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CAPÍTULO I: UM OLHAR PARA A ESCRAVIDÃO

1.1 O tráfico negreiro

A escravidão no Brasil vigorou por mais de trezentos anos. Nesse período, milhares de negros foram trazidos para cá como escravos reduzidos a meros objetos que, na visão dos colonizadores, podiam ser trocados, vendidos, hipotecados, alugados. No entanto, o escravo não era esta mercadoria que se apregoa, tinha sonhos, vontades, era criador de cultura.

Não se sabe ao certo a quantidade de negros que entraram no Brasil durante o período da escravidão. Schawarcz (1996, p.62) é da mesma opinião quando diz que: “Nunca saberemos ao certo quantos africanos foram

arrancados de sua terra natal”. Os estudiosos do assunto divergem quanto a

esses dados. Devido à falta de documentos que possam nos dar uma quantia exata, o que temos são dados aproximados. Explicando as razões dessa falta de informação, Ramos (1979) diz que, com o fim da escravidão no Brasil, em 13 de maio de 1888, aconteceu toda uma movimentação romântica com o objetivo de apagar essa “mancha negra” da história do País. Nesse sentido, o então Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, promulga o decreto de 14 de dezembro de 1890 e, em Circular número 29, de 13 de maio de 1891, ordena a queima de todos os documentos históricos sobre a escravidão. Assim, parece- me que a conclusão de Conrad (1985, p.7) é pertinente:

O número exato de escravos introduzidos no Brasil, durante o período de mais de três séculos, jamais será conhecido, mas certamente o tráfico foi grande e constante durante todo esse tempo. Se não por outra razão, algumas estimativas serão úteis para indicar a importância desse tráfico na história da humanidade e para dar uma idéia, em termos estatísticos, do tanto de sofrimento que causou. Sabe-se que tráfico negreiro foi um ótimo negócio para a Coroa e para as classes mercantis lusitanas. Os índios reduzidos à escravidão não geravam lucro direto para a Metrópole. O comércio do índio era interno. Segundo Maestri (1997, p. 62), “[...]os colonos compravam os cativos de comunidades aliadas ou entravam nos sertões e aprisionavam, seduziam americanos livres”.

O tráfico dos negros proporcionava o que era chamado de comércio triangular. Os navios deixavam os portos europeus cheios de bugigangas que os negreiros trocavam por seres humanos nos litorais africanos. Quando esses cativos chegavam às colônias, eram trocados pelos produtos das colônias, produtos que se vendiam por um preço elevadíssimo na Europa.

O comércio de negros era um negócio bem organizado, não era uma atividade marginal. Muitos personagens capitalistas se dedicaram a essa empresa. Na Europa e nos Estados Unidos, produziam-se bens especialmente para se trocar com os negros nas costas africanas. Esses produtos em nada contribuíram para o desenvolvimento da África, pelo contrário, como diz Maestri (1997, p. 62): “[...] a África negra cedeu parte da elite biológica de sua população em troca de uma parafernália de bens que em nada contribuíram ao seu desenvolvimento”.

Pinsky (1985) explica que a escravidão negra no Brasil não é a primeira experiência feita por Portugal, mas sim a adaptação à realidade brasileira de uma experiência começada já há algum tempo no próprio Portugal. Para o autor, essa experiência.

[...] já vinha de bastante tempo antes e tinha se desenvolvido a partir de 1441, quando Antão Gonçalves regressa de uma expedição ao Rio do Ouro, carregando consigo meia dúzia de azenegues capturados na costa do Saara, na África, para o Infante Dom Henrique. (PINSKY, 1985, p.14).

Bastide apud Prandi (2000, p.52), afirma que, no período de 1525 a 1851, mais de cinco milhões de africanos entraram no Brasil na condição de escravos, sem contar os que morreram em solo africano, vítimas da violência, e daqueles que faleceram durante a travessia do Atlântico.

