• Nenhum resultado encontrado

A evolução da produção de soja no Rio Grande do Sul

2.6 A EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL

2.6.1 A evolução da produção de soja no Rio Grande do Sul

No ano de 1923, chegou a Santa Rosa o pastor evangélico Albert Ernest Henry Lehenbauer, nascido em 1891 na cidade de West Ely, Missouri (EUA). Trouxe consigo uma garrafa com sementes de soja desse país e as distribuiu entre os seus paroquianos, no município de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. Os colonos plantaram e colheram, sem saber direito o que fazer com ela. O pastor sugeriu que a cozinhassem e servissem aos suínos, misturada à “lavagem”. Os colonos continuaram plantando com a mesma finalidade, pois naquele tempo não conhecia outro uso para essa oleaginosa (HEBERLE, 2014).

Uma das grandes transformações ocorridas na agricultura no Estado, iniciada a partir dos anos 50, foi resultado da implantação da chamada Revolução Verde, cujo pacote tecnológico se moldou a partir da distribuição de sementes de variedades de alto rendimento e de um conjunto de práticas de utilização de insumos agrícolas considerados necessários para dar condições para que novas culturas alcançassem níveis satisfatórios de produtividade.

No campo, até o início da década de 50, desenvolvia-se, quase exclusivamente, a pecuária extensiva. Na área de mata, mais fértil, ocupada principalmente por imigrantes europeus e seus descendentes, a atividade econômica básica era a agricultura tradicional, com o objetivo primeiro da produção sendo a alimentação da família e o excedente destinado a comercialização (BRUM, 1988).

Nessa época a população rural era predominante e os centros urbanos eram de pequeno porte. Nesta fase da agricultura tradicional a economia apresentava elevado grau de integração local, tanto em nível de município como em nível de distrito ou povoado.

Conforme Graziano (2003, p. 123) a base técnica da agricultura, no período que compreende dos anos 70 até meados de 84/85, sofre profundas transformações e modernizações devido aos incentivos governamentais do período. Quantias vultosas foram revertidas em investimentos na modernização da produção, ou seja, em inovações mecânicas e físico- químicas.

Particularmente, no caso do Rio Grande do Sul, ocorre durante a década de 70 a formação do aglomerado industrial de máquinas agrícolas na região Noroeste do Estado do RS, pois o mesmo apresentava o ambiente econômico favorável, com importante e crescente mercado baseado na produção de grãos, também havia a pré-existência de uma indústria de implementos agrícolas, com capacidade de reconversão e infraestrutura de ensino voltadas para as necessidades produtivas locais.

Em virtude das características geográficas e climáticas do Rio Grande do Sul, com o decorrer dos anos o Estado se destacou na produção de grãos no Brasil, em particular na produção de soja onde, naturalmente, está entre os três maiores produtores.

Em conformidade Brum et al. (2013), entre as décadas de 1970 e 2012 a produção brasileira de soja cresceu 54,7 vezes ao passar de 1,5 milhão de para 82 milhões de toneladas. No mesmo período, a produção gaúcha aumentou 13 vezes, passando de pouco mais 968 mil toneladas para 12,6 toneladas. Como pode ser visualizado no gráfico a seguir.

Figura 7 – Produção de soja no RS, por mesorregião (toneladas) 1990-2016

Fonte: IBGE – Anuários Estatísticos de 1960 a 1989, Pesquisa Agrícola Municipal 1990 a 2011 e Levantamento Sistemático da Produção Agropecuária 2012 e 2013.

No começo da década de 90, após anos de uso intensivo dos recursos naturais, como o solo, e pelo cultivo sem rotação, os campos gaúchos que outrora se mostraram tão férteis começaram a sofrer as consequências do seu mal-uso com a ocorrência da erosão, desertificação e assoreamento dos rios, fazendo com que a produtividade de soja fosse reduzida drasticamente em todas as regiões que cultivavam este grão naquela época no Rio Grande do Sul.

A abertura comercial da economia brasileira ajudou a impulsionar a melhora de técnicas de produção e gestão das atividades ligadas a produção no campo devido à forte concorrência com produtos internacionais. Após a crise econômica de 1999 atrelada à queda de preços internacionais não foi suficiente para desestimular o setor que, encontrou novas possibilidades de ganhos com o câmbio favorável a partir de 2002.

