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O mercado VFA – Visita a Familiares e Amigos

CAPÍTULO 3 MOBILIDADE, TURISMO E MIGRAÇÕES

3.6. TURISMO E MIGRAÇÕES

3.6.2. O mercado VFA – Visita a Familiares e Amigos

O interesse no turismo VFA, de parte da comunidade científica, é relativamente recente, tendo os estudos começado a surgir no início dos anos 1990. Compreender as complexidades e os parâmetros deste mercado turístico tem sido o principal desafio dos investigadores.

Segundo Seaton & Palmer (1997:345), existem consensos de parte dos autores relativamente às seguintes características do mercado VFA:

¬ É uma categoria que está em crescimento permanente em todo o mundo, devido nomeadamente a razões sociais e políticas;

´ ¬ Para alguns destinos, é o principal mercado turístico;

¬ A sua importância ao nível financeiro poderá estar subestimada, em particular para determinados grupos étnicos ou grupos de migrantes.

Seaton (1994:319) divide o mercado VFA em três sub-grupos: os que visitam amigos, os que visitam familiares, e os que visitam familiares e amigos, também explica que, os viajantes orientados para os amigos são mais livres, no que diz respeito à escolha de destino turístico, do que aqueles orientados para a família que têm mais propensão a serem motivados pelo sentido da obrigação. Moscardo et al (2000:251), além de segmentar o mercado VFA segundo o tipo de turista, classifica o mercado VFA com base no tipo de alojamento escolhido pelos viajantes e com base na duração da viajem. Alguns viajantes deste mercado ficam unicamente em casa de familiares e amigos enquanto que outros pernoitam em alojamento comercial.

O mercado VFA é muitas vezes assimilado a um segmento de mercado com impacto económico reduzido não sendo apelativo para os gestores de marketing ficando assim, fora das técnicas tradicionais de marketing do turismo. Duval (2002), admite que, devido ao facto das motivações que movem os turistas VFA serem dispersas, torna-se tarefa difícil elaborar estratégias de marketing eficazes para este mercado ainda misterioso em muitas das suas características. Consequentemente, é assumido que estes turistas não são influenciáveis ou pouco influenciáveis com as técnicas tradicionais de marketing destinadas a aumentar a procura turística. Segundo Hay (1996), uma das razões pelas quais existem poucas campanhas de marketing dirigidas a este mercado, encontra-se no facto deste ser um

mercado-alvo muito difícil de atingir. “Os gestores de marketing assim como as instituições de promoção turística têm vindo assumir, de maneira geral, que os turistas VFA, comparados com os turistas convencionais do turismo de massas, contribuem menos para a economia local do destino” (Duval, 2003:272), isto devido ao facto de não utilizarem, com a mesma intensidade que os turistas de massas, as unidades de alojamento para pernoitarem, os restaurantes e as atracções, não possibilitando receitas turísticas tão elevadas.

Associado tradicionalmente na literatura, às comunidades transnacionais, o mercado VFA é parte integrante do fenómeno migratório e de outros modelos de mobilidade temporária. Williams & Hall (2002) afirmam que o crescimento das migrações permanentes e das comunidades transnacionais geram um potencial significativo para o turismo VFA, e que o modelo que agrega as interligações entre turismo e migrações mostra que os migrantes permanentes têm particularmente apetência para efectuar viagens com destino ao seu país de origem para visitar os seus familiares e amigos. Krakover & Karplus (2002), mostram que “migrantes potenciais” têm muito em comum com os viajantes VFA na medida em que por um lado, ambos obtêm informação através de fontes similares antes de viajar, e que por outro lado, ao chegar, ambos têm a mesma propensão em ficar com amigos e familiares.

No sentido de conhecer melhor o mercado e na tentativa de enquadrar de forma conceptual as visitas a familiares e amigos, surgem várias tipologias de parte da comunidade académica. Por exemplo, Pearce & Moscardo (2005) defendem que o turismo VFA tem 5 características principais tal como demonstra a figura 18.

Figura 18 – Tipologia dos turistas VFR

Fonte: Pearce & Moscardo (2005)

- Motivação: a visita a familiares e amigos pode ser o único motivo de deslocação ou estar inserido num conjunto de motivações;

- Dimensão: a viagem pode ser no país de residência ou para um país estrangeiro;

- Esforço: a viagem pode ser de pequeno-curso (duração inferior a 4 horas) ou de longo-curso;

- Objectivo da visita: o viajante pode querer visitar unicamente amigos, unicamente familiares ou ambos (familiares e amigos).

Quantificar os turistas que se deslocam para determinado destino com o objectivo de visitar familiares e amigos tem sido uma tarefa cumprida nas análises de mercado. Para isso, é simplesmente introduzido nos questionários elaborados junto da procura turística, a categoria “VFA” na escolha das motivações que levaram à tomada de decisão. No entanto, não se encontram aprofundamentos sobre este mercado, em que é necessário compreender os contextos históricos e sociais assim como os processos aos quais estes movimentos de pessoas obedecem. Segundo Duval (2003:24) “apesar destes estudos sobre o mercado VFA terem trazido algum esclarecimento sobre os hábitos de despesas e de turismo dos viajantes VFA, e como tal mostraram sua contribuição económica para este mercado ser digno de uma atenção considerável, a maior parte dos estudos em turismo VFA tendem em focalizar-se em classificações segundo tipologias dos próprios turistas, enquanto que é dada pouca atenção ou é pouco discutida a motivação subjacente a o significado social destas visitas”.

Jackson (1990), elabora um estudo que analisa o mercado VFA e que demonstra que este mercado é largamente subavaliado pelas organizações nacionais do turismo dizendo que estas mesmas organizações têm pouco interesse nos turistas VFA porque não utilizam as facilidades vocacionadas para os turistas, ou seja, a maior parte da oferta da indústria turística. De facto, o principal debate na literatura deste início de século em torno deste tema, centra-se em demonstrar até que ponto é possível assimilar o mercado do “turismo dos migrantes” a uma extensão do mercado VFA, e prende-se ao facto de perceber as motivações exactas que suscitam estas viagens. O estudo de caso que se propõe desenvolver a presente investigação, tem entre outros objectivos, o de determinar as motivações, as actividades exercidas e as despesas efectuadas durante a estada emigrantes na terra de origem, assimilados aos mercado VFA. Através de uma amostragem da população, a análise é feita a partir do tratamento de dados recolhidos através de um questionário administrado junto de emigrantes do concelho de Ílhavo, residentes em diversos países do mundo. Duval (2003) estudou a comunidade emigrante das Caraíbas orientais em Toronto (Canada), e por consequência analisou as suas visitas à região de origem e demonstrou as relações existentes entre o mercado VFA e as diásporas.