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O campo da História da Educação e ou da História da Pedagogia, Cambi (1999), surgiu entre os séculos XVIII e XIX e, expandiu-se no século seguinte. Nesta fase de constituição, a história da educação se caracterizou como campo específico de pesquisas efetivadas por pessoas ligadas ao campo da educação e da escola.

Os interesses dessas investigações neste momento se voltavam para o processo de organização da educação e da instituição escolar sob o foco da modernização da sociedade.

Os textos e os discursos eram marcados pelo ideal da civilização e da civilidade, como marcas da identidade do sujeitomoderno.

Após o período das Grandes Guerras e diante da reorganização econômica internacional, observa-se a emergência de mudanças de toda ordem. Neste momento de reordenação, o campo historiográfico passou a buscar reorientações que levaram a revisão da escrita histórica, o que provocou inflexões na produção de todas as áreas do saber e em

especial, no campo pedagógico.

Cambi (1999) assinala que o campo da pedagogia no momento em que seus paradigmas “entravam em crise alguns pressupostos daquele modo tradicional de fazer história da pedagogia, iniciava-se um longo processo que levou a substituição da história da pedagogia pela a mais rica, complexa e articulada história da educação” (CAMBI, 1999, p. 29). E nessa nova história da educação (que) emerge entrelaçada pelos campos historiográficos, e mediante um processo de interação com outros saberes, o campo da educação foi se apropriando de aportes de diferentes vertentes do campo historiográfico num contínuo processo deintercruzamento:

A história da educação é hoje, um repertório de muitas histórias, dialeticamente interligadas, e interagentes, reunidas pelo objeto complexo “educação”, embora colocadas sob óticas diversas e diferenciadas na sua fenomenologia. Não só; também os métodos (as óticas, por assim dizer) tem características preliminarmente diferenciadas, de maneira a dar a cada âmbito de investigação a sua autonomia/especificidade, a reconhecê-la como um “território” da investigação histórica (CAMBI, 1999, p. 29).

Nesta citação observa-se a emergência de um novo cenário marcado por um processo de renovação e ampliação do campo investigativo da educação, na medida em que, as pesquisas nesta área estabelecem novos objetos, a partir de estudos subsidiados por aportes teóricos e metodológicos relacionados à História e a outras Ciências Sociais, como novos subsídios para a história da educação, que lhe proporcionou outro fazer investigativo pautado em uma nova escrita histórica.

O artigo intitulado, “O (não) lugar da História da Educação na História”, de autoria das professoras Maria Neide Sobral da Silva e Marlucia Menezes Paiva, apresentado no VI Congresso Luso-Brasileiro, Uberlândia- MG, 2006, estabelece algumas aproximações e ao mesmo tempo problematiza o lugar da História da Educação no campo historiográfico. Estas professoras em suas investigações não localizaram no campo da História temas ou objetos específicos ou referentes à história da educação. As autoras consideram esse fato como “ausência, negação, marginalização” ou simplesmente o silenciamento dos historiadores de ofícioemrelaçãoatemasouobjetosdocampodaeducaçãoeindagamoslimitesdahistória da educação no campo historiográfico e ou sua suposta pertença a este campo. embora reconheçam que o “campo educacional vem estabelecendo proximidades e diálogos com diferentes vertentes historiográficas nas últimas décadas” (SILVA, 2006. p.p. 1694,1695). Barros (1999), com relação às aproximações da educação com o campo historiográfico, faz algumas observações, a partir de análises sobre as fronteiras do campo historiográfico e as

aproximações da História com a História da Educação. Para este professor, é notório que, o campo da educação vem empreendendo estudos de objetos que se localizam no domínio da História Cultural, e a educação ao inserir nesse circuito investigativo sujeitos, práticas educativas e produções culturais, que passaram a ser situados, analisados e compreendidos como objetos culturais. Para o autor, esta aproximação vem promovendo a interconexão do campo da educação com o campo historiográfico (PAIVA, 2006, p.1695,1696 apud BARROS, 1999, p. 15).

Todo esse processo de cruzamento entre vertentes historiográficas vem se ampliando pelo esforço investigativo de professores-educadores no campo dos estudos culturais e com isso, observa-se a dilatação das fronteiras da história da educação, pela adoção de novos sujeitos, novos saberes e práticas educativas entre outros objetos, que passaram a ser analisados a partir da abordagem da Nova História Cultural. A partir desse contexto historiográfico, os estudos, as pesquisas e a compreensão dos sujeitos-objetos trabalhados pela história da educação ganharam abrangência pela mediação dos olhares historiográficos diversos e ampliados, o que promoveu o alargamento das fronteiras do campo investigativo da educação, diante da limitada produção dos historiadores de ofício no campo da educação.

