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Educação Sexual (ES): o Papel da Escola e do Educador

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A Educação Sexual (ES) nas Escolas Brasileiras e os

2.1.5 Educação Sexual (ES): o Papel da Escola e do Educador

A temática da sexualidade e o desenvolvimento da ES nas escolas brasileiras de Nível Fundamental e Médio têm sido polêmica. Pelas pesquisas têm-se apontado que muitos ainda consideram a abordagem de questões sexuais na escola como algo não sadio, pois estimularia precocemente a sexualidade da criança e do adolescente. Para outros, a discussão orientada de temas relacionados à sexualidade proporcionaria aos jovens o conhecimento da importância da vida sexual bem mais cedo e com maior profundidade (CAMARGO; RIBEIRO, 1999).

Entendemos que a escola tem o papel essencial de inserir o indivíduo na sociedade, por meio da construção no mesmo, do saber científico relativo às diferentes áreas do conhecimento humano, de forma suficiente e necessária para instrumentalizá-lo na sua relação com a sociedade, em tudo aquilo que a compõe.

Encontramos na dissertação de Terezinha Mariuzzo (2003), intitulada “Formação de professores em orientação sexual: a sexualidade que está sendo ensinada nas nossas escolas”, a definição de Saviani (1997) para a função da escola: “é a transmissão dos instrumentos de acesso ao saber elaborado” (SAVIANI, 1997, p. 21). O “saber elaborado” que Saviani relaciona é a Ciência. Tal saber contempla o que o homem construiu historicamente, por meio das ciências e da cultura.

Como percebemos nas escolas pesquisadas, há diferentes condições socioeconômicas que expressam a origem familiar dos alunos, prevalecendo as baixas classes sociais, o que nos faz constatar que para a maioria das crianças e adolescentes que estudam em escolas públicas, a escola é o único espaço de acesso ao conhecimento sistematizado. Desta forma, acreditamos que a principal função da escola é formar para a cidadania, e ser cidadão significa ser capaz de compreender e explicar o mundo, bem como atuar nele de forma consciente e crítica, no que se refere aos seus direitos e deveres e ir além, ser agente de sua própria transformação.

A escola como instituição para o ensino, aquela que conduz para a educação formal, deve permitir o acesso aos conhecimentos científicos e tecnológicos atualizados, aplicável às necessidades individuais e sociais de cada um, de forma que o aluno consiga

adequar os conhecimentos adquiridos em sua realidade, conseguindo subsídios e argumentos para participar democraticamente de debates éticos e contemporâneos.

A escola comprometida com a formação de cidadãos participantes é aquela que desenvolve as potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, valorizando as formas de convivência entre as pessoas, o respeito às diferenças, os relacionamentos estabelecidos, enfim, questões que são pertinentes ao campo da sexualidade num sentido amplo, para o indivíduo e para a sociedade.

Concordamos com Figueiró (1995 apud FIGUEIRÓ, 2006), quando faz a consideração de que a ES é toda ação ensino-aprendizagem sobre a sexualidade humana, seja em nível de conhecimento de informações básicas, seja em nível de conhecimento e/ou discussões e reflexões sobre valores, normas, sentimentos, emoções e atitudes relacionados à vida sexual e que para ser completa e eficaz deve abranger tanto o componente informativo quanto o formativo (FIGUEIRÓ, 2006, p. 38-39).

Frente à temática em questão, é papel da escola contribuir para uma visão positiva da sexualidade, como fonte de prazer e realização do ser humano, assim como aumentar a consciência das responsabilidades. Ao promover a ES na escola, os alunos poderão repensar seus valores pessoais e sociais, partilhando suas preocupações e emoções.

Contribuem com estas afirmações as autoras Camargo e Ribeiro (2003) ao escreverem que:

O trabalho de Educação Sexual implica a discussão de questões sociais, éticas e morais. Sendo assim, as relações entre liberdade, autonomia e respeito à intimidade devem estar presentes em todo trabalho educativo e, principalmente naqueles que tratam da sexualidade. Estes são alguns dos desafios enfrentados pelos educadores e educadoras, pois a liberdade de ação e decisão é condição fundamental para o homem e a mulher conhecerem as questões decisivas da sua vida e da sociedade na qual estão inseridos. Para compreender a sexualidade humana é essencial que ela possa ser entendida e discutida com liberdade (CAMARGO; RIBEIRO, 2003, p. 40).