Analisando o gráfico anterior, pode-se notar que no ano de 2004 a produção de soja no Rio Grande do Sul (em toneladas métricas) nas 7 mesorregiões era: Noroeste 3,9 milhões, Centro Oriental 172 mil, Centro Ocidental 658 mil, Sudeste 109 mil, Sudoeste 357 mil, Nordeste 266 mil e Metropolitana, 24 mil. Ficando evidente a representatividade da região Noroeste, mais tradicional e berço desta cultura no estado.

Durante os anos de 2005 e 2012 o Rio Grande do Sul sofreu com dois períodos de estiagem, que consequentemente, afetaram negativamente a produção de soja nestes períodos citados. Segundo informações do Centro Estadual de Meteorologia (CEMET), no mês de

- 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 12.000.000 14.000.000 16.000.000 18.000.000

Noroeste (RS) Centro Ocidental (RS) Sudoeste (RS) Nordeste (RS) Centro Oriental (RS) Sudeste (RS) Metropolitana (RS)

fevereiro de 2005, período mais intenso da estiagem, houveram precipitações equivalentes a 42% da média para o mês, justamente o período mais crítico para a lavoura de soja.

Comparativamente, o período de estiagem ocorrido em 2012, iniciou antes no mês de novembro, atravessou dezembro e entrou janeiro até chegar em fevereiro do ano seguinte, prejudicando produção de soja e teve como resultado foi que a safra do grão que puxa o agronegócio gaúcho minguou para apenas 2,35 milhões de toneladas - quase cinco vezes menor do que ano anterior em 2011.

Após o ano de 2012, todas as 7 mesorregiões seguiram aumentando os volumes de produção de soja até o ano de 2016, quando registraram: Noroeste 10 milhões, Centro Oriental 904 mil, Centro Ocidental 2 milhões, Sudeste 577 mil, Sudoeste 1,3 milhão, Nordeste 1 milhão e Metropolitana, 266 mil. Isto significa um incremento significativo no período, passando de 5,5 milhões de toneladas de soja em 2004, para 16,2 milhões de toneladas de soja em 2016, ou seja, o volume de soja produzida no Rio Grande do Sul quase triplicou.

Tal aumento na produção de soja, representa um incremento percentual nas mesorregiões na ordem de: Noroeste 153%, Centro Oriental 424%, Centro Ocidental 215%, Sudeste 425%, Sudoeste 264%, Nordeste 293% e Metropolitana, 971%. Apesar do robusto aumento no volume produzido de soja na mesorregião Metropolitana, a mesma ainda é a menor produtora do grão no estado.

Desta maneira a tanto a produção como a área colhida de soja no Rio Grande do Sul pararam de crescer durante as décadas de 80 e 90, ou seja, somente a partir do ano de 2001, nota-se que o estado começa a expandir a sua área colhida de soja, ainda que lentamente, devido a uma série de limitações territoriais existentes, como por exemplo: as fronteiras agrícolas dos cultivos, sendo possível somente expandir em termos de área colhida se ocorrer a substituição das demais culturas e atividades ligadas ao campo pela soja, em diferentes regiões ligadas tanto a agricultura como a pecuária, como pode ser verificado pela análise do gráfico na sequência.

Figura 8 – Área colhida de Soja no RS, por mesorregião (hectares) 1990-2016

Fonte: IBGE – Anuários Estatísticos de 1960 a 1989, Pesquisa Agrícola Municipal 1990 a 2011 e Levantamento Sistemático da Produção Agropecuária 2012 e 2013.

A partir da análise da área colhida de soja nas diferentes mesorregiões do Rio Grande do Sul no gráfico 3 acima, é possível detectar que a partir do ano 2000 começa um movimento de expansão das áreas colhidas de soja em todas as 7 Mesorregiões do estado.

A expansão mais significativa em porcentagem é a da mesorregião Metropolitana, que entre os anos 2004 a 2016 apresentou um aumento de 430%, ou seja, a área colhida de soja nessa região era de 20.133 hectares e passou a ser da ordem de 106.697 hectares. Apesar desta grande expansão, atualmente a mesorregião Metropolitana ainda é a menor em área colhida de soja no RS. Ainda de acordo com o gráfico outras duas mesorregiões registraram expansão da área colhida de soja: Noroeste 10% e Nordeste 78%.

