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4 A ESCUTA PSICANALÍTICA COM CRIANÇAS VÍTIMAS DE BULLYING

Na tentativa de encontrar resposta para a questão central desse trabalho “Como pode funcionar a clínica psicanalítica com crianças vítimas de ‘bullying’?”

É notório que o ‘bullying’, apesar de ser um ato agressivo praticado há muito tempo, somente há poucos anos é que ele passou as ser considerado um ato de violência. É importante ressaltar, quando se trata de bullying, que tanto o agressor quanto o agredido podem estar na posição de vítima, entendendo que, no instante em que uma criança não consegue elaborar seus sentimentos ruins ela passa a externá-los com atos de violência.

O bullying é um fenômeno estreitamente ligado a relações desiguais de poder. Brandt e Padilha (2020, p. 17) destacam que:

Uma das principais características dos agressores de bullying é que eles são extremamente populares, são líderes natos, possuem capacidade de persuasão e poder de comunicação, mas os utilizam para dominar aqueles que veem como mais fracos.

Nessa conjuntura, faz-se necessário entender, num primeiro momento, como a psicanálise trata a questão da violência, não obstante, como esclarece Machado (2013), não existe nessa abordagem conceitos referentes à violência, mas traz referências sobre a agressividade. Na perspectiva psicanalítica, os atos de agressão são como impulsos que se repercutem tanto na vítima quanto no agressor, pois este faz um grande esforço para se livrar de possíveis angústias. Assim, “a agressividade é um jogo de projeções produzidas no espelho que constituem o eu, o outro e o objeto, elementos que compõem a dialética das identificações” (MACHADO, 2013).

Percebe-se que comportamentos agressivos são atos praticados há muitos anos e por diversos povos, independente da cultura, língua ou religião; desde criança o ser humano já apresenta comportamentos agressivos. Não é por acaso que, ao longo dos anos, várias teorias foram desenvolvidas a respeito desse assunto. Freud, por exemplo, considerava a agressividade um fenômeno natural à vida humana, dizia ser uma “disposição instintiva primitiva”. Quando ele escreve “O mal-estar na civilização” define com mais clareza o que ele chama de “tendência à agressão”, ao

descrever um ser humano constituído de pulsão de morte2. Depois, ele refere-se à agressividade numa posição de não mais articulada às pulsões de conservação do eu, mas, mostra que a violência é uma propensão inerente a humanidade, que marca a pulsão de morte e, para Freud, é uma ameaça para a sociedade civilizada (FREUD, 1930/1974).

Anna Freud (1936) traz o conceito da análise do ego como uma resposta instintiva a realidade; assim, instintivamente, o indivíduo procura proteger “a imagem aceitável do que se é”, utilizando várias formas de defesas, dentre elas destacam-se aqui a ‘projeção’ que ocorre quando um indivíduo lança seus sentimentos negativos ou suas frustrações em outro, sem reconhecer que estes sentimentos fazem parte de si mesmo. Assim, em relação à agressividade, Anna relata que:

Os autores da escola inglesa de psicanálise acham que, nos primeiros meses de vida, antes de qualquer recalcamento ter ocorrido, o bebê já projeta seus primeiros impulsos agressivos e que esse processo é de crucial importância para a imagem que a criança forma do mundo à sua volta e para a maneira como a sua personalidade se desenvolve (FREUD, 1946/1986, p.89).

Nota-se, então, que na prática clínica desenvolvida por Anna Freud, é imprescindível a compreensão dos mecanismos de defesas do Ego, perante as exigências do id ou superego. De acordo com a autora, qualquer manifestação de atos agressivos é uma resposta (defesa) natural do próprio ser humano a uma possível ameaça.

Se investigarmos essa luta pela supremacia entre o ego e o id, perceberemos que quase todos os fenômenos inquietantes do período pré-puberal correspondem a diferentes fases no conflito. Maior atividade da fantasia, lapsos na gratificação sexual pré-genital (isto é, perversa); o comportamento agressivo ou criminoso significa êxitos parciais do id; a ocorrência de várias formas de angústia, o desenvolvimento de traços ascéticos e a acentuação dos sintomas e inibição de radical neurótico denotam uma defesa mais vigorosa, isto é, o sucesso parcial do ego (FREUD, 1946/1986, p.106).

