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3 A CLÍNICA PSICANALÍTICA COM CRIANÇAS

3.1 A Clínica Infantil

A prática psicanalítica com crianças iniciou-se a partir do discurso do filosófico iluminista, o qual tinha uma visão voltada a questões educacionais; definia-se, portanto, o termo infantil como sendo o tempo de vida psíquica carregado de experiências, que futuramente poderia se transformar em algum tipo de sofrimento. Assim, quando se buscava entender a origem das neuroses, investigavam-se as experiências sexuais traumáticas sofridas na infância. Desse modo, o conceito de inconsciente estabelece uma relação entre infantil e pulsão e, segundo Lacan, a psicanálise com crianças está para além de uma cronologia, o que existe é uma estreita ligação entre o sujeito do inconsciente e o infantil. Freud não se aprofundou no uso das técnicas da psicanálise infantil (COSTA, 2010). Nessa área da psicanálise tem as contribuições, entre outros, de Ana Freud, Melanie Klein, Donald Winnicott e Françoise Dolto.

A psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud (1856-1939), é uma abordagem teórica, um método de investigação e também uma prática profissional que tem como foco o inconsciente. Muitos comportamentos conscientes são controlados pela atuação do inconsciente, como as memórias, os impulsos e os desejos reprimidos (FREUD [1915] 1996). Compreende-se que a psicanálise, como teoria, é um conjunto sistemático de conceitos sobre a ação da vida psíquica, o método é o interpretativo, o oculto é investigado observando o comportamento e as criações do imaginário, como: delírios, sonhos, atos falhos e as associações livres; já a prática psicanalítica refere-se ao modo terapêutico que busca o autoconhecimento (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,1999).

A psicanálise, então, propõe uma atuação clínica pautada na escuta do sujeito, do inconsciente. O inconsciente é atemporal e todo desejo que compõe a estrutura subjetiva do ser humano advém da infância e perdura por toda a vida; para ele, é nessa fase que se estabelece a construção do indivíduo e sua personalidade (FREUD

[1915] 1996). Desse modo, verifica-se que na clínica infantil há a necessidade de construir uma escuta específica, visto que:

O processo de desenvolvimento da perspectiva psicanalítica acerca da subjetivação psíquica da criança se deu por meio do prisma teórico, mas também do clínico, o qual não pôde ser desenvolvido exclusivamente por meio da “cura pela palavra”, da associação livre daquilo que é dito no set psicanalítico. Com as crianças é preciso mais do que isso. Há a necessidade de compreender aquilo que pode ser próprio da infância, pode vir a esclarecer o modo de fazer a clínica infantil (HEUSER, 2019, p. 19).

Embora não tenha se aprofundando na prática psicanalítica infantil, Freud contribuiu para interpretar as neuroses geradas na infância. Ele acreditava que a vida está permeada pela tensão e pelo prazer, sendo que a tensão é o resultado da carga de libido (energia sexual) e toda descarga dá origem ao prazer; o termo “sexual” para ele refere-se aos pensamentos e/ou ações prazerosas (FREUD [1915], 1996).

Carneiro, (2017, p. 103) enfatiza que:

Ao nomear o sexual como pulsional, Freud marca que a sexualidade humana, diferente do instinto animal não se satisfaz como uma necessidade fisiológica, mas está sempre atrelada a uma dimensão de representação, de palavra, que dá forma à fantasia e ao desejo.

Observa-se, portanto, que na psicanálise a criança é vista como um ser em construção organicamente e psiquicamente. “A noção de infantil, corresponde a algo maior do que a infância propriamente dita, perpassa todo o arcabouço teórico da psicanálise e coloca-se como o fio condutor para pensar na emergência do sujeito do inconsciente” (FRANÇA; PASSOS, 2019 p. 2).

Em princípio, Freud não acreditava numa possível análise infantil, mas mudou seu discurso depois de sua experiência no caso de um menino de cinco anos1, conclui, segundo Costa (2010, p.17), que “[...] a realidade psíquica da criança se assemelha à do adulto em suas angústias, fantasias e desejos”, compreende-se, então, que na clínica psicanalítica com crianças, assim como os adultos, a atenção sempre estará voltada para a construção do inconsciente.