No livro “Sexo se aprende na escola”, organizado pelo Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual – GTPOS, (GTPOS, 2008, p. 10-14), algumas considerações são feitas sobre o porquê deve acontecer a discussão da sexualidade na escola. Os tópicos apontados vão ao encontro do que acreditamos ser o papel da escola para o campo dos enfrentamentos da sexualidade humana. As considerações são:

 porque a escola não pode fugir à responsabilidade: se a escola não tratar da questão sexual, estará transmitindo aos alunos a noção de que o assunto é mesmo um tabu, sobre o qual não se pode falar;

 pela falta de informação: ainda há confusão sobre a liberdade sexual, que é confundida com promiscuidade e a informação com instrução sobre movimentos físicos mecânicos; além disso, a ideia é conscientizar os pais sobre a conveniência de que ao fornecer aos adolescentes a informação sexual, será também transmitida a visão da sexualidade como algo natural e bonito;

 para superar medos e preconceitos: pensando na escola como local oportuno para fornecer espaços de discussão, acompanhados por um orientador que ajuda os adolescentes a superar preconceitos que impedem a utilização de informações, a adoção de comportamentos preventivos, o exercício da liberdade e o relacionamento de igualdade entre os gêneros;

 para o bem-estar sexual: abrir espaço na escola para tratar da sexualidade significa oferecer ajuda ao adolescente para que diminua a ansiedade e elabore as angústias decorrentes de conflitos entre as pressões externas e as demandas internas, evitando assim que a desinformação, o medo e a angústia, decorrentes da ignorância, comprometam a capacidade de aprender das crianças e jovens e suas possibilidades de ter uma vida sexual harmoniosa;  para ajudar na formação de identidade: o ambiente escolar pode ajudar o jovem a descobrir a si mesmo e a inserir-se no seu mundo; pela troca de experiências com as pessoas da mesma idade e a aprendizagem do respeito por posições diferentes, trabalhos de ES oferecem a oportunidade aos adolescentes de um melhor desenvolvimento de si mesmo, tendo o outro como referência;

 para abrir canais de comunicação: ao falar sobre sexo/sexualidade na escola, os alunos se conscientizam de seus temores e passam a lidar com o tema de forma madura, possibilitando maior tranquilidade em meio ao turbilhão da adolescência; outro aspecto relacionado com os trabalhos de ES pode ser o enfoque nas transformações, nos relacionamentos pessoais, aumento na afetividade e naturalidade na troca de ideias, bem como o respeito pela diversidade;

 porque ajuda a repensar os valores: a escola deve contribuir para que o aluno possa desenvolver o pensamento e a capacidade crítica, analisando valores para que então possa aceitá-los ou rejeitá-los; a possibilidade de pensar com liberdade sobre assuntos considerados proibidos por muitos cria espaços mentais que estimulam o jovem a rever outras dimensões privadas e sociais de sua existência.

Sob o ponto de vista das intervenções de ES, a autora Werebe (1998) afirma que é necessário também criar condições para que se possa discutir com os jovens questões controvertidas como a homossexualidade, o aborto, a virgindade, entre outras, além das normas sexuais vigentes.

Para tanto, o educador sexual deve ser uma pessoa comprometida com o ideal de transmitir os conhecimentos científicos, estar livre de julgamentos, deixar de lado seus preconceitos e estar aberto a ouvir.

Em geral, se pensa no professor de Ciências e Biologia para desenvolver o papel de educador sexual, por conta da suposta habilidade com os termos específicos, atualização e facilidade com os conteúdos relacionados; entretanto, outras áreas do conhecimento podem contribuir nos debates com os jovens, já que as explicações biológicas devem ser integradas em contextos de dimensões psicológicas, históricas, culturais, políticas e econômicas.

Como endossa Rosely Sayão (1997), pouco importa a área de conhecimento do professor, o educador sexual deve ter disponibilidade pessoal para se responsabilizar pelo trabalho e deve ser capaz de estabelecer uma relação de confiança com os alunos. O autor Lorencini Júnior (1997) acrescenta outras habilidades que o educador sexual deve ter, como a capacidade de conduzir atividades sobre temas relacionados à sexualidade de modo dinâmico, aplicando diferentes estratégias, como discussões em grupos, jogos e situações simuladas, promovendo um ambiente possível para a busca constante e renovada dos sentidos da sexualidade.

Como crítica às intervenções externas à escola, em trabalhos denominados de “OS”, geralmente feitas em forma de palestras ou exposições pontuais por profissionais competentes para tal fim, em seu livro “Sexualidade – quem educa o educador”, Vitiello (2000) expressa a opinião de que o médico, a enfermeira, o psicólogo ou o assistente social, quando fazem palestras em escolas, não estão exercendo a ES, mas sim funcionando como meros informadores, pois estas atividades são contraproducentes enquanto medidas educadoras. Para o autor, o caminho real para a ES é preparar professores interessados para a tarefa de fazê-la (VITIELLO, 2000, p. 96-97).