Alencastro (2000, p.88) nos chama atenção para o termo escravo que se diferencia de cativo. Para este autor, “a palavra escravo, característica de

um estado jurídico de reificação permanente do indivíduo adquirido para uso do seu proprietário.” Ou seja: “[...] escravo é aquele que nasceu cativo, ou foi vendido, e está debaixo do poder do senhor [...]” . Ao definir o conceito cativo,

o autor diz: “[...] prisioneiro de querra, ou preso pelos piratas[...]” Entende-se, a partir da colocação do autor, que o escravo, num primeiro momento, é alguém que foi capturado por piratas ou o prisioneiro de guerra que é feito cativo e vendido como escravo. Uma segunda situação é o filho de um cativo ou escravo que nascer num contexto de escravidão com o estigma de escravo.

Para Florentino (1997, p.23), do século XVI ao século XIX, dos dez milhões de africanos importados para as Américas, 40% vieram para o Brasil. Já Freitas (1988, p. 110) calcula que foram “quinze milhões o total de sangue

africano que entrou aqui na fusão geral”. Chiavenato (1980) diz que, de acordo

com o balanço da entrada de negros no Brasil, calcula-se que aqui devem ter entrado entre 3,3 e 3,6 milhões de escravos.

Para Schwarcz (1996), o número de negros que entrou no Brasil entre a segunda metade do século XVI e o ano de 1850 é estimado em 3,6 milhões de pessoas. Esse valor é também estimado por Reis (1996).

De acordo com Maestri (1997, p.65),

[...] para sustentar a fome insaciável de braços da economia negreira, de 3 a 5 milhões de africanos chegaram escravizados ao Brasil. Não há estimativas sobre o número de brasis reduzidos à escravidão. O tráfico de homens escravizados ao Brasil constitui uma das mais patéticas, significativas e descuradas páginas da nossa história – uma história de horrores sobre a qual a historiografia tradicional prefere silenciar.

Para Moura (1993), há quem calcule que o número de negros que entraram no Brasil foi anualmente de 50.000; Freitas (1983) diz que o Brasil bateu recorde no tráfico de africanos. Importou perto de 40% do total de 9.500.000 negros transportados para o Novo Mundo. Nove vezes mais do que os desembarcados nos Estados Unidos (6%), no Caribe Inglês (17%) e no Caribe Francês (17%). “O Brasil foi o último país independente a abolir

legalmente o tráfico”. Cuba e Porto Rico ainda eram colônias da Espanha,

Um documento sobre o tráfico negreiro, citado por Neves (1972, p.136), diz que embarcavam anualmente cerca de 120.000 escravos da África para o Brasil, e que era muito raro chegar ao seu destino 80 ou 90 mil negros vivos. Durante a travessia, que durava entre dois meses e meio a três meses, perdia- se cerca de um terço dos escravos. Descrevendo a situação em que se encontravam os escravos nos tumbeiros, o autor diz que era lamentável a vida dos pobres negros:

[...] esses infelizes são amontoados num compartimento cuja altura raramente ultrapassa 5 pés. Esse cárcere ocupa todo o comprimento e a largura do porão do navio; aí são eles reunidos em número de 200 a 300, de modo que, para cada homem adulto, se reserva apenas um espaço de 5 pés cúbicos [...] os escravos são aí amontoados de encontro às paredes do navio e em torno do mastro; onde quer que haja lugar para a criatura humana, e qualquer que seja a posição que se lhe faça tomar, aproveita-se. O mais das vezes, as paredes comportam, à meia altura, uma espécie de prateleira de madeira sobre a qual jaz uma segunda camada de corpos humanos. Todos, principalmente nos primeiros tempos de travessia, têm algemas nos pés e nas mãos e são presos uns aos outros por uma comprida corrente.

As penosas viagens da África para o Brasil causavam muitas mortes entre os negros. Segundo Pinsky (1985), no século XVIII, foram 10% os escravos mortos na travessia do Atlântico e, no século XIX, essa cifra aumentou, passando a ser de 15%. Esse autor é da opinião de que entraram no Brasil 3.500.000 escravos. Falando também da viagem dos negros da África para o Brasil, Souto Maior (1977) diz que ela era terrível. Na viagem, 40% da carga humana falecia nos porões dos tumbeiros.