Paralelamente houve expansões significativas da área colhida de soja em outras 4 mesorregiões gaúchas, que são respectivamente: Centro Oriental, Centro Ocidental, Sudeste e Sudoeste. Tais mesorregiões não são tradicionalmente envolvidas com este cultivo, se comparadas a mesorregião Noroeste, berço da produção de soja no estado.

No ano de 2004, as áreas colhidas de soja nas 4 mesorregiões citadas acima eram, respectivamente: Centro Oriental 128.688 hectares; Centro Ocidental 456.695 hectares; Sudeste 81.844 hectares e Sudoeste 342.450 hectares. Considerando que as áreas colhidas de soja nestas 4 mesorregiões seguiram expandindo gradualmente nos anos seguintes, até o ano de 2012 quando esta expansão se acentua chegando no ano de 2016 com os seguintes valores: Centro

- 1.000.000 2.000.000 3.000.000 4.000.000 5.000.000 6.000.000

Noroeste (RS) Centro Ocidental (RS) Sudoeste (RS) Sudeste (RS) Centro Oriental (RS) Nordeste (RS) Metropolitana (RS)

Oriental 295.192 hectares; Centro Ocidental 717.400 hectares; Sudeste 378.365 hectares e Sudoeste 591.187 hectares. Isto significa dizer que estas 4 mesorregiões apresentaram aumento significativo da área colhida de soja na seguinte ordem: Centro Oriental 129%, Centro Ocidental 57%, Sudeste 362% e Sudoeste 72%.

Durante o período analisado, a área colhida de soja no Rio Grande do Sul passou de 3,9 milhões de hectares em 2004, se expandido até atingir a marca de 5,4 milhões de hectares em 2016. O que representa um aumento de 1,5 milhão de hectares, o equivalente à uma expansão territorial de 38,5% na área colhida de soja no Rio Grande do Sul.

Com relação a área colhida de soja no Rio Grande do Sul, em geral o desenvolvimento da soja no território mostra-se heterogêneo, pois o depende de técnicas variadas de produção, além das condições do solo e clima. O fato de diferentes regiões produzirem soja traz efeitos de interdependência, como por exemplo a competição territorial, considerando a expansão da fronteira agrícola ou na associação de cidades para formação de cinturões agrícolas.

Considerando este cenário de avanço da produção de soja no Rio Grande do Sul, o presente estudo fez uso de três indicadores que apontaram em quais dos 497 municípios pesquisados nas sete mesorregiões do Estado esta expansão foi mais significativa. São eles o Quociente Locacional (QL), que mede o grau de especialização na produção de soja das cidades, o índice Hirschman-Herfindahl modificado (HHm), que detecta o grau de concentração da atividade (produção do grão) e, por fim, o grau da Participação Relativa (PR), que indica a proporção que cada localidade tem com relação ao total de área plantada da oleaginosa no Rio Grande do Sul.

Estes três indicadores foram usados de maneira complementar, considerando que cada um possui suas limitações, sendo que a utilização dos demais busca mitigar possíveis distorções que o uso de somente um indicador, de maneira isolada, possa gerar durante o processo de análise dos dados coletados à campo.

Sendo assim, para cada um destes três indicadores usados coletou-se no banco de dados da EMATER os dados referentes a área plantada de soja e a área agropecuária em todos os 497 municípios. Os mesmos foram compilados para o Estado do Rio Grande do Sul entre 2004 e 2017, período de análise no estudo, permitindo a elaboração de um corpo de análise robusto e coeso com mapas, gráficos e tabelas que evidenciem o fenômeno do avanço da produção do grão no Estado gaúcho, auxiliando na resposta aos objetivos específicos, dando suporte e embasamento para responder o objetivo geral, as premissas e a tese.

3 METODOLOGIA

Neste capítulo, são abordados os aspectos metodológicos referentes à pesquisa de campo, o roteiro de visitas aos municípios onde foram realizadas as entrevistas in loco com os produtores de soja em todas as 7 mesorregiões do Rio Grande do Sul.

Documentos relacionados