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3 – A CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

3.1 – A EDUCAÇÃO INFANTIL

A criança, a partir da convivência na escola, apresenta mudanças qualitativas na percepção sobre si mesma e sobre os outros, assim como na maneira de atuar nesse novo meio social.

Diante disto, entendemos que, conhecer melhor alguns aspectos relacionados à escola e às relações sociais que as crianças estabelecem neste espaço, principalmente na educação infantil, é imprescindível ao nosso estudo sobre as interações entre crianças com síndrome de Down e seus colegas de classe.

A educação, de acordo com Vygotsky (apud TUDGE, 1996), deve ser entendida não apenas como o desenvolvimento do potencial individual, mas como expressão histórica e crescimento da cultura humana, que ocorrem na interação das pessoas desde seu nascimento, ou seja,

[...] as capacidades e funções mentais formadas no processo de desenvolvimento histórico-social se reproduzem nos indivíduos mediante um processo de aquisição durante a vida, e não devido à ação da herança biológica [...] (LURIA, 1977, p. 109).

Todas as interações, portanto, oferecem oportunidades para que as pessoas aprendam mais sobre o mundo em que vivem.

3.1.1 – O percurso histórico e o amparo legal

A história da educação infantil, no Brasil, tem acompanhado, de certa forma, o percurso histórico dessa área no mundo, apresentando, em alguns momentos, características que lhes são próprias. Este nível de ensino surgiu, inicialmente, com um caráter assistencialista e, apenas nos meados do Século XIX, passou a ser atribuída ao mesmo uma função de educação.

Na Idade Média, a criança era considerada um adulto em miniatura, que deveria executar as mesmas atividades desenvolvidas pelos mais velhos. Possuíam, também, baixa expectativa de vida, entre outras causas, devido às precárias condições de sobrevivência (FARIA apud FAZOLO, 1997).

No período da Idade Moderna, com a Revolução Industrial, o Iluminismo e a constituição de Estados laicos, ocorreram modificações sociais e intelectuais que possibilitaram uma mudança de concepção sobre a criança. Esta passa a ser vista como um ser frágil e incompleto. Nesse período histórico, surgem as primeiras propostas de educação infantil, que atendiam à sociedade burguesa, pois era entendido que as crianças desse grupo social precisavam ser cuidadas e escolarizadas.

Posteriormente, esse atendimento foi estendido às classes populares. No entanto, eram formadas classes separadas, surgindo o denominado ensino de rico e o ensino de pobre. Ainda na Idade Moderna surgiram algumas creches que abrigavam os filhos de mães que trabalhavam na indústria (FARIA apud FAZOLO, 1997).

A partir da fragmentação social, a escola tornou-se deficiente em muitos aspectos, e, para suprir suas necessidades, foi criada uma educação compensatória

que começou no século XIX, com Pestalozzi, Froebel e Montessori. A educação pré- escolar era percebida, por esses pensadores, como uma forma de superar a pobreza, a miséria e a negligência das famílias (OLIVEIRA, Z. 2002).

A educação infantil começou a ser reconhecida como uma necessidade, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, durante a depressão de 1930. Tinha como principal objetivo garantir emprego a professores, enfermeiros e a outros profissionais e, simultaneamente, favorecer a nutrição, proteção e um ambiente saudável e emocionalmente estável para crianças carentes, que se encontravam numa faixa etária de 2 a 5 anos de idade.

No Brasil, depois da proclamação da República, alguns grupos e entidades sociais, a fim de diminuir a apatia quanto aos problemas da criança, tiveram como objetivo elaborar leis que: regulassem a vida e a saúde dos recém-nascidos; atendessem às crianças pobres, doentes, defeituosas, maltratadas e abandonadas; criassem maternidades, creches e jardins de infância (KRAMER, 1992).

As creches atendiam aos filhos das mulheres que trabalhavam na indústria e como empregadas domésticas, porém esse atendimento se referia apenas à alimentação, higiene e segurança física.

Na década de 70, devido à evasão escolar e ao alto número de repetência de crianças advindas de classes sociais mais desfavorecidas, foi instituída a educação pré-escolar para atender às crianças de 4 a 6 anos, como o objetivo de suprir as suas necessidades culturais. No entanto, a maioria dessas instituições públicas prestava um atendimento de cunho assistencialista, enquanto que as instituições privadas ofertavam um atendimento educativo voltado para o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, sociais e emocionais.

Foi apenas na Constituição de 1988 que as creches e a educação pré-escolar foram incluídas na política educacional, assumindo uma concepção pedagógica. Nesse sentido, a educação passou a ser vista como um direito de toda criança de 0 a 6 anos, sendo dever do estado oferecê-la.

Esse direito é reafirmado, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 9.394/96, em seu artigo 29, quando afirma, que a educação infantil, que corresponde a primeira etapa da educação básica, tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 2004a).

A educação infantil deverá ser oferecida para crianças de até 3 anos de idade, em creches ou entidades equivalentes, e para crianças de 4 a 6 anos em instituições denominadas pré-escolar (BRASIL, 2004a).

3.1.2 - O papel da educação infantil

Nos últimos anos, vem se percebendo a crescente expansão da educação infantil em todo mundo, sendo esse crescimento, entre outros aspectos, fruto da intensificação urbana e da participação da mulher no mercado de trabalho. Por outro lado, a própria sociedade começa a perceber a importância das experiências infantis e, conseqüentemente, a necessidade de investir na educação institucional (BRASIL, 1998).

Desde o nascimento dos filhos, os pais se preocupam com a educação, com a importância que a escola exerce na vida da criança. Interrogam-se sempre, entre

outros aspectos, sobre que critérios utilizar para escolha da escola e a partir de que idade deve se iniciar a escolarização. Esses aspectos ainda são mais ressaltados em se tratando de filhos com alguma necessidade especial, pois, por um lado surge a instituição especializada com toda uma oferta de atendimento específico e, por outro, a escola regular que está começando a aprender a trabalhar com a diversidade.

Antes mesmo da entrada da criança com deficiência na escola, ela necessita participar de programas de intervenção precoce, desenvolvidos por uma equipe multifuncional, envolvendo pedagogos, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, entre outros profissionais. Este programa é organizado de acordo com as necessidades de cada criança, para que ela tenha seu desenvolvimento potencial ampliado. A estimulação precoce (ou essencial, como também é denominada) deve ser ministrada desde o nascimento e se estender, aproximadamente, até 5 ou 6 anos de idade, tendo como finalidade proporcionar maior desenvolvimento das capacidades da criança, e uma melhor inserção no meio familiar, escolar e social. Visa, portanto, conhecer e ampliar as possibilidades de cada criança para que esta não fique, significativamente, em desvantagem em relação à criança considerada dentro dos padrões da normalidade (MARDOMINGO, 1995).

As escolas de educação infantil também desempenham um papel essencial na vida dessas crianças durante os primeiros anos de sua formação. É nesse período que as crianças adquirem hábitos, atitudes, maior autonomia, bem como formam conceitos (BRASIL, 1998). Portanto, nessa fase de desenvolvimento, as experiências com outras crianças, tornam-se essenciais.

Conforme afirma Delors (1999), compete à escola fornecer ajuda e orientações às crianças que apresentam necessidades especiais, de modo que

essas crianças possam desenvolver suas potencialidades, apesar das dificuldades de aprendizagem que apresentam.