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A Educação Sexual (ES) e a Formação Inicial

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A Educação Sexual (ES) nas Escolas Brasileiras e os

2.1.6 A Educação Sexual (ES) e a Formação Inicial

A formação inicial representa uma importante etapa na preparação do professor: um curso de licenciatura deve oferecer os conhecimentos básicos teóricos indispensáveis para

à prática pedagógica, aliados aos conhecimentos de cunho prático, aprendidos com a vivência e que podem auxiliar os futuros professores a solucionar problemas locais que porventura estejam impedindo a educação cidadã.

Como escreveram Freitas, Villani e Pierson (2001), a formação inicial na perspectiva freiriana deve visar o desenvolvimento de profissionais autônomos, capazes de atuar de forma criativa a partir de uma percepção crítica da complexidade do sistema educacional, que inclui os aspectos sociais, políticos, culturais, econômicos, para promover práticas transformadoras na escola pública.

Nesta perspectiva, os autores ainda localizam como meta para a formação inicial a promoção do desenvolvimento de competências adequadas ao compromisso do professor com uma escola que cumpra seu papel social, com a compreensão de que é função prioritária da educação a desmitificação de visões descontextualizadas da realidade e a promoção de uma consciência sobre um mundo que se desvela na sua relação com o homem, valorizando no processo educativo, as relações sujeito/mundo e sujeito/sujeito, buscando um diálogo verdadeiro, em que as palavras e ações procuram ser compatíveis (FREITAS, VILLANI; PIERSON, 2001).

Promover uma formação inicial que tenha elementos que favoreçam a aproximação dos conhecimentos científicos para uma atuação crítica e para a transformação social, visando à educação para a cidadania pode ser feita amparada nos princípios da transversalidade, pois como escreveu Figueiró (2006, p. 66): “[...] é no exercício da transversalidade que os professores podem obter mais chances de ter seu trabalho ligado à vida, promovendo mudanças na prática pedagógica”.

Pensar em transversalidade significa trazer em pauta a sexualidade, e para isso, se faz necessário que os professores em formação tenham conhecimento das propostas transversais para os trabalhos de OS ou ES na escola. Nas nossas aulas de Prática de Ensino de Biologia, são oportunizadas as discussões sobre os PCN e os Temas Transversais, mas como escreveram Felipe e Guizo (2004), nos cursos de formação docente em nível universitário não são contempladas discussões destes temas, uma vez que os currículos ainda não os contemplam de forma abrangente.

Oliveira (2000) problematiza que os cursos de formação de professores desconsideram a sexualidade como um conteúdo que deve ser ensinado, compreendendo que tanto os educadores quanto os alunos conseguem se desvencilhar das suas sexualidades para irem à escola.

Uma maneira de fazer com que seja chamada a atenção para a temática da sexualidade nos cursos de formação inicial é introduzir nos currículos disciplinas relacionadas, como sugeriu Leão (2009), a fim de estimular o repensar dos futuros professores sobre suas crendices, cultura, além de possibilitar que percebam a necessidade de se despir dos „pré-conceitos‟ para a abordagem da OS nas escolas, salientando a importância disso.

Outros autores realçam a preocupação de que os currículos dos cursos de formação de professores deveriam contemplar discursos e vivências de sexualidade, de modo a despertar nos licenciandos as possibilidades do corpo e dos sentimentos, como escreveram Camargo e Ribeiro (2003).

De acordo com Figueiró (2006, p. 27), o pressuposto essencial é o de que a formação do professor, quando direcionada para a ES, contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional docente e para melhoria na qualidade do ensino, podendo ainda contribuir para despertar o educador que vive adormecido em cada professor.

Em momentos de estágio, em um curso de licenciatura, oportunamente podem surgir momentos em que na prática pedagógica de sala de aula seja discutida a temática da sexualidade, mesmo que não esteja diretamente relacionada ao conteúdo que está sendo trabalhado no momento. Nas situações de estágio há orientação aos licenciandos para inserir a temática na vivência da prática, tornando significativa a contribuição do futuro professor também neste âmbito. Para tanto, é importante que tenham preparo para o trato deste assunto.

Conforme problematiza Mirian Silva (2007), em trabalho apresentado na 30ª Reunião da Anped11, a ausência de oportunidades para debater a questão da sexualidade humana nos cursos de licenciatura pode transformar-se em um intenso obstáculo para o futuro professor:

Durante o estágio, os alunos dos cursos de Licenciatura têm a oportunidade de presenciar uma multiplicidade de sexualidades povoando as escolas. A mulher professora/mãe grávida; o adolescente passando por transformações corporais e de comportamento; a criança curiosa em relação ao seu contexto familiar; as mães grávidas esperando os filhos no portão da escola; o(a)s aluno(a)s, na escola, dando o primeiro beijo no(a) primeiro(a) namorado(a); os homossexuais convivendo com a maioria de heterossexuais na escola; o corpo, que o uniforme tenta esconder, despertando o desejo no(a) outro(a); os bilhetes-cartinhas de amor em movimento na escola; a paixão platônica pelo(a) professor(a); as piadas, risadas e a troca de informações e confidências entre colegas (SILVA, 2007, p. 4).

A autora expõe que nas discussões e relatos das experiências do estágio tais situações não recebem a atenção devida, como se fosse secundário e desnecessário serem resgatadas.

Portanto, se queremos valorizar a discussão das experiências vividas e formar indivíduos dentro de uma perspectiva na qual o papel da escola é concebido como o de formadora para o exercício da cidadania, é preciso propiciar aos futuros professores uma formação eficaz para atuar com a temática sexual. Reis e Ribeiro (2002) expõem que é essencial possibilitar ao professor acesso ao conhecimento científico que é produzido em torno da sexualidade.

Em razão disso, os autores Nunes e Silva (2000) afirmam que “tratar de sexualidade na escola requer o alicerce de uma concepção científica e humanista desta sexualidade, superando o senso comum, que é o nível primário do conhecimento social”. Não obstante eles observam que:

[...] a maioria dos profissionais aponta a ausência de fundamentos científicos na análise destes comportamentos, baseando-se sempre nos elementos conservadores e tradicionais de uma cultura repressiva e negativista do sexo e suas dimensões, reforçada pela família, pela religião e pela própria escola [...] (NUNES; SILVA, 2000, p. 74).

A partir das emergentes e necessárias transformações institucionais da escola, compete à Universidade a formação de professores consoante à sua vocação institucional de formar cidadãos críticos (NUNES; SILVA, 1999). Na realidade, a formação do professor precisa inserir a compreensão crítica da sociedade em que este profissional está inserido.

De acordo com Werebe (1998), a formação de educadores sexuais deve compreender uma formação pessoal ao lado da formação científica. É indispensável que os educadores possam participar de grupos de discussão, focalizando sua própria sexualidade, seus valores, suas experiências pessoais. É preciso haver um atrelamento entre formação, sensibilidade e a conscientização.

Como na escola de Educação Básica a intenção de trabalhar com a temática recai na maioria das vezes ao professor de Ciências e Biologia, como já escreveram Castro, Abramovay e Silva (2004), a sexualidade vem sendo tratada principalmente como “um conteúdo restrito ao campo disciplinar da Biologia, reificando-se o corpo como aparato reprodutivo, o que molda a compreensão a respeito da saúde e da doença”. No nosso curso de Ciências Biológicas, pretendemos oferecer aos jovens em formação, não só os conceitos biológicos, mas oportunizar a conciliação com os aspectos humanizados, tendo em vista a

responsabilidade de professores que atuem com a sexualidade, como uma questão básica de cidadania.