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CAPÍTULO 3 MOBILIDADE, TURISMO E MIGRAÇÕES

3.4. MIGRAÇÕES E MOBILIDADE

A globalização e a regionalização têm sido as causas típicas dos movimentos migratórios internacionais desde 1990 (Garson, 1992). A mobilidade do homem é cada vez mais facilitada, nomeadamente através das redes de transportes sofisticadas, assiste-se a um fenómeno de sociedade em que os indivíduos têm referências geográficas múltiplas. A lógica das migrações diversificam-se ao longo do tempo, o emigrado transformou-se, hoje em dia, em migrante, não se trata de transferir a sedentariedade, num novo enraizamento, mas sim de guardar a sua mobilidade e capacidade de ser móvel (Levy, 2000). Os migrantes tiram de cada sociedade vantagens que têm um impacto crescente nas suas vidas, de facto, os indivíduos tomam consciência das competências que podem valorizar no país de acolhimento e das eventuais vantagens financeiras, e sobretudo dos melhoramentos possíveis em termos de qualidade de vida. A transferências parciais ou totais podem, a partir do turismo, levar a uma residência alternada, falando-se então de “multi-residencialidade” ou de “poliespacialidade” (Viard, 1994). Assim, entra-se no campo das mobilidades post-migratórias efectuadas pelo mundo, onde estas mobilidades intensas provêem de regiões interligadas e conectadas.

Em ciências sociais, o termo ‘migrações’ diz respeito geralmente à mudança de residência de um indivíduo e/ou um grupo social ou étnico (Williams e Bala, 2002). Existem vários conceitos e teorias destinados a explicar as migrações:

- As teorias neoclássicas da migração, desenvolvidas por Allan Smith, que assentam na tese da maximização do lucro, que pode ter origem ou no emprego (Todaro, 1980) ou nas disparidades das prestações sociais (Freeman, 1986).

- As concepções «behaviouristas», encaram o processo de migração como um resultado das tensões estruturais encontradas por um indivíduo num determinado sistema de sociedade (Lee, 1986, Hoffman-Nowotny,1981 e Bauer, 1995).

- As abordagens estruturalistas afirmam que a economia mundial atravessa várias etapas de desenvolvimento, caracterizadas por estruturas sociais e quadros de produção diferentes e que existem importantes disparidades entre o centro económico e as periferias (Storper e Walker, 1983).

- A teoria do mercado dual, põe a existência de dois segmentos no mercado de trabalho das economias desenvolvidas e semi-desenvolvidas: o mercado primário

emprega uma mão-de-obra qualificada e bem remunerada, oferece empregos estáveis com possibilidades de carreira, enquanto que o mercado secundário é caracterizado por empregos precários com salários baixos, trabalhos duros e um nível baixo de qualificação (Massey, 1984).

Os estudos em Migrações, além de tender para focalizar nas mobilidades permanentes, começam actualmente a realçar a relativa importância da mobilidade temporária. Bell e Ward (2000), afirmam que os movimentos temporais de pessoas, como o turismo, começaram recentemente a atrair a atenção dos investigadores em migrações. Cada vez mais, num contexto de competitividade das regiões, o desafio consiste em atrair as pessoas móveis sejam elas trabalhadores, estudantes, migrantes ou turistas (Hall, 2005:134). As mobilidades temporárias assim como as migrações permanentes resultam numa redistribuição da população de uma região para outra e são resultantes de motivações e necessidade dos migrantes, estas motivações e necessidades do indivíduo estão no centro da definição do conceito de mobilidade (cf. figura 12).

Figura 12 - Migrações e Mobilidade, Modelos classificados segundo as necessidades dos homens

Necessidades dos homens

Incitações à mobilidade

Fluxos de mobilidade Exemplos

Aspirações sociais e temas de interesse pessoal - Lazer - Passatempos - Melhoramento do estado de saúde - Procura de outro modo de vida - Trabalho e vida no contexto internacional - Migrações na Reforma - Ajuda aos países menos desenvolvidos - Turismo de saúde - Viagens de longa duração - Turismo de lazer - Reformados britânicos e alemães que compram casa na região mediterrânea - Jovens americanos em Praga, Paris ou Amesterdão - Responsáveis de organizações internacionais - Turismo Melhoria do status socio-económico - Diferenças de rendimentos entre as regiões de destino e de origem - Migrantes económicos em que se inserem os migrantes temporários e os migrantes altamente qualificados - Turismo de compras

- Emigração a partir dos países de transição - Migração dos quadros e especialistas

internacionais

- Todo o tipo de turistas Falta de comida, de

roupa, de casa

- Pobreza - Migrantes económicos em que se inserem migrantes permanentes com pouco qualificados - Pequenos

comerciantes transfronteiriços

A maior parte dos fluxos de imigração a partir dos países do 3º mundo e dos países da CEI Segurança e sobrevivência pessoal - Guerra - Guerra civil - Persecução - Catástrofes naturais Refugiados e pedidos de asílio - Refugiados de guerra do Kosovo

- Emigração dos estados comunistas

Fonte: Williams e Bala (2002:39)

Estudar os processos de mobilidade da população implica diferenciar as mobilidades temporárias, nas quais se enquadram o turismo e as migrações temporárias, das mobilidades permanentes. Tal como foi demonstrado em parágrafos anteriores, a dimensão temporal da

mobilidade constitui uma das barreiras que permite a distinção entre os conceitos de turismo e de migrações. A figura 14 apresenta uma comparação entre “migrações permanentes” e “mobilidade temporária”, dois tipos de movimentos com características e implicações diferenciadas.

Figura 13 - Comparação entre migração permanente e mobilidade temporária: conceitos – chave e dimensões

Tipo de movimento Migração permanentes Mobilidade temporária Definição Mudança permanente da

residência habitual

Movimento não permanente com duração variada Conceitos – chave • Residência habitual • Regresso Conceito integral Intenção de não-retorno Menos centralidade

Pode envolver um regresso a ‘casa’

Dimensões – chave • Duração • Frequência • Sazonalidade Relocalização durável Transição simples Variação sazonal menor

A duração da estada varia Geralmente um evento repetido Grande variação sazonal

Fonte: Bell and Ward, 2000:90

Bell and Ward (2000) introduzem, na análise da migração permanente e da mobilidade temporária dois conceitos-chave, “residência habitual” e “regresso”, sendo as características dos movimentos de população estudadas de acordo com estes dois factores. Por exemplo, considera-se que a actividade turística, assim como as migrações temporárias, se situam no campo da mobilidade temporária, pois não implicam uma mudança na residência habitual estando subjacente conceito de regresso no curto prazo. Segundo Behr e Gober (1982), definir a “residência habitual” revela-se cada vez mais difícil, na medida em que existe uma proporção crescente da população que não tem uma residência habitual definida. Além destes conceitos, são introduzidas dimensões tais como a “duração”, a “frequência” e a “sazonalidade” que permitem outra classificação dos movimentos de população.

desenvolvimento de intercâmbios sócio-culturais que provocam um enriquecimento permanente do património social das populações. Ao movimentar-se no espaço e no tempo, as pessoas contribuem para o aparecimento de laços afectivos, alimentados através de processos de comunicação e de contactos periódicos, criando assim redes de pessoas que ultrapassam as fronteiras nacionais.