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Primeiros Anos da Statoil

No documento Exploração de petróleo na Noruega (páginas 48-52)

3. A Indústria de Petróleo na Noruega

3.2 Primeiros Anos da Statoil

Todos os grandes projetos de desenvolvimento do campo da Statoil na década de 1970, eram operados por companhias petrolíferas estrangeiras. O avanço real da Statoil somente aconteceu no final da década de 1980. Por meio da aquisição de posições acionárias estratégicas no seu primeiro ano, a companhia conseguiu influenciar não só a política para o petróleo, mas também fomentou o desenvolvimento de uma indústria norueguesa fornecedora de bens e serviços. (RYGGVIK, 2014).

Segundo o mesmo autor, a primeira batalha foi garantir o controle nacional de dutos estratégicos:

O decreto governamental e o contrato que criou a base jurídica para o desenvolvimento da Philips no campo Ekofisk não estabeleciam de maneira explícita o local em que os dutos deveriam ser instalados e quem teria sua posse e controle. A Philips insistiu para que o grupo que detivesse o campo também operasse os dutos. A importância estratégica da rede de dutos de Ekofisk foi especialmente grande em face de sua localização geográfica, no

canto sudoeste da plataforma continental. O governo assumiu, com razão, que os dutos da Ekofisk se tornariam mais significativos como uma rede de dutos para possíveis campos de petróleo mais ao norte. (RYGGVIK, 2014 p. 35).

Caso a Philips possuísse o controle total da rede de dutos para o continente, a companhia poderia fazer uso da sua posição na tentativa de garantir uma parte da renda econômica de outros campos de petróleo apenas em razão de sua posse. O governo norueguês procurou uma saída em que as companhias poderiam deter e operar dutos inteiros, porém, com o Estado tendo a opção de entrar com uma participação de 10% depois de um período de 2 anos. Assim, foi criada uma empresa com o objetivo de se dedicar à essa questão, e, que, na prática, pertencesse à Statoil e fosse por ela controlada, com 50% de ações, o que posteriormente permitiria à Statoil assumir as operações da empresa no futuro. (HELLE, 1984).

A nova exigência do governo norueguês causou surpresa aos norte- americanos que controlavam a Philips. A companhia não pôde comprovar acordos formais que permitiriam a davam a empresa o direito de controle e posse da rede de dutos. Sendo assim, o resultado não poderia ser outro se não ceder, pois a Philips não tinha recursos para negociar.

Nesse momento, a Noruega experimentou pela primeira vez os ganhos que uma empresa pode conseguir ao utilizar-se de poder e influencia para estabelecer posições razoáveis e inabaláveis. (REVE, 1992).

O melhor exemplo de como a criação da Statoil e outras medidas melhoraram o poder de negociação da Noruega diante das companhias petrolíferas estrangeiras ficou demonstrado em 1974, quando o governo, por meio do Ministério das Finanças, quis aumentar o imposto sobre as companhias petrolíferas. Mesmo que as reduções de impostos antes das primeiras alocações de concessão, na década de 1960, fossem vistas como parte de um pacote, não havia qualquer regra formal impedindo o Estado de proceder com posteriores mudanças nas alíquotas. (RYGGVIK, 2014, p.36).

Esse fato não demorou a se mostrar com um problema, já que o tamanho do campo de Ekofisk ficou conhecido. A Philips e as outras companhias estrangeiras demonstravam estar em posição de gerar grandes lucros.

A nova proposta feita pela Noruega trabalhava com um royalty variável entre 8% e 16%, um imposto padrão correspondente sobre negócios em terra (50,8%), e um imposto especial de 26%. Ao mesmo tempo, as autoridades tinham o poder de

definir um preço padrão para fins de cálculo dos tributos. Com isso, as companhias teriam possibilidades consideráveis para dedução fiscal dos custos. Contudo, no geral, isso representou um aumento significativo dos impostos, já que a Noruega desejava garantir uma participação de 80%, o que gerou enorme protesto por parte das empresas estrangeiras. (JANICKE, 1984).

No fim, tanto as empresas petrolíferas estrangeiras quanto a Philips aceitaram as novas exigências do governo da Noruega. Acredita-se que o governo não teria exigido retornos tão altos se não dispusesse de uma companhia (Statoil) tecnologicamente qualificada para assumir as operações petrolíferas se as empresas estrangeiras abandonassem os negócios. (HELLE, 1984).

