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A evolução da duração do tempo de trabalho

3. Tempo de trabalho: da lei à realidade

3.1 A evolução da duração do tempo de trabalho

O tempo de trabalho diminuiu substancialmente no último século e meio. De acordo com Walterskirchen (2016), as horas anuais de trabalho na Alemanha e em França decresceram mais de metade entre 1870 e 2000, no Reino Unido essa diminuição foi de 37% e nos EUA de 27%. Olhando para a segunda metade do século XX, o autor refere que as décadas que se seguiram ao fim da II Guerra Mundial foram marcadas por uma diminuição significativa das horas de trabalho nos países europeus, tendo conhecido uma estabilização a partir de 1975.

Leiner-Kilinger, Madaschi e Ward-Warmedinger (2005), identificam uma diminuição das horas anuais de trabalho nos países da Zona Euro e nos EUA entre 1970 e 2004. Entre os anos de 1980 e 1997 terá ocorrido uma mitigação dessa tendência na Zona Euro e uma estabilização do valor desse indicador nos EUA. Nos anos remanescentes o tempo anual de trabalho aumentou tanto nos EUA como na Zona Euro. Os valores médios apurados para os países da Zona Euro encobrem algumas diferenças existentes entre eles. Na Bélgica, na Alemanha, em França, na Irlanda, no Luxemburgo e em Portugal as horas anuais de trabalho diminuíram de forma continuada ao longo do período analisado, na Holanda verificou-se uma diminuição abrupta do valor desse indicador a partir dos anos de 1980, na Grécia este manteve-se estável ao longo de todo o período.

A evolução do tempo de trabalho neste milénio tem seguido ritmos e tendências diferentes. Vários estudos têm-se debruçado sobre esta realidade relativamente a períodos específicos.

Segundo o Eurofound (2010), o tempo anual de trabalho dos trabalhadores por conta de outrem e o tempo semanal de trabalho diminuíram, entre 2000 e 2006, 2% e 1,6%, respetivamente. Esta tendência ter-se-á devido ao aumento da proporção de trabalhadores com contrato a tempo parcial no total da força de trabalho. De facto, as horas de trabalho dos trabalhadores a tempo inteiro e a tempo parcial, quando consideradas separadamente, não sofreram alterações significativas no período considerado.

97 De acordo com este estudo, os países com níveis de produtividade mais elevados tendem a trabalhar menos horas ao longo do ano, e vice-versa. Neste sentido, os países que entraram na União Europeia a partir de 2004 tendiam a trabalhar mais horas do que os países da UE15. Entre 2000 e 2006, não houve uma convergência do tempo de trabalho entre os países europeus. Na verdade, as maiores diminuições do tempo de trabalho semanal tiveram lugar em países em que o tempo de trabalho anual era comparativamente baixo: decréscimo de 4,2% na Noruega e de 3,8% na Alemanha, por exemplo. A exceção a esta regra foi a República Checa, país que apresentava valores elevados para as horas de trabalho anuais, mas que, entre 2000 e 2006, conheceu uma diminuição das horas médias de trabalho semanal de 4,1%. Dados mais recentes apontam para uma convergência parcial do tempo de trabalho nos países que entraram na União a partir de 2004 face aos da UE15, a qual se deverá, pelo menos em parte, à Diretiva do Tempo de Trabalho de 2003. Esse processo de aproximação entre estes dois grupos estagnou, no entanto, desde 2011 (Eurofound, 2016).

As horas usuais de trabalho semanal dos trabalhadores a tempo inteiro nos países da União Europeia estabilizaram entre as 40,3 e as 40,5 horas, no período 2002-2014. Enquanto entre os Estados-membros da UE15 se verificou um ligeiro aumento desse indicador (40 horas em 2002, 40,2/40,3 horas em 2014), nos países da UE13 houve uma diminuição desse valor: evolução de 41,5 horas para menos de 41 horas. Entre aqueles países, os que registaram aumentos mais significativos foram Portugal e a França: 1,5 (40,2 para 41,7 horas) e 1,4 horas (37,7 para 39,1 horas), respetivamente. Na Áustria e no Reino Unido registou-se uma tendência inversa: as horas usuais de trabalho semanal passaram de 43 (2004) para 41,5 horas, no primeiro caso; de 43,2 (2002) para 42,4 horas, respetivamente. Entre os países da UE13, a redução mais ampla do tempo usual de trabalho registou-se na Letónia: quase 44 horas em 2002, cerca de 40 horas em 2014. Neste subuniverso, o Chipre e a Eslováquia assumem-se como a exceção à regra: naquele país o tempo usual de trabalho semanal aumentou de 40 para 41,5 horas entre 2002 e 2014, neste essa evolução foi de 40,5 (2003) para 41 horas (idem: 53-54).

98 Se o intervalo de análise for entre o ano de 2008, que marcou o início da crise económica e financeira, e o período para o qual existe, para já, informação mais atualizada (2016), observa-se uma tendência que diverge em parte da exposta no estudo mencionado. O tempo de trabalho dos trabalhadores por conta de outrem dos países da UE28 decresceu, em média, 0,5 horas (de 36,8 para 36,3 horas). No universo de 31 países europeus (UE28, Noruega, Islândia e Suíça), apenas em sete houve um aumento das horas usuais de trabalho semanal. Portugal é um desses países, registando um aumento de 0,4 horas (de 39 para 39,4 horas) – o segundo valor mais elevado depois do apurado para o Luxemburgo. Enquanto o tempo de trabalho a tempo inteiro no conjunto de países da UE28 diminuiu 0,2 horas no período em causa (de 40,5 para 40,3 horas), o valor desse indicador para os trabalhadores a tempo parcial aumentou 0,5 horas (20,1 para 20,6 horas). Em Portugal observou-se uma tendência oposta: a duração do trabalho a tempo inteiro aumentou de 40,2 para 41,1 horas e a do trabalho a tempo parcial decaiu de 19,8 para 18,4 horas.

A informação apresentada neste ponto teve como objetivo enquadrar num passado mais longo e mais recente a evolução do tempo de trabalho. Importa agora detalhar a análise desta problemática multidimensional, convocando para a análise informação estatística atualizada para o ano de 2016.

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