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A entrevista 66 

No documento 2015MateusMeccaRodighero (páginas 67-70)

5. BLOG: CONVERSAÇÃO VIRTUAL, REAL COMUNICAÇÃO? 63 

5.1.1 A entrevista 66 

O jornalista da editoria de “Geral” foi o primeiro a responder ao questionário desenvolvido pelo pesquisador. A entrevista foi realizada no dia 7 de novembro de 2014, por meio de Skype. Durante quase trinta minutos, o entrevistado demonstrou total interesse em participar da conversa. Com muito bom humor, revelou um desejo de ser mais atuante nas redes sociais e nos blogs. Contou que tem pouco tempo para conciliar todas as atividades jornalísticas, uma vez que atua no jornal (impresso e digital) e também em emissoras de rádio do Grupo RBS.

O dia da conversa foi na semana seguinte ao pleito eleitoral que reelegeu Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto e deu a vitória a José Ivo Sartori como governador do estado do Rio Grande do Sul, em segundo turno. Além disso, o período era de instabilidade da dupla GreNal no Campeonato Brasileiro, já que ambos os times alternavam vitórias e derrotas. Esses registros são importantes, uma vez que os temas esporte e política fazem parte dos textos do blog com frequência.

3 O jornalista também é escritor de ficção e já esteve na Jornada Nacional de Literatura em Passo Fundo

(http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticia/2009/10/13-jornada-de-literatura-de-passo-fundo-deve-receber-mais-de- 20-mil-pessoas-2694199.html), durante o 2º Encontro Estadual de Escritores Gaúchos.

Uma das primeiras preocupações da entrevista foi entender qual a mudança que se estabeleceu no processo produtivo a partir do ingresso do jornalista no meio digital. Para o blogueiro, a principal novidade nesse contexto foi a facilidade do leitor buscar comunicação com o autor do texto. A ferramenta “comentário” é apontada como a maior revolução do meio digital, em comparação ao impresso.

O leitor podia mandar uma carta, que daí tu lia e não necessariamente respondia. Ou ele podia ligar para o jornal, mas é uma ação que demanda um pouco de esforço, trabalho, porque ele tem que procurar o número, ligar para o jornal, aquela coisa toda. E quando ele liga, manda uma carta, ele sempre tem o receio de como tu vai reagir, quando ele te liga ou te aborda na rua, ele sempre tem o receio da tua resposta né. Com a internet, blog, comentário, e-mail, ele não tem nenhum receio, ele manda. Às vezes ele se irritou com alguma coisa que ele leu, ele imediatamente, quase que instantâneo, ele vai lá, clica em cima e te xinga, vamos dizer né. É uma reação instantânea dele, às vezes até impensada né (resposta 1)4.

Para o jornalista, foi necessário entender a real intenção de muitos comentários publicados pelos leitores no blog, especialmente nos posts que tratam de assuntos mais polêmicos. Até porque, o autor usa do bom humor para dizer que alguns leitores viraram “comentaristas profissionais”, porque comentam todos os posts.

Você tem que aprender com isso, o que significa aquilo, porque tem muito cara que, a maioria dos leitores é o seguinte: se ele concorda contigo tu é um gênio. Se ele discorda, tu é um imbecil. Então tu quem saber que tu não é gênio nem imbecil. Não vai te empolgar quando todo mundo te elogia e não vai achar que tu é um imbecil quando tu recebe uma crítica feroz (resposta 1).

Outra mudança significativa que surge após o ingresso no meio digital é a possibilidade de recursos de outras mídias, como vídeos e áudios. O jornalista diz que aprendeu a usar a ferramenta, mas ainda é pouco.

Eu gostaria de usar mais, mais vídeos, afinal de contas o que é o blog, é uma espécie de jornal onde eu posso usar mais sons e imagens, poderia usar mais. Me penitencio de não usar mais um pouco essas possibilidades do blog (resposta 3).

Uma terceira possibilidade que se abre, de acordo com o jornalista, é a

4 Os trechos citados das entrevistas, para que se diferenciem das citações de base teórica constantes nesta

dissertação, terão como critério fonte em itálico, mesmo que com mesmo tipo e tamanha de fonte das demais citações.

oportunidade de ter no leitor um crítico atento e participativo ao trabalho.

De repente tem uma coisa que eu não percebi, às vezes a gente comete um erro né, ou algo que não percebeu, algo que ficou estranho. Essa é outra vantagem do blog (resposta 4).

O que não muda, segundo as respostas, é a necessidade de ter credibilidade, tanto no impresso quanto no digital.

As pessoas vão escolher acessar ele ou não, então essa triagem vai ser feita pelo leitor sempre, seja na internet ou no impresso, o que a gente precisa, para sobreviver nesse mundo é garantir nossa credibilidade e isso se faz com bons textos e com uma relação com o teu público” (resposta 8).

Este é outro objetivo a ser identificado por esta pesquisa. A capacidade de interação já foi abordada, o que busca-se ainda é entender como ela se estabelece na prática. O jornalista conta que os leitores das duas plataformas são diferentes. Muitos leem apenas o blog, enquanto outros leem somente o jornal impresso. Por isso, é importante destacar que são diferentes e possuem reações distintas. Dessa forma, o conteúdo não é apenas copiado de uma plataforma para a outra. Há produções independentes, embora algumas se repitam, dependendo da relevância. Para o jornalista, muitos leitores comentam, mas poucos querem estabelecer um diálogo. Esse aumento da possibilidade de interação assustou alguns colunistas.

Tem que entender como funciona isso aí, senão você também enlouquece. Tem um monte de jornalistas que desistiu de fazer blog por causa dos comentários agressivos. Outros ficam perturbados com aquilo, se deixam perturbar, mas não pode deixar isso acontecer (resposta 2).

O jornalista faz questão de apontar que aprendeu a conviver com essa “agressividade” e até aproveita algumas oportunidades. Conforme a questão 5, que investiga a presença do leitor, ele responde forma positiva.

Eu tenho uma leitora minha, que não é a única, mas essa é diária, ela faz comentários de todos os erros, ela corrige quando há um erro de português, um erro de digitação. Eu vou lá e corrijo, agradeço ela depois. Ela é uma espécie de revisora do blog, é uma coisa curiosa, dá palpites, dá sugestões (resposta 5).

Na discussão referente aos estatutos de leitura no meio digital, o jornalista destaca que o leitor do blog pode ser considerado mais fiel.

Certamente o leitor do blog é mais participativo né. Ele quer participar, tem essa vontade de tá lá e comentar, tá lá e tá junto. Tem uns caras que são engraçados, eles me odeiam, sabe? Mas ele tá todos os dias ali, lê todos os textos, comenta todos os textos, então é uma figura que acrescenta também, mesmo te odiando (resposta 6).

Destacadas as principais ideias do jornalista durante a entrevista, parte-se agora a observar de forma sistemática cinco posts do blog citado, a fim de identificar como a relação se estabelece entre blogueiro e leitores, relacionando a observação à teoria e aos pontos principais tradados na entrevista.

No documento 2015MateusMeccaRodighero (páginas 67-70)