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Pesquisas que Envolveram a Temática da Sexualidade em

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A Educação Sexual (ES) nas Escolas Brasileiras e os

2.1.7 Pesquisas que Envolveram a Temática da Sexualidade em

A produção científica expressa no formato de pesquisas que retratam a realidade das escolas com a perspectiva da investigação da temática da sexualidade têm enfoques distintos. Algumas delas observam opiniões, comportamentos e atitudes de professores, outras têm como preocupação os pensamentos e atitudes dos alunos, e outras ainda, têm a preocupação de analisar Documentos Oficiais e/ou Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs) para implicá-los na prática, ou chamar a atenção para que ocorram mudanças nas políticas públicas. Todas são de extrema importância porque olham para o contexto escolar. Alguns exemplos serão trazidos neste tópico, com o intuito de percebermos diferentes recortes e resultados obtidos no nosso campo de atuação.

Em um estudo realizado por Jesus, Temer e Silva (1997), o objetivo foi verificar a opinião dos escolares adolescentes sobre a ES realizada na escola e na família. Numa escola pública da periferia do município de Juiz de Fora-MG, houve a realização desta pesquisa que contou com a participação de 178 alunos que estavam cursando a 6ª série do Ensino Fundamental. As autoras utilizaram para a coleta de dados um questionário semiaberto que buscou caracterizar os adolescentes; suas experiências vividas; o nível de diálogo com os pais e as opiniões sobre a participação da escola na ES. Como resultados foi percebido que os adolescentes demonstraram interesse pelo outro e que receberam as primeiras informações sobre sexo com amigos da mesma idade, haja vista a dificuldade em dialogar com os pais. Para estes adolescentes os pais deveriam conversar sobre assuntos desta natureza, sendo a escola o lugar mais apropriado para complementar as informações recebidas pela família. Eles relataram, ainda, que a escola é o lugar adequado para falar sobre sexo, a despeito do constrangimento entre os colegas para isso.

As autoras Camargo e Ferrari (2009) desenvolveram uma pesquisa com 117 adolescentes da 8ª série de uma escola estadual do município de Londrina-PR, cujo objetivo foi analisar o conhecimento dos adolescentes sobre sexualidade, métodos contraceptivos, gravidez, DST e AIDS, antes e depois de oficinas de prevenção. Houve a utilização de um questionário (pré e pós-teste) para identificar a diferença do conhecimento dos adolescentes. Os resultados indicaram que 28,2% dos adolescentes no pré–teste sabiam do período fértil da

menina; após as oficinas de prevenção, o conhecimento superou 55,8%. Verificaram também que a AIDS foi a DST mais citada no pré-teste; no pós-teste, houve referência a outras doenças (41,1%). Sobre métodos contraceptivos, foram indicados como mais conhecidos o preservativo e a pílula. Com a aplicação dos testes ² e exato de Fisher, foi possível perceber que não houve relevância estatística entre as respostas sobre atitudes de risco para transmissão de DST/AIDS. As autoras concluíram que há necessidade de trabalho sistemático, a médio e longo prazo, sobre sexualidade na escola para os adolescentes.

A pesquisa desenvolvida pela autora Braga (2005), em escolas públicas e particulares da cidade de Presidente Prudente-SP, analisou a percepção do adolescente sobre a importância e a necessidade da introdução da ES na escola. Como fonte de dados, houve a participação de 60 alunos com idades entre 14 e 18 anos, e para coleta das informações foi utilizado um questionário constituído por dez questões fechadas e uma aberta, que abordavam sobre os problemas relativos ao local para o desenvolvimento de trabalhos a respeito de sexualidade, pessoas para realizar a abordagem, e a opinião deles acerca da ES na escola. Os adolescentes que participaram da pesquisa mencionaram que a escola é o local apropriado para que aconteça a orientação. Preferem também que os professores e os pais possam dar esta orientação, revelando o desejo de que haja um espaço no ambiente escolar a fim de que possam discutir sobre sexualidade.

A autora Carvalho (2009) fez um estudo em que contemplou os aspectos de gênero e raça na avaliação escolar. O intuito da pesquisa foi verificar se a definição de objetivos pedagógicos claros e a consequente adoção de critérios de avaliação de aprendizagem bem delimitados poderiam minimizar os desequilíbrios socioeconômicos de sexo e de raça, evidenciados no interior do grupo de alunos indicados para atividades de reforço por nove professoras alfabetizadoras de diferentes escolas públicas na cidade de São Paulo-SP. Foram realizadas observações em sala de aula, entrevistas com as educadoras e formulados questionários de caracterização socioeconômica dos alunos. As conclusões foram que a maior alteração relativa a alunos e alunas de baixa renda se refere ao papel atribuído pela professora à recuperação, que passa a ser considerada não como punição, mas como oportunidade de aprendizagem; a presença majoritária no reforço de crianças percebidas como pretas, pardas e indígenas diminui ligeiramente pela melhor definição de critérios de avaliação escolar; é nítido o equilíbrio na indicação de meninos e meninas ao reforço quando se avalia com precisão a aprendizagem e não o comportamento. O trabalho também apresentou indicações para a formação inicial e continuada de educadores/as no que se refere a relações de gênero e de raça.

