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A estrutura do mercado de trabalho do Nordeste metropolitano

2 O NORDESTE METROPOLITANO

2.2 AS ESPECIFICIDADES DO NORDESTE METROPOLITANO

2.2.2 A estrutura do mercado de trabalho do Nordeste metropolitano

A primazia das principais metrópoles nordestinas na malha urbana se reflete na concentração de mais de 60% do PIB das respectivas UFs, segundo os dados das Contas Nacionais do IBGE. Conseqüentemente, a participação da PEA metropolitana também é maior, cerca de 40% nas RMs de Fortaleza e de Recife e de 30% na RM de Salvador. A participação menor da RM de Salvador na PEA baiana é explicada, em parte, pelo fato de possuir um número maior de cidades de porte intermediário no Interior dessa UF. O mesmo pode ser observado no que se refere à População Desocupada (PD), cujo percentual aumentou expressivamente nas metrópoles se

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Em 2000, havia 40 municípios com 100-250 mil habitantes, 14 com 250-500 mil habitantes e 7 entre 500 mil-2 milhões de habitantes na rede urbana paulista (SIQUEIRA, 2009).

comparado ao Interior das respectivas UFs. Entre 1980 e 2000, o percentual da PD aumenta de 47% para 55% na RM de Recife, de 34% para 56% na RM de Fortaleza e de 20% para 27% na RM de Salvador.

Em relação às taxas de crescimento da PEA no período 1980-2000, o contraste Metrópole vs Interior pode ser observado nos dados da Tabela 2.13. Tanto na década de 1980 como na de 1990, estas taxas foram maiores nas RMs do que no Interior. A exceção foi a RM de Recife que apresentou percentual de crescimento inferior ao interior nos anos 1990. De modo geral, o crescimento da PEA é marcado por elevadas taxas de crescimento da população desocupada das metrópoles nos dois períodos, enquanto que no interior das UFs há um significativo aumento na década de 1990.

No entanto, a Pesquisa de Emprego e Desemprego da Fundação Seade (PED / Seade / Dieese) mostra a queda das taxas de desemprego nas RMs de Salvador e de Recife desde 2000. 147 A taxa de desemprego total na RM de Salvador caiu de 27% em junho de 2000 para 20% em junho de 2007 e na RM de Recife, de 21,1% para 20,5%, no mesmo período. Apesar desta redução, bastante significativa no caso de Salvador, estas foram as duas maiores taxas de desemprego dentre as metrópoles cobertas pela pesquisa.

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Para a RM de Fortaleza, há informações da PED apenas a partir de abril de 2010. Além das metrópoles de Salvador e de Recife, a pesquisa é feita nas RMs de Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo e Brasília.

TABELA 2.13 – Pernambuco, Bahia e Ceará (RMs e UFs exceto RMs): taxa de crescimento da PEA no período de 1991/80 e de 2000/91

Regiões

Indicador

1991/80 2000/91

Total Rural Urbana Total Rural Urbana

RM de Salvador PEA 4,52 1,69 4,60 4,52 -3,01 4,66 PO 3,75 1,65 3,81 2,52 -6,19 2,68 PD 15,91 2,20 16,41 14,59 14,70 14,59 BA exceto RM PEA 2,47 0,20 5,44 2,98 0,50 5,00 PO 2,16 0,04 5,01 1,80 -0,02 3,40 PD 8,54 4,16 12,53 13,38 7,82 15,79 RM de Recife PEA 2,78 -2,92 3,23 2,52 0,55 3,89 PO 2,06 -3,44 2,49 1,42 -7,95 1,77 PD 13,52 4,74 14,23 12,25 3,44 12,55 PE exceto RM PEA 1,48 -1,13 4,29 3,13 -6,24 3,47 PO 1,19 -1,32 3,96 1,40 0,12 2,35 PD 8,73 5,22 11,10 13,93 7,81 16,15 RM de Fortaleza PEA 4,23 -1,77 4,57 3,73 0,26 3,84 PO 3,89 -1,88 4,22 2,28 -0,62 2,38 PD 12,57 3,64 12,84 16,55 15,67 16,57 CE exceto RM PEA 1,58 -0,63 4,77 2,68 0,84 4,38 PO 1,49 -0,64 4,63 1,85 0,45 3,21 PD 4,40 -0,15 8,33 15,85 11,29 17,78

Fonte: Censo / IBGE e IPEAData. Falvo & Siqueira (2008, p. 110).

A Tabela 2.14 mostra a evolução da participação relativa dos trabalhadores ocupados nos setores de atividade econômica nas RMs do Nordeste. Tendo em vista as suas características de aglomeração urbana “superior”, as atividades agrícolas agregam poucos trabalhadores nas metrópoles, com redução expressiva entre 1982 e 2005.

