• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I: UM OLHAR PARA A ESCRAVIDÃO

1.3 A escravidão em Minas Gerais

Em um país tão amplo como o Brasil, com tantas diferenças regionais, não se pode falar de um padrão único para a instituição da escravidão. As características da escravidão foram diversas nas diferentes regiões do país. Nesse contexto, Minas Gerais teve um sistema escravista complexo que, até tempos atrás, era pouco reconhecido por muitos pesquisadores (PAIVA, 2000).

Para Carvalho (1956), o “agregado social” formado em Minas Gerais tem uma fisionomia própria e é o resultado da imigração, isto é, de impulsos vindos de fora. Minas nunca pertenceu a nenhum donatário, não entrou na partilha do Brasil em capitanias hereditárias. O seu povoamento é o resultado

da penetração dos bandeirantes paulistas para o interior do País, na caça ao índio, ao ouro e às esmeraldas. E também dos baianos e pernambucanos que conquistaram o território pelo norte, com a fundação de fazendas de gado.

Para se compreender a escravidão em Minas Gerais, faz-se necessário entender como se deu a descoberta do ouro na região. Na verdade, até hoje não se sabe a quem atribuir o descobrimento das minas auríferas nas Minas Gerais. Sabe-se que foi na última década do século XVII, por pessoas de São Paulo. Com a divulgação da notícia da descoberta de ouro, iniciou-se uma verdadeira corrida em direção às Minas Gerais, de todas as partes do Brasil habitado na época. De Portugal e de outros países da Europa chegavam pessoas em busca de riqueza. Uma verdadeira multidão de brancos, negros e pardos se acumulou nas Gerais. (LUNA, 1987).

Um historiador mineiro, Góis (1947), apresenta datas mais precisas e o descobridor do ouro em Minas Gerais. Para esse autor, o ouro em Minas Gerais foi descoberto nos fins do século XVII, quase duzentos anos depois da descoberta do Brasil, e foi encontrado por acaso. O mineral foi achado por um mulato, cujo nome não é mencionado, vindo de Taubaté, encontrando o ouro no Córrego Tripuí, hoje Ouro Preto. Esse mulato percorria o sertão à procura de índios para aprisionar e depois vender como escravos. Ele já havia passado nas minas de Paranaguá e Curitiba, onde é hoje o Estado do Paraná. Estando arranchado perto de um sítio, onde depois foi edificada a Vila Rica, sentiu sede e desceu à procura de água. Encontrando o córrego, notou que a água era

turva e escura. Percebeu também que no fundo da gamela encontravam-se depositados alguns granitos cor de aço. O mulato pensou que tais granitos fossem minério de ferro e que não valiam nada. Por precaução, os guardou e os levou com ele para Taubaté. Vendeu os granitos por ‘meia pacata a oitava” para um bandeirante chamado Miguel de Souza, pois nem um nem outro sabiam que tipo de minério era aquele. Este enviou tais granitos para o governador do Rio de Janeiro que, naquela época, era Artur de Sá, para que este mandasse os granitos serem examinados por um especialista. Os peritos descobriram que os granitos eram ouro finíssimo, gemado de 23 quilates.

Miguel de Souza, ao saber dos resultados dos exames dos granitos, resolveu empreender uma viagem até o sertão para ver se descobria o caminho do Tripuí. Depois de uma dura caminhada, conseguiu alcançar o Tripuí (rio de água turva) e ali recolheu muitos granitos de ouro que tinham por fora uma cor escura. Daí é que vem o nome da cidade de Ouro Preto. Depois de recolher o ouro, Miguel de Souza voltou para Taubaté. Desejava organizar uma expedição para explorar o ouro do Tripuí. Meses mais tarde, em 1691, partiu escondido com alguns membros de sua família, gente de toda confiança, disfarçados em traficantes de índios. Assim ele poderia minerar tranqüilamente sem dar satisfação ao rei. Mas aconteceu que Miguel de Souza e seus companheiros não conseguiram acertar o caminho para o Itacolomi, onde ficava o Tripuí. O mesmo aconteceu com outras expedições que vieram depois. Só quase dez anos mais tarde, em 1698, o bandeirante Antonio Dias conseguiu

acertar o caminho para o Tripuí. Ele ficou sendo considerado o fundador de Ouro Preto (Góis, 1947).