Ferreira (1987, p.44), baseando-se nos dados de Taunnay (1945), fala de 3.600.000 o número de negros trazidos para o Brasil. Descrevendo os

tumbeiros, afirma que “nesses barcos, os negros viajavam amontoados nos

porões, em condições tão terríveis que a mortalidade atingia até 70%”.

Mattoso (1988) diz que a média de negros que entraram no Brasil varia de autor para autor. Ela assinala que, entre a segunda metade do século XVI e 1850, data que marca a abolição definitiva do tráfico negreiro para o Brasil, o número de negros importados é avaliado entre 3.500.000 e 3.600.000.

Para Reis e Gomes (1996), as Américas consumiram cerca de quinze milhões de homens e mulheres arrancados de suas terras. Foi grande a participação do Brasil nessa triste aventura. Calcula-se que o Brasil recebeu 40% desses escravos. Penso que as conclusões de Conrad (1985), depois de ter analisado estudos de diversos pesquisadores sobre a quantidade de escravos que entraram no Brasil, especialmente os do professor Curtin, que fala da entrada de 3.646.800, dá-nos uma idéia aproximada a respeito da quantidade de negros que para cá vieram. Ele é da opinião de que

[...] a cifra exata foi considerada mais elevada, que é concebível a entrada de mais de 5.000.000 de escravos no Brasil durante todo o período do tráfico. Este total incluiria talvez 100.000 africanos no século XVI, 2.000.000 no século XVII, 2.000.000 no século XVIII e mais de 1.500.000 nos últimos cinqüenta anos de tráfico. Estes números, naturalmente, baseiam-se em provas totalmente inadequadas e, dessa forma, são apresentados com o mesmo espírito de dúvida com o qual o professor Curtin apresentou os seus. (CONRAD, 1985, p. 43).

No que toca à Província de Minas Gerais, não se sabe ao certo quantos escravos recebeu. Sabe-se que ela foi a maior província escravista do Brasil no século do ouro. Guimarães (1996, p.141) nos lembra que:

A classe escrava destacava-se por seu número e rebeldia desde o princípio do século XVIII. Embora os dados não cubram todas as regiões de Minas Gerais, em todas as épocas há indicadores de que a classe escrava nunca foi inferior a 30% da população total. E que, em algumas regiões, a população livre foi menor que a população escrava.

1.2 As origens

A origem dos negros que vieram para o Brasil como escravos é diversa. Na nova colônia, não era possível o desenvolvimento econômico sem o braço escravo. Os trabalhos eram predominantemente feitos pelos africanos. Para Prandi (2000, p.52) “os escravos provinham de onde fosse mais fácil

capturá-los e mais rendoso embarcá-los”.

O tráfico era uma transação que dava muito lucro para todos os que estavam envolvidos no negócio: portugueses, brasileiros, ingleses, franceses, espanhóis, holandeses e mesmo para africanos que estavam envolvidos no tráfico que dá a este tipo de comércio, no dizer de Prandi (2000, p.52), um mercado de trocas, uma grande procura por “cobiçadas mercadorias do Novo

Mundo, especialmente o tabaco”.

Prandi (2000, p.53) é da opinião de que a origem dos africanos trazidos para o Brasil não era algo que se fazia por acaso, mas está relacionada com os acordos feitos pelas potências envolvidas com o tráfico. Durante os três séculos de escravidão, as origens dos escravos não eram as mesmas, por ter

sido a África loteada pelos colonizadores. O tráfico foi mudando nesses três séculos em função dos interesses das pessoas que estavam envolvidas.

O ponto de partida dos navios negreiros da África não é sinônimo de que todos os negros tenham vindo do mesmo ponto. Isso foi observado por Bastide (1973, p.12), ao analisar, através dos nomes, a questão da origem étnica dos negros vindos para o Brasil: “[...] dava-se freqüentemente ao

escravo não o nome de sua verdadeira etnia, mas aquele do porto de embarque; por exemplo, chamava-se indistintamente Mina a todos aqueles que passavam pelo forte de El Mina, fossem Ashanti, Ewes ou Yorubas”

Essa opinião é partilhada por Pinsky (1985, p.25). Para ele, o escravo era capturado no interior, bem longe do local de embarque. O porto de onde os escravos partiam “[...] não tinha, necessariamente, relação com a origem

étnica”.

