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1. MARCO TEÓRICO

1.6 A educação profissional: traçado histórico no Brasil

Para discorrer sobre a Educação Profissional, fizemos um breve passeio pela sua história, lembrando que no Brasil esta sempre esteve atrelada às camadas pobres, pois foi criada nessa intenção, e cuja orientação é confirmada pela legislação básica da Educação Profissional, do ano de 2005, no parecer da Câmara Nacional de Educação / Câmara de Educação Básica nº 16/99, que comentaremos adiante.

Em um recorte histórico, Kuenzer (2001) assinala que em 1909, o Governo Federal criou os primeiros cursos profissionais. Eram 19 escolas de aprendizes artífices subordinadas ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Segundo a autora, o que motivou a criação dessas escolas, foi uma preocupação do Estado, em oferecer alternativas de inserção no mundo do Trabalho aos jovens das camadas mais pobres da população.

Na sua história, a Educação Profissional entre os povos nativos integrava saberes e fazeres mediante o exercício das múltiplas atividades da vida em comunidade. No Brasil colônia, os primeiros núcleos de formação foram realizados nos colégios dos jesuítas. Com as mudanças econômicas surgidas no Brasil Império, foi constituído o aparelho educacional escolar e a Educação Profissional, voltada para os ofícios manufatureiros, era ministrada nas academias militares, em entidades filantrópicas e nos liceus de artes e ofícios. No Brasil república ocorreu a montagem e organização do sistema de ensino profissional, e durante o Estado Novo surgiu o chamado Sistema S9, gerido e mantido pelos organismos sindicais patronais, e, progressivamente, ampliados (MANFREDI, 2002).

Segundo Kuenzer (2001), a criação do SENAI e do SENAC, se deu para atender à demanda por mão-de-obra qualificada e resultou do estímulo do Governo Federal à institucionalização de um sistema nacional de aprendizagem custeado pelas empresas para atender às suas próprias necessidades. Verificamos, portanto, que a Educação para o Trabalho era atribuição do sistema federal de ensino técnico, depois complementado por um sistema privado de formação profissional para a indústria e para o comércio, através do SENAI e do SENAC.

Até meados de 1970, a Educação Profissional esteve voltada para o treinamento, formava para a produção em série e padronizada, pois o Trabalho requerido se constituía de tarefas simples, rotineiras e previamente especificadas e delimitadas. A partir de 1980, novas formas de organização e de gestão modificaram estruturalmente o mundo do Trabalho. Com o desenvolvimento e emprego de tecnologias mais sofisticadas, a Educação Profissional voltou- se para a qualificação profissional de técnicos. Atualmente, torna-se cada vez mais necessária a qualificação profissional e sua atualização por meio de programas de requalificação e de educação continuada, porque as constantes inovações tecnológicas e organizacionais no mundo do Trabalho impõem efetivas e rápidas respostas no que se refere aos novos perfis profissionais (BRASIL, 2005).

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As primeiras instituições foram o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, em 1942 e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, em 1946.

Portanto, para os que vivem das diferentes formas de Trabalho, a escola organizada com a perspectiva de profissionalização é o espaço fundamental para a aquisição dos conhecimentos que permitam o desenvolvimento das competências requeridas para a inclusão na vida social e produtiva, demandas por competências na atualidade, conforme propõe a Educação Profissional brasileira, como veremos a seguir.

1.6.1 A educação profissional brasileira na atualidade

As mudanças pelas quais o mundo vem passando produziram transformações na prática social e no Trabalho, e a educação não pôde ficar alheia a estas mudanças. Tal qual em outros períodos históricos o mundo do Trabalho acena com seus requerimentos para o âmbito da educação escolar e faz emergir a inquietação nos meios educacionais que passam a promover reformas para se adequar às novas exigências, tanto das rápidas mudanças tecnológicas, quanto das necessidades dos sujeitos em seu perfil profissional. Nessa perspectiva, para Berger Filho (1999) o conhecimento tornou-se elemento fundante para a produção, portanto, aprender a aprender passa a ser competência fundamental para inserção numa sociedade que se reestrutura continuamente.