Antes da descoberta do ouro, a atual região era chamada de Cataguás, só depois que passou a se chamar Minas Gerais. A descoberta do ouro provocou uma nova era de riqueza na Província, mas, por outro lado, vai aumentar progressivamente a pobreza na região. Muitas famílias que até então viviam do cultivo da terra passam a trabalhar na cata do ouro. A metrópole começa a exercer maior controle e, devido ao grande contingente populacional, há o aumento de crimes de toda sorte entre os mineradores (GÓIS, 1947, p.37).

O ouro explorado no Brasil encontrava-se na forma aluvial, ouro em pó que se achava depositado nos fundos dos rios e córregos. Era fácil de ser extraído. Mesmo um forasteiro sem escravo poderia ficar rico bateando ouro ele mesmo. Luna e Costa (1982, p.14-15) assim descrevem esses depósitos:

Os depósitos de aluvião – produto da atividade milenar das águas, a desagregar e a remover as partes leves das rochas decompostas – impelem o ouro, mais denso, a acumular-se no fundo dos vales, no leito dos rios e na meia encosta dos morros a par de se esgotarem com rapidez tão facilmente exploráveis; este fenômeno levou as primeiras atividades extrativas a se localizarem nos rios, com o mínimo de aparelhagem, dependendo o produto do trabalho maior ou menor número de escravos.

A corrida em busca do ouro se justificava pela facilidade em se

conseguir explorar o precioso metal na sua primeira fase de extração. Mesmo os mais simples podiam trabalhar sozinhos ou com um único escravo e, em pouco tempo, acumular fortuna. Foi essa facilidade de se explorar o ouro nas

faiscadeiras que provocou uma imigração descontrolada às Minas Gerais. Além do elemento livre, foi enviado para os locais de exploração um grande contingente de escravos. Muitos lavradores da região açucareira deslocaram- se para as Minas com seus escravos. Por outro lado, com o aumento da procura do escravo na área de mineração, o seu preço alcançou índice altíssimo (LUNA, 1981).

Organizou-se uma atividade em que se empregava com grande lucro negros feitorizados. A abundância do metal, que exigia o emprego de um grande número de escravos, permitiu que a mineração assumisse o primeiro lugar em atividades produtivas da Colônia. A descoberta do metal provocou a imigração de uma grande quantidade de lusitanos para a colônia e a aceleração da importação de muitos escravos (MAESTRI, 1988).

Já no início da exploração do ouro, era grande o número dos escravos nas lavras. Nos seus escritos, Antonil faz referência de como o escravo se valorizara. Por um negro ladino bem feito, pagavam-se 300 oitavas de ouro; por um jovem adolescente, 250; por um garoto, 120; por um crioulo “bom oficial”, 500; por um mulato “bom oficial”, 500; por uma mulata “de partes”, 600 ou mais; por uma negra ladina cozinheira, 350. Com a queda do preço do açúcar no mercado internacional, sobravam trabalhadores capacitados que foram vendidos por um bom preço para suprir a mão-de-obra nas minas. Nessa época, a Fazenda Real começa a cobrar um imposto sobre os negros retirados dos engenhos e despachados para as Minas. Estes pagavam um imposto de

4$500. Aqueles escravos que vinham da Bahia e seguiam para Minas, por terra, pagavam um imposto de 9$. Quando a viagem era feita por mar, via Rio de Janeiro, o imposto era de 4$500 (CARNEIRO, 1964, p. 16-17).22

Em um seminário de Estudos Mineiros23, foram apresentados alguns dados sobre a presença do negro nessa região no século XVIII, verificou-se que houve em um período não muito longo, o maior contingente de escravos constatado em todo o País. Nos setenta anos em que a operação foi considerada economicamente rendosa, foram empregados nas minas cerca de meio milhão de negros. Nesse contexto, a procura de braços, as dificuldades encontradas com o tráfico e o encaminhamento da mão-de-obra ajudaram a valorizar o preço do escravo.

Segundo Carvalho (1956),24 no começo da exploração das Gerais pelos bandeirantes, não havia a presença do negro, somente de índios. Posteriormente é que começa a aparecer um e outro negro como carregadores. Para esse trabalho eram utilizados os negros da Guiné. O aumento da presença do negro começa com a descoberta e a exploração do ouro e a corrida desenfreada para a exploração do metal.

