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PSICOLOGIA EDUCACIONAL

A ESTRUTURA FUNDAMENTAL DO EDUCANDO

Iremos destacar os dez elementos que constitui a estrutura do educando no campo da psicologia geral:

Sensação - A sensação pode ser descrita como a consciência do estímulo de um órgão sensorial. A sensação é a unidade elementar da experiência mental. É o primeiro e mais simples dos processos mentais. O primeiro, porque a vida mental principia com a sensação, que constitui o primeiro contato do espírito com a matéria.

E o mais simples, porque todos os outros estados mentais se baseiam sobre a sensação, e a pressupõem. O conteúdo do espírito depende inteiramente do que é aprendido pelos sentidos. É pelos sentidos que se trava contato com o mundo exterior, o qual existe fora e independentemente do espírito.

A importância educacional da sensação é a fonte original de todos os conhecimentos, pois por intermédio de seu equipamento sensorial o individuo toma conhecimento do mundo objetivo, que existe na inteligência que não tenha sido previamente consignada pelos sentidos, o conteúdo do espírito depende inteiramente do que é

percebido por eles. Sem a sensação, nada haveria para ser interpretado ou convertido em conhecimentos. Na escola o aluno entra em contato com os livros, com as matérias, com os professores, por meio dos órgãos dos sentidos. Como todo conhecimento depende da sensação e é por esta condicionado, a tarefa do professor consiste em guiar e orientar o espírito para fazer o melhor uso possível dos sentidos. Se uma pessoa só pode conhecer o que os sentidos lhe revelam, é óbvio que as imperfeições do equipamento sensorial diminuem a eficácia da aprendizagem.

Percepção – Todas as formas de conhecimento se baseiam na percepção e dela derivam. O professor que deseje ensinar em qualquer escola sem basear o ensino na percepção, verificará que os alunos estão aprendendo meras palavras. A ausência de experiências adequada ou impede ou confunde a aprendizagem. O entendimento de assunto novo depende das experiências infantis passadas. Por esse motivo, é inútil apresentar novas experiências à criança, enquanto seu espírito não estiver preparado para receber os novos fatos. Assim, no estudo de geografia a região onde a criança vive é a região abrangida pelo âmbito de experiências. Essa região é claro, não é necessariamente um lugar apenas, podendo compreender qualquer região abrangida pelas experiências da criança. Pois bem, o estudo eficaz da matéria deve tomar por base essa região. O professor não pode pressupor que a criança possua um estoque de experiências suficientes para a interpretação correta de qualquer fato novo. O principal problema é o relativo ao método de utilizar as experiências passadas em face de situações diferentes.

É imprescindível que o professor conheça aproximadamente os limites do vocabulário do aluno e o total de seus conhecimentos. Deve ter o cuidado de verificar se todas as palavras usadas na aula foram compreendidas. As palavras difíceis contidas na lição seguinte deveriam ser explicadas e ilustradas. Na orientação dos trabalhos escolares, quanto maior for o avanço, quanto maior for o número de idéias a serem estudadas,

tanto maior deverá ser a cautela do professor na preparação da classe para as futuras lições. Os pontos essenciais devem ser selecionados e logicamente correlacionados, procedendo-se do individual para o geral, do simples para o complexo do conhecido para o desconhecido.

Imaginação - É a faculdade mental de formar representações de objetos materiais que não se acham atualmente presentes aos sentidos. A imaginação é um poderoso elemento positivo no processo educacional. É usada em todos os ramos da

educação, desde o jardim da infância até a universidade, porque proporciona vida e interesse aos vários estudos. Ajuda a compreender as verdades abstratas, porque fornece exemplos e ilustrações concretas. É o complemento da observação e administra conhecimentos que não poderiam ser obtidos de outro modo. Entretanto, nem todos os tipos de imaginação são valiosos, nem servem todos para os mesmos fins. A escola deve discriminar e cultivar diferentes tipos, no lugar e momento adequados. Dá-se maior relevo à imaginação construtiva, mas as diferenças individuais não devem ser esquecidas. Deve-se desenvolver a capacidade de formar imagens ricas e concretas, em virtude de seu valor interpretativo e apreciativo, especialmente no concernente à arte e à literatura.

