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A entrevista 80 

No documento 2015MateusMeccaRodighero (páginas 81-84)

5. BLOG: CONVERSAÇÃO VIRTUAL, REAL COMUNICAÇÃO? 63 

5.2.1 A entrevista 80 

O jornalista da editoria de “Internacional” ou “Mundo” foi o segundo a responder ao questionário desenvolvido pelo pesquisador. A entrevista ocorreu no dia 14 de novembro de 2014, por meio de Skype. Por cerca de 25 minutos, o entrevistado demonstrou muito interesse em participar da conversa, uma vez que o meio digital tem sido uma área de atuação ampliada. Revelou que pretende, cada vez mais, produzir conteúdo para o mundo digital. Ao mesmo tempo, reconheceu que deixou o blog um pouco de lado em função de outras atividades que assumiu no veículo impresso.

Na entrevista, buscou-se incialmente entender quais as principais mudanças aconteceram no processo produtivo dele, a partir do início da publicação do blog, ou seja, quando o jornalista inseriu-se no mundo virtual. De acordo com o blogueiro,

o que todo jornalista, na minha opinião, quer, é aumentar o número de receptores da tua mensagem. No momento que surgem as plataformas digitais elas possibilitam isso. Eu acabei entrando na ideia de jornalista multimídia justamente por isso, porque eu via no blog a possibilidade de expandir o meu conteúdo, chegar ao maior número de pessoas (resposta 1).

Ele conta que começou a perceber que o blog permitia uma linguagem mais informal que o jornal impresso.

A grande vantagem dos meios digitais, especialmente daquele momento que eu comecei em 2005, um pouco antes, foi a possibilidade de agrupar todo o meu conteúdo, em um primeiro momento, e também, paralelo a isso, a possibilidade de estreitar a relação com o público (resposta 1).

O jornalista atuou em várias coberturas internacionais e o blog auxiliava neste trabalho. Muita coisa que acontecia em outro país acabava virando conteúdo do blog.

Muitos bastidores. E isso numa cobertura internacional é muito legal porque tu tá sozinho num lugar distante, comunicando para o teu público, né, o público da RBS, aqui do Rio Grande do Sul. O blog surge como esse elo. As pessoas vão comentando, sugerindo pautas, vão comentando (resposta 1).

Para o jornalista, está na capacidade de interação outra vantagem significativa com relação aos demais veículos.

Quebra um pouco aquela rotina básica do jornalismo, com editor, revisão e publicação no dia seguinte. Com blog você tem publicação imediata, você tem vários deadlines, e tu é o próprio editor do teu texto. Então surge esse feedback da correção, o leitor vai lá, vê algo errado, te fala e tu corrige. Se quebra na comunicação aquele modelo clássico, matemático, funcionalista, de autor, receptor, canal.... o público passa a ser colaborador e quebra um pouquinho aquela suposta arrogância do jornalista de que ele é o único emissor da informação, começa a virar uma coisa colaborativa (resposta 7).

A possibilidade de abertura total, sem noção de fechamento, como funciona um jornal impresso, também agrega valor ao conteúdo do blog, na opinião do blogueiro.

Eu não acho que a notícia precise ser publicada 12, 24 horas depois. Ela tá acontecendo a todo o tempo, cria quase uma linha direta com o leitor que te acompanha em tempo real. Ele tá o tempo todo ali, te lendo, te criticando, te acompanhando, festejando (resposta 4).

Por atuar muito tempo fora da redação, em coberturas internacionais, o jornalista passou a utilizar o blog como plataforma de hipermídia, com vídeos, fotos, texto, imagens e áudios.

A gente começa a perceber que os blogs precisam de fotos, cada vez mais, que precisam de atualização constante porque um post sem foto tem pouca audiência. É um pouco da lógica hoje das redes sociais. Tinha possibilidade de colocar várias fotos e também ser um espaço infinito. Enquanto que no papel a gente tinha a coluna do repórter em viagem, o Diário do Vaticano, Diário do Oriente Médio, Diário da Eleição Americana, onde você tinha possibilidade de escrever cinco, seis notas. No blog você coloca várias (resposta 3).

Todavia, o próprio jornalista faz uma ressalva quanto ao atual estágio do blog, praticamente “abandonado”, uma vez que assumiu outras funções no veículo. Quando questionado sobre a influência do leitor na hora de escrever um texto na página, o jornalista reconhece essa importância.

Na redação do texto, basicamente, não influencia muito, mas na maneira de pensar a pauta sim, influencia. [...] No momento que vem uma sugestão, uma crítica, uma colaboração de um internauta do blog, você pensa que aquilo ali pode te ajudar a direcionar a tua cobertura. Quando vem uma sugestão, você avalia se dá prá fazer. No meu discurso não influencia tanto, mas na maneira de pensar a pauta (resposta 2).

No que diz respeito a interação leitor-autor, o jornalista não dá nenhum exemplo prático que tenha acontecido realmente, mas adianta que o leitor de blog ainda está em formação, ficando difícil até avaliar a contribuição dele nessa relação interativa.

O público do blog é diferente do jornal papel. É um cara que cada vez mais entra nas redes sociais em contato contigo, é um cara que tá na internet, que vai no teu blog via internet e não pelo jornal. Ele não te busca porque te lê no jornal. O público do papel é diferente do site e a linguagem do blog te permite ser um pouco mais descontraído (reposta 5).

Essa diferença demonstra a dificuldade em fidelizar um leitor com maior número de opções a cada dia. Na discussão sobre os estatutos de leitura do mundo virtual, torna-se cada vez mais difícil definir o que esse internauta busca.

O público da internet não é fiel, é um cara que se o concorrente oferece uma coisinha a mais ele já vai. A todo o momento existe uma sede de novidades, de atualização, de coisas novas e você precisa chamar a atenção dele o tempo todo. [...] Essa geração já criada assim que começa a ler e consumir produtos digitais, já nasce digital, é muito crítica, mas é muito volátil. Não gostei desse cara, vou ler outro. O cara do papel não, ele acredita na marca, ele acha que ela tem credibilidade e acredita. Então é mais fácil de lidar com ele (reposta 6).

Com relação aos comentários de internautas, o jornalista revela que faz mediação, impedindo, inclusive, a publicação de alguns textos. Como trata de temas polêmicos como religião, cultura e política internacional, já viu-se obrigado a suspender determinados comentários que se direcionavam a outros grupos de maneira preconceituosa e ofensiva. Após a síntese das principais ideias defendidas durante a entrevista, parte-se agora para a observação sistematizada do blog de editoria “Internacional”.

No documento 2015MateusMeccaRodighero (páginas 81-84)