O conceito de Mecanismos de Defesa criado por Sigmund Freud e aprofundado por Anna Freud é entendido como estratégias geradas pelo ego para proteger o indivíduo de situações aparentemente ameaçadoras, ou de dores, sofrimentos e decepções. Trata-se de um processo inconsciente que qualquer pessoa desenvolve

2 Nas suas teorias das pulsões Sigmund Freud descreveu duas pulsões opostas: a pulsão de vida, que se refere à conservação da vida, existe mecanismo que auxiliam o indivíduo escolher a priorizar sua existência; ao contrário, da pulsão de morte, em que o sujeito está inclinado a erradicá-la.

durante seu desenvolvimento psíquico, nesse processo formam-se sistemas de proteção que ajudam a pessoa a enfrentar os desafios do mundo real e os conflitos emocionais. No momento que é ativado um mecanismo de defesa, não há como o sujeito prever, essas estratégias do ego desempenham um tipo de adequação, que procuram tornar suportável um alto nível de sofrimento emocional, atenuando, assim, mesmo que temporariamente, a dor.

A fantasia configura-se para a criança como um mecanismo de defesa do ego, que lhe auxilia no sentido de extinguir sentimentos de desprazer que não seria possível por meio da realidade. É como se a criança elaborasse em sua mente uma espécie de teatro, em que atua de modo diferente de sua realidade, e nesse cenário seus desejos são atendidos e suas ansiedade é diminuída.

Nesse sentido, pensar em um atendimento psicanalítico a uma criança vítima de bullying, pelo ponto de vista de Anna Freud, é imaginar que essa criança, acompanhada pelos pais, ou responsáveis, será analisada atentando para as fantasias que ela expressa por meio da brincadeira, visto que na teoria de Anna Freud, a criança é capaz de projetar nos brinquedos seus sentimentos recalcados. “[...] a atividade da sua fantasia nos jogos e nas brincadeiras, seus desenhos, etc., revelam suas tendências do id de uma forma muito mais indisfarçada e acessível do que é usual nos adultos e, na análise, podem quase ocupar o lugar da emergência” (Freud, 1946/1986, p.32).

Como já mencionado no primeiro capítulo, o bullying é um tipo de agressão que acontece comumente o ambiente escolar. Nesse sentido, pressupõe-se que a prática clínica de Anna Freud na terapia infantil é de suma importância para o âmbito educacional, para o acolhimento de crianças e adolescentes que sofrem com as consequências do bullying. Visto que, para ela, o papel do analista assemelha-se a de um educador, pois, dessa maneira, ele obterá a transferência necessária para acessar o inconsciente da criança e, por conseguinte, auxiliá-lo na superação de seus traumas.

Melanie Klein também contribuiu para o trabalho com crianças no ambiente escolar, ela dedicou-se a entender, principalmente, crianças com desinteresse, agressividade e dificuldades de aprendizagem. Para Klein (1975), crianças que convivem em ambientes hostis, mostram-se mais intransigentes, inseguras e agressivas. Assegura que, à medida que a criança se desenvolve, ela começa a organizar suas emoções e distinguir quais são os elementos bons dos maus, mediante

processos de divisão, projeção e introjeção (KLEIN, 1975). Assim, se um objeto (alguém) lhe parecer como uma ameaça, ela projetará nele seus impulsos agressivos.

No pensamento kleiniano, a emoção está no centro da cena e o fio que perpassa toda a teorização é o da angústia e da fantasia inconsciente. Adotou de imediato o conceito de pulsão de morte, ao contrário de tantos outros autores. A agressividade e a destrutividade, a pulsão de morte, presentes no seu trabalho sobre a inveja mais o conceito de cisão abriu caminho para a perspectiva de tratar os casos graves até então considerados intratáveis. E futuramente levaram a importantes contribuições de outros analistas para a compreensão da compulsão à repetição, das reações terapêuticas negativas, do narcisismo destrutivo, das organizações patológicas, dos refúgios psíquicos, etc. (GOMES, 2012, p.5).

É por meio das fantasias das crianças que é possível compreender seu sofrimento e através do lúdico ela pode externar os sentimentos de dor e angustia. “A criança expressa suas fantasias, desejos e experiências de uma forma simbólica, através de jogos e brinquedos. Ao fazê-lo, utiliza os mesmos modos arcaicos e filogenéticos de expressão” (KLEIN, 1882-1960, p. 30).