O cruzamento dos campos da Educação e da História vem se estreitando e possibilitando a percepção do lugar da educação no corpus da historiografia e nessa direção, a concepção de História trazida por Certeau (1999) é bem esclarecedora em relação à compreensão da dimensão social da história e sua interpenetração em diferentes campos do saber. Para o autor, o papel social da história se expressa na produção de uma escrita “singular” de sujeitos questionadores, que se materializa no ato da escrita, ou seja, na produção da narrativa histórica. Assim, o fazer histórico está diretamente interligado a diferentes espaços, lugares, meio social, e sujeitos produtores de conhecimentos multidisciplinares; havendo a interconexão com as áreas do social, político, econômico, da educação e de outros campos que se revelam nesse intercruzamento de saberes.

Nessa relação de cruzamento historiográfico, tem-se observado no âmbito da História da Educação, abordagens mais ampliadas no processo investigativo sobre a realidade educacional, as quais estão diretamente relacionadas ao reconhecimento do lugar social das instituições educacionais, das inflexões da atuação intelectual dos educadores, das memórias das práticas educativas, como também, dos estudos sobre a cultura material pela produção de textos escritos, dos livros escolares e outros artefatos culturais produzidos por educadores.

A instituição da Nova História Cultural desde os Annales (1929) e pelas contribuições de Le Goff (2001), Chartier (1992) e Burke (1992), observou-se significativas mudanças no

campo historiográfico, ao focalizar como objeto central desta Nova História, a valorização da atuação humana. Adotando-se o enfoque interdisciplinar para as diferentes vertentes ou abordagens, inclusive para o campo da História da Educação.Assim, nesse transitar pela Nova História Cultural, a História da Educação ganhou vitalidade subsidiada pela adoção de novas abordagens e métodos da pesquisa histórica. O processo de interligação entre os diferentes campos historiográficos promoveu a diversificação de temas, objetos e a produção de uma nova escrita da história da educação. Ainda que, nessa relação de aproximação, promova também preocupações e contraposições no campo da História da Educação.

O professor Saviani (2000) com grande produção na área da História da educação brasileira, tem se mostrado apreensivo a respeito da aproximação entre a História da Educação e a História Cultural, embora reconheça que este intercruzamento teórico- metodológico entre tais campos tenha trazido inovações para os estudos no circuito da História da Educação.

Embates teóricos sobre a nova configuração, as novas redefinições, as novas temáticas conceituais e metodológicas presentes na historiografia educacional brasileira nos últimos anos e que de certa forma, se contrapõem aos métodos de pesquisa ligada ao viés marxista de análise histórica. A preocupação de algumas teóricos da História da Educação, é com a secundarização e especificidade de seu objeto [...] pois fica evidenciado, na adesão rápida e sem maiores considerações críticas dos historiadores da educação, às linhas de investigação que se tornaram hegemônicas no campo da historiografia (SAVIANI, 2005, p.24).

O professor Saviani emite sua preocupação com essa relação de proximidade e de intercruzamento por conta das novas abordagens trazidas pelo campo da história, distanciadas de sobre maneira, como ele afirma do “viés marxista”, até então suporte para as análises no campo da educação. Posições partilhadas e compartilhadas por outros educadores e escritores do campo da história da educação.

No entanto, neste mesmo campo, autores como Lopes (1980), Vidal (2003), Farias Filho (2009) e Castanho (2010), se posicionam diferentemente de Saviani (2000) e defendem a aproximação e a interseção entre a história cultural e a história da educação, por reconhecerem que a associação às diferentes vertentes historiográficos trouxe avanços significativos para a renovação do campo da educação por dialogar com diferentes saberes de diferentes disciplinas. Além do campo da história, contemplam a aproximação com a sociologia, antropologia, literatura, linguística entre outros campos disciplinares que amplia as fronteiras epistêmicas da história da educação.

tem possibilitado embasamentos teóricos e metodológicos para o estudo, compreensão e apropriação dos novos sujeitos-objetos que passaram a ser compreendidos sob os aportes epistêmicos da Nova História Cultural. A aproximação com diversos campos historiográficos promoveu a renovação, a ampliação das fronteiras da História da Educação e possibilitou o acesso a novos embasamentos no âmbito da cultura para compreensão dos processos educativos, do fazer pedagógico e dos sujeitos na produção e apropriação do saber escolar como afirma Santos (2012, p. 7 apud MARTINS, 2006, p. 118) e dessa forma, observando-se a dinamização e ampliação desde campo com relação os objetos e abordagens.

1.2 MULHERES, PROFESSORAS E ESCRITORAS: NOVOS SUJEITOS DO CAMPO