Se Prandi mostra que os escravos provinham de onde fosse mais fácil capturá-los, Pinsky afirma que estes provinham do interior. Isto faz sentido porque, com a ocupação das Costas africanas pelos europeus, os negros foram fugindo cada vez mais para o interior. Pois em Angola havia até um ditado: “em Luanda só se pisa devagar”. Este ditado diz respeito ao perigo que um negro livre corria ao passar por Luanda, que se localiza no litoral.

Mattoso (1988, p.22) determina que houve quatro grandes ciclos de negros para o Brasil: “o primeiro deles no tempo, o século XVI, ou ciclo da

Guiné, tem seu ponto inicial na África do Norte do Equador e traz ao Brasil negros “Molofs, Mandingas, Sowais, Mossis, Haússas e Peuls”. O segundo

ciclo é o chamado ciclo do Congo e de Angola: são os bantu da África Equatorial. Mas, mesmo assim, a metrópole portuguesa continuou com a política de misturar negros de diferentes etnias para evitar a concentração de negros de um mesmo grupo, em uma mesma capitania. Esse ciclo começa no início do século XVII. Mattoso (1988, p.23) afirma que o fim de um determinado ciclo não significa o encerramento em definitivo da chegada de negros do ciclo anterior:

[...] os guinéus continuam a desembarcar no Brasil e há uma tradição, no entanto difícil de provar, de que, se a Bahia preferiu sempre importar sudaneses, Pernambuco tinha predileção pelos bantus e o Rio de Janeiro selecionava metade de sudaneses e outra metade de bantus [...] .

É de se notar, acrescenta Mattoso, que “[...] também desembarcaram

no Brasil negros de Moçambique, sobretudo durante a ocupação holandesa de Angola” (1988, p.23). O terceiro ciclo é o da Costa da Mina. Há novamente um

interesse pelos negros sudaneses. Esse ciclo domina todo o século XVIII. A partir de meados desse século, surge o “ciclo propriamente baiano”, ou seja, o quarto ciclo que é “[...] o ciclo da baía de Benin, junto com o tráfico ilegal que

se desenvolve a partir das proibições impostas pela Inglaterra após 1830”

(1988, p.23). A autora é da opinião que: “[...] o século XIX brasileiro vê chegar

escravos das mais diversas procedências, porém com nítida predominância de negros de Angola, Moçambique, então possessões portuguesas” (1988, p.23).

Baseando-se nos estudos de Herskovits, Ramos (1943) apresenta a África subdividida em áreas culturais. A primeira área é a de um povo gregário, onde o gado desempenha uma grande importância na sua vida social. A segunda área é a dos Bosquímanos. Esse povo não é agricultor, vive da coleta e da pesca. Não tem residência fixa, vive em abrigos naturais. A terceira área é a oriental. Esse povo é de língua bantu e mantém sua unidade cultural pelo complexo de gado. O gado é aí parte indispensável nas cerimônias mágicas e sociais. Esse povo tem a sua vida assegurada pela agricultura e pelo gado. Conhece o trabalho com o ferro, possui propriedades privadas, é patrilinear, mas existem aí também casos de famílias matrilineares. Há a poligamia, e o número de mulheres que um homem possui depende da quantidade de gado. Presta culto aos antepassados. A quarta área é a do Congo, incluindo nesta a subárea do Golfo da Guiné. Esses povos têm a agricultura como economia de subsistência. Trabalham o ferro e fazem cerâmicas. Fabricam utensílios domésticos e armas de guerra. Possuem um rico arsenal artístico: figuras de madeira, máscaras, objetos decorativos com representações humanas e tambores de troncos de árvores. O seu sistema familiar é matrilinear. A sua organização política é complexa e possuem grandes reinos. Sua mitologia e religião são bem desenvolvidas. A quinta área é a do Sudão Oriental, que é constituída de um povo nômade de origem hamita e semita, de influência muçulmana. O sistema de parentesco é patrilinear, vive em tendas de panos facilmente desmontáveis. A sexta área é a do Sudão Ocidental, que é constituída por povos sudaneses mestiçados com povos hamitas, com influência islâmica. Daí veio uma grande quantidade de negros para o Brasil.

