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Parte II – Enquadramento metodológico

2. Objeto de estudo e questões de investigação

2.1. A Escola contexto

Faremos seguidamente uma breve caracterização do contexto onde o estudo decorreu e dos sujeitos que o integraram. Contudo, dada a negociação efetuada para obter as respetivas autorizações para efetuar o estudo, é nossa opção preservar o anonimato da escola e dos sujeitos que participaram na investigação, suprimindo todas as informações que pudessem “causar-lhes qualquer tipo de transtorno ou prejuízo” (Bogdan & Binkle, 1994, p. 77).

Na esteira de Bogdan e Binkle (1994), dada a complexidade do estudo e o tempo disponível, procuramos ter espírito prático e apoiando-nos nos critérios de seleção de casos propostos por Stake (2007) para os estudos de caso de tipo instrumental, decidimos escolher casos que nos permitissem rentabilizar o que

com eles vamos aprender, mas também um contexto que acolhesse o nosso estudo e ao qual tivéssemos facilidade de acesso.

Em Portugal, após uma primeira experiência iniciada em 1996 com o Despacho 147-B/ME/96, o Programa “Territórios Educativos de Intervenção Prioritária” (TEIP) assume-se, desde 2006, como medida de política educativa que tem por objetivos promover o sucesso educativo e prevenir e reduzir o APEF, o absentismo e a indisciplina em contextos “marcados pela pobreza e exclusão social, onde a violência, a indisciplina, o abandono e o insucesso escolar mais se manifestam” (Direção-Geral da Educação)7.

Por conseguinte, em nosso entender, fazia sentido que o nosso estudo se desenvolvesse num contexto em que estes traços de exclusão fossem evidentes. Elegemos, então, um agrupamento de escolas da área metropolitana do Porto, que está integrado numa zona suburbana e que se caracteriza por uma incidência significativa de famílias expostas a problemas sociais como o desemprego, o trabalho precário, a pobreza estrutural, mas também a toxicodependência, o alcoolismo, a violência doméstica, etc. problemas estes geradores e consequência de modelos parentais disfuncionais na relação com os filhos/educandos.

Este contexto desfavorável justificou a integração deste Agrupamento de Escolas (adiante designado como agrupamento-contexto) no Programa TEIP, visando a criação de condições para que se encontrassem respostas educativas que fizessem frente às variáveis de contexto bem como aos problemas do insucesso, indisciplina, absentismo e abandono escolar.

Atualmente o agrupamento-contexto é constituído por onze estabelecimentos de educação e ensino e tem uma oferta educativa variada: Cursos de Educação- Formação, Percursos Curriculares Alternativos, Cursos Profissionais de Ensino Secundário.

No que respeita à população discente, o agrupamento-contexto acolheu no último ano letivo cerca de 1800 alunos dos quais 4% têm nacionalidade estrangeira. Há cerca de 45% de alunos subsidiados pela Ação Social Escolar (ASE), sendo 30% do total de alunos do agrupamento-contexto do escalão A e 17% do escalão B. Acresce que cerca de 7% dos alunos estão referenciados como tendo Medidas Adicionais de Suporte à Aprendizagem e Inclusão, de acordo com o Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho (republicado na primeira alteração, por apreciação parlamentar, na Lei n.º 116/2019, de 13 de setembro), realidade esta que evidencia dificuldades socioeconómicas que a escola tem de considerar e que reclamam medidas de apoio eficazes.

Os resultados apresentados no relatório final TEIP de 2017/188, bem como os dados consultados na plataforma MISI9 do Ministério da Educação, revelam-nos que, apesar da melhoria gradual ao longo desta última década – redução do abandono escolar e da indisciplina, melhorias ao nível do insucesso escolar e do absentismo –, persistem algumas dificuldades em contrariar problemas que em muito ultrapassam a esfera escolar.

Reportando-nos ao 2.º e 3.º ciclos, neste agrupamento de escolas, constata-se que a taxa de insucesso escolar (13,5% no 2.º ciclo e 14,5% no 3.º) se deve não apenas ao baixo desempenho escolar dos alunos, mas também ao elevado absentismo (número de alunos retidos por excesso de faltas) e ao abandono escolar (nomeadamente de alunos de etnia cigana). Sem estas duas últimas variáveis a taxa de insucesso seria significativamente mais baixa: cerca de 5% no 2.º ciclo e de 8% no 3.º ciclo, aproximando-se dos valores da média nacional 5,8% e 8,6% respetivamente no 2.º e 3.º ciclos. Por outro lado, o relatório final TEIP de 2017/18 aponta uma taxa de interrupção precoce do percurso escolar (TIPPE) de 7,30% no 2.º ciclo e de 5,82% no 3.º ciclo.

8 As escolas integradas no Programa TEIP, de acordo com a legislação em vigor, carecem da

elaboração de relatórios semestrais e anuais.

Deste modo, como denota o relatório final TEIP 2017-18, o absentismo parece ser a “antecâmara do insucesso e do abandono escolar” (Relatório Final TEIP do agrupamento-contexto, 2018, Q.2) pois, para além dos alunos legalmente retidos por este motivo, é ainda excessivo o número de alunos que ultrapassaram o limite legal de faltas injustificadas, independentemente da situação final (retenção ou transição).

Por outro lado, o agrupamento-contexto dispõe de um conjunto de projetos e planos de ação delineados no âmbito do Programa TEIP que pretendem responder aos problemas enunciados e que correspondem às medidas de tipo A, B, C e D enunciadas no Perfil de Aluno em Abandono Oculto. Em nosso entender, tal permitir-nos-ia complementar a informação recolhida sobre os sujeitos e procurar compreender o que a escola faz com os alunos objeto de estudo, isto é, que medidas são adotadas e que resultados são obtidos.

Assim, consideramos com potencial para identificarmos os alunos com características individuais de desengajamento escolar três planos de ação, que designámos de ALFA, BETA e GAMA:

─ o plano de ação ALFA tem como objetivo apoiar “alunos com fraco aproveitamento escolar, em risco de absentismo/ abandono escolar e/ou com problemáticas sociofamiliares” através da atribuição de tutores (medida do tipo A e D, pp. 54-55);

─ o plano de ação BETA tem como objetivos específicos contribuir para a diminuição do absentismo escolar e do abandono escolar precoce. Faz a articulação com os Diretores de Turma, monitorizando os alunos com excesso de faltas de assiduidade e estabelecendo a conexão com a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em risco (CPCJ) (medida do tipo C, p. 55);

─ por sua vez, o plano de ação GAMA visa melhorar os resultados dos alunos com baixo desempenho escolar e intervir nos processos de aprendizagem dos alunos diagnosticados com dificuldades de aprendizagem, nomeadamente através de intervenção psicopedagógica

Assim, tendo em conta o nosso objeto de estudo, pareceu-nos ser este um contexto “favorável” ao estudo que pretendíamos encetar pois a observação da realidade sugeriu-nos um conjunto de questões que se colocam, nomeadamente, sobre o que acontece com estes alunos que se vão alheando do seu percurso educativo.