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A escolha da Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado

Durante algum tempo a Enfermagem vem se consolidando como ciência através de teorias que fundamentam o exercício profissional e a prática científica, comprometendo-se cada vez mais com o cuidado humano. Todo o processo não exclui o indivíduo como sujeito partícipe do estudo, pelo contrário, é a todo o momento solicitado que participe.

De acordo com Boehs (2002), nas últimas décadas os autores da Enfermagem vêm demonstrando interesse e preocupação em relação ao cuidado e aos fatores culturais. Assim, Madeleine Leininger, na década de 50, desenvolveu a teoria do cuidado cultural, em que considera indispensável o cuidado ao ser humano, isto é, o ser humano para nascer, crescer, manter sua vida e morrer necessita de cuidado. Entretanto, cada cultura possui uma visão de saúde, doença e cuidado correspondente às experiências vivenciadas por cada sociedade.

A Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural (TDUCC) tem o propósito de possibilitar à enfermeira-pesquisadora um amplo esquema sobre o cuidar e a diversidade cultural, favorecendo uma reflexão acerca dos pressupostos teóricos contidos na teoria, como visão geral, estrutura social, valores e convicções do cuidar cultural, meio ambiente e outras dimensões que influenciam o cuidado

humano. A teoria permite que a pesquisadora-enfermeira investigue nas diferentes culturas e subculturas, criando condições para realizar um cuidado que seja satisfatório e equivalente às crenças, valores e percepções dos indivíduos (XIMENES, 2001; VIEIRA, 2001).

Esta teoria é classificada como interacionista por se focalizar no cuidado humano envolvendo um processo interativo entre a enfermeira e o indivíduo, além de ter possibilitado o surgimento de uma nova área ou abordagem na Enfermagem, denominada como Enfermagem Transcultural, que se caracteriza como uma área formal de estudo, pesquisa e prática centrada no cuidado culturalmente fundamentado nos valores, crenças e práticas, cujo objetivo é manter ou recuperar a saúde das pessoas a partir da condição de valorizar as culturas e as subculturas existentes (ORIÁ; XIMENES; PAGLIUCA, 2007).

Acrescendo a tudo isso, Leininger refere que, através de sua teoria é possível interpretar o fenômeno da Enfermagem Transcultural, a partir da concepção de que o cuidado poderá ser promovido às diversas culturas existentes, permitindo que a Enfermagem se firme cada vez mais como ciência e profissão (LEININGER, 1991).

Portanto, a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural, antes denominada Teoria do Cuidado Cultural, tem a finalidade de descrever, documentar e interpretar as diversidades e universalidades do cuidado humano quanto à visão do mundo sob uma estrutura social, buscando oferecer um cuidado cultural congruente e satisfatório para os indivíduos de culturas variadas e semelhantes, contribuindo para o resgate ou manutenção do bom estado de saúde ou para o enfrentamento de situações complexas, como a morte, por exemplo (LEININGER, 1991, 2002).

Segundo Oriá, Ximenes e Alves (2006), as pesquisas utilizando o constructo cuidado cultural têm-se realizado nas universidades brasileiras baseando- se na TDUCC, mormente, para compreender, descrever e explicar as vivências culturais dos sujeitos. Porém, outras propõem modelos assistenciais ou marcos teóricos para implantação e/ou validação de um cuidado culturalmente competente.

A teoria vem sendo utilizada em diferentes objetos de estudo centrado na família, na mulher e na criança, oferecendo resultados e reflexões de como a

Enfermagem pode contribuir na manutenção e recuperação da saúde dos indivíduos (ORIÁ; XIMENES; ALVES, op. cit). Nessa perspectiva, novos trabalhos vão sendo construídos e incentivados, a fim de ampliar ainda mais a dimensão do cuidado culturalmente congruente com a realidade.

Leininger (1991), a partir da Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural, elaborou alguns conceitos que orientassem a pesquisadora- enfermeira no desvelo do fenômeno estudado, ou seja, do cuidado cultural, mas que não eram estáticos, pelo contrário, poderiam ser modificados conforme a cultura estudada.

Com base na teoria de Leininger, apresento alguns desses conceitos direcionados ao objeto de estudo da pesquisa em questão:

¾ Cuidado identificado como o fenômeno proporcionado pela família que dá assistência e apoio à criança pré-escolar com risco para obesidade;

¾ Cultura como um conjunto de valores, crenças e modos de vida aprendidos, compartilhados e transmitidos ao longo das gerações, voltados às decisões e ações para cuidar da criança pré-escolar com risco para obesidade, membro ativo da família;

¾ Cuidado Cultural corresponde ao somatório de valores, crenças e modos de vida padronizados, aprendidos de forma subjetiva e objetiva, compartilhados ou transmitidos e que facilitam a promoção do bem-estar da criança pré-escolar com risco para obesidade e de sua família;

¾ Diversidade do Cuidado Cultural relacionada à multiplicidade de significados, modos de vida, valores, padrões ou símbolos inseridos na forma como as famílias cuidam da criança pré-escolar com risco para obesidade;

¾ Universalidade do Cuidado Cultural refere-se à unificação de significados, valores, padrões, modos de vida ou símbolos refletidos no cuidado da família à criança pré-escolar com risco para obesidade, para que se desenvolvam satisfatoriamente durante seu processo vital;

¾ Visão do Mundo é a maneira pela qual a família se percebe no mundo e nele busca meios para se adequar às transformações que se sucedem com a criança pré-escolar com risco para obesidade;

¾ Dimensões da Estrutura Cultural e Social correspondem aos fatores estruturais e organizacionais inter-relacionados e influenciadores do modo como a família se comporta diante da criança pré-escolar com risco para obesidade, que vão desde os valores religiosos, de parentesco (sociais), políticos, econômicos, educacionais até os tecnológicos e os culturais;

¾ Contexto ambiental referente aos diversos eventos, situações ou experiências vivenciadas pela família da criança pré-escolar com risco para obesidade, que dão significado às suas expressões, interpretações e interações com outras famílias e pessoas, em seus ambientes físico, ecológico, sociocultural e político.

Leininger (1991) também criou um mapa cognitivo – Sunrise Model – que serve para compreender a teoria de uma forma mais integrada, visualizando os vários componentes da estrutura social e cultural (fatores tecnológicos, religiosos e filosóficos, sociais e de parentesco, legais e políticos, econômicos, educacionais, valores culturais e modos de vida) que influenciam a prática de cuidado nas sociedades humanas.

Através da visualização do Modelo Sunrise é possível estar atento aos fatores interdependentes, presentes nas dimensões da estrutura social e cultural e visão de mundo que fazem parte e influenciam a prática de cuidado à saúde do indivíduo, da família, dos grupos e das instituições. (ANEXO A)

Ressaltando que a finalidade deste estudo foi de conhecer o cuidado das famílias a partir da descoberta dos fatores culturais que possam influenciar para o desenvolvimento da obesidade infantil, por conseguinte, utilizei a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural para compreender essas famílias, por meio da observação e da percepção da dinâmica familiar em seu próprio contexto, com os fatores inerentes e influenciadores do seu modo de cuidar da criança.

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