A Indústria de Transformação perdeu participação em relação aos demais setores de atividade. Este movimento segue uma tendência mais geral das ocupações em áreas metropolitanas, as quais foram impactadas pelo fraco desempenho econômico nacional na década de 1990 e suas repercussões sobre o emprego industrial metropolitano. Tendo em vista o modo pelo qual as metrópoles nordestinas se inserem na divisão regional do trabalho brasileira, principalmente como fornecedora de bens intermediários e de consumo não-duráveis, também é preciso observar de modo mais desagregado o desempenho dos segmentos que compõem a indústria regional. Como pode ser observado nos dados da Tabela 2.14, ao contrário das demais, a participação do setor

industrial nas ocupações da RM de Fortaleza aumenta entre 1995 e 2005, o que pode estar relacionado com a atração de investimentos dos setores de bens não-duráveis (têxtil e calçados) apoiados pelos elevados incentivos/benefícios fiscais e financeiros por parte do governo estadual.

A Construção Civil perdeu participação nas metrópoles de Recife e de Fortaleza. Na RM de Salvador, o mercado imobiliário está aquecido e tem mantido o emprego de um montante crescente de indivíduos, permanecendo a participação relativa no conjunto da população ocupada.

O conjunto das atividades que compõem o setor terciário aumentou sua participação no total das ocupações em cerca de 9 pontos percentuais em todas as RMs nordestinas nas últimas décadas. Em 2005, cerca de 80% da população ocupada trabalhava no terciário nas metrópoles de Salvador e de Recife e de 70% na de Fortaleza. Destaca-se o crescimento da população ocupada nos Serviços às Empresas no último decênio, o que pode ser visto como resultado da terceirização das atividades industriais.148 Porém, os serviços de Comércio e de Reparação, cujo peso relativo foi ampliado principalmente na década de 1980, apresentaram os maiores percentuais de ocupados em todas as metrópoles.

Apesar de serem localidades que atraem grande quantidade de turistas, a atividade de Alimentação e de Alojamento emprega relativamente baixo percentual (embora crescente) de pessoas nas metrópoles, aproximadamente 6% em 2005.

Em 1982, as atividades de Administração Pública e de Educação, Saúde e Sociais tinham pesos relativos semelhantes em todas as RMs, aproximadamente 9% em Salvador, 8% em Recife e 7% em Fortaleza. No entanto, em 2005 o comportamento divergiu: grande queda da participação na Administração Pública (5,2% na RMS, 6,4% na RMR e 4,2% na RMF) e acréscimo nos serviços de Educação, Saúde e Sociais (9,6% na RMS, 11,1% na RMR e 9,5% na RMF).

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O percentual de serviços domésticos ampliou-se na RM de Salvador e reduziu-se nas demais metrópoles. Entretanto, o peso relativo destes trabalhadores, entre 9% e 10%, é superior ao de outros segmentos do terciário, como alojamento e alimentação, transportes, comunicação e outros; e semelhante aos percentuais dos serviços de educação e saúde.

Por fim, a participação dos ocupados no setor Financeiro, que já era ínfima em 1982, regrediu ainda mais em 2005, próxima a 1% em todas as metrópoles. Importante frisar que a quantidade de ocupados nas atividades financeiras foi a única que diminuiu em termos absolutos no período analisado.

TABELA 2.14 – Nordeste metropolitano: População ocupada segundo setor de atividade em 1982, 1995 e 2005 (em %)

Setor*

RM de Salvador RM de Recife RM de Fortaleza 1982 1995 2005 1982 1995 2005 1982 1995 2005

1. Atividades Agrícolas 1,9 3,0 2,2 5,2 4,4 2,8 5,0 3,6 4,6 2. Indústria de Transformação 14,7 10,6 9,5 16,0 12,2 11,3 23,8 18,9 19,3 3. Outras Atividades Industriais 2,8 1,0 0,6 1,6 0,9 0,5 1,6 0,7 0,4

