremental que se aplica sobre produtos já existentes, abrangendo esta variante muito mais empresas. Nós perfilhamos uma visão ampla e flexível da inovação do produto: desenvolvimento de novos produtos, alterações no design de produtos já estabelecidos, ou mesmo o uso de novos materiais ou componentes no fabrico de produtos existentes. Aliás, esta visão é, de igual modo, corroborada pela OCDE (1994: 51). Aludindo a estas variantes Lundvall (1992: 14) acrescenta-lhes a noção de inovação institucional, que poderíamos, sem grande desvios conceptuais, considerar como um sub-tipo da inovação organizacional.

Assim, distinguem-se inovações radicais de inovações incrementais (ou, se quisermos utilizar a classificação proposta por Rosegger (1986: 23), inovações primárias e inovações derivativas) – as primeiras correspondem à introdução de algo verdadeiramente novo no mercado, utilizando princípios de conhecimento científico ou tácito4 novo e gerando, numa primeira fase de comercialização, situações quase

4 O conhecimento tácito decorre de mecanismos relativos à capacidade relacional dos agentes e das suas

práticas quotidianas de trabalho, envolvendo domínios cognitivos associados ao empirismo e à informalidade, plasmando, assim, um perfil mais contextualizado e localizado. Nesse sentido, distingue- se claramente do conhecimento de natureza codificada que possui um carácter científico, formal e é de

monopolísticas (como, por exemplo, a comercialização de uma nova vacina) que lhe advêm de uma ruptura com produtos anteriores, enquanto as segundas seriam resultantes de modificações progressivas que alteram os produtos, processos e serviços através da incorporação de sucessivas melhorias, representando, portanto, um upgrading técnico ou organizacional (learning-by-doing e learning-by-using) que, na essência, não modifica o produto base mas acarreta, frequentemente, consequências muito significativas ao nível da eficiência e da produtividade.

A bibliografia sobre Economia da Inovação encontra-se ainda, a nosso ver, muito eivada da influência analítica de uma das suas principais figuras fundadoras, como é o caso vertente de Schumpeter (1934), autor que centrou grande parte da sua investigação no estudo das grandes inovações, de tipo radical, que implicaram fortes mudanças qualitativas sobre a produção e tiveram, igualmente, um profundo impacte sobre os ciclos económicos. Só ultimamente esta perspectiva se vem alterando gradualmente, prestando-se, neste âmbito disciplinar específico bem como na área da Economia Territorial, cada vez mais atenção às inovações de tipo incremental, de carácter cumulativo, já que, sobretudo em economias menos desenvolvidas e em regiões periféricas, são elas que predominam largamente (Asheim e Isaksen, 1997; Morgan, 1997; Tödtling e Sedlacek, 1997; Maillat e Kébir, 1998), devendo, justamente por isso, constituir um alvo prioritário de análise das políticas de inovação.

Freeman e Perez (1988: 45-47), propuseram, também, uma taxonomia das diferentes inovações que, além de estabelecerem a distinção já apontada entre inovações incrementais e inovações radicais, considerava a possível ocorrência de dois outros tipos de inovação, de maior amplitude e impacte sobre a competitividade da economia, como os Novos Paradigmas Tecnológicos e o Paradigma Técnico-Económico. Assim, o primeiro caracterizar-se-ia pelo aparecimento de uma conjunto alargado de inovações, de diversas modalidades (produto, processo, incrementais e radicais) que se influenciam mutuamente formando famílias de produtos, dando azo à ocorrência de fortes repercussões sobre a tecnologia e a performance económica de sectores de actividade podendo até, eventualmente, concorrer para a génese de novos sectores. Por seu turno, o Paradigma Técnico-Económico envolve, para além das dimensões estritamente

mais fácil transferência à escala global (Kirat e Lung, 1999: 31; Maskell e Malmberg, 1999: 15-16; Ferrão, no prelo: 6).

tecnológicas ou materiais inerentes aos diversos tipos de inovação, implicitamente um outro conjunto de vertentes associadas quer ao modo de organização empresarial e do trabalho, quer ao perfil de inserção nos mercados, quer mesmo ao nível dos mecanismos de regulação económica, permitindo criar as condições de base que sustentem a ocorrência de ciclos longos de crescimento, influenciando, assim, decisivamente o funcionamento global do sistema económico.

Finalmente, um última nota para referir que perfilhamos a opinião de Fischer (1995: 147), para quem a distinção entre inovação e adopção é difícil e frequentemente inapropriada, já que esta geralmente requer, para além da adaptação, o desenvolvimento adicional de inovação. Assim sendo, não se justifica a diferenciação entre processos de inovação e processos de adopção.