A autora Gimenes (2001) desenvolveu seu trabalho em uma escola pública com a amostra de oito adolescentes, entre 15 e 18 anos, investigando as concepções que possuíam acerca de seus corpos e da manifestação da sexualidade pelos seus comportamentos e condutas sexuais. Para a obtenção dos dados houve a realização de entrevista semiestruturada, e observação do ambiente escolar. Pelos resultados alcançados observou-se que o discurso dos adolescentes é carregado de valores culturais que reforçam a repressão por mitos, tabus e preconceitos. Observou-se também que os jovens apresentaram informações distorcidas sobre sexualidade, o que pode ser pela falta de orientação e diálogos relacionados à vida sexual. Outro aspecto de destaque foi o apontamento de que a escola é um lugar de referência, sendo um espaço de lazer no qual não há a interferência dos pais.

O autor Júnior (2010), ao realizar sua pesquisa de doutorado, fez a investigação em duas escolas públicas paulistanas sobre as representações que professores/as do Ensino Médio apresentavam sobre homossexualidade e diversidade sexual no cotidiano escolar. Utilizou-se de questionário semiestruturado com questões abertas e fechadas para a coleta de dados. Os dados quantitativos foram apresentados em forma de gráfico comparativo e os dados qualitativos foram divididos em três blocos de interpretação e analisados em três categorias de análise, com base nas falas dos/as professores/as: 1) representações da homossexualidade sob o viés de preconceito evidente; 2) representações da homossexualidade sob o viés de preconceito latente; 3) representações da homossexualidade na perspectiva democrática e inclusiva. Os resultados obtidos permitiram detectar as diferentes formas com que o preconceito a cidadãos não heterossexuais instalam-se na escola. Além disso, os resultados evidenciaram que a conexão entre discriminação e homossexualidade funda-se em uma questão cultural, enraizada em dogmas, crenças e representações construídas socialmente para conservar a hegemonia da heterossexualidade e, por conseguinte, subalternizar e inferiorizar as orientações consideradas não padrão.

A autora Martinez (2003) em seu livro intitulado “Adolescência, Sexualidade, AIDS” apresentou uma investigação de pesquisa desenvolvida nas escolas públicas e privadas da cidade de Assis-SP. Com o objetivo de verificar como os estudantes pensavam a respeito da ES nas escolas, os sujeitos de pesquisa foram 96 professores (58 de escolas públicas e 38 de escolas privadas) e 366 alunos do Ensino Fundamental e Médio (189 de escolas públicas e 177 de escolas particulares), da faixa etária dos 13 e 18 anos. Quanto aos alunos, a metodologia de pesquisa utilizada foi por meio de entrevista fechada e aberta (31 alunos), com o objetivo de perceber como acontecia o recebimento de OS e as fontes em que obtinham

as informações. Também havia o interesse em perceber a avaliação que os alunos faziam em relação aos seus conhecimentos sobre a sexualidade.

Por meio da análise dos dados, a autora percebeu que 99,5% dos alunos de escola pública e 98,8% das escolas particulares consideravam que seria interessante que fosse desenvolvido um programa de ES nas escolas. Diante disso, as recomendações dos adolescentes indicavam que fosse instituído um espaço onde pudessem ser debatidos os aspectos da sexualidade humana, até mesmo os emocionais e afetivos, além das questões sobre prevenção da gravidez e da AIDS. Foi pontuado também pelos adolescentes que a OS na escola traria como benefício não ditar normas a eles, nem interrogatórios acerca do motivo de determinadas dúvidas, proporcionando-lhes a opção de liberdade de escolha, porém, com informações que os auxiliassem em suas decisões. A conclusão da pesquisa apontou para a necessidade de abertura da escola para o trabalho de ES, cuja demanda é recebida dos próprios alunos.

O autor Silva (2009), em sua pesquisa de mestrado, efetuou uma análise das principais atitudes e crenças sobre a temática sexualidade manifestadas por dez professores de escolas estaduais do Ensino Fundamental e Médio. Dentre a amostra pesquisada, três haviam participado de um Grupo de Estudos sobre ES, quatro estavam cursando o mesmo grupo e três nunca tinham participado. Para a coleta dos dados foram realizadas entrevistas diretas, semiestruturadas, que foram submetidas a uma análise de conteúdo, a partir dos pressupostos da modalidade denominada Temática, e um questionário semiestruturado, junto a 241 alunos do Ensino Fundamental e Médio.

