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A evolução da emigração portuguesa no final do século XX

CAPÍTULO 2 PORTUGAL: PAÍS DE MIGRAÇÕES

2.3. EMIGRAÇÃO NAS ÚLTIMAS DÉCADAS DO SÉCULO XX E SEU IMPACTO NA ECONOMIA PORTUGUESA

2.3.1. A evolução da emigração portuguesa no final do século XX

O final do século XX caracteriza-se, de facto, por uma diminuição dos fluxos de emigração. O abrandamento do movimento migratório é notável a partir da crise petrolífera de 1974, segue- se uma crise económica que atinge a Europa, tendo como consequência directa a diminuição

França e a Alemanha, começaram a impor limites na sua política de imigração, indo até a proibição da entrada de novos imigrantes naquela altura, abrindo excepções para os casos de reagrupamento familiar.

Nos anos 80, a imposição de medidas de restrição por parte dos países receptores intensificou-se o que provocou um aumento do fenómeno de retorno dos emigrantes. A média anual de portugueses retornados ao seu país de origem foi de 30.000 nessa década (Rocha- Trindade, 1992:9). Nessa altura, o Governo Português começa a dar importância às comunidades portuguesas no estrangeiro e implementa, nos países de maior emigração portuguesa, cursos de língua e cultura portuguesa para, por um lado, preparar a população portuguesa residente no estrangeiro a um eventual retorno, e por outro lado, para incentivar a primeira geração de emigrantes a transmitir a língua e cultura portuguesa aos seus filhos, os luso-descendentes. Estes cursos revelam-se essenciais no que diz respeito à construção e ao mantimento de laços afectivos e culturais com Portugal sobretudo junto da segunda e da terceira geração de emigrantes portugueses.

Com a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia, em 1986, é criada uma nova situação, a livre circulação de pessoas na Europa instaura-se progressivamente. Os fluxos emigratórios portugueses para a Europa são mantidos e inserem-se cada vez mais num processo de vai e vem. A partir dessa data, Portugal é um país apoiado pela União Europeia e já não recorre tanto à emigração para diminuir os excedentes de mão-de-obra. Segundo Lopes (1999:48), a partir dos anos 80, dá-se uma viragem histórica nos movimentos de população e nos ciclos migratórios, provocada por três factores: a globalização da economia, a destruturação-recomposição da nova ordem mundial, que tem como acto fundador, a queda do Muro de Berlim, e as assimetrias entre países do Sul/países do Norte. Estes três factores levaram ao fim do modelo de emigração/imigração da era industrial, e deu lugar à emergência de um novo modelo de mobilidade qualificado de migração-circulação, caracterizado pelos movimentos de vai e vem, entre país de origem e país de destino, de migrantes transnacionais. As migrações revestem então um carácter temporal e sazonal (cf. Figura 7).

Figura 7 - Emigração permanente e temporária [(1976-1988); (1992-2003)] 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Permanente Temporária

Fonte: Moreira, INE. 2005

A figura 7 mostra que a emigração temporária começou a ganhar importância no final dos anos 80, altura em que a emigração permanente entra numa fase decrescente. É de notar que a informação estatística sobre a emigração sofreu alterações nessa altura. Até 1988, os números publicados sobre a emigração reportavam-se exclusivamente aos dados oficiais recolhidos através do passaporte para emigrante. Com a abolição deste tipo de passaporte, a partir de 1989, a notação estatística ficou restringida aos candidatos a emigrantes que eventualmente solicitavam auxílio ao então Instituto de Apoio à Emigração e às Comunidades Portuguesas ou aos organismos congéneres nas Regiões Autónomas, cujo volume era inexpressivo. Estas alterações, no que diz respeito à contabilização dos dados, apresentam- se como uma limitação não negligenciável na análise de dados e no seu tratamento e interpretação enviesando a sua coerência com a realidade.

A partir de 1992, o INE lançou um Inquérito aos Movimentos Migratórios de Saída (IMMS) possibilitando assim, uma quantificação mais rigorosa da emigração portuguesa. Os dados do IMMS contemplam tanto os emigrantes permanentes (indivíduos que deixaram o país por um período superior a um ano), como os temporários (indivíduos que se ausentaram por um período inferior ou igual a um ano). Segundo o INE, em 2002 a emigração portuguesa aumentou 32,9% relativamente ao ano anterior, foram registadas cerca de 27.350 saídas para o estrangeiro de portugueses nesse ano, das quais 68% eram de carácter temporário e 32% de carácter definitivo (cf. figura 7). A tendência para o aumento não se manteve em 2003, as saídas de portugueses para o estrangeiro foram de 27.000, deste total, 75% eram

temporárias e 25% permanentes. A proporção dos emigrantes que saem temporariamente do país foi aumentando em detrimento da emigração permanente desde o ano de 1993.

Os emigrantes são, na sua maioria, jovens, trata-se de trabalhadores que declaram uma ausência do país por um período restrito, em regra, de 3 meses a um ano, e são provenientes predominantemente do Norte do país e da região Centro. Em 2003, 76,3% dos emigrantes eram do sexo masculino, sendo esta a característica a mais acentuada na emigração temporária uma vez que na emigração permanente os valores eram relativamente próximos, 51,1% do sexo masculino e 48,9% do sexo feminino. Os países de destino da emigração portuguesa são essencialmente a França, a Suíça, e o Reino Unido, que no seu conjunto, em 2003, acolheram mais de 59% do total da emigração

Nos últimos anos, Portugal apresenta-se como um país simultaneamente emissor e receptor das migrações internacionais. Portugal torna-se país de imigração a partir dos anos 90, altura em que as vagas migratórias se tornam de tal forma intensas e diversificadas que começam a tomar lugar no discurso oficial do Estado português. Este fenómeno inicia o seu papel decisivo no crescimento da população e é descoberto então um facto que se tinha ignorado no passado: a gestão da imigração oriunda do passado colonial. Portugal começa a acolher imigrantes dos países de Leste, tendo o desmembramento da antiga União Soviética provocado, entre outras causas, tal fenómeno.

A figura 8 apresenta a evolução do número de residentes estrangeiros em Portugal entre os anos 1985 e 2005, destaca-se o facto deste número ter crescido constantemente neste período, evoluindo de 79.594 para 276.460. A comunidade estrangeira em Portugal representa 5% da população e 10% da população activa (Santos, 2004:7-19).

Figura 8 - Residentes estrangeiros em Portugal (1985- 2005) 79. 594 86. 982 89. 7 7 8 94. 69 4 101. 011 107. 767 113. 978 123. 6 1 2 136. 932 15 7. 073 16 8. 316 172. 912 175. 2 6 3 178. 137 19 1. 143 207. 607 223. 976 2 38. 94 4 250. 1 4 4 264. 961 276. 460 0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Fonte: http://www.sef.pt/estatisticas.htm