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Capítulo

3.4 Produtividade, Conforto e QA

O conforto e a qualidade do ambiente presentes num espaço permitem melhorar o desempenho dos seus ocupantes. Em especial na última década, têm-se discutido quais os ganhos de um correcto ambiente interior ou, em alternativa, as perdas provocadas por um ambiente interior deficiente.

Com o aumento da remuneração do factor trabalho, diversas melhorias das condições de conforto e de QAI passaram a ter rentabilidade. Por exemplo, melhorias no desempenho dos ocupantes de um edifício em 3% são, anualmente, superiores ao investimento inicial em todo o sistema de ventilação do edifício. Esta realidade tem tido difícil aceitação nos investidores, quer pela dificuldade de comprovação das melhorias de desempenho, quer porque outras medidas de carácter psicológico ou sociológico têm maiores efeitos nesse desempenho.

Considerar-se-á de seguida as medidas relativas às condições de conforto ou à qualidade do ar que possam influenciar a produtividade. Note-se que as condições de conforto óptimo não têm necessariamente de coincidir com as do máximo de produtividade. Por outro lado, a melhoria da produtividade com os tipos de medidas referidas, depende do tipo de trabalho realizado. É comum separar o trabalho de escritório entre trabalho repetitivo de cópia ou em trabalho pensante. Kosonen (2204) obteve as seguintes expressões de perda de produtividade Y em função do índice VMP.

Para o trabalho pensante, obteve a seguinte expressão, válida para VMP no intervalo de -0,2 a 1,2: = ⋅ − ⋅ − ⋅ + ⋅ + ⋅ + 5 4 3 2 PdPt 1,5928 VMP 1,5526 VMP 10,401 VMP +19,226 VMP 13,389 VMP 1,8763 (3.32)

E para trabalho de cópia de textos:

= − ⋅ + ⋅ − ⋅ − − ⋅ + ⋅ + ⋅ + 6 5 4 3 2 PdPt 60,543 VMP 198,41 VMP 183,75 VMP 8,1178 VMP 50,24 VMP 32,123 VMP 4,8988 (3.33)

Figura 3.2. Variação da produtividade com VMP

Perda de Produtividade (PdPt) 0 5 10 15 20 25 30 35 40 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 VMP (% )

Estas expressões são representadas na Figura 3.2. Como se verifica, o índice VMP para o qual as perdas de produtividade são nulas, será próximo de -0,2. Este valor corresponde a cerca de 24 ºC, para um ocupante em trabalho sedentário, com roupa correspondente a um isolamento de 0,5 clo, num ambiente com velocidade residual de 0,1 m/s. Pela observação da mesma figura, verifica-se que a gama de grande conforto, com VMP entre -0,5 a +0,5, contém valores muito díspares de perdas de produtividade. Valores de VMP de +0,5 correspondem a perdas de produtividade, em trabalho de cópia, de 25%. Note-se ainda que as perdas de produtividade do trabalho repetitivo variam mais com o índice VMP do que as perdas de produtividade de trabalho pensante [3.56].

O correcto ambiente interior tem, portanto, uma elevada importância na produtividade dos seus ocupantes. Muitas pessoas afirmam que estariam dispostas a pagar19 quantias

superiores aos encargos médios que a empresa suporta com as doenças dos seus funcionários, para permanecer em ambientes mais saudáveis.

Diversos estudos têm relacionado as condições ambientes com a produtividade. Recentemente, estudos realizados em escolas constataram que os alunos apresentam maior velocidade de conclusão de tarefas quando permanecem em ambientes na gama de temperaturas entre os 20 ºC e os 23 ºC. De 20 ºC para 26 ºC, a velocidade de execução de tarefas numa sala de aula reduz-se em 10%. No entanto, não há correlação entre a temperatura do local e o número de erros cometidos em diversas provas, ou seja, o trabalho pensante não é afectado pela temperatura do ambiente.

Um outro estudo realizado em 24 escritórios determinou 21,8 ºC como sendo a temperatura ideal de trabalho [3.57].