Após a tabulação dos dados, os mesmos foram analisados com auxílio do programa estatístico SPSS-14, a fim de observar se as atitudes e crenças expressas pelos docentes dos dois grupos coincidiam ou divergiam. Os resultados denotaram que os docentes, apesar de considerarem importante lidar com o assunto sexualidade em sala, manifestaram dificuldade em falar sobre o tema, indicando, inclusive algumas concepções equivocadas, que foram percebidas pelos alunos. Entre estes, também se observou um discurso médico- biologista da sexualidade, tal qual o de seus professores. A partir dos resultados obtidos foi possível perceber que se faz necessária a formação continuada, já que foram notadas mudanças de algumas concepções entre os docentes participantes de um Grupo de Estudos sobre ES/UEL/Londrina-PR, mesmo que, para alguns, as mudanças fossem apenas em nível intelectual, ainda não integradas ao modo de sentir e agir.

O autor Silva (2010), em sua tese de doutorado, se propôs a investigar como a noção do respeito aos direitos humanos, presente nas políticas públicas de educação, refletia-

se em relação à garantia do reconhecimento do direito a não discriminação das diferenças sexuais no espaço escolar. A pesquisa examinou o entrelaçamento de duas esferas relacionadas no interior das unidades de ensino: uma – que se referia ao sistema pautado pela legitimidade das diretrizes em defesa da cidadania e do respeito aos direitos humanos, presentes em documentos institucionais, como o PPP e o Regimento Escolar e, a outra – voltada para os alicerces culturais sobre o que se entendia por sexualidade, até então heterossexual e reprodutiva, os quais ainda alimentavam a dinâmica das relações humanas presentes na escola.

O autor utilizou-se de observação etnográfica, entrevistas semiestruturadas e questionários fechados para obter seus dados. Os resultados encontrados evidenciaram dois aspectos: o primeiro foi o de que a noção de direitos humanos se apoiava na ideia de respeito a um sujeito universalizante e abstrato que não se alinhava à cultura da escola estudada, possuindo pouca repercussão no discurso escolar sobre o respeito aos direitos das diferenças sexuais; e o segundo foi o de que essa escola carregava questões estruturais de condições de trabalho, de estrutura de funcionamento e de exigências burocráticas que dificultavam a introdução de algo que fosse diferente desse discurso universalizante.

A dissertação de mestrado da autora Pereira (2003) teve a finalidade de avaliar o nível de informação de uma amostra de estudantes sobre DST e AIDS e sua prevenção, bem como pretendeu traçar um perfil socioeconômico e cultural do grupo estudado. A pesquisa caracterizou-se como um estudo transversal que envolveu 3.275 alunos do Ensino Médio de quatro escolas de um bairro de São Paulo-SP. Houve a aplicação de um questionário sobre conhecimentos de DST, AIDS e prevenção, que comparou os alunos investigados do período diurno com os do noturno.

Para análise dos dados foram utilizadas tabelas de frequências, medidas de tendência central, ² e teste de diferenças de médias de Kruskal Wallis, com nível de significância de 5% para os testes estatísticos.

Os conhecimentos sobre DST e AIDS foram considerados bons, mas identificaram-se algumas noções equivocadas: doação de sangue transmite AIDS (2.795 alunos - 85,6%); hepatite B não foi reconhecida como DST (2.096 alunos - 76,9%); sangue menstrual (1.845 alunos - 62,1%) e barbeador (1.079 alunos - 37,6%) não foram reconhecidos como importantes na transmissão; pílula anticoncepcional evita AIDS e DST (717 alunos - 22,3%). Verificou-se que os estudantes do período diurno (58,3%) possuíam melhor nível de informação que os do noturno e que os pais e amigos eram os interlocutores preferidos para conversar sobre sexo. A média de idade para a primeira relação sexual foi apontada como de

14,3 anos para meninos e 14,9 anos para meninas. Foram identificados alguns fatores de risco ligados aos conhecimentos, sobretudo nos alunos de período noturno, o que sugere que a escola deve estar mais atenta às orientações para levar conhecimento e prevenção aos jovens.

