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2 A EDUCAÇÃO, A EDUCAÇÃO ESPECIAL A ESTÉTICA E O PRAZER

2.2 A Educação e os Novos Paradigmas Socioculturais

2.2.2 A educação no ensino regular

O impacto dessas transformações tornou evidente a necessidade de renovação na educação. A sociedade exige um Sistema Educacional que atenda a sua demanda, em um espaço aberto para rever alguns paradigmas3 que a certo tempo se instalam no sistema. Faz-se necessário repensar os pressupostos que têm definido os currículos e as metodologias empregados no processo de trabalho pedagógico. Os desafios impostos pelas novas tecnologias de informação e comunicação, estão requerendo uma adaptação mais acentuada entre a realidade escolar e a realidade social. Entretanto, para que este processo de renovação ocorra, é necessário preservar a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a solidariedade e o respeito. É preciso formar um cidadão responsável e consciente de seu estado nessa sociedade. Desenvolver um processo de formação com a visão de que a educação precisa ser um processo contínuo de desenvolvimento de habilidades e competência para lidar com o mercado de trabalho dinâmico do século XXI, sem deixar de considerar a qualidade de vida humana. A afirmação de Handy (1998, p.16) salienta as mudanças da sociedade atual e a necessidade de renovação do Sistema Educacional:

As mudanças vertiginosas que ocorrem no mundo obrigam a reconsiderar o papel da escola e da educação. A internacionalização dos modelos culturais, a mudança de valores e referências para a juventude, as transformações do mercado de trabalho, entre outros fatores obrigam a repensar o modelo educacional pelo qual trabalhamos.

3*Paradigma - conceitos, forma de pensar e agir ultrapassados, enraizados no

Os desafios educacionais têm dimensões incalculáveis. A própria instrução escolar precisa mudar profundamente se não quiser desaparecer arrastada pelas ondas das exigências sociais e individuais daqueles que devem ser educados.

Esta transformação do sistema educacional evidencia-se ao longo de sua história. Até o final de 1996 o ensino fundamental era estruturado pela Lei Federal n° 5.692, de 11 de agosto de 1971. Nesta lei se destacava a obrigatoriedade do Ensino Fundamental que é compreendida nas oito séries iniciais e a não-obrigatoriedade do Ensino Médio, com o objetivo de desenvolver as potencialidades dos alunos como elemento de auto- realização, preparar para o trabalho e para o exercício da cidadania. Os currículos possuíam então um núcleo comum obrigatório e uma parte diversificada com a finalidade de completar as peculiaridades locais e as diferenças individuais dos alunos.

Em 1990 o Brasil participou da Conferência Mundial de Educação. Poste- riormente a esta conferência, e levando-se em conta a situação da educação no Brasil, foi estabelecido um Plano Decenal de Educação (1993-2003), com a finalidade de recuperar o Ensino Fundamental promovendo a qualidade e o aprimoramento contínuo. Com este pensar surge o lema "Educação para Todos".

Com base na nova proposta da educação, em 20 de dezembro de 1996 entra em vigor a Lei n.º 9.394 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, onde o poder público garante sua participação ativa na educação. Em 1997 o MEC lança os

PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais, uma proposta educacional que visa a qualidade do ensino a ser oferecida aos estudantes.

Ao observarmos a estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (1997) percebe-se que este concebe a educação escolar como uma prática que possibilita a criação de condições para que os alunos se desenvolvam.

Nos PCNs está explícita a afirmação de que as práticas educativas devem condizer com o mundo atual:

(...) propor uma prática educativa adequada às necessidades sociais, políticas, econômicas e culturais da realidade brasileira, que considere os interesses e as motivações dos alunos e garanta as aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e responsabilidade na sociedade em que vivem. (PCNs, 1997, p.33).

