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2.2 O ESTRATEGISTA

2.2.1 A estratégia e o pensamento na mente humana

No campo da gestão, e em outras disciplinas, têm se destacado que muito do que os profissionais fazem é resultado dos modelos mentais que criam. Senge (1998) afirma que todo processo de aprendizagem está condicionado ou determinado pelos modelos de pensamento utilizados pelos seres humanos.

Na prática da neurolinguística é possível de certa forma “programar” o cérebro para construir imagens e pensamentos que são mais convenientes e permitem obter mais facilmente os resultados pretendidos. A espécie humana é a única que tem consciência de si mesma e do que seus modelos de pensamento representam (AMOROSO, 2002).

Bono (1987) apud Amoroso (2002) divide a vida em três fases, onde os seres humanos agem distintamente, em relação aos seus pensamentos:

Quadro 10 - As três fases da vida

Dos 0 a 5 anos de vida

Fase em que se quer descobrir tudo sobre o

funcionamento da vida e aprende-se a perguntar “por quê?”. Impõe mais do que obter respostas precisas, com ele se desenvolve a habilidade de fazer as perguntas certas para então poder escolher as informações com as quais são necessárias trabalhar.

Dos 5 aos 10 anos de vida

As crianças aprendem a perguntar “por que não?” Na cultura ocidental, aprendem-se quais as razões pelas quais se pode fazer isso e não aquilo. Aprende-se a censura, o limite e o receio da dúvida, e com isso muitas vezes perde-se a espontaneidade e a criatividade incitadas pelas descobertas. Dos 10 aos 90 anos

As pessoas passam o tempo todo estudando por que, buscando responsabilizar alguém por alguma coisa. Deixam de entender o porquê das coisas.

Fonte: Adaptado de Bono (1987 apud Amoroso, 2002).

Ainda, vale destacar que para tomar forma na mente, o pensamento se desenvolve em basicamente dois estágios:

Quadro 11 - Estágios do desenvolvimento do pensamento (continua)

1º estágio: da percepção do sentido, do humor

Antes de processar na mente um conjunto de informações que revela uma situação qualquer, ocorre uma percepção instantânea, semelhante ao que na psicologia é chamado de insight. Por exemplo, quando há alguma situação engraçada: antes de processar o que está acontecendo ou sendo dito, as pessoas acham graça.

Quadro 11 - Estágios do desenvolvimento do pensamento (conclusão)

2º estágio: processamento da informação

No mundo dos negócios, quando se lida com informações sobre a concorrência, acontece algo semelhante. Os

profissionais reúnem uma infinidade de dados e fatos sobre o que o concorrente faz, fez ou vai vir a fazer, mas o que de fato vale é a percepção destes fatos e dados e o que vai fazer com isso. Toda vez que é prestada real atenção nos movimentos da concorrência, antes mesmo de se serem digeridas as informações, ocorre a percepção do significado dos fatos correlacionados. Fonte: Adaptado de Amoroso (2002).

No pensamento do primeiro estágio, o da percepção, Amoroso (2002) destaca que pode ser necessário passar por uma ideia errada para chegar á solução; mais ou menos como acontece com a criança quando está em processo de descoberta. Assim, esse pensamento requer imagens, e pode gerar ideias vagas e até mesmo obscuras.

A estratégia como a manifestação do pensamento deve ser entendida neste primeiro estágio, pois antes de tudo ela é uma percepção que está inserida em contexto geralmente incompleto na mente, envolvendo, portanto, raciocínio e intuição (PARIKH et al., 1997 apud AMOROSO, 2002).

O contexto de incertezas e turbulências, cheio de surpresas, em que vivem as organizações, implica considerar que os eventos estratégicos ocorrem de forma surpreendente para os executivos, de forma não preditiva. Nessas situações, a experiência anterior em situações até semelhantes não serve como resposta. O dramático é que as situações de turbulência e incerteza exigem respostas rápidas, quase imediatas, e um erro de avaliação e direcionamento pode implicar grandes perdas financeiras e desperdício de grandes oportunidades de negócio. Desse modo, lidar com contextos significa despertar a consciência e a atenção para fatos, dados e percepções que tenham um significado particular para cada empresa (AMOROSO, 2002).

Assim sendo, Amoroso (2002) destaca que a estratégia ocorre na mente dos executivos antes destes desenvolverem todo o processo analítico e sistemático do planejamento, o chamado planejamento estratégico. A estratégia tem mais a ver com a dinâmica do dia a dia da

empresa e com a renovação dos ciclos dos processos do negócio do que com um calendário linear e estático que se possa estabelecer em qualquer tipo de planejamento; em um processo no qual as informações nem sempre são precisas, às vezes são abundantes e em outras vezes indisponíveis.

