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1. Um emprego desigual

1.6 O setor de atividade

No início da segunda metade do século XX, a agricultura tinha ainda um peso na economia portuguesa superior à produção industrial. Esses anos marcam, no entanto, o início de um processo de acelerado crescimento deste setor. Em 1963, o valor do produto industrial ultrapassou o da agricultura. Não suplantou, porém, o setor dos serviços, o que faz com que “em Portugal a indústria jamais tenha sido o principal setor da economia” (Costa, Lains e Miranda, 2011: 415). Entre 1950 e 1973, o setor industrial foi o que mais cresceu ao nível do produto (7,6%), emprego (1,8) e produtividade (5,8%), seguido pelos serviços (6,0%, 1,6% e 4,4%, respetivamente), enquanto no setor agrícola o emprego caiu (-2,2%), o produto cresceu parcamente (1,3%) e produtividade cresceu abaixo do observado nos outros setores (3,3%).

Em 1960, 43,6% da população ativa concentrava-se ainda no setor primário, 28,9% na indústria e 27,5% nos serviços (Machado e Costa, 1998: 30). Na Alemanha, o emprego no setor primário representava, nesse período, apenas 17% do total e em França 26% (Cardoso, 1965: 454). Em 1970, o emprego no setor terciário aumentou a sua representatividade para 36% da população ativa, no setor secundário esse valor era de 32,3% e no setor primário de 31,7%. Em 1980, esses valores evoluíram para 41,6%, 38,7% e 19,7% e, em 1991, para 51,3%, 37,4% e 11,2%, respetivamente (Machado e

55 Costa, 1998: 30). Num espaço de três décadas o peso do emprego no setor dos serviços quase duplicou.

Embora apresente valores comparativamente baixos no que à produtividade do trabalho diz respeito (Costa, Lains e Miranda, 2011: 414), o setor dos serviços foi o que registou níveis de crescimento do produto e do emprego mais elevados nas décadas seguintes, consolidando a sua posição predominante na economia portuguesa. Essa tendência é bastante visível nas últimas duas décadas. Os setores primário e secundário perderam relevância nesse período, enquanto o setor dos serviços aumentou o seu peso relativo em cerca de 18 p.p..

Figura 17. Proporção do emprego por setor de atividade, Portugal (1998 e 2017) (%)

Fonte: Estatísticas do Mercado de Trabalho, Inquérito ao Emprego (INE).

Nota: Nota: Setores de atividade categorizados de acordo com a CAE Rev. 2.1 (1998) e CAE Rev. 3 (2017).

Apesar de o setor dos serviços ser o mais representativo em termos agregados, as indústrias transformadoras são o subsetor que mais emprega: 17,5% do total da população empregada no último trimestre de 2017. O comércio por grosso e a retalho, as atividades ligadas ao setor da saúde e da educação são os setores que, depois das indústrias transformadoras, mais empregam.

13,6 35,2 51,2 6,4 24,7 68,9

Setor primário Setor secundário Setor terciário

%

56

Quadro 24. Evolução do emprego por setor de atividade, Portugal, 4.º trimestre (2011-2017) (%)

2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Indústrias transformadoras 16,4 16,1 15,7 16,4 17,0 17,1 17,5

Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos

automóveis e motociclos 14,6 14,6 15,0 15,0 15,8 14,8 14,4

Atividades de saúde humana e apoio social 7,9 8,2 8,6 8,7 8,9 9,3 9,1

Educação 7,8 8,6 8,1 8,1 8,6 8,1 8,5

Construção 8,6 6,7 6,4 6,2 6,2 6,5 6,6

Alojamento, restauração e similares 5,9 6,1 6,6 6,0 5,5 6,2 6,5

Administração pública e defesa; segurança social obrigatória 6,6 6,2 6,8 7,1 6,6 6,0 6,5

Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca 9,9 10,6 9,5 7,8 7,1 6,6 5,8

Transportes e armazenagem 3,6 3,9 4,0 3,8 3,8 4,3 4,4

Atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares 3,7 3,5 4,0 4,1 4,5 4,5 4,1