O aluno sem imaginação não aprende, limitando-se a imitar. Deve-se fornecer ao aluno a oportunidade de planejar, imaginar e construir novas situações, utilizando o material disponível. Atividades simples como desenhar um mapa ou compor uma história supõem a formação de imagens. Não fora a capacidade de imaginar, a arte perderia a eficácia. Uma imaginação aguda e fértil, bem organizada em vista de fins definidos, constitui um grande auxílio para o estudante. O cultivo da imaginação tem recebido muito pouca atenção nas escolas.

Memória – Sem ela a aprendizagem seria impossível. Aprender significa adquirir, reter, produzir e reconhecer experiências e pensamentos no processo da aprendizagem, a memória é fundamental e funcional. É indispensável para a aquisição de técnicas, informações e conhecimentos. A memória dá sentido á vida. A infância é o período em que o valor da aprendizagem extra deve ser salientado. Poder repetir algo uma só vez não significa que tenha sido memorizado, no que se refere à sua provável retenção. A super aprendizagem e o treinamento constante devem ser praticados em todas as matérias escolares, assim como na aquisição dos fatos importantes da vida. Convém ao professor observar que a excelência do ensino não se afere pela quantidade de conhecimentos memorizados pelo aluno, mas pelo

desenvolvimento e utilização das faculdades da criança. Por isso é contra-indicado fazer o aluno memorizar fatos inúteis como exercício de memória, e em hipótese alguma é aconselhável fazê-lo decorar poesia ou outros textos como castigo por uma falta. A memória não é nem o objetivo final da educação, nem o seu produto mais perfeito. A memória não é o fim do processo educacional, é apenas um dos fatores mais importantes do desenvolvimento integral do ser humano. Os resultados da

educação, sob a forma de conhecimentos específicos, são rapidamente esquecidos. A maior parte do conteúdo desaparece com os anos. Isso demonstra que a educação proporciona ao espírito menos um acúmulo de fatos que a faculdade de agir com eficácia em uma situação dada. A educação não fornece apenas um conteúdo mental, mas também, o que é talvez mais importante, um método mental. O essencial não é recordar todos os fatos, o que é impraticável para o homem, mas saber quando e como observá-los, conhecer os livros que os expõem, e as autoridades a quem consultar. Em conseqüência, a educação do homem não consiste no que ele consegue recordar de seus dias escolares, mas em ter conhecimento do que existe de melhor no mundo, num método eficaz de atingi-lo, e no estímulo para progredir continuamente na vida.

A associação - Orientar o aluno na formulação e no estabelecimento das associações é uma das importantes funções do ensino. A tarefa do professor é estimular e orientar o aluno para permitir a formação de associações úteis e eficazes, e consolidá-las, para que se fixem permanentemente. A formação de associações é uma etapa básica da aprendizagem, porque a memória depende da formação de associações adequadas, e a memória é indispensável para a vida intelectual. O desenvolvimento mental depende da formação e estabelecimento de associações. Pouco ou nenhum progresso é possível sem a formação de novas idéias, a modificação das idéias antigas e o estabelecimento de correlações entre idéias novas e antigas. O treinamento intelectual adequado consiste em estabelecer uma ampla variedade de associações, e a boa educação moral consiste em estabelecer as associações corretas, antes que as associações errôneas possam firmar-se. As associações não constituem um fim em si. Devem conduzir à formação de sistemas de pensamento e de princípios e ação, e à resolução de possíveis problemas.

Quanto ao valor da associação na sala de aula, é forçoso observar que o professor nunca deve dar uma aula ou fazer uma argüição sem um plano definido, uma idéia

fundamental que presida ao tópico lecionado. Tudo aquilo que não pode ser correlacionado com essa idéia fundamental, deve ser excluído. Não basta confiar na formação de associações ocasionais, que o professor espera que se constituam, porque os objetos são semelhantes, antagônicos ou contíguos no tempo ou no espaço. Compete ao professor induzir os alunos a formar associações definidas, pelo

uso de perguntas, análises e explicações cuidadosas, obrigando-os ao raciocínio concentrado. Os alunos não devem ser meros recipientes de fatos isolados.

Atenção – O tipo mais eficiente de ensino é o que torna o aluno capaz de dirigir e manter a própria atenção; por isso, o professor deve saber orientar a atenção dos alunos para os objetos essenciais. Como a aprendizagem se processa em condições mais favoráveis quando a atenção da classe é clara e contínua, os alunos devem prestar absoluta atenção aos pontos importantes. A atenção é, portanto, o fator primordial da aprendizagem. Sem ela a aquisição de conhecimentos torna-se impossível. A diferença entre a criança que aprende facilmente e bem e a que aprende com dificuldade e devagar, é no fundo uma diferença de atenção. O grau de concentração do aluno determina quantitativa e qualitativamente a aprendizagem. A criança que aprende bem é a que tem a capacidade de ficar atenta a uma coisa até aprendê-la. Presta atenção clara e contínua até assimilar a matéria.

