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PARTE II O ESTUDO

4.1 A pesquisa qualitativa e o seu paradigma

“As pesquisas de campo de inspiração qualitativa realizam uma verdadeira “garimpagem” de ações, realizações e sentidos e estão interessadas acima de tudo com o vivido impregnado da cultura daqueles que os instituem” (MACEDO, 2010, p. 87).

Cada vez mais percebe-se a evolução de métodos que estudam as ciências. Esse desenvolvimento é perceptível em pequenas coisas em nossas vidas, porém esse foi um processo que se deu em um longo espaço de tempo. É importante destacar que esta é uma ação contínua e que novos métodos científicos estão sendo aperfeiçoados, numa busca constante de novas teorias do conhecimento. Segundo Koche (1997), durante a idade média, a metodologia e os métodos científicos surgiram na tentativa de organizar as formas de pensar para se chegar ao meio mais adequado de conhecer tudo e todos que nos cercam. Muitos cientistas foram perseguidos pela Igreja, e somente no final do século XIX, o conhecimento científico passou a ser referência em estudos metodológicos, e a partir de então, a pesquisa científica começou a ser respeitada em todas as áreas do conhecimento; passando a ter uma importância fundamental. Augusto Comte na sociologia; Karl Marx na Economia; Charles Darwin revolucionou na Antropologia, entre outros, contribuíram para que a ciência passasse a assumir uma posição mais definida diante dos esclarecimentos dos fenômenos, e a pesquisa qualitativa deve seu papel importante para realização desses estudos.

A pesquisa qualitativa, ganha significados diferentes, pois tenta traduzir e expressar as observações feitas no mundo real, é direcionada ao longo do seu desenvolvimento e dela faz parte a descrição direta do contato interativo do pesquisador com a situação e o objeto de estudo. Os métodos qualitativos têm um papel importante no campo das investigações e podem ser classificados no mínimo em três diferentes possibilidades de abordagem: o estudo documental, o estudo de caso e a etnografia. Segundo Bogdan e Biklen (1994), cada uma tem suas características próprias, que são extremamente importantes de acordo com a escolha do estudo a ser realizado.

Vejamos algumas características das abordagens apresentadas:

O estudo documental, possibilita a averiguação de material e podem ter uma interpretação nova ou complementar, sendo fonte propícia para uma investigação que dure muito tempo. Já o estudo de caso, visa o estudo detalhado de um ambiente, de uma pessoa ou situação, buscando aprofundar nos detalhes. E por fim, o estudo etnográfico, no qual o

pesquisador envolve-se diretamente com o objeto de estudo e o uso de técnicas de observação. Dentro dos métodos qualitativos citados, o etnográfico tem se destacado como um dos mais importantes, conforme enfatizou (SPRADLEY, 1979 apud FINO, 2008b, p. 1),

A etnografia de ser entendida como a descrição de uma cultura, que pode ser a de um pequeno grupo tribal, numa terra exótica, ou a de uma turma de uma escola dos subúrbios, sendo a tarefa do investigador etnográfico compreender a maneira de viver do ponto de vista dos nativos da cultura em estudo.

Portanto, para estudar a prática pedagógica que se desenvolve no âmbito do Projeto Ágape, a etnografia assume claramente como uma abordagem indicada, pois apresentam muitas características que facilitaram o desenrolar de minha pesquisa, como:

• É aberta a mudanças e refinamento conforme a coleta de dados, ou seja, é interativa;

• Envolve um trabalho de campo;

• Combina métodos como a observação e entrevista não estruturada;

• Enfatiza o processo daquilo que está ocorrendo e não o produto ou resultados finais;

• Tem objetivo de ser exploratória e não avaliativa;

• Tem como foco descobrir o ponto de vista do indivíduo, preocupando-se com o significado, com a maneira com que as pessoas veem a si mesmas, as suas experiências e o mundo que o cerca;

• Os dados são mediados pelo instrumento humano, o pesquisador.

Ao longo da história da pesquisa científica, a abordagem etnográfica foi ganhando espaço cada vez mais importante. Segundo Ludke e André (2005), inicialmente, a pesquisa etnográfica possuía caráter histórico, restringindo-se à investigação da cultura de diferentes civilizações, através da análise dos instrumentos, os quais eram obtidos por peregrinos e analisados pelos até então denominados etnógrafos. A investigação se restringia apenas a observação de objetos, não levando em consideração as relações interpessoais, comportamento e pensamento humano. Mais tarde, a etnografia ganhou outros espaços, tornando-se presente desde a investigação da cultura para fins jornalísticos, ao estudo do comportamento humano, com o intuito de abstrair o significado de símbolos, para compreender e interpretar as atitudes das pessoas e como elas direcionam o seu modo de viver.

A atribuição do rótulo de sociedade do conhecimento, no final do século XX e início do século XXI, impregnou fortemente no processo decisório nas ações humanas. Hoje o conhecimento é visto como algo que está sendo continuamente revisto, reconstruído. A pesquisa etnográfica surgiu no final do século XIX, quando os pesquisadores perceberam que o seu olhar e o seu trabalho de campo eram imprescindíveis no processo de pesquisa, como uma forma de compreender e descrever de forma mais densa os contextos culturais, o modo de vida das pessoas e dos grupos sociais a que pertencem.

Etmologicamente falando, a palavra etnografia, deriva da união de dois vocábulos gregos: ethnos – que significa povo, e graphein – que significa grafia, escrita, descrição, ou melhor, estudo escrito. Logo, a etnografia é o estudo descrito de um povo. Sendo também, uma das várias ciências que auxiliam a antropologia. Ferreira (1986, p. 409), define etnografia como: “estudo e descrição dos povos, sua língua, raça, religião e manifestação, material de sua atividade; descrição da cultura material de um determinado povo”. Sendo assim, entendo etnografia como a descrição de determinados aspectos da cultura sem que se faça juízo de valor. Corroborando, André (2008, p. 29) conceitua etnografia como sendo a “descrição da cultura prática, hábitos, costumes, valores, linguagens, significados de um grupo social e tem por objetivo a descoberta dos conceitos, novas relações, novas formas de entendimento da realidade”.

A etnografia é uma técnica já usada pelos antropólogos, na qual consiste no estudo da realidade em que está inserido o objeto de estudo, possibilitando que os diversos elementos sociais existentes sejam analisados, buscando compreender a realidade e como essas são organizadas no âmbito sociocultural.

Caracteriza essa abordagem a disponibilidade das informações suscetíveis e dos seres consultados (documentos, áudios, vídeos, transição integral); a exaustividade de tratamento das informações, transformando-se num meio de luta contra a tendência de limitar a exploração de elementos favoráveis às hipóteses dos pesquisadores; a convergência dialética entre pesquisadores e participantes sobre a visão dos conhecimentos, na medida em que os pesquisadores garantem que há identificação entre as estruturas que descobrem nas ações e aquela que orienta os participantes nessas ações (MACEDO, 2000, p. 148).

Não há resultado pronto e acabado; não há verdades inquestionáveis; não há procedimentos de investigação indiscutíveis. Compreender tudo o que está em volta, requer conhecimento e pesquisas, as quais exigem do pesquisador um olhar apurado e sensível, capaz de superar limites e enxergar o que os olhos não veem. Nesse sentido, para qualificar um

fenômeno, buscar-se-á interpretar e nunca mensurar a realidade, a qual se apresenta extremamente ativa e dialética.