É notório que a prática psicanalítica com crianças atravessou por diversos pensamentos teóricos. Desde Freud até os dias atuais se discute qual seria o método

1 Caso clínico do Sigmund Freud, “O pequeno Hans” no livro “Análise de uma fobia em um menino de cinco anos”, publicado em 1909.

mais viável para acolher o público infantil. Em geral, os psicanalistas usam “o brincar” como uma das técnicas terapêuticas. Visto que “o brincar deixa de ser mera atividade imaginativa e passa a ser um meio de realização do sujeito do inconsciente que se dá pela via da figuração” (HEUSER, 2016, p.28).

É importante salientar que para acessar o mundo psíquico de uma criança no

Setting terapêutico, se faz necessário atentar para o brincar. Segundo Heuser (2019,

p. 26), “o brincar traz efeitos de significação, é a realização de um trajeto no qual o inconsciente se manifesta produzindo um sentido”. Os estudos de Freud sobre as neuroses e a organização do psiquismo leva-o a investigar a infância, e perceber que muitas vezes as causas dos transtornos mentais estão nas primeiras fases da vida. Assim, com base na formação da transferência por parte da criança, realizam-se as análises e interpretações observando as fantasias que se manifesta por meio do brincar. Em seu livro “Além do Princípio do Prazer”, Freud (1920/1976) faz referência ao brinquedo e menciona que a interpretação por meio do jogo é notória.

Infere-se, então, que “o brincar” na prática psicanalista é de suma importância, visto que permite ao analista identificar possíveis problemas inscritos no inconsciente, na medida que compreende a dinâmica psíquica e a subjetividade da criança, possibilitando o acesso às suas defesas, conflitos e sintomas.

Assim poderá projetar na brincadeira medos, desejos, expectativas, demonstração de verbalizações e associações livres que se desencadeiam por jogos e brincadeiras que serão o meio para o terapeuta mediar os conflitos e propiciar ressignificações das angústias e sofrimentos (HEUSER, 2019, p.26).

Desse modo, o analista faculta à criança uma leitura verossímil de seus sintomas, possibilitando-a assimilar e discernir seu próprio material inconsciente, ou seja, o analista auxiliará essa criança a obter um entendimento consciente de seus desejos inconscientes e ser capaz de ressignifica-los.

Heuser (2019, p.27) aponta que:

A atividade lúdica utilizada na terapia tornou-se uma maneira de abrir caminho para que a criança se sinta livre para manifestar sua criatividade e imaginação, bem como trazer à tona conflitos psíquicos que a estejam afligindo. Pela brincadeira a criança realiza o que imagina, sem se preocupar com a realidade. Ela é que propõe as regras, pois tudo é possível no faz de conta. Deste modo está livre para experimentar sentimentos de amor, medo, tristeza, raiva, reproduzindo-os nas brincadeiras, o que por ventura possa estar sendo recalcado e não falado no meio familiar.

O ato de brincar é de suma importância para desenvolvimento psicológico e para o processo de aprendizagem, é por meio da brincadeira que a criança é capaz de externar os conteúdos do seu mundo interno, possibilitando, assim, a elaboração dos sentimentos, reconhecimento e controle das próprias emoções. Em consonância com Paula (2017, p. 7), nota-se que:

[...] o brincar é um facilitador da expressão da realidade psíquica da criança, pois é pelo jogo que a criança demonstra suas fantasias inconscientes e, ao fazer isso, integra seus conflitos, facilitando a elaboração das situações traumáticas.

Pensar numa clínica infantil e suas técnicas pelo viés psicanalítico exige-se uma compreensão dos elementos que norteiam sua construção. Embora exista um significativo número de estudo sobre “o brincar” como a técnica mais eficaz, é importante averiguar alguns pontos importantes sobre a origem e o desenvolvimento da psicoterapia com crianças para observar como se processaram e se adaptaram às técnicas realizadas ao longo dos anos e quais cooperaram para difusão dessa prática clínica (FREITAS, 2016).

Costa (2010, p. 72) destaca que:

Dolto afirma que uma das diferenças entre a psicanálise de adultos e a de crianças muito pequenas reside no fato de que essas crianças ainda não atingiram o Édipo, nem sequer atravessaram os componentes pulsionais orais e anais que o precederam. O trabalho consiste, nesse caso, em compreender como está a relação mãe-filho e pai-filho, e o que ocorre com a desenvoltura motora, a linguagem verbal, a identidade sexuada da criança, sua autonomia e seu desejo.

