• Nenhum resultado encontrado

Sistemas AVAC

5.2 A Escassez de Recursos Energéticos

A máquina de Thomas Newcomen posta em funcionamento em 1712 nas minas de carvão de Inglaterra, pode marcar o início da revolução industrial e do consumo crescente de recursos de energia. Desde então, pode estabelecer-se uma relação entre o desenvolvimento dos países e o seu acesso a recursos energéticos: o desenvolvimento dos EUA após a segunda Grande Guerra esteve ligado à abundância de petróleo no Texas, no Oklahoma e posteriormente na Califórnia; o desenvolvimento da Grã-Bretanha na revolução industrial deveu-se à existência de jazidas de carvão; o petróleo no Mar do Norte contribuiu fortemente para o desenvolvimento recente da Grã-Bretanha e da Noruega.

Em 1949, Hubbert previu que a produção americana de petróleo atingiria o máximo entre os anos 1966 e 1972 [5.1]. A produção máxima foi atingida em 1970, pelo que, nos anos seguintes, os restantes barris necessários ao desenvolvimento dos EUA foram importados. Em 1973, os EUA já não controlavam o preço do barril de petróleo.

1 Os dados deste subcapítulo, quando não referenciados, são essencialmente provenientes de cerca de 80 artigos do Economist, datados de Fevereiro de 2007 a Dezembro de 2008, de Dezembro de 2009 e de Janeiro de 2010.

países da OPEP e a exploração intensiva dos recursos da URSS, com vista à obtenção de divisas, permitiram a estabilização de preços nas décadas de 1980 e 90. Um artigo recente2

sobre o esgotamento das reservas de petróleo e gás previa para 2007 o pico de extracção de recursos energéticos mundiais. O pico de extracção de petróleo terá ocorrido em 2005; o pico de extracção de reservas da URSS ocorreu em 1987; o pico de extracção no Mar do Norte, em 2000. Qualquer destas datas tem um significado político importante.

As novas explorações do petróleo na Nigéria, na Venezuela e, mais recentemente, a descoberta de novos poços em Tupi Sul, no Brasil, trouxeram novo alento às economias ocidentais. Angola tem neste contexto um papel de relevo, com uma produção de 1,9 milhões de barris de petróleo por dia (bpd), a maior da África subsariana depois da Nigéria.

O máximo histórico do preço do barril de petróleo, próximo de 151 USD, ocorrido em Julho de 2008, indica que os preços estáveis das décadas de 80 e de 90, de cerca de 20 USD, são uma realidade do passado. No pico desta crise, a Arábia Saudita só é capaz de realizar um ligeiro aumento da produção. Os potenciais efeitos de uma baixa do preço do petróleo, provocada por este aumento de produção, são absorvidos pelos anúncios de instabilidade meteorológica no golfo do México e por um ataque a um oleoduto na Nigéria.

A Arábia Saudita já não tem capacidade de produção para controlar os preços do petróleo! Tinha-se atingido o máximo histórico. O preço máximo deflacionado ocorrido em 1980, havia sido ultrapassado!

Preços do Petóleo Importado nos EUA: Nominal e Real

0 20 40 60 80 100 120 140 Ja n -8 0 Ja n -8 2 Ja n -8 4 Ja n -8 6 Ja n -8 8 Ja n -9 0 Ja n -9 2 Ja n -9 4 Ja n -9 6 Ja n -9 8 Ja n -0 0 Ja n -0 2 Ja n -0 4 Ja n -0 6 Ja n -0 8 Ja n -1 0

Fonte eia : w w w .eia.doe.gov

Dólares por barril Preço Real Preço Nominal Projecções

Figura 5.1. Preço do petróleo real e nominal

Apesar da alta dos preços do petróleo, as economias ocidentais não entraram logo em recessão. Os analistas indicaram que estas economias estavam menos dependentes do

petróleo, que o mercado de trabalho estava agilizado e que os bancos centrais sabiam gerir melhor os fenómenos de inflação. Outros argumentavam que a crise tinha sido exportada para os países onde a produção industrial é maior, em especial os da Ásia, os quais estariam a absorver os sobrecustos do aumento do petróleo.

