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2 A EDUCAÇÃO, A EDUCAÇÃO ESPECIAL A ESTÉTICA E O PRAZER

2.4 Estética, Prazer, Saber

2.4.2 Arte e criatividade frente à estética e a sensibilidade

Constantemente ouve-se as expressões: a arte de arrumar uma mesa, a arte de dirigir um automóvel, a arte de degustar um vinho, a arte de dançar, enfim, parece-nos que estamos nos referindo à arte de viver (grifos meu) e não ao artista que produz uma grande obra de arte. Assim sendo, difícil seria, neste momento, definir o que seja arte, uma vez que muitos tratados de estética têm buscado definir um conceito categórico.

Entretanto, tais conceitos têm sido muitas vezes divergentes e contraditórios, uma vez que a estética é um conceito histórico inerente à cada cultura e que, portanto, transforma-se e evolui historicamente. Apesar disso, se pedirmos a alguém, possuidor de um mínimo de conhecimento, que nos cite algumas obras de arte, provavelmente indicará alguns trabalhos de artistas renomados, tais como a Mona Lisa de da Vinci, Davi de Michelangelo, Guernica de Picasso, Os Girassóis de Van Gogh.

Isto não significa, porém, que tal indivíduo realmente considere tais obras como belas; embora consagradas universalmente como expressão de arte, podem não estar condizentes com os padrões estéticos daquele indivíduo.

Em uma tentativa acanhada para definir arte, mencionaremos aqui os pensadores da Grécia clássica que, de um modo geral, concebiam arte como sendo uma forma de libertação, ou seja, um ato de libertação do Homem.

Outra definição significativa sobre arte é a de Amado (1952, p. 100): "(...) é o instinto libertando-se da razão, e o corpo libertando-se da consciência, em última analise, é um logro pregado pela natureza, através do homem, para salvar-se e salvá-lo na luta com a sociedade."

O autor acrescenta ainda que, enquanto a sociedade promete a felicidade, a arte somente oferece, ou somente fornece, a alegria.

Ao projetarmos este pensar na temática deste trabalho, veremos a alegria fornecida pela arte como a alegria da conquista, conquista esta de alguém que, no momento angustiante da criação, ou do superar barreiras estabelecidas por sua condição, encontrou a alegria na concepção artística.

Concluindo sua tentativa de definição, Amado (1952, p.101) acrescenta: "(...) a arte é tudo o que liberta o homem da convenção ou das convenções. A prova é que os motivos estéticos, os motivos de criação de beleza, quando se tornam notórios, convencionais, deixam de ser belos".

Observando esta definição de Amado entende-se que a arte através de seu poder criativo (grifo nosso), produz novos padrões estéticos, pois o que é belo hoje poderá não sê-lo amanhã.

A arte é inerente ao ser humano, e através da arte o sujeito expressa seus sentimentos interiores com relação ao mundo exterior e ao seu mundo interior, vivenciados naquele momento.

Bossi (1995, p.13) diz que: "(...) a arte é um fazer" (...) Movimento que arranca o ser do não ser, a forma do amorfo, o ato da potência, o cosmos do caos.

Lowenfeld, em seu livro Desenvolvimento da capacidade criadora, diz que "O homem aprende através dos sentidos. A capacidade de ver, sentir, ouvir, cheirar e provar proporciona os meios pelos quais se realiza uma interação do homem com seu meio".

Portanto no processo educativo é importante ter como objetivo o desenvolvimento da sensibilidade perceptual, porque:

(...) quanto maior for a oportunidade para desenvolver uma crescente sensibilidade e maior a consciência de todos os sentidos, maior será também a oportunidade de aprendizagem". (LOWENFELD, 1970, p.17).

Além de a arte estar sempre refletindo uma realidade, buscando a reflexão, a compreensão e a interpretação sobre um modo de viver, retratando assim a estética presente em um determinado tempo e espaço, parece-nos que arte é uma forma de humanização do homem, pois quanto mais se trabalha através da arte mais sensível e criativo o ser humano se torna.

A criatividade mesmo estando presente em todos indivíduos difere em sua intensidade, portanto devemos entendê-la individualizada e, portanto deve ser incentivada.

A criatividade individual é expressa constantemente pelo inter-relacionamento do indivíduo com seu cotidiano e durante este processo tal sujeito assimila os elementos de sua realidade e os transforma segundo seu padrão estético pessoal, de tal forma a imprimir sua identidade através das atividades artísticas, reconstruindo desta maneira os elementos de sua realidade individual.

Podemos então inferir que a criatividade permeia o processo de construção do conhecimento, sendo necessário para tanto a existência de esquemas para que o poder criativo gere algo novo.

CULTURA, MORAL, SENSO ESTÉTICO

Esta transmutação da realidade no fazer artístico implica em uma atividade emocional do esteta, expressa pela sensibilidade que este emprega no construir/ reconstruir a sua realidade no ato da prática artística.

É necessário a este indivíduo que opera a arte, antes de tudo, seu completo envolvimento emocional no apuro de sua sensibilidade com relação ao objeto que se propõe trabalhar, tornando esta atividade para este indivíduo sempre um motivo de prazer.

Motivo afetividade e prazer estão diretamente ligados a criatividade, portanto, uma atitude criativa surge quando um indivíduo sente prazer no que está fazendo.

A criatividade manifesta-se em todas as formas de produção prazerosa, podendo ser incentivada ou não; ao ser incentivada afasta a pessoa dos instintos retrógrados, tornando o indivíduo mais humano, mais feliz e conseqüentemente mais criativo.

A escola, preocupada com conteúdos a serem ministrados, com o tempo estabelecido em bimestre, com as "provas" a serem realizadas e principalmente com a cobrança do passaporte social de competência (diploma), muitas vezes não respeita as necessidades individuais de seus alunos, obliterando seu poder criativo.

Durante as relações estabelecidas no contexto escolar a criatividade pode ser incentivada ou não, se o ambiente escolar trouxer em suas atividades a contextua- lização, a alegria, o deleite e o prazer da descoberta pessoal, certamente incentivará a criatividade, porém se o marasmo prevalecer, o indivíduo perde a esperança, a alegria e o entusiasmo, sentimentos estes que impedem o desenvolvimento da criatividade.

D ACQUINO, apud, Dimatos (1994, p. 38) em sua dissertação de mestrado faz

uma referencia interessante quando cita:

Relacionar-se com os outros pode fomentar ou frear a criatividade. O amor quase sempre a aumenta, pois produz entusiasmo, euforia, dinamismo (...). Afinal, qualquer tipo de amor contribui para estimular a criatividade, dado que todo ato de amor é criativo. Somente o ódio não cria, antes destrói (1994 p.38).

A criatividade é uma catarse individual, que permite aflorar a atitude conceptiva, fato este que se sobrepõe ao medo, gerando assim a sensação de prazer.

Se esta reflexão sobre estética nos direciona ao conceito de arte que, por sua vez, nos remete à motivação e ao significado individual, perpassando pela afetividade, o prazer e a criatividade, entendemos que o objetivo da escola que propõe um trabalho direcionado à arte, necessariamente deverá desenvolver a consciência estética do aluno.