• Nenhum resultado encontrado

A educação superior no estado do Ceará 1996/2010: uma expansão territorializada.

3. Sociologia do Ensino Superior: reflexões e considerações sobre a expansão e interiorização no Brasil e no Ceará.

3.2 A educação superior no estado do Ceará 1996/2010: uma expansão territorializada.

A expansão pela interiorização vem sendo valorizada enquanto política pública de educação superior tanto em nível de Estado (federal, estadual e municipal), como também pela via do mercado com a crescente, mas não recente, privatização e mercantilização deste nível de ensino.

Mais do que apresentar dados que apontam para um crescimento vertiginoso da abertura de faculdades, cursos e vagas nas mais diversas regiões não metropolitanas do país, estabelecemos aqui uma reflexão que ultrapassa (porém não nega) a visão quantitativa. Nosso objetivo é mostrar que através de uma leitura territorial, é possível estudar e compreender, sociologicamente, o fenômeno espacializado da educação superior. As dinâmicas demográficas e o processo de sociabilidade, são pontos fundamentais, conforme o enfoque desta pesquisa, aos processos de trabalho, mais especificamente ao trabalho docente mediante a conjuntura atual da educação superior brasileira.

Nessa perspectiva, partimos do pressuposto de que o território brasileiro cria demandas educacionais. A criação dessas demandas evidencia que a noção de território aqui refletida é definida por processos sócio- históricos, sendo assim, o território habitado, vivido, utilizado de forma socioespacial, e não porções territoriais estáticas definidas cartograficamente, sem considerar a vida social.

O aumento da demanda por parte da sociedade pela formação acadêmica associada à necessidade e pressão internacional pelo Estado em

134 aumentar sua oferta e responder a esta demanda, são fatores que por si só estimulam o aumento numérico e espacial das Instituições de Ensino Superior (IES) pelo território nacional. Todavia, há de se considerar que estes fatores não são únicos, junto a estes podemos citar ainda as múltiplas regulações legais envolvendo interesses, atores e prioridades diversas que resultam da intensidade das mudanças econômicas como a inovação e renovação dos processos produtivos, a qualificação profissional, o surgimento de novos serviços, o desenvolvimento técnico científico, a descentralização das atividades industriais, etc.

Ao pensarmos sobre os caminhos da interiorização da educação superior no contexto histórico brasileiro, percebemos que esta também não é uma tendência e/ou preocupação recente. Estudos de Santos e Silveira (2000) já evidenciam que nas décadas de 1960 e, sobretudo na década de 1970 “o ensino superior realiza uma verdadeira conquista do território brasileiro pois, nesse decênio, são implantadas mais de 300 instituições de ensino superior”. Contudo, tal conquista territorial referenciada pelos autores acima deve ser analisada cuidadosamente, uma vez que não podemos considerar este um fator verdadeiramente nacional, mas sim regional, dado que, o mesmo estudo aponta que tal crescimento e expansão que ultrapassava as fronteiras metropolitanas não se distribuiu de forma equitativa no território nacional, concentrando-se, especialmente, nas regiões Sul e Sudeste. Na região Nordeste este processo também ocorreu nos estados de Pernambuco e da Bahia, porém, em ritmo bem menos acelerado. Os demais Estados da região permaneceram praticamente estagnados neste setor até a década de 1990.

Ao fazermos uma leitura dos dados fornecidos pelo INEP com relação ao ensino superior, considerando apenas o Estado do Ceará, constata-se que em 1996, ano de elaboração da nova LDB, portanto, sem interferência direta da mesma, das 920 Instituições de Ensino Superior (IES) registradas no Brasil, o Estado possuía apenas 8 instituições de ensino superior, caracterizadas e distribuídas da seguinte maneira: 04 Instituições de ensino superior pública, sendo 02 em Fortaleza (Universidade Federal do ceará – UFC e Universidade Estadual do Ceará – UECE), e duas instituições estaduais no interior (Universidade Vale do Acaraú – UVA, localizada na cidade de Sobral e

135 Universidade Regional do Cariri – URCA situada na cidade do Crato). As outras quatro IES são de foro privado, todas concentradas na cidade de Fortaleza. Os campi da UECE no interior não foram considerados pelo INEP, o número de estudantes, de professores e demais dados foram incorporados nos dados totais da universidade.

