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Capítulo II – Enquadramento Teórico

1. A Educação Básica e o Currículo

1.1. Educação Básica

Alonso (1996) define a educação como um

processo activo e contínuo de construção humana (desenvolvimento), realizado através da interacção (mediação) com o meio/cultura (aprendizagem), tendente à consecução da autonomia pessoal (consciência e responsabilidade) e da cidadania (integração activa e

crítica na comunidade). (p.6)

Para a autora, a educação escolar é uma mediação entre as capacidades do aluno e a cultura e organização do meio. Esta mediação resulta numa aprendizagem significativa e construtiva. Patentes neste processo estão o desenvolvimento dos alunos e a integração social dos mesmos. A escola tem, assim, uma função de promoção de competências, desenvolvimento individual e social dos alunos, promoção da comunicação, criatividade, cooperação e autonomia, promoção da inserção num contexto social e cultural e desenvolvimento integral dos alunos (cognitivo, afetivo, socio-relacional e psicomotor). A prática educativa é orientada por princípios que sistematizam e dão significado às ações e o aluno é visto como um agente ativo da sua própria educação. Este constrói e dá significado à sua aprendizagem (Alonso 1996).

O documento que vigora em Portugal para proceder ao enquadramento do Sistema Educativo Português é a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), Lei n.º 46/86, de 14 de outubro. Esta foi posteriormente alterada pelas Leis n.º 115/97, de 19 de setembro, n.º 49/2005, de 30 de agosto e, a última alteração, a Lei n.º 85/2009, de 27 de agosto. Na LBSE, estão organizados e estruturados os princípios que orientam a prática educativa dos educadores e professores em Portugal. Nesta, estão compreendidas a educação pré-escolar, a educação escolar e a educação extraescolar (artigo 4º).

A LBSE define que a educação básica é universal e gratuita, sendo que todas as crianças têm a mesma igualdade de oportunidade e os mesmos direitos no acesso à educação e cultura. Globalmente, a lei garante a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e solidários.

As crianças ingressam no ensino básico com 6 anos, até ao dia 31 de Dezembro, e este compreende três ciclos: o 1.º ciclo (4 anos), o 2.º ciclo (2 anos) e o 3.º ciclo (3 anos). Estes ciclos obedecem a uma sequencialidade progressiva, cujo intuito é proporcionar conhecimentos de forma integrada, sendo que cada ciclo tem a função de complementar e aprofundar o ciclo anterior.

O 1.º ciclo de ensino básico (1CEB) tem como objetivo desenvolver os interesses das crianças, o seu raciocínio, espírito crítico, criatividade e imaginação e os seus valores morais e sociais. A formação dos alunos deve ser equilibrada e articular a teoria e a prática, promovendo sempre valores pela história e cultura portuguesas. No geral, a educação básica pretende formar crianças autónomas, críticas, responsáveis (no âmbito cívico e moral), e promover o seu desenvolvimento cognitivo, psicomotor, afetivo e social (LBSE).

O 1CEB é constituído pelos primeiros quatro anos de escolaridade obrigatória. Consoante as idades, as crianças estão divididas por turmas, em regime de monodocência.

Existem vários documentos que vigoram no sistema educativo português, que permitem orientar e estruturar a prática educativa, sendo estes os programas curriculares do ensino básico e as metas curriculares do ensino básico. Estes documentos possibilitam a organização do ensino, uma vez que têm inerentes, objetivos para cada ano e para cada área curricular. Como os documentos são nacionais, estão vigentes em todas as escolas do ensino básico em Portugal, possibilitando aos professores uma orientação das aprendizagens e da sua intervenção pedagógica.

1.2. O Currículo

No Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de Julho, cuja alteração mais recente é o Decreto-Lei nº 176/2014, de 12 de dezembro, o currículo é definido como “conjunto de conteúdos e objetivos que, devidamente articulados, constituem a base da organização do ensino e da avaliação do desempenho dos alunos, assim como outros princípios orientadores que venham a ser aprovados com o mesmo objetivo” (Artigo 2º). De acordo com a legislação, o currículo organiza e estrutura o ensino.

Diversos autores têm a sua conceção de “currículo”. Para estruturar um currículo escolar, é necessário integrar diversos aspetos, como objetivos a nível social e cognitivo. No currículo devem estar estruturadas sequências de aprendizagem que favoreçam a assimilação de conteúdos, para além da identificação de objetivos que permitam tomar decisões acerca de como ensinar e como avaliar os conhecimentos adquiridos pelos alunos (Coll, 1991).

Zabalza (1997) define o currículo como um conjunto de metas e objetivos a alcançar. O currículo tem, adjacente, o desenvolvimento de atitudes, habilidades e conhecimentos essenciais para o aluno. Porém, não deve ser utilizado apenas o programa curricular na sala de aula. O professor não se pode acomodar com os materiais que já estão construídos, deve elaborar novos materiais que se adaptem ao contexto e às situações.

Para Roldão (1999), “o currículo escolar é – em qualquer circunstância – o conjunto de aprendizagens que, por se considerarem socialmente necessárias num dado tempo e contexto, cabe à escola garantir e organizar” (p.24). A autora destaca a importância das interações para a formação do currículo escolar, sendo este uma prática social. O currículo é, assim, adequado a cada escola, com o seu programa nacional universal, ainda predominante no sistema de ensino português. Esta dominância do currículo nem sempre permite tomar consciência da sua natureza social, sendo por isso necessária uma certa mudança. A escola deve ser, assim, responsável pela organização do currículo, tendo o papel primordial de o adequar às necessidades e competências dos alunos e promover a sua funcionalidade social (Roldão, 1999).

O currículo é um projeto de formação que desenvolve capacidades, promove a cultura, que “fundamenta, articula e orienta, a diferentes níveis de decisão e especificação, todas as actividades e experiências educativas realizadas sob a tutela da escola, dando-lhes um sentido e intencionalidade e integrando todo o conjunto de intervenções diferenciadas, num projecto unitário” (Alonso, 2004, p.12). A autora complementa o pensamento de Roldão (1999),

ressaltando que o currículo resulta de uma construção social, uma vez que tem, implícitas, oportunidades de desenvolvimento de valores e atitudes, sendo um processo que envolve a comunidade (Alonso, 1996 e 2001).

Deste modo, o currículo orienta a organização e estruturação da prática pedagógica, permite a articulação de atividades e uma formação integrada, possibilita a avaliação dos conhecimentos dos alunos e da qualidade da educação e é flexível e inovador, de forma a ser possível adequar o mesmo a cada contexto e à individualidade dos alunos (Alonso, 2004).

Em suma, o currículo é definido como um conjunto de aprendizagens e competências que devem ser proporcionadas às crianças ao longo da sua vida escolar. Estas aprendizagens têm adjacentes a articulação/integração e desenvolvimento de conhecimentos e valores que têm como intuito formar um cidadão ativo e responsável.