Mesmo assim, de Maio de 2007 a Maio de 2008, o índice de preços dos 30 países da OCDE subiu 3,9%, sendo de 14,6% na energia e de 6,1% na alimentação. O preço de outros produtos subiu também, nomeadamente o do cobre, do trigo, do café, do cacau e do algodão.

As reacções foram diversas neste cenário de crise. A China e a Índia subsidiaram os preços para evitar tensões sociais. A China lançou um programa importante de exploração de carvão; a exploração das areias betuminosas do Canadá iniciou-se quando o barril de petróleo atingiu os 40 USD; a exploração de carvão na Virgínia Ocidental potenciou o desenvolvimento da região; iniciou-se a exploração do último grande poço de petróleo do Mar do Norte, o poço de Buzzard.

A crise económica ocorrida em Setembro de 2008 aliviou a pressão sobre os preços, mas o problema da escassez de recursos energéticos obviamente permanece. Em Dezembro de 2008, o preço do petróleo retornava aos 47 USD. A Arábia Saudita, ciente do seu anterior papel de regulação dos preços, que talvez já não detenha, pretendeu reduzir a produção para apoiar a estabilidade de preços. Historicamente, nem sempre a redução da produção foi sinónimo de aumento dos preços. Em cenários de crise, a perspectiva de aumento do preço do petróleo tem tido, por vezes, o efeito de aprofundar a crise e reduzir o consumo.

Entretanto, o Iraque pretende readquirir o papel que tinha antes da guerra de 2003. A paz relativa que se sente na região desde 2008, permitiu-lhe lançar concursos internacionais de exploração. A exploração da jazida de Majnoon, uma das maiores de todo o mundo, foi adjudicada no final de 2009. O aumento da produção no Iraque deverá fazer reduzir os preços a curto prazo, ou forçar outros membros da OPEP a reduzir as suas produções.

Prevê-se que o consumo mundial de barris de petróleo aumente dos actuais 84,7 milhões por dia para 105 em 2030, caso os cenários de desenvolvimento se mantenham. Este aumento será provocado sobretudo pelo consumo dos países externos à OCDE. Associando-se este acréscimo, e necessitando o mercado de aumentar a produção em valores superior em quatro vezes a produção da Arábia Saudita, parece ser difícil encontrar novas reservas neste valor. Acresce que o aumento do consumo, consentâneo com a limitação de aumento da temperatura no planeta, é possível até aos 87 milhões de barris por, pelo que esta carência terá um efeito ecológico positivo.

Entretanto, atingiu-se em algumas jazidas o limiar de rentabilidade energética de exploração. Nos EUA, a relação entre a energia gasta na extracção e a energia contida nos

económico, há um limite energético para a extracção de petróleo.

A par do problema da falta de recursos de energia, existe um problema ambiental associado ao consumo de hidrocarbonetos: o aumento progressivo da concentração de CO2

na atmosfera; o aumento do nível médio do mar; o degelo de glaciares; o aumento da temperatura média do ar; o aumento do número de furacões e da sua intensidade… Todos estes efeitos ocorreram com mais intensidade nas últimas décadas, indiciando uma forte relação entre o consumo de combustíveis fósseis e as alterações climáticas. A Ciência, presa socialmente ao paradigma da prova, demorou mais de duas décadas a passar a mensagem da necessidade de actuação política.

O ponto alto desta controvérsia surge na conferência de Quioto (1997), em que um grande número de países, e a Europa na sua totalidade, assinaram a intenção de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa para os níveis de 1990. A globalidade dos países da UE-15 propuseram reduzir, até 2012, as suas emissões para valores inferiores em 8% aos registados em 1990. Neste quadro, Portugal poderia aumentar as suas emissões em 27%. A forte tendência de crescimento das emissões em Portugal foi tal que, em 2005, o nosso país já ultrapassava o limite indicado por Quioto, para 2012, em 12,3% [5.2]. A tendência geral dos EU-15 foi de decréscimo das emissões. Do outro lado do Atlântico, o Canadá ultrapassou em 30% os limites acordados para 2012.

