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2.1 O Ambiente regulatório do International Accounting Standards Board – IASB

2.1.4 A estrutura do normatizador internacional

A estrutura do IASB passou por várias configurações ao longo de sua história, passando de uma configuração que, quando da sua criação, se restringia a um secretário e um assistente, para uma organização com mais de 130 profissionais de várias partes do mundo (IFRS Foundation, 2013a). Atualmente a estrutura do normatizador internacional está estabelecida em três níveis: um nível de supervisão externa, representado pelo conselho de monitoramento; um segundo nível constituído pelos curadores responsáveis pela supervisão do board técnico, pela administração e busca de financiamento para as atividades do órgão, representado pela IFRS Foundation Trustees; e um terceiro nível, responsável pelo trabalho técnico de elaboração das normas e eventuais interpretações, que compreende o IASB e o IFRS Interpretations Committe – IFRIC. Adicionalmente, o nível técnico e os curadores são assessorados por um conselho consultivo, o IFRS Advisory Council. Por meio de sua estrutura, o IASB busca demonstrar a sua legitimidade, garantindo sua independência, ao mesmo tempo em que busca apresentar sua preocupação em ouvir os vários interessados no seu processo de elaboração de normas. A estrutura é apresentada na Figura 2.

Figura 1 - Estrutura da IFRS Foundation

Fonte: IFRS Foundation, 2013a

O Conselho de Monitoramento foi criado em 2009 como uma resposta às preocupações dos países do G2O (G20, 2009) e dos membros da União Europeia em relação à autoridade dada ao IASB, como organismo privado, de levar em consideração o interesse público dos países do continente (Burlaud & Colasse, 2011). O Monitoring Board é um órgão externo à estrutura do IASB e é composto por representantes dos reguladores dos mercados de capital da Europa, dos Estados Unidos, do Japão e por representantes da IOSCO e tem como observador o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia. A função do referido conselho é supervisionar o trabalho dos curadores, os trustees, avaliando o cumprimento de suas funções, aprovando as suas nomeações, além de avaliar a adequação dos acordos celebrados para financiamento do IASB.

Para Botzem (2012), a eficácia do Conselho de Monitoramento é questionável, pois, segundo ele, os limitados poderes de seus membros, a necessidade de unanimidade de suas decisões e os imprecisos períodos de mandato de seus componentes, são condições que dificilmente permitirão ao recém-criado órgão obter algum papel significativo na supervisão do trabalho do normatizador internacional.

No processo de transformação do IASC em IASB, criou-se uma fundação responsável por captar financiamento para as atividades do órgão, de forma a separar as atividades de financiamento das atividades técnicas. Além de cuidar do financiamento e orçamento do IASB,

a IFRS Foundation Trustees32 é responsável pela supervisão e verificação da eficácia dos trabalhos do IASB e IFRIC, pela nomeação dos seus membros, pela indicação dos membros do IFRS Advisory Council, bem como pela criação e alteração dos procedimentos operacionais dos órgãos técnicos do normatizador internacional. Os curadores da IFRS Foundation Trustees não têm nenhuma autoridade ou envolvimento sobre os trabalhos técnicos relacionados a elaboração, interpretação ou alterações de normas contábeis.

A constituição da IFRS Foundation aprovada em janeiro de 2013 (IFRS Foundation, 2013b) prevê que o Conselho de Curadores seja composto por 22 membros, sendo 6 da América do Norte; 6 da Europa; 6 da Ásia/Oceania; 1 da África; 1 da América do Sul e outros 2 membros de qualquer outro país. Atualmente o assento da América do Sul é ocupado pelo Brasil e a Ásia ocupa as outras duas cadeiras cuja designação não foi especificada pela constituição. Assim, a Ásia/Oceania possuem 8 membros no conselho.

A responsabilidade por todos os trabalhos técnicos relacionados às normas contábeis, incluindo a elaboração, alteração e emissão das IFRS, exposure drafts e discussion papers é exercida pelo IASB. Em 2009, os Curadores da IFRS Foundation realizaram uma importante alteração na composição do IASB, aumentando o número de membros de 14 para 16 e especificando quotas geográficas para sua composição. Essa situação que não existia até então foi explicitamente evitada quando da reorganização ocorrida em 2001, quando o novo board havia decidido não considerar nenhum aspecto geográfico como determinante para a escolha dos primeiros membros do seu conselho técnico.

