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ECONOMIA DA INOVAÇÃO E ECONOMIA TERRITORIAL DA INOVAÇÃO

CAPÍTULO 1 – A ABORDAGEM DA ECONOMIA DA INOVAÇÃO

6. A geografia da inovação

6.1. A geografia das indústrias de alta tecnologia

As modificações no padrão espacial das actividades industriais, medidas em termos de emprego total, estão a ocorrer a diferentes escalas: internacional, nacional, regional e urbana. Evidentemente que um declínio no factor emprego não implica, necessariamente, um decréscimo de produção. Com as mudanças estruturais em curso, enquanto alguns sectores maduros estão a sofrer um largo processo de agonia e asfixia, sujeitando-se a procuras em contracção internacional, outros sectores estão a emergir no tecido sócio-económico, contrabalançando os efeitos no emprego total, devido a um perfil na procura internacional que se vem revelando bastante dinâmico. Manteremos sempre em perspectiva, nesta fase, as palavras avisadas de Veltz (1994: 189) que salienta, desde logo, que não é fácil, actualmente, compreender as tendências da nova geografia económica, e isto porque os factores tradicionais de localização, como os custos de transporte e os custos diferenciais de acesso aos recursos e aos mercados, já não são os determinantes e, também, porque as lógicas intra-organizacionais, isto é, as modalidades de articulação entre as diversas implantações da empresa ou da rede de empresas, exercem uma influência crescente.

Em relação às indústrias ligadas às novas tecnologias, parece ser pacífico que estas incluem uma larga variedade de áreas de produção, cujo cunho de união é a sua dependência em relação ao conhecimento científico e técnico (Smith, 1990: 12). Isto é, como Dorfman (1983: 300) sugere, as indústrias de alta tecnologia não estão confinadas às actividades relacionadas com a electrónica mas englobam todas aquelas que estão implicadas na concepção, desenvolvimento e produção de novos produtos ou processos através da aplicação sistemática do mais recente conhecimento científico e técnico. Alguns autores, como Hall (1987: 3), acrescentam que um critério mais operacional de definir indústria de alta tecnologia é seleccionar aquelas cuja percentagem de emprego técnico e científico e/ou a despesa seja superior à média.

Estas novas actividades económicas, que vão da química dos novos materiais à robótica, passando pela biotecnologia e pela electrónica, caracterizam-se pela diferença quanto ao padrão de localização preferencial face às indústrias da 2ª Revolução Industrial,

indústrias pesadas, muito condicionadas pelos custos de transporte, por sua vez altamente dependentes das fontes de matérias-primas e de fácil acesso aos mercados. Em síntese, podemos afirmar, como Veltz (1994: 192), que existe uma forte divisão espacial e social entre certos sectores de alta tecnologia e os sectores mais tradicionais da produção de massa.

A teoria clássica da localização inspirada nas teorias avançadas por Alfred Weber, que põe a tónica nas decisões individuais, não chega para explicar o surgimento de sectores inteiros de produção no espaço económico. Neste sentido, Scott e Storper (1987: 240- 244) propuseram três abordagens que têm suscitado o interesse dos especialistas em geografia industrial:

a) A teoria do ciclo do produto refere que cada ramo industrial percorre um ciclo que compreende obrigatoriamente uma fase de inovação, uma fase de crescimento e uma fase de maturidade. O aumento da produção leva ao aparecimento de modificações tecnológicas e, consequentemente, a uma reorganização do processo produtivo. A estrutura espacial da actividade industrial em questão passa, progressivamente, da centralização e da concentração territorial à descentralização e à dispersão. De acordo com a análise realizada por Buswell (1983: 11), aqui incluir-se-iam os postulados da Escola Difusionista, que assume que as actividades mais nobres de produção, como a concepção, o design, o marketing, as diferentes fases de I&D, se encontrariam em localizações centrais, devido aos efeitos das economias externas de aglomeração, mas com a manufactura propriamente dita assumindo posições periféricas na fase em que os processos produtivos se encontram banalizados.

A estratégia da empresa consiste em adaptar a sua localização aos tipos de mão-de-obra que a tecnologia que domina lhe permite utilizar e, assim, os espaços tenderão a organizar-se segundo a localização da variável estruturante, o trabalho. A divisão espacial do trabalho vem opor os centros que se caracterizam por elevados níveis de poder e de qualificação às periferias que lhes estão subordinadas e que se caracterizam pelo desempenho de tarefas rotineiras.

Associada à teoria de ciclo do produto aparece, frequentemente, o processo de filtering-down que, como Thompson (citado em Watts, 1987: 81) salienta, está intimamente ligado às hierarquias dos espaços: na sua ocupação territorial, as

empresas deslocam-se através da rede de hierarquia urbana, de locais de maior para menor sofisticação industrial. Frequentemente, as competências mais elevadas são necessárias nas fases iniciais de criação de novos produtos e processos e, depois, declinam com a racionalização e a rotinização do próprio processo de produção. À medida que a indústria percorre a fase descendente da curva de aprendizagem, os altos salários das áreas inovadoras e mais sofisticadas tornam-se supérfluos. Essa indústria, agora em fase madura de fabrico de produtos, procura localizações onde haja abundante mão-de-obra de baixo custo, consentânea com a simplicidade do processo produtivo. A teoria do filtering-down, inicialmente aplicável num contexto intra-regional, viu, com o decorrer do tempo, o seu âmbito alargar-se às relações centro-periferia, em contextos nacionais.

b) A segunda teoria explicativa, que podemos denominar de Análise Baseada em Factores Empíricos de Localização, dá ênfase especial aos factores de atracção para as actividades industriais ligadas às novas tecnologias, como a presença de universidades, centros de investigação, aeroportos, bom clima, ambiente cultural estimulante, etc. (HalI, 1987: 17-22). Isto é, pretende-se com esta teoria identificar os factores de localização que permitem diferenciar o espaço. Tende, actualmente, a considerar-se que os factores de ordem social (atitude das comunidades locais, clima social) e ambiental permanecem entre os factores mais significativos. Não poucas vezes, estes factores, frequentemente considerados como extra-económicos, podem traduzir-se por agravamentos ou reduções de custos significativos.

É certo que alguns destes aspectos de abordagem tem similitudes várias com as restantes teorias apresentadas, mas o modo como são valorizados os diferentes factores de atracção e o cariz muito descritivo da análise conferem-lhe um lugar à parte como modelo explicativo de localização de empresas ligadas às novas tecnologias. Aydalot (1985: 96-97) alude a um estudo realizado nos EUA onde foram analisadas 691 empresas pertencendo a sectores das novas tecnologias e em que se pretendia averiguar o seu comportamento de localização (Quadro 1.6).

Quadro 1.6 – Factores de localização da indústria de alta tecnologia

FACTORES SIGNIFICATIVOS OU MUITO