Outro ainda propôs, após análise de vários estudos, que o máximo de produtividade estaria na gama de 21 ºC a 25 ºC. Acima dos 25 ºC prevê uma redução da produtividade de 2% por cada grau Celsius de aumento da temperatura [3.58].

Há ainda a considerar a actuação dos ocupantes do edifício sobre o sistema de climatização. Verificou-se, num estudo efectuado em 27 escritórios de 13 edifícios na Finlândia, que os termóstatos de controlo de temperatura raramente eram utilizados. Em situação de desconforto, as pessoas ajustavam a roupa, abriam janelas, portas, contactavam a manutenção do edifício, bebiam uma bebida quente, mas não ajustavam a posição do termóstato [3.59].

Outro aspecto a considerar na produtividade é o espaço ocupado por pessoa. O absentismo, definido como a percentagem de horas anuais de trabalho não efectuadas, é fortemente influenciado pelo espaço disponível para cada pessoa e pela taxa de ventilação.

ventilação em 10 l/(s·ps), o absentismo reduz-se de 2,5% para 2%. Por outro lado, fixando a área disponível em 10 m2/ps e duplicando o caudal de ventilação de 10 l/(s·ps) para 20

l/(s·ps), o absentismo baixa de 2,5% para 1,9% [3.58]. Para esta mesma variação do caudal de ventilação, o estudo referido em [3.57] indica um aumento de produtividade de 1,1%.

Outros estudos relacionam a produtividade com os índices de insatisfação com a qualidade do ar. Estima-se que um decréscimo de 10% no número de pessoas insatisfeitas, quando existe uma baixa qualidade do ar que origine 70% de pessoas insatisfeitas, corresponde a melhorar a produtividade em 1,4% se o trabalho for escrever à máquina, 1,1% em formulação de adições e de 2,3% em revisão de textos. Deve ainda realçar-se que aumentando-se a taxa de ventilação, os valores associados às melhorias de produtividade são 10 a 100 vezes superiores aos custos de operação e de manutenção, sem que os encargos subam substancialmente. Para um aumento da taxa de ventilação de 5 l/(s·ps) para 10 l/(s·ps) pode haver um acréscimo no consumo de energia de apenas 10% [3.60].

Um estudo equivalente foi publicado por Pawel Wargocki (2000), no qual se relacionavam as categorias dos edifícios e a percentagem de insatisfeitos associados às variações de produtividade. O Quadro 3.6 resume esses resultados:

Qualidade do ar

(CEN CR 1752) Percentagem relativamente à categoria C de melhoria Categoria PPI (%) Cópia de texto Adição Leitura

C 30 --- --- ---

B 20 0.4 1.1 2.3

A 15 2.1 1.6 3.4

Quadro 3.6. Melhoria da produtividade relativa à categoria C de edifícios segundo CR 1752

Num estudo recente do mesmo autor, mostrou-se que o aumento do caudal de ar e a redução da temperatura até valores próximos de 20 ºC melhoram a velocidade de realização de diversas operações. Com o aumento da taxa de ventilação de 4 l/(s·ps) para 10 l/(s·ps), esta velocidade aumenta em 10%, mas os erros cometidos aumentam cerca de 2%; um aumento no desempenho ligeiramente inferior ocorre quando a temperatura é reduzida de 24 ºC para 20 ºC, mas neste caso não há variação dos erros cometidos [3.61].

Ao invés, em escolas com deficientes condições de ventilação ocorrem maus resultados. É comum atingir-se concentrações de CO2 de 4.000 ppm, nos períodos de ocupação, que se

relacionam com os maus resultados referidos [3.62].

Todos estes estudos sobre produtividade são de grande importância, já que nas sociedades ocidentais o custo de mão-de-obra é, provavelmente, a parcela de maior custo nas empresas. Quando a variação de produtividade de 1%, que como visto anteriormente pode advir do aumento da taxa de ventilação ou das correctas condições térmicas,

corresponde a um ganho superior a todos os custos de exploração do sistema de ar condicionado, há que considerar qual o investimento adstrito a estes sistemas [3.60].