A divergência em relação às metas traçadas implicará prejuízos económicos impostos pelo acordo.

Alguns economistas apoiam a ideia de criar uma taxa fixa sobre as emissões de CO2, ao

contrário das actuais licenças negociáveis para poluir3. Uma taxa impõe directamente um

custo, ou seja, quando uma tecnologia mais limpa é utilizada, ocorre directamente um ganho. Com o modelo vigente de quotas permitidas, sempre que surge uma tecnologia que permite baixar as emissões de CO2, a pressão na procura de permissões é reduzida e o seu

preço tende a baixar. Na realidade, após a quebra económica em Outubro de 2008, o preço das permissões reduziu-se de 30 para 20 €/ton CO2. A redução da actividade industrial na

UE que se cifrou em 13% em 2009, associada aos maus resultados da conferência de Copenhaga, realizada em Dezembro de 2009, fizeram reduzir, de novo, o preço da tonelada de carbono. No mercado Europeu (EU-ETS4) passou de 14,60 € antes da conferência para

apenas 12,70 € em Janeiro de 2010. Esta tendência desencoraja os investimentos em tecnologias limpas.

Nos EUA pretende aprovar-se uma taxa fixa sobre as emissões de CO2 de 12 USD/ton a

vigorar em 2012, valor que deverá subir para 20 USD/ton em 2020.

3 “Cap-and-trade”, na literatura anglo-saxónica.

No entanto, um valor próximo de 40 USD (cerca de 30 €) tem sido referido como o necessário para o desenvolvimento dessas tecnologias, pretendendo-se que seja provavelmente a melhor forma de reduzir as emissões de carbono.

Para além das medidas políticas com vista à redução do CO2 atmosférico, existem

diversas soluções tecnológicas a serem implementadas que poderão contribuir para esse fim. A utilização de computadores na gestão de frotas, na logística, nos edifícios, nos processos e nas videoconferências é bastante rentável em termos de emissões de carbono, numa relação de 1 para 5. As soluções de captura do CO2 em poços de petróleo já

explorados, no Dacota do Norte, na Noruega e na Nigéria, podem indiciar uma nova área de negócio, muito embora a sua capacidade de contenção seja mínima em comparação com as emissões mundiais. A Grã-Bretanha, face à depleção dos seus poços, está especialmente interessada neste negócio.

Existem soluções com algas que podem produzir cerca de 9.000 l de etanol por ano num hectare; o etanol produzido no Brasil, supostamente plantado apenas em antigas áreas de pastagens, é o mais ecológico, gerando 8,2 vezes mais energia do que aquela que é usada na sua produção; a mesma relação é de 1,5 para o etanol derivado do milho, produzido nos EUA; a produção massiva de painéis fotovoltaicos na China permitiu a redução do seu preço.

Por outro lado, a eficiência energética é assumida como uma medida de redução das emissões, mas por si só, como a seguir se verá, as poupanças resultantes desta eficiência têm mais um valor económico que ecológico. Na UE existe a intenção de aumentar de 2% para 20% a energia proveniente de fontes renováveis até 2020. Em Março de 2007, a UE aprovou o plano conhecido por “20-20-20”, que pretende, em 2020, obter conjuntamente emissões de gases de efeito de estufa inferiores em 20% aos níveis de 1990 e prover 20% das necessidades de energia através de fontes renováveis.

É, no entanto, necessário compreender que a grande maioria das novas tecnologias só são economicamente rentáveis se subsidiadas. A energia eólica instalada em terra será rentável se a taxa sobre as emissões de carbono alcançar os 28 €/ton; a da eólica marítima se atingir os 100 €/ton; e os painéis fotovoltaicos quando alcançar os 145 €/ton. Os potenciais investidores em centrais nucleares pretendem uma taxa de carbono de 50 €/ton.