Outro órgão dentro da estrutura do normatizador internacional que desempenha importante atividade técnica é o Comitê de Interpretações, o IFRS Interpretations Committee– IFRIC, responsável por elaborar eventuais interpretações das IFRS e fornecer guias para assuntos contábeis não especificamente tratados pelas IFRS. O trabalho do IFRIC deve ter obrigatoriamente a supervisão de membros do board do IASB e a emissão de qualquer interpretação está sujeita a aprovação de no mínimo dois terços dos membros do IASB. Essa característica reforça a responsabilidade e autoridade técnica exclusiva do board do IASB no processo normativo do órgão. O IFRIC é composto por 14 membros.

32 A Constituição de 2010 alterou o nome da fundação mantenedora do IASB, de Internacional Accounting Standards Committee Foundation – IASCF para o atual IFRS Foundation.

O normatizador internacional conta ainda com um conselho consultivo, o IFRS Advisory Council, formado por diversas organizações com interesses em assuntos contábeis e que se reúnem, no mínimo, 3 vezes ao ano, com a função de assessorar o IASB na elaboração de sua agenda e definição de suas prioridades de trabalho, além de informar ao normatizador sobre a opinião de seus membros sobre os principais projetos normativos do órgão. Em dezembro de 2012 faziam parte do referido conselho 49 entidades de diversos países, entre elas, grupos de normatizadores nacionais; associações internacionais de profissionais contábeis e executivos financeiros; associações de grandes empresas; representantes de reguladores internacionais e nacionais de mercados de capitais; do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, bem como representantes das 6 maiores firmas de auditoria internacionais.

Botzem (2012) pesquisou a composição de 3 dos principais conselhos que compõem a estrutura organizacional do IASB (IFRIC, IFRS Advisory Group e IFRS Foundation Trustees) a partir dos relatórios anuais do regulador do período de 2001 a 2009. Ele descobriu que todas as 750 cadeiras possíveis nos 3 conselhos, durante o período de 9 anos, tiveram origem em apenas 144 organizações diferentes. Botzem (2012) observou ainda que apenas 18 organizações dominaram a composição do regulador durante quase toda a primeira década de existência do órgão e que dessas organizações, as únicas que tiveram representantes presentes em todos os três conselhos e durante todo o período analisado foram as grandes firmas multinacionais de auditoria, as Big 4, Deloitte Touche Tohmatsu; Ernst & Young; KPMG e PricewaterhouseCoopers.

Os resultados obtidos por Botzem (2012) confirmam os achados de pesquisa similar desenvolvida por Perry e Nöelke (2005) cobrindo o período de 2002 a 2004 e que também identificou o domínio da estrutura do IASB pelas grandes firmas de auditoria. Perry e Nöelke (2005) além de analisar a composição dos 3 conselhos utilizados na pesquisa de Botzem investigou ainda os membros do conselho técnico (o board do IASB) e a composição dos grupos de trabalho temporários criados pelo IASB para assessorar o regulador em assuntos específicos. Essas duas pesquisas deixam claro o importante papel que as firmas de auditoria desempenham na história do IASB e parecem reforçar a percepção da influência das mesmas, não só na composição do board técnico, mas na estrutura do regulador internacional como um todo.

A partir da revisão da Constituição do IASB em 2009, percebe-se uma crescente preocupação em aumentar a diversidade geográfica na estrutura organizacional do órgão, tanto no nível dos Trustees, quanto no nível técnico do board do IASB e ainda por meio da criação do órgão externo de monitoramento. No entanto, observa-se, também, a manutenção preponderante da participação anglo-americana no órgão, com destaque para a delegação dos Estados Unidos. Os países com tradição contábil anglo-americana mantêm 8 dos representantes no board do IASB e o mesmo número de membros no IFRIC, além de 11 membros do Conselho de Curadores da IFRS Foundation Trustees33. Adicionalmente, a presença destaque da SEC no recém-criado Conselho de Monitoramento parece reforçar esta percepção. Por outro lado, o Brasil que figura como o único país da América Latina com representantes tanto no Conselho de Curadores, quanto no board do IASB, demonstra a atenção que o país vem merecendo no cenário contábil internacional, mas também um possível descaso com os demais países da região.