Numa visão freudiana, a criança é, desde o nascimento, o corpo-organismo que precisará passar por algumas etapas de desenvolvimento e de maturação. Apesar da importante contribuição teórica de Freud a respeito do atendimento infantil, ele não se dedicou na construção de técnicas para essa demanda.

Paula (2017, p.16) relata que:

O caso do pequeno Hans se tornou célebre na teoria freudiana ao inaugurar o tratamento de uma criança em psicanálise. Mas a intenção maior de Freud com esse caso não era elaborar uma técnica de atendimento infantil. Seu objetivo era confirmar na infância a causa das neuroses e fundamentar sua tese acerca da sexualidade infantil

Em linhas gerais, é de competência da psicanálise infantil promover à criança um lugar de sujeito, entendo-a como um ser apto para construir sua própria demanda clínica, seja na escuta da palavra pronunciada e do brincar em forma de fantasia. Assim, sobre a sistematização do trabalho clínico com crianças, destacam-se aqui as contribuições de Ana Freud, Melanie Klein, Donald Winnicott e Françoise Dolto; teóricos escolhidos por se tratar dos primeiros estudiosos e psicanalistas infantil.

3.2 Principais Teóricos

3.2.1 Anna Freud e a Psicologia do Ego

A filha mais nova de Sigmund Freud, Anna Freud, começou sua carreira profissional como professora do ensino primário, mais tarde interessou-se pela psicanálise com foco na clínica infantil e foi nesse campo da psicanálise com crianças que Anna Freud tornou-se reconhecida pelos seus trabalhos. Em 1927 publicou sua obra principal, “O tratamento psicanalítico das crianças” e, a partir de então, foi considerada a fundadora do campo da psicanálise infantil, que analisou o ego e os mecanismos de defesa.

Em sua obra intitulada “O Ego e os Mecanismos de Defesa”, Anna Freud mostra, em detalhes, a maneira como o ego procurava se proteger das forças internas e externas. A partir dessas forças, de acordo com Anna Freud (1986), o ego faz os seguintes movimentos de defesa: Anulação – por meio de uma ação, procura-se eliminar uma experiência desagradável; Formação reativa – desejo fixo e consciente, que se opõe aos impulsos do inconsciente; Deslocamento – redirecionamento de um impulso para um alvo substituto; Introjeção – está relacionada com a identificação com outra pessoa; Negação – recusa consciente, a fim de se perceberem fatos perturbadores; Projeção – quando sentimentos próprios indesejáveis são atribuídos a outras pessoas; Racionalização – substituição do verdadeiro motivo do comportamento por uma explicação razoável e segura; Regressão – retorno às formas de gratificação de fases anteriores; Repressão – retirada de ideias, de afetos ou desejos perturbadores do consciente, pressionando-os para o inconsciente;

Sublimação – direcionamento de parte da energia investida nos impulsos sexuais à consecução de realizações socialmente aceitáveis.

Toda teoria de Anna Freud baseia-se na ideia de que uma criança não deveria ser analisada, pois, passa por uma série de fases de desenvolvimento. Segundo ela:

Na técnica analítica através do brinquedo, proposta pela escola inglesa para a análise de crianças de tenra idade, a ausência de livre associação é compensada da maneira mais direta. Esses analistas sustentam que os jogos e os brinquedos de uma criança equivalem às associações dos adultos e, portanto, usam essas atividades lúdicas para fins de interpretação, exatamente da mesma maneira. O livre fluir de associações corresponde, na criança, ao desenvolvimento do seu jogo ou brinquedo, livre de perturbações (FREUD, 1946/1986, p.33).

É preciso explorar o contexto e as relações que marcam os problemas infantis, “a criança não tem consciência de sua doença, nem acha que tem um “problema” para resolver. Normalmente são seus pais que estão preocupados ou angustiados diante de suas dificuldades” (COSTA, 2010, p.24). Anna constatou então, que havia distinção entre os sintomas notados em crianças e em adultos, a partir daí ela desenvolveu sua teoria e técnicas baseando-se em estágios de desenvolvimento e na importância do ego na personalidade do indivíduo.