Cabe ao professor ajudar os alunos a formar hábitos de atenção. Isto é feito por meio de inúmeros atos de atenção voluntária. Como esta se concentra em objetos significativos, o professor deve tornar significativas as atividades úteis e importantes. A faculdade de prestar atenção sem intermitência e o hábito da atenção são essenciais para a eficácia de qualquer operação mental. A faculdade da atenção é inerente aos indivíduos normais e a incapacidade de prestar atenção voluntária é um dos sintomas de desequilíbrio mental. Um dos fatores mais importantes da aprendizagem é o papel que a atenção desempenha na educação do caráter. Controlando a atenção o indivíduo torna-se capaz de escolher o motivo que prevalecerá na elaboração de suas decisões e qual o motivo que o levará a agir. Por meio da atenção voluntária o indivíduo mantém presente ao espírito as exigências do dever e as condições permanentes de uma felicidade estável e duradoura, e dá unidade e solidez a seus pensamentos e ações.

A inteligência: A educação deve preparar a inteligência para a recepção da verdade e desenvolver de modo adequado os processos intelectuais. A escola deve proporcionar uma reserva de experiências concretas e em seguida convertê-las em

percepções e imagens, das quais o aluno possa abstrair a natureza essencial das coisas. Do confronto desses conceitos ou idéias, deve-se formar os juízos. Do confronto dos juízos nascem novos juízos, e este último processo constitui o clímax da atividade intelectual: o raciocínio. A clareza das idéias, a exatidão do enunciado, o

confronto lógico e o raciocínio constituem os requisitos da educação intelectual. Assim orientada, a inteligência admite o que é verdadeiro e rejeita o que é falso. O currículo escolar deve oferecer abundantes dados históricos, científicos e experimentais à investigação do aluno.

Uma vez que a finalidade última de todo conhecimento é a verdade e que a tarefa da educação é o cultivo da inteligência, para que possa conhecer a verdade, um dos objetivos mais importantes do mestre será estimular no aluno o poder de pensar clara, apurada e construtivamente. Deste ponto-de-vista, é preciso que o professor tenha não somente um conhecimento profundo da psicologia - ciência que explica os processos do pensamento - mas, também, da lógica, ciência que estuda a validade do pensamento. A psicologia analisa o pensamento e os processos anteriores a ele, processos esses que proporcionam matéria-prima à inteligência. A lógica estuda as operações que contribuem para os pensamentos corretos, e enuncia os princípios que permitem raciocinar com clareza. A lógica aponta as falsidades que viciam os processos mentais e indica os meios de atingir a verdade.

Vontade: A vontade é a fonte de todas as realizações. Mantém a inteligência ativa ou inativa: coíbe ou deixa que as paixões e emoções indesejáveis oprimam a pessoa; amplia ou desdenha as oportunidades que o meio fornece; realiza ou negligencia as aptidões hereditárias; portanto, a tarefa da escola é a de desenvolver a vontade para decidir em face das alternativas apresentadas à deliberação moral. Representando a vontade o poder de agir intencionalmente e de dominar as ações, deve o ensino, por este motivo, ser dirigido no sentido da educação da vontade. Coloca em seus devidos lugares os fatores do meio e da hereditariedade, diminuindo conflitos, procurando manter a perseverança, evitando as vacilações, desenvolvendo a generosidade. A vontade nasce da razão, desenvolve-se pelo autodomínio e consolida-se quando a criança reconhece, na voz da consciência, a voz de Deus.