4. Construção Civil 10,4 8,4 9,6 8,5 6,8 6,4 10,0 8,2 6,7 5. Comércio e Reparação 18,2 22,1 21,1 21,6 24,7 23,6 18,1 22,5 22,5 6. Alojamento e Alimentação 4,4 6,5 6,7 2,8 5,3 5,4 3,3 5,5 5,7 7. Transporte, Armaz. e Comunicação 5,9 5,4 6,1 6,0 6,2 5,3 4,3 4,3 4,2 8. Administração Pública 9,4 6,2 5,2 7,4 6,9 6,4 6,9 5,3 4,2 9. Educação, Saúde e Sociais 9,0 10,8 9,6 8,2 8,9 11,1 7,3 9,8 9,5 10. Serviços Domésticos 8,8 10,1 10,5 10,0 9,7 8,9 9,7 10,5 9,2 11. Financeiro 3,2 1,9 1,1 2,7 1,5 1,0 2,3 1,4 1,2 12. Serviços às Empresas 3,6 6,1 8,3 3,5 4,8 7,4 2,3 4,0 5,7 13. Pessoais e Recreativos 5,0 4,9 5,1 4,0 4,3 5,1 3,6 3,3 3,5 14. Outros Serviços 2,8 3,0 4,3 2,4 3,3 4,8 1,8 1,9 3,4 Total Terciário (5 ao 14) 70,3 77,0 78,0 68,6 75,6 79,0 59,6 68,5 69,1 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: PNAD / IBGE. Falvo & Siqueira (2008, p. 112). *Definição dos setores de atividades e compatibilização com as mudanças do IBGE realizados por Falvo (2005a).

A distribuição das ocupações por setor de atividade econômica no Interior das UFs é muito distinta da verificada nas metrópoles do Nordeste. Em 2005, as atividades agrícolas representaram 50% dos ocupados, embora tenha caído gradativamente a participação nas últimas décadas, como observado na Tabela 2.15. Como a maioria da população rural é pobre ou empregada em ocupações informais, há grande incidência

da Previdência Social Rural (PSR) na manutenção da renda familiar. Em 2004, quase metade dos benefícios do PSR (47,2%) foi utilizado para reduzir a miséria de agricultores idosos no Nordeste.149

A Indústria de Transformação, assim como nas RMs, tem pouca capacidade de absorção de trabalhadores. O peso dos ocupados na indústria caiu acentuadamente de 1982 a 1995. Em 2005, este setor representou cerca de 6% dos ocupados no Interior da Bahia, 8% em Pernambuco e 13% no Ceará. A Construção Civil também emprega relativamente poucos trabalhadores no interior das UFs, entre 4% e 5% e o peso ficou praticamente estável no último decênio.

Diferentemente das metrópoles, no Interior das UFs da Bahia, de Pernambuco e do Ceará, o conjunto dos setores do terciário emprega muito menos, respectivamente 38%, 38% e 34% dos postos de trabalho em 2005, embora tenha ganhado importância nas últimas décadas. Dentre as atividades do setor de serviços, destaca-se a de Comércio e Reparação, cuja proporção de ocupados cresceu moderadamente, alcançando percentuais próximos a 12% em 2005 em todas as regiões. Os serviços de Educação, Saúde e Sociais também cresceram, empregando em 2005 cerca de 6,7% na Bahia e 6% em Pernambuco e no Ceará. O aumento da importância dos serviços de comércio e sociais reflete, em boa parte, os recursos públicos injetados nas regiões não metropolitanas do Nordeste, via transferência direta de renda (Programa Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada) e maior incidência das aposentarias e das pensões.

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Fonte: Empresa de tecnologia e Informações da Previdência Social (DATAPREV) (Disponível em www.dataprev.gov.br, acesso em 02/07/07).

TABELA 2.15 – UFs Pernambuco, Bahia e Ceará, exceto RMs: população ocupada segundo setor de atividade em 1982, 1995 e 2005 (em %)