É possível concluir que, na prática clínica infantil, diferente de Anna Freud, que sustentava a ideia de uma escuta analítica mais voltada para o comportamento das crianças, observando as influências externas, o método de Melanie Klein consiste na interpretação profunda e consciente, por meio da fantasia que a criança expressa na brincadeira. Assim, o modo terapêutico desenvolvido por Klein cria um espaço propício para o atendimento de crianças vítimas de bullying, uma vez que, os traumas, as angústias podem ser projetados na brincadeira espontânea.

A questão da agressividade, para Winnicott, difere do ponto de vista de Melanie Klein e S. Freud. Enquanto Klein diz que a agressividade está relacionada à pulsão de morte e S. Freud situa suas raízes nas reações desencadeadas pelas prováveis frustrações no contato com a realidade. Na perspectiva de Winnicott, a agressividade refere-se a um fenômeno inerente ao ser humano, porém, só se torna parte do sujeito e se desenvolve se for concedida a oportunidade de vivenciá-la (WINNICOTT, 1939). Compreende-se, assim, em observância à teoria winnicottiana, que o papel do analista, no atendimento a criança vítima de bullying, é entender, em princípio, até que ponto as agressões sofridas pela criança afetaram seu desenvolvimento psicológico. Visto que, a psicoterapia, nessa abordagem, tem como objetivo assimilar o desdobrar do amadurecimento “normal/esperado” e só depois expor as diversas imaturidades e distúrbios resultantes das falhas ambientais ao longo da vida do sujeito. O

psicanalista, portanto, que segue por esse viés teórico, procurar situar as questões mentais nos bloqueios do desenvolvimento, e estabelece a melhora do paciente no progresso maturacional e não somente na análise do inconsciente. Winnicott também traz ao ambiente clínico a importância do brincar, para ele, “[...] a psicoterapia é efetuada na superposição de duas áreas lúdicas, a do paciente e a do terapeuta. Se o terapeuta não pode brincar, então ele não se adequa ao trabalho” (WINNICOTT, 1975, p. 89).

É importante também, disponibilizar à criança objetos que se adequem à sua faixa etária, contexto cultural e social a qual ela pertence, pois, assim, o brincar terá o efeito esperando que é entrar em contato com aspectos psicológicos e emocionais desta criança. Envolve, portanto, atividades que retratam sua realidade e, assim possam interagir com o terapeuta e este possa realizar o trabalho de análise por meio das fantasias manifestadas no decorrer da brincadeira. “Quando o paciente não consegue brincar, o analista deve capacitá-lo para tal tarefa, de modo que a comunicação se estabeleça e o paciente acesse a terceira área, estabelecendo uma ponte entre seu mundo interno e externo” (PONCE, 2018, p. 39).

Nessa perspectiva, o processo psicoterapêutico infantil é de fundamental importância para as crianças que sofreram agressões, pois tem como objetivo principal acolhê-las e, por meio da análise, encontrar conteúdos inconscientes que estão produzindo possíveis sofrimentos psíquicos e que, de alguma forma, interferem no dia a dia da criança e no desenvolvimento e amadurecimento emocional.

O processo psicoterapêutico infantil é de fundamental importância para a criança que foi vítima de agressões (bullying), e para a criança agressora, uma vez que, por meio da análise, pode-se acessar seu inconsciente e, assim, é possível identificar o que está produzindo sofrimentos psíquicos e que, de alguma forma, interferem no dia a dia destas crianças e no seu desenvolvimento e amadurecimento emocional. Pensar em uma clínica infantil, pelo viés da psicanálise, requer, em princípio, o conhecimento dessa abordagem, e examinar os pressupostos teóricos que fomentam sobre esse processo analítico, a fim de encontrar a melhor estratégia de execução da análise.

