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A educação e a sociabilidade em instituições confessionais católicas ou filantrópico-

CAPÍTULO 3 A ARTE DE CONVIVER E DE INTERAGIR DO SER HUMANO

3.3 A SOCIABILIDADE HUMANA E OS VALORES QUE A CONSTROEM

3.3.1 A educação e a sociabilidade em instituições confessionais católicas ou filantrópico-

O estudo desta pesquisa se torna realidade em instituições confessionais católicas de ensino privado com turmas de alunos do ensino médio. Estas se notabilizam por oferecerem uma “fundamentação consistente para os valores que o mundo e a maioria das pessoas aspiram” (JULIATTO, 2008, p. 90). A qualificação das instituições de estarem voltadas para as pessoas se concretiza no empenho em promover o ser humano na sua integridade, consciente de que todos os valores humanos e cristãos encontram sua realização plena em Jesus Cristo. Essa consciência, certamente, se manifesta em seus projetos político- pedagógicos (PPPs), reforçados pelo documento de Puebla fortalecem o desvelo e diligência para educar personalidades fortes, líderes capazes e corresponsáveis pelo seu desenvolvimento, como pelo desenvolvimento social e cultural, agentes de transformação (PUEBLA, 1982, p. 1033).

Assim, ao discorrermos sobre a educação confessional católica na esteira da história, trazemos presente toda uma educação que formou a cidadania do povo brasileiro desde o início da colonização. É termos a convicção de que a tradição, a identidade, os valores éticos e morais ganham impulso e se renovam na medida em que respondem ao apelo feito por João Paulo II27, ao expressar que é preciso construir um mundo onde seja possível juntos viver melhor. O que se confirma também com Tempesta (2008, p. 7) por meio das palavras: “da formação de homens e mulheres com valores humano-cristãos, tem-se a certeza de que poderão exercer um bom trabalho para a construção de um mundo melhor amanhã”.

A presença da Igreja no campo escolar manifesta-se, de modo particular, por meio da escola confessional católica; por isso, há que se encorajar a atividade dos docentes que, no 27 João Paulo II – Alocução da caridade. Roma, 16/05/99.

contexto escolar se dedicam à formação integral da pessoa, promovendo-a nos valores humanos, éticos e cristãos; e, o fazem amparados na certeza e na perspectiva de estar contribuindo, pela educação, para um mundo mais solidário e fraterno (MOURA, 2000).

Convém ressaltar sobre a importância em iluminar alguns conceitos presentes nas discussões em pauta, ou seja, quais as noções que se têm sobre entidades com fins não

lucrativos, filantropia, beneficência, utilidade pública (grifos nossos). O Código Civil

explicita em um de seus artigos aqueles que perfazem atividades desse teor, conjugam esforços, com finalidades comuns, por exemplo:

Conscientes das limitações individuais, os homens procuram conjugar esforços e recursos para consecução de fins comuns. Celebram contrato de sociedade as pessoas que mutuamente se obrigam a combinar seus esforços ou recursos, para lograr fins comuns (art. 1363 do Código Civil), (MENK, 2012).

Consideram-se entidades com fins não lucrativos as que não apresentam superávit em suas contas ou, caso o apresentem em determinado exercício, destinam o resultado, integralmente, à manutenção e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais. De acordo com o Decreto28 n. 7.237, de 20 de julho de 2010, são consideradas sem fins lucrativos as instituições de assistência social cujo objetivo for o de proteção à família, à maternidade, à infância, ao adolescente e à velhice; amparo às crianças e adolescentes carentes; além disso, promover ações de prevenção, habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiências; promover gratuitamente assistência educacional ou de saúde e promover a integração ao mercado de trabalho, segundo Castro (2012).

Parafraseando Guerreiro (2009), por fins não lucrativos, entende-se que a instituição não distribui lucros e nem tem participação no resultado econômico final da entidade, por aplicar os resultados em benefício da própria instituição e de seus objetivos estatutários. Por outro lado, a expressão utilidade pública refere-se a título ostentado por entidade (sociedade civil, associação ou fundação), objeto de reconhecimento pela União, pelo Estado ou por Município. Em nível de legislação federal, a Lei n. 91, de 28 de agosto de 1935, determina regras pelas quais são as entidades civis declaradas de utilidade pública.

Assim, tendo presentes os diferentes conceitos aqui apresentados, algumas expressões elucidam o que se entende por entidade filantrópica e/ou sem fins lucrativos, tais como: o altruísmo significando amor ao próximo e amor à humanidade. Beneficência,

28 Regulamenta a Lei n. 12.101, de 27 de novembro de 2009, para dispor sobre o processo de certificação das

entidades beneficentes de assistência social.

etimologicamente, é um termo que se expressa por bem-fazer, traduzindo ideia de bem ao ato de ajuda a outrem (FAITANIN, 2003).

Desse modo, ao realizarmos o nosso trabalho em instituições com este pano de fundo, podemos dimensioná-las numa demonstração de valores voltados para o bem do ser humano inserido numa entidade beneficente entendida como aquela que se destina, conforme indicado em seu objeto, às atividades de ajuda espontânea oferecidas por sentimento de solidariedade e de cidadania. A beneficência ostenta características assim delineadas: as atividades são voluntárias, isto é, as atividades não representam contraprestação de contribuições dos beneficiários; as ajudas ou atividades são exercidas e direcionadas a cada beneficiário. A partir do esvaziamento de suas dimensões espirituais, a beneficência passa a exigir intervenção ou controle governamental (DECICINO, 2009).

O termo confessional direciona-se aqui para o entendimento da educação sob a inspiração cristã, que é o que diferencia a escola confessional católica de ensino privado das outras escolas, sobretudo por ser esta a fonte inspiradora da educação, ou seja, a educação aliada à evangelização. Constituem ações que se realizam entre as pessoas com a finalidade formativa. Segundo Balbinot (2012, p. 10), “a finalidade formativa da evangelização tem sua fonte no Evangelho e a finalidade formativa da educação” está imbuída, de acordo com os gestores das instituições, pelos projetos pedagógicos permeados dos princípios de inspiração cristã. O mesmo autor acentua que tanto a ação educativa como a ação evangelizadora carrega em si uma concepção de ser humano, de mundo e de sociedade, juntamente com uma concepção de Deus como um fundamento teológico.

Fortalecem estas concepções os fundamentos antropológicos, cosmológicos, sociológicos, psicológicos e pedagógicos, definidos de acordo com parâmetros humanísticos, técnicos e/ou ideológicos. Desse modo, têm-se semelhanças e, ao mesmo tempo, diferenças entre a escola laica e escola confessional católica, em que, nesta última, evangelização e educação estão intimamente imbricadas. Presume-se que nas escolas confessionais católicas a concepção de Deus está entrelaçada com a concepção de ser humano, de mundo e de sociedade, alicerçando, assim, toda a ação educativa que se expressa na forma de vivência dos valores contidos em suas prioridades filosóficas e evangelizadoras. Em sendo assim, tais entidades expressam a sua beneficência contribuindo para com o ser humano e na construção da cidadania como um agente de transformação da sociedade.