22 “Ao mesmo tempo em que os paulistas, a Fazenda Real trabalhava pela valorização do

escravo. Em 1697, o negro era vendido pela Fazenda Real a 160$; em 1718, em pleno esplendor da mineração, já o preço do escravo subira para 300$, embora o seu custo fosse reconhecidamente de 94$.”(VV.AA. 1956, p.12).

23 - Esse seminário foi realizado na cidade de Belo Horizonte no ano de 1956.

24 O autor, baseando-se nas observações de Taunay, diz que “negro nos primeiros séculos

podia significar indígena da América como da África e, para diferenciar o preto, acrescentava- se a negro o qualificativo de africano ou tapanhuno”.

Reis (1999, p.70), falando dos povos marginalizados nesse período da história, afirma que o conceito de índio e africano é invenção do europeu, no período das grandes navegações. Esses conceitos objetivavam

[...] construir estratégias de dominação e um processo que levasse à aculturação dos indivíduos conquistados e escravizados, os europeus passaram a identificar estes povos daqui e acolá, como índios e africanos, geralmente sem preocupação em evidenciar as diferenças étnico-culturais entre os grupos que os compunham.

Os africanos que vinham para cá eram denominados escravos da Guiné, ou negros da Guiné para diferenciá-los dos índios, que eram chamados de “negros da terra”. Para Reis (1999, p.71), o conceito negro, nesse contexto, não se relaciona com a cor da pele e sim com a questão de inferioridade imposta aos povos africanos e indígenas. A expressão “negros da Guiné” está relacionada ao tráfico de negros da região situada entre o Senegal e Orange, sem nenhuma referência à questão da raça.

A ocupação da atual região das Minas Gerais, no século XVII, proporcionou um rápido crescimento geográfico e uma grande demanda de mão-de-obra escrava, que causava desequilíbrio de mão-de-obra para outras regiões. A febre do ouro tornou-se uma realidade. O lucro conseguido com esse comércio era enorme. Não somente os traficantes, mas também os proprietários de escravos de São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco eram estimulados por esse negócio. O preço do negro era muito mais alto nas Gerais (REIS, 1999, p.75).

Logo depois da descoberta de ouro em Minas Gerais, os bandeirantes imediatamente começaram a utilizar o escravo na exploração das catas. Eles buscavam os negros no Rio de Janeiro, onde os compravam por um bom preço. Essa situação provocava uma desorganização nas lavouras. Para sanar o problema, os paulistas se propuseram a mandar um navio duas vezes por ano a Angola para trazer escravos, proposta que não foi aceita pelas autoridades da época.

A febre do ouro em Minas, que levou ao ajuntamento de pessoas de diferentes procedências e ao povoamento rápido de alguns setores de exploração do ouro, causou muitos conflitos na zona de mineração. Alguns camaradas matavam uns aos outros pela ambição de roubar o ouro do outro. Outro conflito mais amplo foi a Guerra dos Emboabas, que ocorreu entre 1707 e 1710, e que, na realidade, foi um choque entre os bandeirantes, os primeiros a explorar o ouro em Minas Gerais, e os forasteiros baianos, pernambucanos e pessoas vindas do Reino e de outras partes da Europa, que eram chamados de emboabas. Esse conceito os diferenciava dos paulistas. O conflito explode porque os paulistas se consideravam com o direito exclusivo de explorar o ouro nas Gerais. Posição que os emboabas não aceitavam (LUNA, 1981).

Para Luna (1981, p.14), com o episódio da Guerra dos Emboabas, os paulistas foram temporariamente expulsos das Gerais e a Coroa conseguiu fazer-se senhora das Minas. Coisa que até então não tinha conseguido, devido à oposição dos paulistas.

A metrópole, conhecida a potencialidade da área aurífera, tratou de impor seu domínio sobre a atividade mineira. De imediato procurou exercer restrições ao afluxo populacional às minas. A imigração descontrolada e o envio maciço de escravos às Gerais, além do eventual enfraquecimento econômico e militar de outras regiões, poderiam constituir sério obstáculo ao controle régio sobre a riqueza que se materializava após séculos de espera. Impunha-se amortecer a corrida às minas, enquanto se estabelecia uma nova estrutura administrativa na Colônia, mais impositiva e capaz de executar com eficácia seu principal papel, ou seja, arrecadar os tributos devidos à coroa [...]