Assim, o objectivo da UE de produzir 20% de energia primária por fontes renováveis é, por si só, um mau investimento. Este tipo de investimentos acaba por ter consequências económicas importantes: em Espanha, o kW·h eléctrico proveniente de fonte solar é comprado a 44 cêntimos, enquanto a produção por modo convencional custa apenas 4. Os subsídios da Espanha às energias renováveis criaram uma bolha de mercado, que, com a recente crise obrigou a eliminar 20.000 postos de trabalho na indústria associada à energia

têm uma diferença assinalável relativamente às anteriores explorações de petróleo: enquanto estas foram rentáveis, as renováveis dependem de em sistema de subsídios! As consequências irão surgir.

Neste ambiente de incerteza, pondera-se de novo a geração de electricidade utilizando centrais nucleares. O nuclear é livre de emissões de carbono e constitui uma alternativa controlada pelas sociedades ocidentais, em termos de Engenharia e de acesso aos recursos. O nuclear já gera 15% das necessidades mundiais de electricidade, com custos inferiores aos das centrais a carvão, se a estas lhes for aplicada a taxa sobre emissões de CO2. A Areva Francesa está a construir uma nova central nuclear, a única nova em vinte

anos; a Grã-Bretanha propõe-se construir uma nova central; a central da Ignalina, na Lituânia, acabou por ser reconvertida, após alguma controvérsia, e manter-se-á em funcionamento por mais dez anos. O paradigma relativamente ao nuclear mudou!

Ainda há poucos anos, a Bulgária, para aderir à EU, teve de dar como contrapartida o fecho de dois reactores em Kosloduy. Outro facto interessante é a instalação de quatro novos reactores nucleares nos Emirados Árabes, projecto ganho pela coreana KEPCO.

No ano passado, os países de todo o mundo reuniram-se sob a égide das Nações Unidades, numa nova conferência: a conferência de Copenhaga que decorreu de 6 a 18 de Dezembro de 2009. Pretendia criar-se novas metas até 2020 ou em alternativa até 2050, mas não resultou qualquer medida concreta. Em verdade, a partir de 2012 entrar-se-á num período sem orientações. As medidas relativas ao protocolo de Quioto, que vigoram desde 2005, têm objectivos definidos apenas para o período de 2008 a 2012.

Está em causa o aquecimento global do planeta, que se supõe possa subir sem consequências especialmente gravosas até 2 ºC acima das temperaturas registadas no período pré-industrial. Este valor não é consensual, já que os países formados por ilhas propuseram uma subida máxima de 1,5 ºC.

Se se mantiver o crescimento dos países menos desenvolvidos será necessário que os mais desenvolvidos reduzam as suas emissões em 80%, em 2050, relativamente aos níveis de 1990. Prevê-se, pelo menos, a necessidade de redução destas emissões em 25 a 40%. A UE propôs manter o objectivo para 2020 de reduzir as emissões de CO2 em 20%,

relativamente aos níveis de 1990; já os EUA são menos ambiciosos, propondo apenas 4%; a China pretende baixar a intensidade energética do seu PIB em 40 a 45%, já em 2020.

Os resultados desta conferência foram parcos de decisões. No entanto, tornou-se público que é possível alcançar as elevadas reduções nas emissões, com a consequência económica de um pequeno abrandamento do PIB mundial. Lord Stern estimou que será necessário reduzi-lo em apenas 1%. Este valor necessita, no entanto, de um plano

correctamente traçado e aplicado. Mesmo que venha a ter dificuldades técnicas de aplicação, esta proposta teve pelo menos o mérito de quantificar a redução do PIB. A aceitação política foi generalizada. Além disso, um inquérito mundial verificou que a maioria dos povos do mundo aceitaria reduzir o crescimento do PIB em 1%, se este esforço permitisse alcançar os objectivos propostos de redução das emissões.