Uma situação similar ocorre em Portugal. O encargo médio de cerca de 30.000 pessoas, que trabalhavam na CGD, Galp energia e EDP-Distribuição, em 2001 e 2002, foi de 35.00020

€/(ano·ps). Este valor é a média de todos os encargos dos trabalhadores destas empresas, que se supõe serem uma imagem daquelas em que a generalidade dos funcionários trabalha em escritórios com ar condicionado e ventilação. Nestes espaços, o aumento do caudal de ar novo, na fase inicial do investimento, de 10 para 20 l/(s·ps) aponta para um aumento de cerca de 10% no investimento inicial da empreitada de ar condicionado e um

pay-back inferior a um ano, obtido dos aumentos de produtividade [3.63].

Para além do caudal de ar de ventilação, os poluentes interiores podem contribuir decididamente para a produtividade. Um elemento de poluição a considerar é o próprio sistema de filtração. As eventuais perdas de produtividade causadas por poluentes emitidos pelos filtros são substancialmente inferiores aos benefícios da filtração obtida. Wargocki (2004) verificou uma redução média de 10% nos tempos das chamadas dos operadores de um centro de atendimento, quando a substituição de filtros se realizava de 6 em 6 meses. Wyon (2000) afirmou que a substituição dos filtros das UTAs permitia uma melhoria da produtividade de 5,7%, com base na estimativa pessoal de cada ocupante de edifícios de escritórios.

A substituição dos filtros implica que sejam gastas horas de trabalho em manutenção, mas que permitem ganhos substanciais na redução do absentismo. Num edifício que utilizava uma UTAN com um caudal de ar novo de 10 m3/s, estimou-se serem necessários 2

a 6 dias·homem para trabalhos de substituição dos filtros, compensados no entanto com a redução de 3,6 a 86 dias·homem de trabalho de limpeza e 0 a 345 dias·homem de absentismo directo ao trabalho [3.64].

Face a todos os considerandos anteriores considerar-se-á, para efeitos das simulações a realizar neste trabalho, temperaturas de conforto no intervalo de 20 ºC a 24 ºC. Em termos de qualidade do ar opta-se por um caudal de referência de 10 l/(s·ps) afectado da eficácia de ventilação.

20 A média dos vencimentos anuais do trabalhador médio, homem, nos EUA em 2007 foi de 45.113 USD. Este valor foi ligeiramente inferior aos valores de 1997, actualizados a 2007 (US Census Bureau).

Finalmente, há ainda a considerar as condições interiores de iluminação e do ruído ambiente. As funções associadas ao seu controlo estão, no entanto, excluídas das considerações do presente trabalho.

São, no entanto, factores importantes. A produtividade auto-avaliada é maior quando a iluminação depende da luz do dia e quando há possibilidade de visão para o exterior. A utilização de controlo de iluminação é pois uma medida que favorece a redução da factura de energia, já que as pessoas tendem a controlar a iluminação de modo a terem um nível de iluminância nas suas secretárias de cerca de 550 lux. A norma EN 15251 prevê uma iluminância em escritórios de 500 lux. Portugal possui uma possibilidade interessante de aproveitamento da luz do dia, já que tem cerca de 62% do tempo um céu limpo. A França, Suécia e Reino Unido têm valores de céu limpo de cerca de 30% [3.65].

O outro factor a considerar é o ruído, ou melhor a pressão sonora sentida por um indivíduo. Dentro de uma sala, a pressão sonora depende da potência da fonte de emissão, normalmente expressa em dB ou em W. A pressão depende ainda de atenuações da energia do ruído até à entrada da sala e da atenuação da sala e do seu mobiliário. Esta pressão varia com o inverso do quadrado da distância entre a localização da pessoa e o ponto de emissão localizado na sala.

A norma EN 15251 considera 35 dB(A) como valor típico de pressão sonora para pequenos escritórios ou salas de conferência e 40 dB(A) para escritórios individuais ou amplos. A ponderação (A) no espectro de frequências pretende associar a escala obtida com a resposta do ouvido humano, que é menos sensível às baixas frequências.

Existem outros métodos de associação do espectro real às reacções humanas, nomeadamente as escalas NC e NR.