Como destacam Fontoni e Fulgêncio, (2020, p.2), Anna Freud considerava o ambiente importante “[...] no processo de desenvolvimento, já que, para ela, esses avanços são sempre o resultado da interação entre impulso e ego/superego com a reação às influências ambientais”. Observa-se, assim, que a atenção da psicanalista estava no cuidado de que na clínica com crianças o analista não coagisse as mesmas a circunstâncias para as quais o nível de desenvolvimento emocional não era adequado.

Em seu livro “O tratamento psicanalítico das crianças” (1971), Anna Freud expõe os princípios da análise infantil, recomendando aos analistas de crianças que desempenhassem um papel ativamente pedagógico, apostando na liberação de impulsos recalcados na criança. Seu trabalho teórico abrangeu a análise das funções que o ego desempenha, no sentido de tornar tolerável a intensidade da ansiedade despertada por pensamentos e sentimentos pessoais frente às demandas pulsionais (HEUSER, 2016, p.28).

Ainda que Anna Freud tivesse seguido os caminhos de seu pai, no que se refere à Psicanálise, é notório seu destaque na formulação de uma psicanálise voltada para o público infantil. Ela formulou uma sequência de fases do desenvolvimento infantil

desde a tenra idade até o momento que o indivíduo tenha habilidades suficientes para viver em sociedade. Verifica-se, também, que além das fases, há fenômenos que marcam a passagem de uma fase para outra.

Diante disso, Calzavara (2013, p.49) considera que:

[...] Anna Freud parece privilegiar mais intensamente os aspectos externos relacionados à observação de crianças. A perspectiva da criança em desenvolvimento é um fator que privilegia esse interesse externo. Ao mesmo tempo, a associação entre o superficial e a profundidade do comportamento, aliada também aos fundamentos pedagógicos, parece-nos se encaminhar para uma prática preocupada com as respostas do comportamento em detrimento das questões estruturais concernentes ao inconsciente.

Anna Freud pensava numa clínica infantil voltada para a educação e a disciplina, com o apoio dos pais. Ela buscava entender:

[...] até que ponto a tarefa educativa deve induzir as crianças, mesmo as de mais tenra idade, a dedicarem todos os seus esforços à assimilação da realidade e até que ponto é admissível encorajá-las a desviarem-se da realidade e construírem um mundo de fantasia (FREUD, 1946/1986, p.66).

Para Anna Freud (1946/1986), o “eu” “se apresenta como medida defensiva frente ao irreconciliável presente no id, participando como defesa contra o sintoma” (CALZAVARA, 2012, p.63).

Compreende-se que, na visão de Anna Freud, o foco da psicanálise não se aplica aos conflitos do inconsciente, mas à observação do ego. Nessa perspectiva, o ego é a parte do aparelho psíquico que se conecta com a realidade externa. Como destaca Calzavara (2013, p.12):

Para ela (1957/1984), o ego existe desde o início da vida pós-natal, embora de forma rudimentar, e desempenha uma série de funções importantes de defesa contra a pulsão de destruição. O ego se apresenta como ator principal nesse cenário em defesa de sua integração, colocando-se a serviço da pulsão de vida e buscando se defender da pulsão de morte.

No que se refere aos mecanismos de defesa elaborados por Anna Freud, os principais são: repressão, negação, racionalização, comportamento reacionário, isolamento, projeção, regressão e sublimação. Para Anna, esses mecanismos tornam possível ao ego suprimir a ansiedade e preparam psicológico do indivíduo para seu o funcionamento original.

Portanto, a tarefa do analista é, antes de tudo, proceder ao reconhecimento dos mecanismos de defesa. Quando cumpri-la, realizará uma boa parte da tarefa de análise do ego. Sua tarefa seguinte é desfazer o que tiver sido feito pela defesa, isto é, descobrir e repor em seu lugar o que foi omitido por meio do recalcamento, corrigir os deslocamentos e devolver ao seu verdadeiro contexto o que tiver sido isolado. Assim que tiver restabelecido as ligações cortadas, dirige a sua atenção, uma vez mais, da análise do ego para a do id (FREUD, 1946/1986, p.15).

