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A Estratégia Norueguesa para o Controle da Riqueza do Petróleo

No documento Exploração de petróleo na Noruega (páginas 44-46)

3. A Indústria de Petróleo na Noruega

3.1 Histórico

3.1.1 A Estratégia Norueguesa para o Controle da Riqueza do Petróleo

No início da exploração e produção de petróleo (época da primeira rodada de concessões das áreas de petróleo a serem exploradas no Mar do Norte), a Noruega contava com um pequeno grupo de servidores públicos responsável pela administração dessa indústria promissora. Como naquele período o país necessitou firmar parcerias com diversas companhias estrangeiras (devido à falta de tecnologia interna para a exploração da riqueza natural), esses servidores acabaram desenvolvendo um forte vínculo com as empresas estrangeiras. Essa situação representava um desafio para o país, que precisava de uma forte liderança política e administrativa para garantir que as possibilidades positivas trazidas pelas descobertas de petróleo fossem aproveitadas – em primeiro lugar – para o desenvolvimento do país. (JANICKE, 1984).

Em 1971, o Ministério da Indústria foi assumido pelo pesquisador militar e político Finn Lied, nome que contribuiu significativamente para o desenvolvimento de instituições de pesquisa em áreas que eram consideradas de maior relevância estratégica para o futuro da Noruega. Com a descoberta do petróleo, Finn Lied e outros técnicos se dedicaram tanto a desafios tecnológicos que não houve espaço para trabalharem em setores novos e inexplorados, dando prioridade ao setor petrolífero, uma vez que a Noruega já era quase autossuficiente em eletricidade por meio da energia hidrelétrica. (HELLE, 1984).

Ainda em 1971, o foco era garantir que uma empresa estatal fosse a companhia dominante de petróleo na Noruega. O Ministério da Indústria, decide criar condições para que a companhia Norsk Hydro se tornasse a empresa estatal de petróleo, porém, a empresa já estava estabelecida com fortes interesses independentes, o que seria mais um desafio: alterar a dinâmica industrial e outros aspectos cultuais da companhia. (RYGGVIK, 2014).

Finalmente, em 1972, Finn Lied inicia a preparação da criação da Statoil com a aprovação do parlamento. A Statoil, segundo a visão dos governantes da época, tinha de se tornar propriedade do Estado pela particular importância econômica e politica da indústria do petróleo e seu caráter gerador de renda. A empresa seguia dois principais objetivos: 1) Garantir que a maior parte possível da renda do petróleo ficasse nas mãos do Estado e não com as empresas estrangeiras. 2) Apoiar a criação de uma indústria nacional privada forte, com uma cadeia de fornecedores atendendo as operações na plataforma continental norueguesa. (RYGGVIK, 2014).

Esses dois objetivos foram seguidos com prioridade até a saída do CEO Arve Johnsen em 1988. A partir disso, outros objetivos passaram a serem levados em conta, tais como: 1) Controlar o ritmo de exploração. 2) Assegurar que os padrões trabalhistas noruegueses seriam aceitos na indústria. 3) Garantir que a extração ocorresse de maneira ambientalmente sustentável.

Dessa maneira, a politica do petróleo na Noruega passaria a ser desenvolvida com bases sólidas e a Statoil deveria se adaptar as expectativas politicas gerais. (ENGEN, 2009).

Outra história do sucesso inicial da Noruega está relacionada à indústria especializada na construção de grandes projetos de barragens. No fim da década de 1950 e ao longo da década de 1960, diversos projetos de enormes barragens foram desenvolvidos no país, gerando um aumento na produção de eletricidade. O aumento foi tão significativo, que de 1960 a 1972, a produção saltou de 30 TWh para 67 TWh, tornando o país autossuficiente. (ENGEN, 2009).

O acesso a uma eletricidade barata foi, em si, uma condição importante para o uso industrial do petróleo na Noruega. A construção de uma rede doméstica de distribuição de gás para consumo nunca teve relevância. A utilização do petróleo como fonte para produção de eletricidade a partir de usinas termoelétricas, tampouco. As barragens, no entanto, eram muitas vezes construídas por grandes empresas privadas, que adquiriram reconhecida competência em grandes construções de concreto. Este era o cenário que caminhava para encontrar um lugar na nova promissora indústria de petróleo. O uso do concreto como um dos principais materiais de construção offshore começou quando a Philips decidiu que precisava de um grande tanque de armazenamento para sua produção inicial no campo Ekofisk. O aço era uma alternativa, mas a ideia de usar concreto foi aventada por alguns engenheiros na Noruega no início do processo. Quando a Philips, depois de considerar várias soluções técnicas, acabou usando concreto em vez de aço, a necessidade de satisfazer o interesse da Noruega por conteúdo local foi levada em conta. (RYGGVIK, 2014, p.40).

O mesmo autor observa que, não houve mobilização política com o objetivo de forçar a Philips a usar o concreto em vez de aço. A companhia que faria o trabalho de engenharia para o tanque a ser construído convenceu a Philips de que o concreto seria uma boa solução. A questão é que a ideia passou a ser, em paralelo, uma ótima maneira de satisfazer os interesses noruegueses.

O contrato foi direcionado para a maior empresa de construção civil norueguesa, a Selmer. O tanque foi construído próximo à Stavanger, que viria a se tornar a capital do petróleo na Noruega, já que abrigava a sede da Statoil. A produção do tanque foi tão pesada que a Selmer precisou dos serviços da segunda maior empresa de construção civil, a Hoyer Ellefsen. (HELLE, 1984).

Aprendendo com sua experiência na construção do tanque, a Hoyer Ellefsen, junto com outra companhia do setor, Aker, passou a trabalhar com uma visão na qual o concreto poderia ser utilizado como base para compor as pernas das plataformas. Em 1973, dias antes de o tanque ser rebocado para o campo Ekofisk, as empresas Hoyer Ellefsen e Aker realizaram um acordo com a Mobil para a construção de uma estrutura de plataforma de concreto para o campo Beryl, localizado na plataforma continental britânica, com 118 metros de profundidade. Ou seja, as duas companhias norueguesas juntas começaram a exportar tecnologia antes mesmo de ter seu primeiro contrato na plataforma continental norueguesa. O sucesso continuava a aumentar mais no setor norueguês com uma grande construção após a outra. (RYGGVIK, 2014).

No documento Exploração de petróleo na Noruega (páginas 44-46)

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