A escola da Educação Profissional que pretende atender as demandas atuais busca formar profissionais polivalentes e, para isso, implanta um programa de interação entre os conhecimentos gerais e tecnológicos e entre as habilidades teóricas e práticas para que se possibilite aos estudantes a integração ativa e crítica. Diante desses desafios, a Educação Profissional destaca-se como um fator estratégico de competitividade e desenvolvimento humano na nova ordem econômica mundial, na perspectiva de melhoria na qualidade de vida e facilitadora da qualificação básica para pleitear o acesso dos sujeitos ao mundo do Trabalho. Segundo Frigotto (2003), concebe-se a Educação como uma forma específica de relação social, uma prática social, uma atividade humana e histórica definida no conjunto das relações sociais. O sujeito dos processos educativos é o homem e suas múltiplas e históricas necessidades, e a formação humana, enquanto prática constituída pelas relações sociais avança em conjunto com as práticas sociais fundamentais.

Na formação da Educação Profissional, o ser humano é apresentado não apenas como o objeto que executa tarefas, mas como o sujeito histórico que produz saber e modifica o mundo a partir de seu Trabalho. A proposta da Educação Profissional, então, não se vincularia, apenas, às necessidades da economia, já que promoveria o acesso ao saber

científico e tecnológico que permite ao trabalhador inserir-se, participar e usufruir dos benefícios do processo produtivo, sobretudo buscaria efetivar a delimitação de conteúdos que potencializem a satisfação das necessidades humanas e defendam a formação abstrata e polivalente (KUENZER, 2001).

No Brasil, segundo Frigotto (2001), as propostas educacionais que não estejam vinculadas à perspectiva democrática de desenvolvimento, a de geração de Trabalho e a de relações sociais de novo tipo, reduzem-se a um caráter ideológico. Neste sentido, “a preparação para a vida produtiva [...] deverá constituir uma relação de valor do próprio trabalho e do trabalho dos outros, conhecendo e reconhecendo sua importância para o bem comum e a qualidade de vida” (BRASIL, 2005, p. 37).

Ainda neste sentido, Oliveira, R. (2003), afirma que a reestruturação na Educação Profissional visa adequação às novas exigências impostas ao trabalhador e são essenciais à criação de uma vida cidadã, entretanto, para Kuenzer (2001), não é responsabilidade da escola resolver problemas do mundo do Trabalho. Para a autora, a relação deste com a educação ocorre pelo exercício da função que lhe cabe: socializar o saber.

Sabe-se que a Educação Profissional não gera Trabalho, entretanto a formação especializada dos sujeitos poderia manter sua subsistência, e com esta os atributos da existência e da subjetividade com dignidade, quais sejam o auto-respeito e o reconhecimento social.

Isso é ratificado a partir da atual Legislação Básica da Educação Profissional e Tecnológica, quando afirma que:

Não se concebe, atualmente, a educação profissional como simples instrumento de política assistencialista ou linear ajustamento às demandas do mercado de trabalho, mas sim, como importante estratégia para que os cidadãos tenham efetivo acesso às conquistas científicas e tecnológicas da sociedade. Impõe-se a superação do enfoque tradicional da formação profissional baseado apenas na preparação para a execução de um determinado conjunto de tarefas. A educação profissional requer, além do domínio operacional de um determinado fazer, a compreensão global do processo produtivo, com a apreensão do saber tecnológico, a valorização da cultura do trabalho e a mobilização dos valores necessários à tomada de decisões (BRASIL, 2005, p. 22).

Para Arroyo (1998), a Educação Profissional se dá entre sujeitos, e toda prática educativa e cultural é uma ação humana, de sujeitos humanos, marcada pela diversidade de experiências culturais dos que dela participam. Neste sentido, segundo Frigotto (2001), muitas vezes as políticas educacionais e de formação técnico-profissional, centradas na perspectiva

das habilidades e das competências para a empregabilidade, ignoram as relações de poder assimétricas e os limites do desenvolvimento capitalista. Esse contexto dificulta a concretização do princípio educativo à medida que expressa tensão entre os imperativos daquele e da constituição da democracia. O avanço do processo capitalista é, na raiz, antidemocrático, uma vez que se fundamenta na relação contraditória entre capital e Trabalho.

A tarefa atribuída à Educação Profissional torna-se, ainda, mais crucial, ao saber que a maioria dos trabalhadores têm dificuldade de acesso aos saberes, tanto aos de formação profissional quanto aos essenciais para lhes permitir reconhecerem-se como cidadãos, como profissionais, enfim, como sujeitos históricos produtores do mundo.

Ao falar em saberes produzidos socialmente alcançamos o momento de apresentar a teoria psicossocial com a qual esta pesquisa entende as questões subjacentes à relação Trabalho – Educação Profissional.