É importante salientar que não existe um modelo de análise pronto pra cada caso, mas, como destaca Costa (2010), há três princípios que são indispensáveis numa análise que são: a demanda, a transferência e a interpretação. A autora diz que a demanda, no caso de atendimento infantil, geralmente é dos pais, ou responsáveis,

pois são eles que vão dizer se a criança está sofrendo com algum tipo de problema. Sobre a transferência, Santos e Lima, (2017, p. 2) definem como sendo um “conjunto de todas as formas com as quais o paciente vivencia a relação analítica com a pessoa do psicanalista, bem como as representações que ele possui de si mesmo e das relações objetais que habitam seu psiquismo, assim como suas fantasias inconscientes”. Sobre a interpretação, Paula (2016, p. 23) diz que esta tem “a função de modificar o caráter dos jogos da criança e fazer com que a representação desse material se torne mais clara, abrindo a porta do inconsciente e diminuindo a angústia suscitada, preparando assim, o caminho para o trabalho analítico”.

Para a maioria dos psicanalistas que trabalham com crianças, a prática clínica, enquanto método de intervenção, está atrelado ao ato de brincar.

O brincar tem um significado, é através dele que podemos acessar o inconsciente infantil, ajudando a criança a elaborar suas angústias, sintomas e dificuldades familiares, propiciando o conhecimento da realidade psíquica infantil. Durante o tratamento de crianças, observa-se continuamente que um mesmo brinquedo ou jogo adquire diferentes significados de acordo com a situação total. E por isso que somente se compreende e se interpreta um jogo quando se tem em consideração a situação analítica global na qual se produz (PAULA, 2016, p. 22).

Vale destacar que só será possível entrar em contato com aspectos psicológicos e emocionais da criança por meio do brincar, se o terapeuta disponibilizar aquilo que seja acessível a ela, considerando sua idade e o contexto em que está inserida. Segundo Winnicott (1975), o profissional precisa perceber que a brincadeira depende também do seu ato brincar, ou seja, no manejo dessa técnica é importante saber usar e saber como o mesmo faz parte da realidade da criança. Winnicott (1975, p. 89) assegura que a:

[...] a psicoterapia é efetuada na superposição de duas áreas lúdicas, a do paciente e a do terapeuta. Se o terapeuta não pode brincar, então ele não se adequa ao trabalho. Se é o paciente que não pode, então algo precisa ser feito para ajudá-lo a tornar-se capaz de brincar.

Verifica-se, então, que na busca de possíveis caminhos na direção da análise de crianças, é valido refletir sobre a interpretação e o manejo individual no setting, ou seja, adequar as teorias à realidade de cada caso. Assim, em relação à técnica de análise com crianças de Winnicott, Costa (2010, p. 57) discorre: “preferia desenhar

com a criança, fazendo-lhe perguntas e sugestões de modo a despertar o seu interesse em falar de coisas que, normalmente, não falaria com outras pessoas”.

A psicanálise infantil, portanto, procura acolher a criança, enxergando-a como ser capaz de desenvolver sua própria demanda clínica, desde que lhe conceda um espaço para a fala e para a escuta.

Não podemos deixar de reconhecer o valor do trabalho psicanalítico com crianças realizado por Françoise Dolto. Tal como Lacan, coube a ela resgatar a palavra da criança no discurso analítico, a verdade do sujeito em sua dimensão desejante (COSTA, 2010, p. 74).

No tocante à prática clínica desenvolvida por Dolto, Costa (2010, p. 74) diz que:

Dolto enfatiza a receptividade e a capacidade de escuta do analista. Ele deve ficar atento, antes de tudo, à história da criança na genealogia, ao censurado e aos não-ditos [...] Dolto introduziu o pagamento simbólico (pedrinhas, selos, pedaços de papel colorido) para demarcar o registro do tratamento, colocando a criança numa posição de sujeito desejante e, portanto, responsável por suas dificuldades. Percebe-se então, que no espaço clínico a criança tem a oportunidade de expressar suas necessidades e anseios, ela reproduz o que vivenciou ou está vivenciando, não como uma lembrança, mas como algo real, num processo de lembrar, reproduzir e elaborar.

“Pelo jogo, a criança demonstra suas fantasias inconscientes, e, ao fazer isso, integra seus conflitos, facilitando a elaboração das situações traumáticas. A função do jogo é ressignificar suas vivências” (PAULA, 2016, p.21).