Em pesquisa com 18 gestantes adolescentes e estudantes de uma cidade no interior paulista, com média de 15,3 anos, a autora Bueno (2001) teve como objetivo descrever as variáveis concorrentes para a gravidez na adolescência. Foram utilizadas entrevistas para obtenção dos dados, que contemplaram 14 questões referentes à gravidez na adolescência abrangendo: comportamento sexual, influência da mídia, escola e educação familiar para a ocorrência da mesma. Houve também a aplicação de um questionário semiestruturado em que se buscou investigar, principalmente, os fatores de risco para a gravidez na adolescência relacionada ao conhecimento dos métodos contraceptivos e sua utilização. Como resultados, a autora relacionou o despreparo das participantes quanto às responsabilidades que envolvem a manutenção de uma vida sexualmente ativa e a falta de OS das participantes, mostrando o quanto esta orientação se faz necessária na escola para a prevenção da gravidez na adolescência.

Os dados resultantes desta pesquisa confirmam o que Helena Altmann (2003) declara que a inserção deste tema na escola está associada a uma preocupação com a dimensão epidêmica, e com a alteração nos padrões de comportamento sexual, com uma perspectiva de gravidez mais tardia. Para Maria José Garcia Werebe (1998), o trabalho com a sexualidade no cenário escolar tem sido proposto para enfrentar os problemas relacionados às mudanças nos comportamentos e atitudes dos jovens.

Os autores Soares e Jacobi (2000) desenvolveram um estudo cujo objetivo foi o de analisar um projeto de prevenção de drogas e AIDS que ocorreu nas escolas públicas estaduais de São Paulo. A análise foi feita considerando-se a diversidade e a complexidade do uso contemporâneo de drogas e o papel da escola, como uma agência de socialização, ambos historicamente determinados. Elencando: houve análise das concepções sobre drogas; a relação entre drogas e AIDS – como um dos eventos vinculados ao processo saúde-doença; e concepções e objetivos da prevenção. A análise foi baseada em documentos e nos depoimentos dos supervisores do projeto, professores treinados pelo projeto e estudantes que participaram das atividades. O estudo encaminhou conclusões que implicam o ordenamento das políticas públicas de prevenção relacionadas à droga e à AIDS.

Os autores Jardim e Brêtas (2006) desenvolveram um estudo que teve como objetivo identificar o conhecimento e a atuação em sexualidade de uma amostra de professores de Ensino Fundamental e Médio. Foi um estudo exploratório-descritivo, cujos

dados foram obtidos por meio de um questionário, respondido por 100 professores da rede de ensino público do município de Jandira-SP. Os resultados demonstraram que, apesar de considerarem a importância do tema, a maioria dos professores não dispõe de conhecimentos suficientes para promoverem OS aos adolescentes, atendo-se muito mais no aspecto biológico da sexualidade do que nos sentimentos e valores que a envolvem. As conclusões apontadas acenam para a necessidade na execução de programas de treinamento e capacitação sobre sexualidade na adolescência à população pesquisada.

Todas estas pesquisas, que avaliaram alguma situação escolar envolvendo professores e alunos, nos reportam à ideia que compartilhamos com Figueiró (2003) de que a ES está relacionada com o direito de todo indivíduo receber informações sobre o corpo, a sexualidade e o relacionamento sexual e, também, com o direito de ter várias oportunidades para expressar sentimentos, rever seus tabus, aprender, refletir e debater para formar sua própria opinião, seus próprios valores, sobretudo, que é ligado ao sexo.

Relacionando os documentos legais que asseguram os direitos sexuais dos indivíduos, na China no ano de 2002, foi realizado o XV Congresso Mundial de Sexologia em que foi construída a Declaração Universal dos Direitos Sexuais proclamada pela WAS – World Association for Sexology. De acordo com Fagundes (2007), neste encontro houve a proclamação de que os direitos sexuais devem ser reconhecidos, promovidos, respeitados e defendidos por todas as sociedades do mundo. Os direitos sexuais relacionados foram: liberdade sexual; autonomia sexual; privacidade sexual; igualdade sexual; prazer sexual; expressão sexual; saúde sexual; escolhas reprodutivas livres e responsáveis; educação sexual compreensiva; enfim, há também o direito à informação baseada no conhecimento científico.

Ainda de acordo com a autora Fagundes (2007), no XVII Congresso Mundial de Sexologia, que ocorreu no Canadá em julho de 2005, tais direitos foram atualizados. Neste encontro foram firmados dez aspectos dos direitos, entre os quais se reiterou a importância de informação e educação integral da sexualidade como direito de todo cidadão.

Sendo assim, todas as instâncias devem assegurar o acesso aos conhecimentos e informações sobre a sexualidade, inclusive a escolar. Conforme apontou Figueiró (2007), ao ter o direito e oportunidades de pensar de forma crítica sobre todo o conjunto de valores e normas sociais criados pela sociedade acerca da sociedade, a ES oferecida pela escola contribui para que o aluno forme sua própria opinião com liberdade e responsabilidade, para que construa seus próprios valores, e seja sujeito de sua própria sexualidade.