3.2. As actividades de investigação e desenvolvimento

No caso da inovação, assume particular relevância a conceptualização das diferentes fases de I&D, o modo como estão interligadas e, também, as suas características fundamentais. É óbvio que tal problemática se encaixa numa outra, mais ampla, sobre as fontes de inovação. Assim, Freeman (1982: 22-25) distingue três categorias de I&D: a) a Investigação Básica, Pura ou Fundamental, que consiste na realização sistemática de trabalho criativo tendo por objectivo o aumento do conhecimento científico; consiste, portanto, na realização de trabalhos, experimentais ou teóricos, empreendidos com a finalidade de obtenção de novos conhecimentos científicos mas sem objectivo específico da aplicação prática – é um exercício muito arriscado e pesado sob o ponto de vista económico-financeiro, já que os seus resultados comerciais são imprevisíveis (Fisher, 1995: 148);

b) a Investigação Aplicada, que consta da realização de trabalhos igualmente originais efectuados com vista à aquisição de novos conhecimentos mas para uma finalidade própria ou com objectivo pré-determinado;

c) o Desenvolvimento Experimental, que consiste no recurso à utilização sistemática do conhecimento científico existente de modo a produzir novos materiais, produtos ou

dispositivos, com vista, também, ao estabelecimento de novos processos, sistemas ou serviços ou, ainda, para a melhoria significativa dos existentes.

Entre os diferentes tipos de I&D existem outras dissemelhanças que importa apontar, ainda que de maneira sumária (Quadro 1.1):

Quadro 1.1 – Características das categorias de I&D

Tipo de investigação Grau de orientação Presença de objectivos comerciais Dividendos financeiros Horizonte de actuação Grau de incerteza Barreiras para a entrada Investigação

básica Mínimo Baixo Longo prazo Longo prazo Elevado Elevadas Investigação

aplicada

Médio/ Elevado

Médio/

Elevado Médio prazo Médio prazo Médio Médias

Desenvol- vimento experimental Médio/ Elevado Médio/ Elevado Curto/médio

prazo Curto prazo Médio/ baixo Baixas

Fonte: Adaptado de Howells (1990: 135)

Embora a Investigação Básica se revele imprescindível para a realização de saltos tecnológicos assinaláveis, ligados às descobertas no campo das novas tecnologias, a Investigação Experimental e o Desenvolvimento Experimental não se encontram tão a montante do mercado, nem têm com ele ligação tão remota. Pelo contrário, os critérios económicos mostram-se fundamentais no delinear das estratégias de implementação destes dois últimos tipos de investigação, razão pela qual, como salientam Glasson (1987:19) e Fischer (1995: 148), os departamentos de I&D ligados à indústria realizam a esmagadora maioria dessa investigação em países como a Inglaterra, a Alemanha, o Japão ou os EUA.

De igual modo, não admira que o esforço de investigação básica esteja fundamentalmente concentrado na administração pública (universidades e centros de I&D), uma vez que, por definição, é um processo muito arriscado financeira e comercialmente, sendo os seus resultados também mais expectáveis no longo-prazo, o que conflitua quer com a lógica imediatista prevalecente na larga maioria das empresas, quer com as disponibilidades de recursos (financeiras, humanas, etc.), embora seja

notório que em algumas áreas da, assim chamada, nova economia, como a biotecnologia, a informática e as telecomunicações, se verifiquem apostas empresarias na área da investigação fundamental que se concentram, sobretudo, em multinacionais de grande porte com estruturas económicas adequadas para acompanhar essa orientação estratégica (Castells e Hall, 1994: 38).

3.3. A geração da inovação

O modelo linear da inovação assume uma progressão do género:

INVESTIGAÇÃO BÁSICA INVESTIGAÇÃO APLICADA DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL MERCADO

Nesta óptica surge implícita a ideia de que é a ciência, ou o seu desenvolvimento, que enquadram e geram a inovação. Esta seria apenas o fruto, a consequência, dos avanços em determinados campos científicos, segundo o modelo acima explanado - Science/Technology Push. Importa, no entanto, salvaguardar o seguinte, como o faz Clark (1986: 137): neste modelo, o laboratório profissionalizado de I&D desempenha papel fundamental, actuando como protagonista em todo o processo. Assim, no âmbito do modelo linear (ou de pipe-line), a ciência está na base da inovação, sendo a criação da oportunidade científica a determinante do processo de inovação. Neste contexto, a forma de intervenção pública na promoção da inovação procurou sempre actuar pelo condicionamento da oferta. Aumentando o stock de conhecimento científico estava-se, neste sentido, a fazer, paralelamente, com que a economia os assimilasse (Malecki, 1990: 35).