A contextualização construída até aqui é de suma importância para desenvolver uma compreensão total da temática. Infere-se que, a prática clínica da psicanálise infantil dá-se com o foco na criança e em seus dilemas psíquicos, e não nos fatos que a fizeram chegar à clínica, em outras palavras, não se trata de um atendimento especifico para vítimas de ‘bullying’ e sim para a criança que sofre e que precisa ser acolhida e ouvida. Deste modo, é possível entender que essa clínica acolhe tanto o agressor quanto a vítima, a partir de um mesmo lugar, o da criança que está em sofrimento. França e Passos (2019, p.2) trazem que “na clínica psicanalítica não foi e nem é diferente, nela o jogo dialético permanente oscila entre a teoria que orienta a clínica e a clínica que fundamenta, funda e recria a teoria”.

O processo analítico com criança abre espaço para construção da fala do sujeito criança, como se observa nos pressupostos teóricos que fundamentam essa

pesquisa. Por meio da brincadeira, a criança consegue externar suas angústias e revelar seu “eu” na interação com o psicanalista, sem censura à sua expressividade.

O sujeito, portanto, não nasce pronto como os animais. O sujeito assujeitado à fala, o sujeito do inconsciente, nasce no campo do Outro. Se ele não nasce pronto, deve ser construído, e sua constituição acontece na relação com a fala que passa pela linguagem. E essa fala não significa aprender a articular palavras e formar frases para comunicar-se com os demais, mas significa ir além da necessidade e ter acesso ao desejo. Portanto, se o sujeito é efeito de linguagem, representado de um significante para outro, é necessário submeter-se ao significante para que possa falar (COSTA, 2010, p.62).

Em muitos casos de ‘bullying’, as vítimas se sentem coagidas a falar para os pais ou seus responsáveis o que está ocorrendo e, com o passar do tempo, essas crianças começam a apresentar diversas patologias, traumas ou algum tipo de dificuldade no seu dia a dia, nas relações socias e afetivas. “As vítimas de bullying sofrem traumas em seu inconsciente e isso faz com que seu desenvolvimento e sua autoestima sejam seriamente prejudicados” (ESTEVE; ARRUDA, 2014, p.25). Nesse sentido, ter um espaço de fala e escuta é vital para crianças vítimas dessa violência. Visto que, no setting analítico, por meio da brincadeira, ela terá liberdade de expressar seus sentimentos e, assim, aliviar sua carga emocional.

A criança ao brincar, sabe distinguir perfeitamente o brincar da realidade, mas envolve situações de seu dia-a-dia na brincadeira, representando-as, e muitas vezes, corrigindo a realidade insatisfatória; [...] é através da capacidade de imaginar e criar e/ou recriar situações que no brincar a criança reelabora suas questões, representa seus conflitos e possibilita novos significados a estes (SCHERBAUM, 2017, p. 18).

Observa-se, portanto, que o trabalho psicanalítico com crianças que sofreram agressões, físicas ou psicológicas, seguem a mesa linha de atendimento para qualquer que seja a demanda quando se trata do público infantil.

Cintra (2018) destaca que:

Acredita-se que o brincar, as atividades gráficas e outros meios de comunicação no caso da Psicanálise de Crianças são pertinentes enquanto instrumento de trabalho e devem ser considerados pelo terapeuta que se propõe a trabalhar com este público. O material lúdico promove a externalização de conteúdos internos, possibilitando e facilitando assim melhores resultados no atendimento infantil [...]. Desta forma, no jogo podem ser observadas a repetição das experiências da vida real e os detalhes da vida cotidiana, que aparecem entrelaçadas com fantasias. Entende-se que a linguagem simbólica se configura como uma expressão arcaica semelhante à dos sonhos, de maneira que cada criança terá seus símbolos particulares (CINTRA, 2018, p.5).

Em suma, observou-se que a psicanálise infantil, iniciada por Sigmund Freud, percorreu um longo caminho, e perpassou por diversos eixos teóricos, mas ainda assim tem muito a se desenvolver e aprender sobre a prática clínica com crianças, haja vista que, a cada atendimento com esse público, surgem novos desafios, e a cada caso surge uma nova oportunidade de pesquisa e investimento nessa área da psicanálise.

A Psicanálise de Crianças, ao longo dos anos, vem sendo expandida tanto em relação à teoria quanto a técnica e intervenções utilizadas. Desde o tempo de Freud, seu fundador, muitos outros autores surgiram, realizando adaptações e ampliações de suas teorias, o que implicou em uma extensão da psicoterapia de crianças. O entendimento do brincar evoluiu e este passou a ser compreendido como uma atividade importante que possui papel

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