Atividades administrativas e dos serviços de apoio 3,0 3,4 3,2 3,5 3,4 3,3 3,4

Outras atividades de serviços 2,1 2,1 2,4 2,4 2,4 2,4 2,4

Atividades das famílias empregadoras de pessoal doméstico e

atividades de produção das famílias para uso próprio 2,9 2,9 2,5 2,6 2,5 2,4 2,3

Atividades de informação e de comunicação 1,5 1,9 2,3 2,5 2,3 2,5 2,3

Atividades financeiras e de seguros 2,3 2,1 1,9 2,4 2,3 2,5 2,3

Atividades artísticas, de espetáculos, desportivas e recreativas 1,1 1,1 1,1 1,4 1,4 1,4 1,4

Atividades imobiliárias 0,5 0,6 0,6 0,6 0,6 0,9 1,0

Captação, tratamento e distribuição de água; saneamento,

gestão de resíduos e despoluição 0,6 0,6 0,6 0,8 0,5 0,7 0,8

Eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio 0,4 0,3 0,3 0,3 0,4 0,4 0,4

Indústrias extrativas 0,4 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3

Fonte: Estatísticas do Mercado de Trabalho, Inquérito ao Emprego (INE). Nota: Dados ordenados por ordem decrescente de acordo com os valores observados no 4º trimestre de 2017. Setores de atividade categorizados de acordo com a CAE Rev. 3.

No final de 2017, trabalhavam nas indústrias transformadoras cerca de 841 mil pessoas, mais 83 mil do que no período homólogo de 2011 (taxa de variação de 11%). O setor das atividades ligadas à saúde aumentou o emprego em cerca de 70 mil trabalhadores, uma variação de 19% face ao 4.º trimestre de 2011. Em termos relativos, o setor que mais cresceu foi o imobiliário, cuja população empregada mais do que duplicou entre o 4.º trimestre de 2011 e o período homólogo de 2017 (de 23

57 mil para 48,8 mil). Apesar de ter vindo a recuperar nos últimos anos, o emprego no setor da construção está ainda abaixo no observado no 4.º trimestre de 2011 (316,3 mil no 4.º trimestre de 2017, 400 mil no período homólogo de 2011). Verificou-se também uma diminuição do peso relativo do emprego na agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca (setor primário) – recuo do emprego entre o 4º trimestre de 2011 e o período homólogo de 2017 na ordem dos 39% (de 458,1 mil para 280,4 mil).

Se a análise tiver apenas como referência o setor privado e a população empregada a trabalhar por conta de outrem em Portugal continental, conclui-se que as indústrias transformadoras reforçam a sua posição liderante ao nível do emprego: absorviam, em 2016, cerca de 22% do total da mão-de-obra. Depois do setor das indústrias transformadoras, as três que assumem uma preponderância empregadora maior pertencem ao setor dos serviços.

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Figura 18. Proporção do emprego por conta de outrem por atividade económica, setor privado, continente (2016) (%)

Fonte: Quadros de Pessoal 2016, dados detalhados disponibilizados em linha em ficheiro excel (MTSSS/GEP).

Nota: Setores de atividade categorizados de acordo com a CAE Rev. 3.

O perfil do emprego setorial varia, em parte, quando se analisa o total da população e o apenas o setor privado. O caso da educação é bastante revelador, já que tem uma expressão diminuta no emprego do setor privado e um peso quatro vezes superior quando se tem em consideração o emprego total. Neste sentido, o emprego na esfera do Estado ligado à educação, mas também a atividades administrativas, de defesa e segurança social, tem um impacto muito relevante no processo de terciarização da economia portuguesa – a “terciarização pública”, nas palavras de Reis (2004: 92).

