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CAPÍTULO I – O CAMINHO DA IMIGRAÇÃO JAPONESA – BREVE

1.1 O Contexto da Imigração no Período Pré-Guerra

1.1.1 A Educação no Contexto da Imigração Japonesa

Considerando que o cenário histórico do Brasil, na época da imigração japonesa, em 1908, era de políticas eugenistas, abro um parêntese para lembrar a importância das escolas nesse período. As escolas japonesas atuavam como instrumento de manutenção de uma identidade étnica, tanto que funcionam sem restrições entre 1910 e 1939, aproximadamente.

Posteriormente, a proibição dessas escolas servia como aporte de uma nova nacionalidade brasileira. O governo valia-se da educação para construir uma nova identidade nacional.

Como foi observado, por Ikeda, Morales e Oda (2006) era normal a criação de escolas de língua japonesa nas colônias, ainda que não houvesse um entendimento por parte dos colonos das transformações culturais e linguísticas pelas quais passariam. A língua japonesa era falada pelos imigrantes que não viam a necessidade de aprender o português, visto que vieram ao Brasil passar um curto período de tempo, enriquecer e voltar ao Japão. Por esse motivo, as escolas de língua japonesa eram fundamentais na colônia, para a formação dos jovens japoneses que pretendiam voltar ao Japão.

Assim eram fundadas escolas para o ensino da língua e cultura japonesa para as crianças da comunidade.

[...] também criaram escolas para o ensino da língua e cultura japonesa aos filhos (as associações e as escolas tiveram um papel fundamental na comunidade japonesa). De um modo geral, a organização social dessas colônias tendia a reproduzir o modelo adotado nas aldeias ou povoados no Japão (BASSANEZI, 1996, p. 29 apud HIRATA, 2006, p. 08).

No entanto, o momento era de fechamento das escolas de língua estrangeira e estas serviam como alvo do governo para combater a formação de ―quistos étnicos‖. Sobre a

política nacionalista do Estado Novo, pode-se citar Shibata (2012) que salienta a existência de certa postura xenófoba por parte de alguns brasileiros.

Colocados como imigrantes a partir de 1908, os japoneses no Brasil tiveram uma história até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) constituída de confrontos entre a expansão econômica e tensões políticas agravadas por discursos de cunho racista, principalmente durante a década de 1930. Contudo, a despeito do contexto marcado pelas adversidades políticas e extensa rede escolar organizada e mantida pelos próprios japoneses. Essas escolas acabam por constituir-se num dos alvos da política nacionalista do Estado Novo (1937-1945) e em motivo de inquietações por parte da elite brasileira, particularmente daqueles que sustentavam posturas xenófobas voltadas contra os japoneses. (2012, p. 48)

Adoto os estudos de Tsukamoto (1973 apud IKEDA, MORALES e ODA, 2006), pelo qual, as autoras analisam, a partir da linguagem, um pouco do processo de integração cultural. No artigo, encontra-se referência às associações de japoneses, elas citam Tsukamoto para afirmar que existiam cerca de 350 associações só na cidade de São Paulo nos anos 50. O que confirma que os japoneses, assim que se organizam em núcleos coloniais, estruturavam uma associação ―na tentativa de reconstituir a vida comunitária rural do Japão e, em seguida, fundar e manter a escola de língua japonesa‖ (Ibid. p. 65).

Cabe acrescentar que o campo da educação escolar foi bastante discutido por Demartini (1997 e 2012):

Como foi se estruturando uma rede de escolas japonesas paralelamente ao sistema público estadual; de outro [lado], as estratégias individuais e coletivas desenvolvida pelas famílias japonesas no campo da educação escolar, tentando aprender as ambiguidades e os conflitos vivenciados, decorrentes da orientação voltada tanto para a manutenção da cultura como para a procura de uma cultura nacional, discutindo a prática de uma inserção econômico-social no contexto brasileiro (2012, p. 23).

De maneira que, ainda conforme Demartini (2012), desde 1908 os japoneses estruturaram-se no contexto paulista e paulistano, onde estabeleceram novas relações sociais na convivência com os brasileiros.

Houve, no entanto, na época, a já mencionada política nacionalista do Estado Novo (1937-1945), o fechamento de diversas escolas de língua estrangeira, com a proibição do aprendizado e de conversas em público de idiomas dos países do eixo. Bourdieu (1989) pondera sobre a influência da política na educação: ―[...] basta pensar na ação do sistema escolar em matéria de língua para ver que a vontade política pode desfazer o que a história tinha feito‖ (p. 115).

Em Shibata (2012), há referência sobre esse assunto:

Muito embora as restrições ao funcionamento de suas escolas tenham feito parte da campanha nacionalista do Estado Novo, na memória da maioria das primeiras gerações de japoneses, o fenômeno do ‘fechamento das nihongo gakko‘ encontra-se associado aos efeitos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), deixando ao esquecimento, no meio imigrante, as repressões causadas pelo programa de nacionalização do ensino no período Pré-Guerra (2012, p. 48).

Pode-se observar, então, que os japoneses imigrantes do período pré-guerra comentados por Shibata (2012) foram levados pelo que Nora (1993) chama de ―vontade de memória‖, ou seja, há um bloqueio no trabalho de esquecimento, um tipo de seleção ou enquadramento da memória. Sobre a importância da memória na construção da identidade étnica japonesa abordarei, mais aprofundadamente, no segundo capítulo.

Com os imigrantes de Santa Maria, chegados no período pós-guerra, ocorreu um processo semelhante, pois esperavam voltar ao Japão em cinco anos, os filhos deveriam ser alfabetizados em japonês, mas o cenário histórico da época não permitiu que isso acontecesse, e eles acabaram se fixando no Brasil, conforme aprofundarei essa análise no item 1.5.

1.2 Imigrantes em São Paulo no período Pré-Guerra - O Início da Imigração Sistemática