No quadro do modelo linear de inovação, de sentido unidireccional, as descobertas científicas eram entendidas como a única fonte de ideias para novos produtos e processos produtivos, o que, actualmente, é notoriamente contrário à evidência empírica demonstrada em inúmeros trabalhos académicos (Evangelista et alii, 1997; Antonelli, 1999; Asheim e Isaksen, 1999) que, justamente, concluem que existem outras fontes de conhecimento, nomeadamente o saber-fazer tácito acumulado nas empresas e nos sistemas produtivos que alicerça o processo de criação de determinado tipo de inovações. Esse saber especializado mas não codificado constitui um importante lastro

cognitivo para diversos sistemas territoriais de produção, encontrando-se sedimentado numa mão-de-obra muitas vezes secularmente industrializada. Essa experiência acumulada nos processos de fabrico strictu sensu, fora, portanto, dos laboratórios de I&D, constitui um valioso potencial que pode, se devidamente enquadrado e estimulado, fornecer ideias para a promoção de inovações (Von Hippel, 1988: 37). Ainda segundo o mesmo autor (op. cit.) é possível que as fontes de inovação advenham de informações técnicas resultantes do contacto com fornecedores, distribuidores, competidores e, bem assim, da auscultação da opinião formulada pelos utilizadores finais, embora, bem entendido, não exista incompatibilidade entre o modelo linear de inovação e a utilização deste recurso cognitivo. De facto, como salienta Ferrão (no prelo: 2-4), o que verdadeiramente distingue o modelo linear de inovação face ao modelo interactivo é a sua visão sequencial, hierárquica e descendente que inclui em cada ciclo de inovação três fases – a produção, a difusão e a adaptação de novos conhecimentos - encadeadas de forma linear e despoletadas a partir de uma origem bem definida, a instituição onde se procedeu ao desenvolvimento científico dessa nova descoberta ou a entidade disseminadora da informação empresarialmente relevante. Estava, portanto, claramente associado ao modelo linear de inovação aquilo que Malecki e Todtling (1995: 282) designam de paradigma difusionista, na medida em que a tónica era colocada praticamente na geração de inovação e na subsequente adopção de ready technology adquirida no mercado, assunto que estudaremos com maior profundidade no próximo sub-capítulo.

De um modo geral, pode afirmar-se que o modelo linear de inovação evidencia uma visão demasiado simplificada e redutora dos desafios organizacionais que se colocam à actividade inovadora. A fim de lançar no mercado inovações que sejam bem sucedidas, as empresas necessitam de recolher e processar uma larga variedade de informação estratégica e de conhecimento especializado (Feldman, 1994: 16). Este cruzamento de fontes cognitivas actua, frequentemente, de modo complementar e mesmo sinergético, o que potencia a dinâmica inovadora. Enquanto o modelo linear de inovação enfatiza a importância, como já se sublinhou, do vínculo entre as actividade de I&D e a inserção da inovação no mercado, outros quadros analíticos vieram enfatizar a importância de diferentes factores no processo de fomento de inovações.

Até à década de sessenta, todavia, o modelo acima descrito era aceite entre os académicos e foi só com a realização de alguns estudos de base empírica desenvolvidos nessa altura que fermentaram as condições que permitiram refutar esse quadro teórico (Dodgson e Bassand, 1996: 14-15). Segundo a nova formulação, as inovações decorrem de respostas em relação a necessidades sentidas no mercado, ou seja, é a necessidade económica a geradora de inovação. Nesta perspectiva, as tecnologias são como que depositadas pelos inventores numa prateleira à qual as empresas recorrem de acordo com as suas necessidades. De acordo com esta visão, a inovação é consequência exclusiva da procura (demand-pull) (Godinho e Caraça, 1988: 939), dependendo, tal como a produção de outros bens, da actuação das forças de mercado. Neste âmbito, a empresa produtora assídua de inovações seria aquela capaz de orientar adequadamente a sua actividade inovadora em relação à estrutura da procura, corporizando a market- driven innovation de que fala Malecki (1991: 54).

Atento a esta problemática, Fischer (1995: 146) chama a atenção para o facto de durante a última década ambos os modelos (technology-push e demand-pull) terem sido extremamente criticados por serem exemplos atípicos de um processo mais amplo de convivência da ciência, da tecnologia e do mercado. Por um lado, tornou-se evidente que mais esforço de I&D não conduz necessariamente a mais inovações e, por outro lado, uma ênfase excessiva nas necessidades de mercado pode resultar num regime de incrementalismo tecnológico em detrimento da produção de inovações radicais. Actualmente, tem-se como correcto que a inovação não depende só de um modelo ou de outro, mas, pelo menos, da conjugação no tempo e no espaço dos dois. A maioria dos autores concorda que a inovação depende quer de influências do lado da oferta, quer do lado da procura. O modelo interactivo agora prevalecente sustenta que os novos produtos e os novos processos resultam de um continuum de interacções que não é redutível a um simples modelo universal (Clark e Guy, 1998: 366). Na visão actualmente mais aceite pelos académicos, o processo de inovação é visto de modo interactivo, aleatório, ou pelo menos não linear, e dependendo de uma estrutura plural de actores institucionais. Um dos pioneiros desta linha argumentativa foi Rothwell (1983: 54) que defende que a inovação aparece num sistema não linear, em que as necessidades de mercado (demand-pull) e o empurrão científico tecnológico (science/technology push) desempenham papel prioritário. A inovação é, assim, entendida como um mecanismo interactivo complexo e essa interactividade pode ser

analisada, desde logo, intra-empresarialmente, o que remete, também, na nossa perspectiva5, para a proposta sugerida por Kline e Rosenberg (1987: 36) do Chain