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A etnografia, razões de uma escolha consciente

PARTE II O ESTUDO

4.2 A etnografia, razões de uma escolha consciente

A escolha da metodologia de pesquisa, surgiu a partir da necessidade de compreender através de diferentes técnicas interpretativas que procuram descrever e descodificar os componentes de um sistema complexo de significados, tendo em vista verificar o significado dos fenômenos sócio educacionais que ocorrem na turma de Educação Infantil de 4 e 5 anos do Projeto Ágape. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com uma abordagem etnográfica, apropriada para desvelar tudo o que ocorre no meio em que o objeto de pesquisa está inserido. Essa convicção é legitimada por Fino (2008, p. 3), quando acolhe que “não será tão controverso, pelo menos a esta luz, propor a etnografia como forma de estudar as práticas pedagógicas para de decidir se serão inovadoras”. Determinar se as práticas pedagógicas desenvolvidas pela professora da turma observada, representam mudanças, enquanto ruptura paradigmática tradicional, requer uma observação sistemática dessas práticas cotidianamente. Considerando a pesquisa de campo e o contexto social da mesma, a etnopesquisa foi guiada pelo meu senso crítico, e o mesmo não seguiu um padrão rígido ou pré-determinado. Pois como afirma Macedo (2010, p. 37), “a atividade prática vai modificando constantemente os lugares e seus significados, marcando e renomeando, acrescentando traços novos e distintos, que trazem valores novos”. Desta forma, ter um olhar apurado, visando interpretar tudo que rodeia a cultura observada é de suma importância.

O método etnográfico utiliza a pesquisa de forma diferente dos métodos tradicionais. No método tradicional, geralmente, os problemas sociais são vistos e tratados de forma superficial, por meio da condução de objetos independentes, das opiniões e das crenças de diferentes sujeitos. O método etnográfico parte do princípio de que é impossível que a realidade seja totalmente apreendida; entretanto, tem como prelúdio a busca exaustiva do conhecimento por meio da interação entre o discurso e o comportamento das pessoas, e as observações do pesquisador sobre cada detalhe que compõe os ambientes físicos e sociais pesquisados. Por este método etnográfico, obtêm-se “o conhecimento de conhecimentos e atividades que não são diretamente observáveis”, ou “procura-se saber como o fato ocorreu e como foi percebido pelo informante e por outras pessoas” (LAPASSADE, 2005, p. 79). O

estudo etnográfico proporcionou-me adentrar no contexto sociocultural dos meus informantes, aferindo seus valores, comportamentos, crenças e visões do mundo.

Na pesquisa qualitativa o aspecto subjetivo é extremamente importante, tendo seu foco na descrição da cultura de um grupo social. O pesquisador etnográfico precisa participar e observar por um período os cenários que serão estudados, buscando a integração do pesquisador de forma efetiva no cotidiano de objeto de pesquisa. É relevante destacar que esse tipo de pesquisa, permite chegar mais perto do ambiente pesquisado, possibilitando entender como funcionam os mecanismos que influenciam a cultura local.

A princípio adentrar no ambiente a ser observado é a melhor forma de compreender, e analisar o objeto de estudo, pois para entender o comportamento humano, é necessário interpretar e considerar as relações que influenciam os sentimentos, pensamentos, e as ações. Desta forma a etnografia surge como caminho para se estudar o ser humano de forma ampla, em sua cultura em qualquer momento, lugar ou situação.

Intencionando esclarecer as bases etnográficas, Macedo (2012), ressalta que:

A forma de rigor que se exercita implica em um mergulho contextualizado e crítico nos significantes da realidade pesquisada e no exercício daquilo que os fenomenólogos chamam de apoché, ou seja, uma preparação refinada para construir distanciações, em que o trabalho de suspensões dos pré-conceitos, mesmo que provisoriamente, torne-se uma tarefa dura, mas ineliminável em termos de aprendizagem de pesquisa e compreensão de certa realidade (MACEDO, 2012, pp. 90-91).