Com relação ao número de cursos de graduação registrados no mesmo documento estatístico, e sua distribuição geográfica no território cearense, observa-se que neste mesmo ano – 1996, existiam 120 cursos, dos quais 92 ofertavam suas vagas na capital alencarina, 17 na cidade de Sobral (UVA) e 11 na cidade do Crato (URCA), como demonstrado na tabela abaixo:

Tabela 11.

Fontes: Anuário Estatístico – 1956 e 1971 (IBGE) / Catálogo das Instituições de Ensino

Superior – 1996 (MEC)

Mesmo não contabilizando os dados das unidades descentralizadas da UECE, ainda assim é possível perceber que os investimentos privados não existem no interior do Estado e que há uma concentração de cursos e instituições na cidade de Fortaleza. Outro aspecto relevante refere-se à ausência da diversificação institucional, mostrando que esta é uma peculiaridade das transformações pós LDB 9394/96.

136 O caráter da difusão territorial – da espacialização das IES – expresso a partir da Sinopse Estatística do Censo da Educação Superior 2010 e comparado aos dados de 1996 mostra que o retrato estatístico da educação superior brasileira e no Ceará em especial, aponta para um processo de interiorização. Na tabela abaixo, é possível perceber que no decorrer de 15 anos, além das 02 universidades estaduais já existentes, foram criadas 14 faculdades particulares, dentre outras mudanças.

Tabela 12. Número de Instituições de Ensino Superior no estado do Ceará por natureza organizacional e localização (capital e Interior)

Fonte: Sinopse Estatística do Censo da Educação Superior 2010 MEC/INEP

Esses dados nos auxiliam a compreender o quão dinâmico tem sido o crescimento espacializado de Universidades, Institutos e Estabelecimentos que ofertam cursos de formação superior no Estado durante esses 15 anos. Além disso, mostram a necessidade de se pensar sobre as representações sociais e os processos identitários que se formam e se reformulam mediante as novas características e especificidades culturais, políticas, sociais, territoriais e profissionais que são concebidas, percebidas e vividas por este público crescente, específico, pelo menos no que se refere ao interior de vários estados brasileiros e, de modo peculiar, ao estado do Ceará.

Como vimos no capítulo anterior, a UFC, desde o início da década passada oferece cursos presenciais nas cidades de Quixadá, em Juazeiro e Barbalha (Região do Cariri) e em Sobral; a UECE, desde a década de 1980

137 caracteriza-se pelo modelo multicampi e possui unidades nas cidades de Limoeiro do Norte, Iguatu, Itapipoca, Crateús, Tauá; por fim, a URCA oferece cursos presenciais nas cidades de Iguatu, Campos Sales e Missão Velha. A Universidade Estadual Vale do Acaraú possui um processo diferenciado de descentralização. A UVA oferece chancela a inúmeros institutos de foro privado em diversos estados brasileiros e adota um modelo fundamentado em cursos sequenciais de graduação e pós-graduação e como os alunos, professores, servidores e todo o público envolvido neste processo não mantém nenhum vínculo direto com a instituição, eles não figuram em nossas análises.

Desse modo, temos ao longo dos últimos anos, um deslocamento não só de pessoas em busca de formação acadêmica, mas o deslocamento também, de instituições, principalmente quando nos reportamos ao estado do Ceará, locus de pesquisa deste estudo. O deslocamento das instituições e estabelecimentos de ensino superior, consequentemente, da oferta de cursos e vagas e a perspectiva de profissionalização e formação acadêmica, ou seja, a própria interiorização do ensino superior, não provocou a redução dos fluxos populacionais, ao contrário, o que houve foi uma diversificação neste fluxo.

É certo que as cidades regionais continuam a atrair estudantes de outras cidades, porém o fluxo de pessoas ao qual nos reportamos e privilegiamos neste trabalho, é o do professor universitário – do docente – que migra ou que vivencia um movimento pendular para executar suas atividades em lugares distantes e quase sempre pouco familiar a estes. Logo, entendemos que recente ou não – dependendo da região geográfica ou unidade federativa – este é um fenômeno em constante processo na realidade contemporânea capaz de trazer novos contornos e significados não só à própria organização do sistema de ensino superior, como aos públicos envolvidos e as representações destes que variam de acordo com as expectativas criadas e a realidade vivenciada cotidianamente.

Neste sentido, dentre os inúmeros aspectos que podem ser abordados quando se lança o olhar sobre as metamorfoses da educação superior brasileira, procuramos no tópico seguinte inserir a temática da interiorização no contexto da expansão e no bojo das preocupações acadêmicas.

138

3.3 O ensino superior e a sociedade brasileira: a relevância de uma

Outline

Documentos relacionados