3.2.1 Campo Ekofisk e a Participação do Capital Estrangeiro

Segundo dados da Statoil, o campo Ekofisk foi descoberto em 1969 e teve sua exploração e produção de petróleo iniciada em 1971 no Mar do Norte, sendo esse o campo mais antigo da Noruega. A previsão de operações no campo é prevista para pelo menos até o ano de 2050 por meio de um complexo de 29 plataformas espalhadas pela região. Atualmente, a produção no campo Ekofisk é estimada em 130 mil barris de petróleo por dia.

De modo geral, o envolvimento local no desenvolvimento do campo Ekofisk foi relativamente baixo, o que trouxe mais atenção e destaque para o campo foi a construção do grande tanque de concreto para armazenamento de petróleo. Imagina-se que o baixo desenvolvimento do campo foi ocasionado pelo fato de que a Philips (operadora do campo) preferiu trabalhar com soluções de menor custo. Originalmente, a Philips detinha 37% do campo de Ekofisk, e o restante foi dividido entre Fina, Agip, Elf, Norsk Hydro e Total. Uma vez que a companhia estava em posição minoritária, a Philips sempre precisava de apoio de pelo menos uma das outras companhias para poder realizar algum tipo de investimento. (JANICKE, 1984).

Em tese, todas as companhias do grupo licenciado deveriam buscar tornar a construção a melhor e mais barata possível. Porém, devido ao sistema fiscal, a maior parte do custo de construção era paga pelo Estado.

O campo Ekofisk gerava uma expectativa muito alta em relação à sua receita. Com a responsabilidade de financiar grande parte do investimento para a Philips, existia um objetivo que anulava os outros: colocar a produção em curso. Portanto, a mais importante maneira de medir o desempenho de um fornecedor era, sua capacidade de realizar o trabalho dentro do prazo. (REVE, 1992).

Isso não significa que uma política de desenvolvimento de fornecedores noruegueses estivesse ausente dos cálculos da Philips. Embora não houvesse, naquele momento, qualquer pressão mais forte do Ministério da Indústria, a empresa sabia que, no futuro, fornecedores noruegueses poderiam se tornar um ativo. A “noruegabilidade” do tanque de Ekofisk seria usada para o que valesse a pena posteriormente. Havia alguns outros contratos menores para as empresas norueguesas. A operadora norte- americana Philips possuía algumas bases em Stavanger. (RYGGVIK, 2014, p. 43).

Com profundidade de aproximadamente 60 metros, as diversas plataformas no local foram construídas com aço, material vindo de fora da Noruega. Inclusive, o próprio planejamento da Philips na fase de construção foi realizado pela sede da empresa nos EUA e por um escritório em Londres. Na fase da construção avançada das plataformas do campo, a Philips novamente preferiu contar com os serviços de uma empresa norte-americana. Em todo caso, todos os grupos que se envolveram no desenvolvimento do campo Ekofisk reconhecem que o conteúdo local norueguês foi baixo. Situação que estimulou um maior cuidado por parte do governo para não permitir que o fato se repetisse e que outros campos acabassem sendo explorados em sua maior parte por empresas estrangeiras. (HELLE, 1984).

3.2.2 A “Norueganização” da Riqueza do Petróleo

Às vésperas de realizar a quarta rodada de concessões (1978), o governo norueguês manifestou o desejo de promover uma “norueganização” de atividades. Em outras palavras, queria utilizar o próprio regime de contratos de concessão para procurar garantir uma maior participação de operadoras norueguesas na exploração de petróleo. (NERHEIM, 1996).

Segundo o mesmo autor, o governo norueguês procurou deixar claro para as companhias estrangeiras a mensagem de que se as mesmas colaborassem com esse processo, seriam beneficiadas. Por exemplo, o campo de petróleo mais

promissor na época da quarta rodada de concessões (Oseberg), obteve participações minoritárias por parte das empresas Elf e Mobil, onde mais tarde ambas obtiveram rendimentos de centenas de milhões de dólares.

Com os preços do petróleo até certo ponto altos e as boas perspectivas de novas descobertas, as companhias petrolíferas estrangeiras se mantiveram dispostas a se desdobrar para ter acesso à plataforma continental norueguesa, apesar do fato de as empresas locais terem prioridades nas alocações. Até partes menores das licenças em um dos grandes campos poderiam gerar uma receita significativa. Tanto as autoridades como as empresas norueguesas viam uma série de vantagens para alguma presença estrangeira. Era natural que uma empresa com participação acionária se interessasse em garantir a maior e mais eficaz produção e, portanto, em compartilhar tecnologia. (RYGGVIK, 2014, p. 79).

Para melhor entender o funcionamento do regime de contratos de concessão na Noruega, o tópico a seguir irá abordar o modelo norueguês apresentando as ferramentas e estratégias utilizadas pelo Estado.

No documento Exploração de petróleo na Noruega (páginas 48-52)

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