0,2 0,3 0,4 0,7 0,8 0,8 2,0 2,3 2,3 2,8 2,9 4,2 5,0 6,9 7,7 9,3 10,2 18,6 22,3

Elet., gás, vapor, água quente e fria e ar frio

Ind. Extrativas Adm. Pública e Defesa; Seg. Social Obrig. Atividades imobiliárias Atividades artísticas, de espect., desp. e rec. Captação, tratamento e dist. de água; San.,

gestão de resíduos e despoluição Educação Agricultura, prod. animal, caça, florest. e pesca Outras atividades de serviços Atividades de inf. e de comunicação Atividades financeiras e de seguros Atividades de consultoria, cient., téc. e sim. Transportes e armazenagem Construção Alojamento, restauração e similares Atividades de saúde humana e apoio social Atividades adm. e dos serv. de apoio Comércio por grosso e a retalho; rep. de veíc.

Aut. e mot

Ind. Transformadoras

59 Em relação ao setor da saúde, o seu peso relativo no total da população empregada e apenas no setor privado é semelhante, o que indica o quão expressiva é a oferta privada deste tipo de serviços em Portugal.

A distribuição da população trabalhadora em Portugal por setor de atividade não se diferencia de forma muito significativa da observada nos países da UE28 e U15. Destaca-se o maior peso relativo das indústrias transformadoras em Portugal e as atividades ligadas ao comércio por grosso e retalhista, da educação, do alojamento e restauração, e da agricultura. Pelo contrário, o país apresenta uma menor prevalência das profissões ligadas ao setor da saúde e do apoio social e das atividades liberais/consultivas, científicas e técnicas.

Quadro 25. Proporção do emprego por atividade económica, países da UE28 (2016) (%)

UE28 UE15 PT ESP GRE RCH POL ALE FIN IRL RUN

Indústrias transformadoras 15,4 14,1 17,1 12,5 9,5 27,8 20,3 19,2 13,4 11,5 9,5

Comércio por grosso e a retalho; rep. de veíc. auto. e

moto. 14,0 14,0 15,3 16,2 17,9 11,8 14,5 14,1 11,9 13,8 13,2

Saúde e atividades de ação

social 10,9 12,1 9,3 8,2 5,9 7,0 6,0 12,8 16,7 12,6 13,1 Educação 7,6 7,8 8,4 6,9 8,0 6,6 7,4 6,5 7,1 7,6 10,5 Administração pública, defesa e SS obrigatória 6,9 6,9 6,3 6,9 9,0 6,4 6,7 7,0 4,5 5,0 6,1 Construção 6,7 6,5 6,4 5,9 4,0 7,5 7,6 6,7 7,3 6,7 7,3 Atividades liberais/consultivas, científicas e téc. 5,6 6,1 4,4 5,0 5,5 4,9 3,6 5,7 6,6 5,9 7,2 Transportes e armazenagem 5,2 5,0 4,1 5,1 5,0 6,1 6,0 4,9 5,8 4,7 5,1 Alojamento e restauração 4,8 5,2 6,1 8,7 9,3 3,6 2,3 3,8 3,5 7,3 5,4 Agricultura, silvicultura e pesca 4,2 2,7 6,0 4,2 12,3 2,9 10,5 1,3 3,9 5,3 1,1

Atividades adm. e de apoio

aos serviços 4,2 4,6 3,3 5,1 2,4 2,5 2,6 5,0 4,4 3,4 4,8

Informação e comunicação 3,0 3,2 2,4 3,0 2,2 2,9 2,2 3,1 4,1 4,3 4,0

Fonte: Employment and Unemployment Statistics, EU-Labour Force Survey (Eurostat). Nota: Foram selecionados os setores de atividade (NACE Rev. 2) mais representativos. Países ordenados por ordem decrescente de acordo com o valor apurado para a UE28.

É interessante sublinhar o elevado peso relativo do emprego nas indústrias transformadoras que se observa na Polónia, na República Checa e na Alemanha, a

60 preponderância do comércio por grosso e retalho e das atividades ligadas ao setor primário na Grécia, ou a relevância do emprego na área das atividades liberais/consultivas, científicas e técnicas que se verifica no Reino Unido.

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