A prática da etnografia, supõe a imersão na cultura estudada, no qual fiz uso de instrumentos e técnicas como entrevista não estruturada, fotos, coleta de documentos, observação participante, entre outros. A partilha de espaços, costumes, artefatos, linguagem, tem como meio privilegiado a de coleta de dados a partir da observação participante, que segundo Lapassade (2005, p. 69), a define como sendo “aquela em que o observador nota, observa ao vivo as pessoas, compartilhando de suas atividades”. Neste tipo de investigação o sucesso depende muito da conduta do pesquisador. Uma vez que as ações de observação, a descrição e a análise se constituem elementares para a compreensão do estudo. Algumas qualidades são importantes para que o pesquisador tenha êxito em seu trabalho, como: ser tolerante diante das situações, ser sensível, ser empático e possuir habilidade na expressão escrita. Como nos auxilia Fazenda (2002), a descrição rica e detalhada do autor social, por meio dos valores cultivados, das crenças, em seu ambiente cultural, presente em trabalhos de modalidade etnográfica, é bastante significativa como indicador para a elaboração de intervenções educacionais.

De acordo com Sabirón:

A etnografia, como método de investigação originária da antropologia, esgotava-se numa realidade estritamente descritiva, e a etnografia escolar, nessa mesma linha, seria uma mera descrição da cultua escolar. A Etnografia da Educação, investigando de e sobre instituições, grupos e organizações sociais, supera a estrita dependência descritiva, ao ser entendida como devedora de um foco pluridisciplinar, uma vez que é pluridisciplinar o saber disponível, sobre essas instituições, grupos e organizações (SABIRÓN, 2001 apud FINO 2008b, p. 03).

Na realização de uma pesquisa etnográfica, o pesquisador deve estar munido de proficiência para um trabalho que, apesar de parecer simples, requer discernimento, habilidade e sensibilidades. O etnógrafo ao inserir-se no campo, deve observar e descrever minunciosamente tudo que capta por meio de todos os sentidos. Mas afinal, o que escrever? Recorremos aqui ao antropólogo Darcy Ribeiro (2006, p. 25), que responde de forma mais simples: “Meus diários são anotações que fiz no dia a dia, lá nas aldeias, do que via, do que acontecia (…) ”. Observar e registar com atenção tudo o que é perceptível aos olhos e ao coração. Como suscita Macedo (2000, p. 58) para o “etnopesquisador crítico dos meios educacionais, o autor social é condição irremediável para construção do conhecimento nos âmbitos das práticas educacionais”. As formas de construção do conhecimento originadas da vida cotidiana escolar são significativas para pensar e repensar a prática pedagógica, e é através dela que se caracteriza a práxis educacional onde se constituem ações as quais são inspiradas do fazer pedagógico.

Assim, neste trabalho, escolhi a pesquisa etnográfica, por entender que é nela que se amplia o debate epistemológico e a reflexão sobre as especificidades socioculturais; vinculando as trocas de experiências num diálogo direto entre pesquisador e o objeto observado, no qual verifiquei se realmente acontece aprendizagem nas ações ditas inovadoras desenvolvidas dentro do Projeto Ágape. A escolha dessa abordagem de pesquisa etnográfica se faz necessária, pois permitiu-me compreender de forma ampla o universo a ser pesquisado, sem perder de vista a complexidade das relações estabelecidas, e a partir da análise, observar detalhadamente a prática pedagógica desenvolvida pela professora.

Diante da natureza do estudo, a pesquisa qualitativa me auxiliou na obtenção de dados relevantes que permitiram compreender a complexidade das questões pedagógicas da educação, pois de acordo com Borgdan e Biklen (1994, p. 13): “A pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos obtidos no contato direto do observador com a situação estudada e enfatiza as perspectivas dos participantes”. Somente assim, através do convívio e da interação, foi possível entender a realidade observada.