Esse povo é agricultor e pastor; trabalha o ferro, a cerâmica e a tecelagem. A sétima área é a do deserto e a egípcia. Formada por povos semitas e hamitas de influência européia e maometana.

Carneiro (1936, p.70) faz também algumas citações sobre as origens dos negros que vieram para o Brasil. Segundo ele “[...]aqui entraram negros

das mais diversas procedências, sudaneses e bantus, da costa d’África e da Contra-Costa de Angola, da Costa dos Escravos, do Congo, da Costa do Ouro, de Moçambique”. Já Alencastro (p. 77) é da opinião que “[...] a Guiné-Cabo Verde, origem de 51% dos escravos, e a região Congo-Angola, de onde saíram 34%...”Schwarcz (1996, p.12-13) afirma que para o Brasil vieram negros de

dois grandes grupos étnicos: “[...] os bantus, predominantemente originários do

Sudoeste e Sudeste africanos, e também os sudaneses, procedentes do Noroeste do continente”.

Reis (1999, p.70) apresenta três regiões de onde partiram os negros para o Brasil. A saber, os sudaneses do Golfo da Guiné (Iorubas, Haússas, Malês, Minas, etc.) “os islamizados do Sudão Ocidental e os bantos, entre os

quais se incluem os angolas, os congos, os benguelas e os moçambiques”, que

vão dar uma forte contribuição sociocultural na Bahia (século XVII) e em Minas Gerais, a partir do século XVIII.

Falando das origens dos povos africanos que vieram para o Brasil, Prandi (2000) assinala que, grosso modo, vieram para cá povos pertencentes a dois grandes grupos lingüísticos: os sudaneses e os bantus. Os sudaneses

constituem os povos que vivem na região que hoje vai da Etiópia ao Chade e do Egito a Uganda, ao Norte da Tanzânia. No Norte, encontramos a subdivisão do grupo sudanês oriental, que compreende os núbios, neolíticos e baris. No Sul, encontramos os grupos sudaneses do centro, formados por etnias diversas que estavam localizadas no Golfo da Guiné. Daí vieram muitos negros para o Brasil, conhecidos como nagôs ou iorubas, que compreendem várias línguas: oió, ijexá, quetu, ijebu, egbá, ifé, oxogbô, etc. Os Haússas, com sua civilização islamizada e grupos que tiveram menor importância na cultura brasileira como os grúncis, tapas, mandingas e fanti-axanti.

Para cá vieram também os bantus, povos que vivem na África Meridional e que falam entre setecentas e duas mil línguas e dialetos que constituem a mesma raiz. Esses povos vivem mais para o sul da África, abaixo do Sul do Saara, área que vai desde o Atlântico e o Índico até o Cabo da Boa Esperança. As principais línguas são o Gangela, falado em Angola e Zâmbia, o kikongo, falado na Republica Democrática do Congo e Angola. E o Suaili, falado na Tanzânia, Quênia e Congo.

Prandi (2000, p.55) sugere que os termos banto e sudanês são referências gerais que englobam dezenas de diferentes nações e etnias africanas. Durante o tráfico, sempre foram apresentadas as origens dos africanos, mas, na realidade, como já foi assinalado por Bastide (1973), Pinsky (1985) e Maestri (1997), a origem dos escravos podia estar simplesmente relacionada ao porto de embarque. Geralmente, na costa africana, mantinham-

se portos de embarque fora da área de controle, o que era ilegal. Depois de serem capturados, os cativos andavam dias a pé pelas matas para alcançar o porto de embarque. Por isso, o porto podia não mais corresponder à sua verdadeira origem.

É Scarano (1994, p.14) que mostra quantos negros vieram para Minas Gerais: “a quantidade de gente de cor que habitou as Minas Gerais no decorrer do

século XVIII é de difícil aferição. Mas, sem dúvida alguma, o grosso da população era formado pelos pretos, principalmente nos primeiros decênios dos setecentos[...]”. E

completa: “[...]evidentemente o número de gente de cor variou no decorrer do

século”. Justamente os escravos e seus descendentes que chegaram a Minas

Gerais constituem o foco deste estudo

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