Toda educação completa deve visar à educação da vontade. O poder voluntário não pode ser exercido sem a compreensão intelectual. Por isso a atenção voluntária é um fator vital. Ensinar com sucesso exige a cooperação da vontade do aluno. O dever do professor é o de orientar o aluno na educação da vontade no sentido que obtenha

uma aplicação estável e uma atenção firme, especialmente em relação aos estudos. É necessário conciliar no espírito do aluno certos princípios diretos capazes de

orientá-la na sua atividade voluntária. Cumpre proporcionar à criança motivos suficientemente fortes para induzi-Ia a trabalhar, pensar e ser virtuosa. A função do professor é ajudar o aluno a compreender tais motivos, transformando-os em estímulos para a ação. A vontade não age nunca sem um motivo, cabendo, pois, ao professor, fornecer um grupo de princípios diretores, a fim de orientar a vontade da criança. A educação deve incutir ideais, formar hábitos, criar interesses e proporcionar motivos racionais e éticos tanto naturais como sobrenaturais para dirigir a vontade. A vontade é o fator predominante na orientação da conduta, do caráter e da vida. Os sentimentos e a emoção: Ainda que se admita geralmente que o professor pode controlar os alunos no campo do sentimento e da emoção muito mais facilmente do que no campo intelectual, contudo a importância do sentimento e da emoção no comportamento ainda não foi suficientemente apreciada. Seria um grande passo avante se a escola estivesse preparada para lidar com problemas de conduta com a mesma energia que tem caracterizado seus esforços realizados no sentido de desenvolver a capacidade intelectual e física dos alunos. Os sentimentos e as emoções constituem as forças básicas da vida e estão intimamente relacionados com a ação. Isto é o que a escola precisa levar em conta, devendo também estar aparelhada para, mediante uma orientação inteligente, dirigir as emoções para as atividades construtivas. O ideal da escola deve ser o de formar indivíduos capazes de controlar suas emoções inferiores, que saibam dominar-se e dirigir-se, que sintam prazer com as coisas belas e elevadas da vida. O professor não deve nem superestimar nem ignorar as emoções. Deve usá-las como instrumento do bem e impedir que elas se tornem instrumentos do mal.

Cabe ao mestre dar bom exemplo e exercer um controle inteligente e compreensivo para analisar o comportamento da criança de maneira a descobrir os motivos que o originam. O professor deve esforçar-se por incutir na criança um estado de espírito adequado em relação ao mestre, à escola, cada matéria e tarefa. O professor deve estudar de modo genuinamente compreensivo a natureza da criança; deve ser firme, bondoso, detentor da confiança dos alunos; deve ser um modelo, não um companheiro; deve ter compostura e impor respeito; deve ser democrático, mas digno.

Deve compreender que a emoção intensa, de qualquer natureza, seja agradável ou não, prejudica o aprendizado.

Formação dos hábitos – O hábito é importante porque a esfera de sua aplicação e de sua influência abrange todos os aspectos da vida humana, desde as ações mais comuns, tais como andar e escrever, até as mais altas funções mentais do pensamento e do juízo. A formação dos hábitos é a base da educação. Sem o hábito a aprendizagem seria impossível, pois a educação consiste em grande parte nos processos de formação de hábitos, variando dos relativamente simples aos muito complexos. É quase impossível superestimar a importância do hábito.

A formação de hábitos é particularmente importante para o professor, pois um dos principais objetivos da educação é infundir bons hábitos físicos, mentais e morais. Considera-se que a missão do professor é orientar a criança nessa formação. O progresso nessa atividade é um barômetro para aferir o progresso educacional.

O ensino bem sucedido consiste na criteriosa seleção dos hábitos que devem ser formados. Em geral só existe um meio plenamente eficaz de se fazer cada coisa, e esse meio deve tornar-se habitual. Os efeitos da educação sobre o hábito são: persistência nos esforços e nitidez nos objetivos. Os hábitos constroem ou destroem um indivíduo, pois determinam em grande parte seu caráter. Portanto, é dever do professor auxiliar a criança a contrair grande número de bons hábitos, cuja utilidade perdure em toda a sua vida. A escola não é somente o local onde o indivíduo adquire uma quantidade maior ou menor de informações; é o lugar onde o seu caráter é moldado, principalmente por meio dos hábitos que contrai.

A POLARIDADE ENSINO APRENDIZAGEM

No estabelecimento de um modelo instrutivo de cunho formativo, a polaridade ensino-aprendizagem estrutura-se na habilidade do docente e na capacitação do discente como responsáveis pelo processo de aprendizagem. É nesse sentido que dizemos que a educação é um processo essencialmente dialético onde aquele que ensina também aprende e vice-versa. Do mesmo modo, também verificamos que, de acordo com o referencial teórico utilizado pelo docente, o enfoque do conceito de aprendizagem transforma-se em função da abordagem conceitual adotada e, evidentemente, isso acaba se refletindo na metodologia de trabalho adotada em sala de aula.