Setor Bahia exceto RM Pernambuco exc. RM Ceará exceto RM

1982 1995 2005 1982 1995 2005 1982 1995 2005

1. Atividades Agrícolas 62,0 56,2 49,6 52,8 49,5 49,2 57,8 57,7 49,0 2. Indústria de

Transformação 6,6 5,6 6,3 12,7 9,3 8,0 16,7 9,0 12,8

3. Outras Ativ. Industriais 1,1 1,1 1,1 0,6 0,4 0,3 0,4 0,3 0,3

4. Construção Civil 5,3 4,7 4,8 5,3 4,2 4,4 5,2 3,5 4,0 5. Comércio e Reparação 9,3 11,0 11,7 12,4 14,6 13,0 6,7 10,0 12,2 6. Alojamento e Alimentação 1,4 2,4 3,0 1,2 2,8 2,1 1,7 1,6 2,2 7. Transporte, Armaz. e Comunicação 2,0 2,0 3,1 2,8 3,0 3,2 1,4 1,4 2,2 8. Administração Pública 2,3 3,2 4,1 2,2 3,4 3,9 1,4 2,9 2,9 9. Educação, Saúde e Sociais 3,8 5,2 6,7 3,9 4,5 6,0 4,2 6,0 5,9 10. Serviços Domésticos 3,0 4,7 5,1 2,9 4,5 5,1 2,1 4,6 5,1 11. Financeiro 0,6 0,4 0,3 0,3 0,4 0,2 0,3 0,3 0,2 12. Serviços às Empresas 0,6 0,5 1,2 0,5 0,5 1,4 0,1 0,4 0,9 13. Pessoais e Recreativos 1,4 1,7 1,9 1,4 1,5 1,7 1,3 1,5 1,5 14.Outros Serviços 0,8 1,3 1,0 0,8 1,4 1,4 0,6 0,6 0,8 Total Terciário (5 ao 14) 25,2 32,4 38,1 28,4 36,6 38,0 19,8 29,3 33,9 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: PNAD / IBGE. Falvo & Siqueira (2009, p. 113). *Definição dos setores de atividades e compatibilização com as mudanças do IBGE realizados por Falvo (2005a).

De acordo com os dados das Relações Anuais de Informações Sociais (RAIS),150 o número total de postos de trabalho formais aumentou expressivamente de 2003 para 2008 nas metrópoles estudadas. Na Tabela B.7 (no anexo B) nota-se que, nesse período, o total de trabalhadores formais detectados pela RAIS aumentou em 27,9% na RM de Salvador, 34,8% na RM de Recife e 35,7% na RM de Fortaleza, seguindo a tendência nacional e da macrorregião do Nordeste de expansão da taxa de formalidade.

A Tabela 2.16 mostra que nas três metrópoles aumentou a participação dos trabalhadores formais nos níveis mais altos de escolaridade, principalmente com 2º grau completo. O número de trabalhadores formais que possuem ensino superior

150

A RAIS disponibiliza informações sobre os registros administrativos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), acerca do volume de vínculos empregatícios formais em 31 de dezembro de cada ano, sobretudo das atividades urbanas.

completo aumentou continuamente no período, conforme a Tabela B.7 (Anexo B), porém perdeu participação relativa para o contingente que conseguiu o diploma do 2º grau. Para entender a mudança no perfil educacional dos trabalhadores formais metropolitanos, tem-se que considerar que o patamar educacional dos trabalhadores nordestinos era muito baixo; que os dados refletem o movimento iniciado na década de 1990 de valorização e de exigência por maior grau de escolaridade dos trabalhadores; e ainda, que o aumento da formalização ocorre em postos de trabalho de melhor qualidade.

TABELA 2.16 – Nordeste metropolitano: grau de escolaridade dos trabalhadores formais em 1989, 2003 e 2008 (em %)

Grau de escolaridade

RM Salvador RM Recife RM Fortaleza

1989 2003 2008 1989 2003 2008 1989 2003 2008 Analfabetos 6,5 0,4 0,3 5,3 2,0 1,1 2,9 0,9 0,6 4º série incompleta 11,0 3,9 2,1 12,9 6,6 3,6 15,4 5,5 3,6 4º série completa 13,3 4,1 2,6 13,3 6,2 3,8 11,6 5,1 2,9 8º série incompleta 10,3 8,3 5,6 12,2 9,2 6,9 10,9 10,4 7,4 8º série completa 12,7 12,4 8,4 11,2 11,7 18,6 15,4 18,3 15,4 2º Grau incompleto 7,9 6,2 6,9 6,8 8,5 6,5 6,1 8,5 7,8 2º Grau completo 25,9 42,0 52,7 27,2 32,9 40,4 24,6 33,3 43,5 Superior incompleto 2,9 2,5 4,4 3,3 4,1 4,3 2,6 4,0 4,5 Superior completo 9,5 20,2 17,1 7,9 18,8 14,8 10,6 14,0 14,4 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: RAIS. Elaboração própria.

A estrutura do mercado de trabalho do Nordeste metropolitano deu sinais de melhora durante a década de 2000, principalmente quanto à redução das taxas de desemprego e à maior criação de postos de trabalho formais e de qualidade. Entretanto, as metrópoles nordestinas continuam as recordistas em taxas de desemprego em relação às demais pesquisadas pela Fundação Seade e a composição da população ocupada indica elevado peso do setor terciário. Em 2005, o setor terciário empregou cerca de 80,0% do total de trabalhadores nas RMs de Salvador e de Recife e 70,0% na RM de Fortaleza, o que mostra o fraco potencial da indústria instalada na criação de postos de trabalho. O setor industrial regional não tem movimento próprio em relação ao “núcleo” econômico nacional para alterar a distribuição do emprego em favor do secundário e elevar o nível de renda.