Apossando-se das Gerais, a Coroa toma algumas medidas (Luna,

1981) para o controle do ouro.

Em 1695, foi criada em Taubaté uma casa para a fundição do ouro. Oito anos mais tarde, isto é, em 1703, fundou-se uma outra casa para fundição no Rio de Janeiro. Em 1709, foi criada a Capitania de São Paulo e Minas Gerais, separada do Rio de Janeiro. Em 1720, ouve o desmembramento das Minas Gerais de São Paulo. Nesse mesmo ano, a Coroa toma a posse definitiva das Minas Gerais. A partir daí, cai sobre a Colônia todo o controle da Coroa. O governador torna-se poderoso e impõem o seu domínio sobre a população, que é obrigada a obedecer passiva e silenciosamente. Essa estrutura administrativa que estava simplesmente voltada para a exploração do ouro vai influenciar na atividade produtiva e na sociedade mineira formada ao longo do século XVIII.

Com o desenvolvimento da produção do mineral e com o alto lucro que isso gerava, a coroa procurava desestimular outras atividades que desviassem braços da principal produção, que gerava alta renda para a Fazenda. Desestimulou o cultivo da cana, a fabricação da aguardente, a indústria de

tabaco e a criação de animais nas Gerais. Segundo Luna e Costa (1982), em 1718, o Conde de Assumar, governador de São Paulo e Minas Gerais, chegou mesmo a proibir o plantio da cana-de-açúcar. Essas restrições tinham por objetivo, além de evitar a fuga de braços úteis para as minas, proteger o monopólio da aguardente fabricada em Portugal. A mesma proibição se estendia para a indústria de tabaco, que se podia fabricar nas capitanias do Rio e São Paulo, mas não em Minas Gerais. É que o grande número de escravos que se empregava no cultivo e na fabricação do fumo podia ser utilizado na extração do ouro.

Segundo Reis (1999), entre 1700 e 1850, época do apogeu, vieram para Minas Gerais cento e sessenta grupos de negros africanos de três regiões específicas daquele continente: os sudaneses, especialmente do Golfo da Guiné (Haússas, minas, Iorubas, malês e outros), os bantus, que incluem aí os angolas, congos, benguelas, e moçambiques que vão exercer uma grande influência na formação sociocultural da Bahia, no século XVII, e em Minas Gerais, no século XVIII.

A procura da mão-de-obra escrava para as minas aumentava em uma proporção gigantesca. Em janeiro de 1701, a cota de escravos da África Ocidental, importada por ano para as Minas, via Rio de Janeiro, era de duzentos negros. Um decreto de março de 1709 proibia que os negros que trabalhassem em plantações fossem vendidos aos mineiros, salvos aqueles que “pela perversidade de seus naturaes não sejam convenientes para o trato

dos engenhos”. Dois anos depois, a Coroa permitia a importação de 1200

escravos para o Rio de Janeiro, 1300 para Pernambuco e outros para a Bahia, mas, para Minas Gerais, mantinha-se a cota de 200 por ano. O sistema de cotas foi abolido em 1715.

Essa estrutura da dominação colonial imposta sobre Minas Gerais, dura dois séculos, tira toda e qualquer possibilidade de a colônia tomar qualquer decisão por si mesma. (LUNA, 1981, p.15)

[...] o Estado sobrepõe-se, estranho, alheio, distante à sociedade, amputando todos os membros que resistissem ao domínio (...). Nenhum contato, nenhuma onda vitalizadora flui entre o governador e as populações: a ordem se traduz na obediência passiva ou no silêncio. (FAORO apud LUNA, 1981, p.15)

Com a concretização do poder da Coroa, Minas Gerais, em pouco tempo, torna-se o centro do poder econômico do Brasil no século XVIII. Nos vales ou nas encostas das montanhas, onde se explorava o ouro, surgiam os arraiais. Uns, escalonados nas margens do caminho velho que ligava São Paulo às Minas; outros lugarejos localizavam-se no caminho novo que ligava Minas ao Rio de Janeiro e também no caminho dos currais, lugares de pouso dos viajantes, que ligava o Sudeste à Bahia. Apareceram arraiais nos locais de acampamentos provisórios dos bandeirantes. Esses sítios mais tarde se transformaram em povoados, onde se erigiram o cruzeiro, a capela e, depois, a grande Igreja para as missas, rezas, casamentos, batizados e encomendação dos mortos. Nos centros desses povoados, foram instalados os pelourinhos, local de punição pública dos negros julgados culpados. Esses núcleos estavam sempre nos arredores das minas prósperas. Aí se estabeleciam armazéns de

secos e molhados, oficinas dos ferreiros, carpinteiros e outros especialistas indispensáveis para o manejo das minas e das construções urbanas (Carvalho, 1956).