Denota-se que, como coloca Amoroso (2002) e Mintzberg (2004) a estratégia envolve percepção, insight, intuição, criatividade, síntese e a capacidade de interconexão de processos complexos de observação que ocorrem na mente, formando obviamente uma rede intrincada de pensamentos. Portanto, segundo Amoroso (2002) ela deve ser idealizada por imagens e fragmentos do pensamento.

Mintzberg (2004) ainda destaca que a criação de estratégias eficazes liga a ação ao pensamento, que, por sua vez, liga a implementação à formulação. É certo que primeiramente se pensa para depois agir, mas também se age para pensar. Os profissionais tentam coisas, e aquelas que funcionam convergem gradualmente para padrões que se transformam em estratégias.

Weick (1983 apud Mintzberg, 2004) critica o fato dos teóricos fornecerem formatos analíticos como etapas, que exigem que os gerentes se afastem do que estão fazendo para pensar mais, assim como fazem os cientistas, uma vez que o pensamento científico é praticamente um modelo insatisfatório de pensamento gerencial. Pois o problema é basicamente o fato de tratarem o pensar como um verbo de ação, quando na verdade ele é um verbo adverbial que exige que alguma outra atividade deva estar em andamento, se quiser que o pensamento ocorra, ou seja, o pensamento é uma qualificação de uma atividade, não uma atividade propriamente dita.

Vale destacar aqui ainda, um dos ramos da neurociência, conhecido como plasticidade cerebral. No seu entendimento mais recente, o cérebro se modifica constantemente no que tange a sua estrutura, a qual determina como as pessoas pensam, uma vez que “o pensamento é a atividade natural do cérebro” (AMOROSO, 2002, p. 45).

Amoroso (2002, p. 46) assim expõe a função do cérebro e a formação do pensamento:

O cérebro, na verdade, é o ambiente físico onde se produzem e se processam os pensamentos. Um dos seus componentes importantes é o córtex frontal: a parte mais evoluída do cérebro que observa, supervisiona, guia, direciona e concatena

nosso comportamento. Ele desenvolve as habilidades de gerenciamento, julgamento, controle de impulsos, planejamento, organização e pensamento crítico, gerando atenção e foco. Podemos compará-lo com uma rede de produção física de pensamentos. Pensamentos são formados por impulsos elétricos, energia que se transmite por meio dos chamados neurotransmissores. Estes, como elementos físicos, são responsáveis pela combinação de impulsos elétricos que processam o pensamento e distribuem a informação pelo corpo. Esse emaranhado de interconexões de impulsos elétricos que se processam no cérebro é chamado de sinapse. Hoje sabemos que a capacidade de pensar não está associada a quantidade de neurônios de que dispomos, mas de nossa capacidade de realizar um número cada vez maior de sinapses.

Para Amoroso (2002), uma forma de ampliar a capacidade de criar estratégias é treinar o cérebro para fazer um número de sinapses cada vez maior, processo chamado de plasticidade cerebral. A apreciação da música, por exemplo, e sua utilização durante os momentos de reflexão estratégica podem contribuir de maneira importante para colocar o cérebro em estado vibracional propício para pensar estrategicamente, assim como atividades de concentração, relaxamento e meditação podem levar o cérebro a um estado de conforto muito propício para lidar com estratégias.

Embora práticas como estas sejam difíceis de serem aceitas, principalmente no mundo ocidental, muitas vezes vistas como esotéricas, místicas e descabidas do mundo dos negócios, elas são utilizadas há mais de 5000 anos por povos de cultura oriental. O fato é que o cérebro é uma fonte de energia e esta última pode ser estimulada utilizando recursos de natureza simples e pouco convencional, como ficar em silêncio, aquietar, ouvir uma música apropriada ao momento, enfim, criar condições físicas e ambientais propícias ao pensamento de natureza complexa e abstrata característica do pensamento estratégico (AMOROSO, 2002).

Neste sentido, Lavarda (2009) expõe que estudos recentes sobre o cérebro humano têm contribuído para uma melhor compreensão do tipo de atributos mentais que predispõem uma pessoa a pensar estratégicamente. Umas das contribuições destacadas pela autora indica

que o hemisfério direito do cérebro, o qual possui qualidades intuitivas, criativas e holísticas, pode ser chamado de o lado estratégico do cérebro, e que são esses os recursos que devem ser desenvolvidos dentro das organizações, pois uma vez que as pessoas são incentivadas a desenvolverem o pensamento criativo, trarão soluções holísticas e diferenciadas para as organizações.

Contudo, percebe-se que, como coloca Amoroso (2002), o pensamento estratégico é um pensamento de natureza especial que difere - por suas características e atributos - de várias outras formas de pensamento que ocorrem na mente. Estudos cognitivos buscam explicar o desenvolvimento deste pensamento e suas características nos gestores.