Os Parâmetros Curriculares indicam o que se pretende fazer a respeito da educação, porém estas mudanças estão ocorrendo lentamente, afinal, por muito tempo a pedagogia focou o processo de ensino no professor e, nas escolas, estão os docentes que foram, e muitos ainda são, formados por instituições onde os docentes advêm de escolas cujas práticas pedagógicas eram tradicionais e conservadoras. Os próprios Parâmetros Curriculares fazem menção a esta questão quando dispõem sobre as tradições pedagógicas brasileiras:

Tais práticas se constituem a partir das concepções educativas e metodológicas de ensino que permearam a formação educacional e o percurso profissional do professor, aí incluídas suas próprias experiências escolares, suas experiências de vida, a ideologia compartilhada com seu grupo social e as tendências pedagógicas que lhe são contemporâneas". (PCNs, 1997, p.39).

Para que a educação atenda às necessidades atuais, é preciso ressignificar o conceito de aprendizagem e de ensino, uma vez que sem aprendizagem não há ensino, pois é o aluno quem modifica, enriquece e, assim, constrói seu conhe- cimento. O professor, os companheiros de classe, os materiais didáticos e os recursos tecnológicos e toda sociedade em que ele está inserido, por sua vez, contribuem para que isso aconteça. Existem duas citações nos PCNs que retratam esta nova postura:

(...) não é a aprendizagem que deve se ajustar ao ensino, mas sim o ensino que deve potencializar a aprendizagem". (PCNs, 1997 p.55).

(...) A formação não pode ser tratada como um acúmulo de cursos e técnicas, mas sim como um processo reflexivo e crítico sobre a prática educativa". (PCNs1997 p.30-31).

Estamos deixando para trás uma escola que tinha como principal objetivo preparar intelectualmente e moralmente os alunos, com prática pedagógica autoritária,

fragmentando o saber e privilegiando a reprodução do conhecimento de saberes acumulados. A escola tradicional nem sempre leva em consideração as diferenças dos alunos, ignorando os estilos individuais de aprendizagem, exigindo apenas a memori- zação e não a capacidade cognitiva para interpretação, julgamento e decisão. Porém, ainda trabalhamos, em grande maioria, sob um sistema educacional que é o espelho do sistema industrial de massa: os alunos passam de uma série para a outra, numa seqüência de matérias padronizadas; o conteúdo é despejado aos alunos obedecendo a um cronograma de tempo; o professor segue currículos elaborados para a massa e o conteúdo tem um tempo previsto para ser ministrado e aprendido.

Os aspectos mais criticados na educação hoje são as regulamentações, o desrespeito à individualidade, os sistemas tradicionais de disciplinar e dominar o corpo, como os hábitos de sentar, de agrupar-se de formar filas, além dos de dar notas; o papel autoritário do professor. Ainda hoje a maioria das escolas não atende de modo eficaz nem à teoria nem à prática, descuidando do preparo dos jovens para a nova sociedade, tão dinâmica, tão mutável e tão cheia de desafios. Cada vez parece aumentar a barreira que separa as expectativas socioculturais do papel da escola, expresso em seus objetivos, conteúdos e métodos de ensino.

Na verdade a escola não acompanhou a velocidade das mudanças sociocul- turais próprias da era da Tecnologia das comunicações instantâneas, as quais prenunciam a sociedade do Conhecimento.

A sociedade exige hoje uma educação que esteja voltada para os valores humanos, para a formação do cidadão, numa visão crítica e criativa. Hoje, para o jovem que vive em um mundo tão dinâmico e cheio de vida, não é fácil assistir às aulas ministradas por professores que repete sempre os mesmos conteúdos dos cadernos, com o mesmo quadro negro e o mesmo giz. Na escola tudo aparenta proibido, enquanto que lá fora, o mundo passa por um furacão de mudanças.

Para que novos princípios filosóficos pulsem uma nova forma de educação, os princípios que assegurem o direito de o aluno aprender, sem que isso seja para ele

um processo de sacrifício, mas de conquista, de alegria, ancorado em uma ambiên- cia prenhe de estética, de sensibilidade. É preciso pensar em uma política de igualdade e em uma ética de identidade presente em todos os trabalhos. Faz-se urgente e necessário que a escola seja o lugar no qual se possa estimular e desenvolver o gosto pelo aprender.