Antes da formação dos povoados, os mineradores não tinham lugares fixos, viviam como nômades, e a população se encontrava diluída. A exploração do ouro dependia das estações. Quando chovia muito, o trabalho de exploração do ouro nos córregos ou nos leitos dos rios era paralisado. Com a descontinuidade do trabalho, os mineiros deixavam uma exploração de menor ganho por outra que lhes propiciasse maiores lucros. O trabalho dos garimpos tende a se estabilizar quando os garimpeiros começam a explorar o ouro em meio às encostas chamada “gupiaras” (LUNA e COSTA, 1982)25.

Minas Gerais é também a terra dos diamantes. Esse mineral foi descoberto em 1729, no Tijuco. Antes da descoberta, a escravidão aí se processava apenas nas lavouras de subsistências e em um pequeno número de fazendas de criação de gado. Com a descoberta do diamante, a escravidão ali tomou um novo impulso. O tráfico clandestino, tanto para as minas de ouro como para a exploração dos diamantes, atingiu cifras nunca antes vistas. Os negócios eram feitos com negros vindos diretamente da África e também com aqueles que já aqui estavam. As regiões onde se cultivava a cana, como Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, foram desfalcadas do branco e do

25 Para Ferreira (1975, p.714), Gupiara pode ser “cascalho ralo que tem pouca terra a cobri-lo”

escravo. A presença da população negra nas Gerais aumenta rapidamente, apesar das medidas tomadas pela Coroa coibindo a entrada de negros nessa Província. Essas medidas foram sempre desobedecidas. Na estatística apresentada por Luna (1976, p.143), é possível ter uma idéia da forte presença negra em Minas Gerais: “Em 1776, numa população de 70.664 brancos e

82.110 pardos, havia uma maioria de 166.995 negros, sendo 117.171 homens e 49.824 mulheres”. Nota-se que a população feminina é bem menor que a

masculina, mas esse era um dado que ocorria em todo o Brasil. Mesmo entre os brancos o número de homens era bem maior do que o de mulheres. Veiga, citado por Luna (1976, p.143), apresenta a estatística de que havia 41.677 homens brancos para 28.924 mulheres brancas, e 117.171 homens negros para 49.824 mulheres da mesma cor. Só entre os pardos é que a porcentagem de mulheres era bem maior: havia 40.793 pardos para 41.317 pardas.

Segundo Scarano (1994, p.14), é difícil definir o número exato de negros que havia em Minas Gerais durante o século XVIII, mas sabe-se que, em um determinado período, eram a maioria da população:

A quantidade de gente de cor que habitou as Minas Gerais no decorrer do século XVIII é de difícil aferição. Mas, sem dúvida alguma, o grosso da população era formado pelos pretos, principalmente nos primeiros decênios dos Setecentos. Aos olhos da população local, eles apareciam como numerosíssimos e amedrontadores. Fala-se mesmo que havia vinte pretos para cada branco nas terras mineiras. Esse exagero é provavelmente fruto do grande medo de revoltas e de ataques às vilas, arraiais e roças. Evidentemente, o número de gente de cor variou no decorrer do século.

regiões auríferas, em cascalhos em camadas nas faldas das montanhas, e de onde se extrai o ouro”.

A autora tenta traçar um perfil do período dos Setecentos em Minas Gerais. Segundo ela, nos primeiros dez anos, houve um povoamento rápido e caótico nas Gerais. Foi a época em que a mineração lucrativa atraía muitos grupos, como os paulistas e mesmo os europeus. Geralmente, esses forasteiros vinham acompanhados de uma grande quantidade de escravos. Nos róis dos escravos pesquisados, vê-se que os africanos são a maioria predominante em Minas Gerais.

No segundo período da exploração do ouro, começa também o

Documentos relacionados