A teoria de Anna Freud foi de imensa importância à terapia e à psicologia infantil. Em seus estudos, ela foi além do seu pai (Sigmund Freud) na investigação do desenvolvimento e da patologia infantil, por meio de suas sessões de análise. “O que podemos destacar na prática clínica de Anna Freud, sobretudo, é que a perspectiva centrada no desenvolvimento da criança não permite reconhecer em cada uma delas uma particularidade” (CALZAVARA, 2013, p.9). Em sua prática, é importante destacar também que “[...] na análise com crianças, o que é levado em conta é o material recolhido no âmbito da família e não no da sessão. Daí a importância do trabalho constante com os pais e dessa troca contínua de informações” (COSTA, 2010, p. 27).

Anna Freud deixou um importante legado no que diz respeito ao tratamento clínico com crianças, sua atenção voltada ao desenvolvimento e a educação é de grande relevância tanto para a aérea da educação como para ao atendimento psicológico infantil. Além disso, sua obra, contribuiu para uma aproximação entre a psicanálise e a psicologia experimental acadêmica. Ao introduzir um método bem detalhado de investigação do desenvolvimento humano.

3.2.2 Melanie Klein e a Prevalência da Fantasia e dos Objetos Internos

A psicanalista austríaca Melanie Klein atuou na Inglaterra no início dos anos 30. Considerava-se uma freudiana, estudou e desenvolveu muito dos conceitos de Freud em sua clínica psicanalítica infantil e, por conseguinte, conquistou uma posição de destaque ao fundar uma das mais importantes escolas psicanalíticas inglesas: a escola kleiniana. Seu interesse pela psicanálise se deu a partir da leitura de um texto de Freud, “Sobre os sonhos”, logo ela passou a frequentar as reuniões da Sociedade Psicanalítica de Budapeste e, em 1919, expôs seu primeiro caso clínico, referente à análise de seu filho Erich, a quem ela, na ocasião, chamou de Fritz. Sua teoria

psicanalítica fundamenta-se na infância mais remota, nas fantasias que a criança tem desde seu nascimento, quando entra em contato com mundo externo.

Das descobertas da psicanálise resultou a criação de uma nova Psicologia Infantil. Por meio delas aprendemos que, já nos primeiros anos de vida, as crianças experimentam não apenas impulsos sexuais e angústia com também sofrem grandes desilusões. Juntamente com o mito da assexualidade da criança sucumbiu o mito do "paraíso da infância". Essas conclusões, a que chegamos através da análise dos adultos e da observação direta das crianças, foram depois confirmadas e ampliadas pela análise de crianças de tenra idade (KLEIN, 1960, p.26).

De acordo com Klein (1882-1960), uma criança muito pequena não deveria se submeter a uma análise, pois seu entendimento do mundo real é insuficiente, e elas não têm a capacidade de entender que estão doentes ou têm algum problema e, o que é mais importante, não são capazes de, ao brincarem, fornecerem associações verbais para um possível tratamento analítico. Klein, em seus estudos sobre as neuroses infantis, deixou uma obra complexa sobre a psique do bebê, seus conteúdos relacionados à psicanálise são tão profundos que é possível ser comparada às obras freudianas. Melanie Klein descobriu que a criança, ao contrário de não se relacionar emocionalmente com um objeto no início da vida, relaciona-se muito fortemente, embora, no começo, de forma não integrada (COSTA, 2010, p.30).

Klein também é considerada uma percussora em empregar o brinquedo como instrumento terapêutico na análise com crianças, para ela, o ato de brincar da criança numa sessão é equivalente à associação livre do adulto. “A criança expressa suas fantasias, desejos e experiências de uma forma simbólica, através do jogo e brinquedos. Ao fazê-lo, utiliza os mesmos modos arcaicos e filogenéticos de expressão, a mesma linguagem com que já nos familiarizamos nos sonhos” (KLEIN, 1882-1960, p.30).

De modo geral, nota-se que a psicanálise criada por Melanie Klein tem como objetivo principal definir e compreender os estados afetivos que se estabelecem entre o mundo interno e externo. Assim, ao analisar crianças, ela desenvolveu um profundo conhecimento sobre funcionamento emocional do self infantil, esse conhecimento contribuiu para entender a personalidade do indivíduo quando adulto.

3.2.3 Donald Winnicott e o Espaço Transicional

O pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott, produziu uma vasta obra aludindo a respeito da teoria do amadurecimento pessoal, com elementos

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