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2.2 Gestão Ambiental

2.2.1 A Evolução Histórica das Questões Ambientais

Os impactos negativos oriundos das ações do homem sobre o meio ambiente não são recentes. Remontam à própria criação do homem há 10.000 anos em sua busca por sobrevivência e conforto. Existem relatos de que, há 2.000 anos, a antiga civilização romana, jogava lixo e esgoto nos rios e mares. Vale ressaltar que nessa época, as cidades registravam aproximadamente dois milhões de habitantes. Na era moderna, com o advento da Revolução Industrial, os danos ao meio ambiente se acentuaram. Com a produção e consumo em massa aumentando significativamente, houve crescimento da demanda por matéria-prima e, consequentemente, aumento dos resíduos da produção e do consumo que, por sua vez, eram lançados na natureza.

Ao longo do tempo, com a sofisticação da tecnologia ocasionando a produção cada vez maior e o aumento da degradação da natureza, a questão ambiental passou a estar cada vez mais presente nas discussões da sociedade e das organizações. As pressões regulatórias e sociais dos stakeholders, bem como a busca de melhor reputação, imagem e redução de custos acentuaram o debate sobre os impactos das ações das organizações no meio ambiente. O aumento da legislação sobre a questão ambiental fez com que as organizações adotassem ações reativas e corretivas.

Antes dos anos 70, o período foi de reconhecimento dos impactos negativos ao meio ambiente. Nos anos 70 o foco passou a ser o controle reativo. A questão ambiental foi inserida de forma contundente, prioritária e definitiva na agenda internacional a partir da Conferência de Estocolmo em 1972. Essa conferência definiu que o conceito de tecnologia limpa (clean technology) deveria alcançar três propósitos distintos e complementares: diminuir a poluição lançada ao meio ambiente; diminuir a geração de resíduos e consumir menos recursos naturais, principalmente, os não-renováveis. Pela primeira vez, representantes de governos uniram-se para discutir a necessidade de tomar medidas efetivas de controle dos fatores que causam a degradação ambiental.

Na década de 80, época de ocorrência de grandes desastres ambientais como os da Bhopal, Chernobyl e Exxon Valdez, a gestão ambiental passou a ser considerada no âmbito da gestão estratégica das empresas, cujas decisões, integradas à gestão empresarial, podem alcançar vantagens competitivas com redução de custos e incremento nos lucros. A postura organizacional começou a migrar da postura reativa dos anos 70 para uma postura pró-ativa.

Um marco da década de 80 é o documento intitulado “Nosso Futuro Comum” - também conhecido como Relatório Brundtland - elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas. De acordo com a CMMAD (1998), esse documento afirma que o modelo de produção e consumo vigente na época não seria suportado pelo planeta. Deve-se adotar um modelo de desenvolvimento sustentável, definido como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”. Os principais problemas abordados nesse relatório foram desmatamento, pobreza, mudança climática, extinção de espécies, endividamento e destruição da camada de ozônio.

As recomendações do Relatório Brundtland serviram de base para outro importante evento sobre o meio ambiente – a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD, Rio-92), também conhecida como ECO 92, Rio-92, Cúpula ou Cimeira da Terra. Realizou-se no Rio de Janeiro, em junho de 1992, 20 anos após a Conferência de Estocolmo. O principal objetivo da Conferência do Rio seria avaliar como os critérios ambientais haviam sido incorporados nas políticas e no planejamento dos países desde a Conferência de Estocolmo e reforçar a necessidade contundente de se adotar o desenvolvimento sustentável. Resultaram da Conferência Rio-92 importantes documentos: a Carta da Terra, também conhecida como Declaração do Rio; as convenções sobre a Biodsiversidade; Desertificação e Mudanças Climáticas; declaração de princípios sobre as florestas e a Agenda 21 - documento que ressaltou a importância de cada país a se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, organizações não-governamentais e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas socio-ambientais.

Nos anos 90, na busca pelo reconhecimento da qualidade ambiental calcada por atuações responsáveis pelas organizações, importantes conceitos e ferramentas de gestão ambiental foram firmados. Consolidou-se o gerenciamento integrando ações voltadas ao meio-

ambiente, segurança e saúde. Nesse período também se destacou o fortalecimento das ações de auditoria e dos sistemas de gestão ambiental, entre eles, a Norma ISO 14.000.

Nos dias de hoje, a preservação do meio ambiente deixou de ser discurso de ambientalistas, que não aceitam o padrão de consumo atual, alegando esgotamento de recursos e destruição da vida no planeta, para fazer parte das estratégias das organizações. Mais do que realizar ações de preservação e conservação do meio ambiente, a gestão ambiental passou a ser considerada como vantagem competitiva. Souza (2002), confirmando o caráter estratégico adotado pelas organizações nos anos 80, afirma que as questões ambientais tem se tornado cada vez mais relevantes, à medida que representam custos e/ou benefícios, limitações e/ou potencialidades, ameaças e/ou oportunidades para as empresas.

A produção de bens e serviços, sejam para suprir as necessidades humanas básicas ou para satisfazer desejos, acarretam problemas de produção - desde a extração da matéria-prima até a disposição e tratamento dos resíduos pós-consumo. Para auxiliar as organizações na busca pelas soluções desses problemas, apresenta-se então, a necessidade da gestão ambiental empresarial. Para Barbieri (2007, p. 25), os termos administração, gestão do meio ambiente, ou simplesmente, gestão ambiental são entendidos como:

(...) as diretrizes e as atividades administrativas e operacionais, tais como, planejamento, direção, controle, alocação de recursos e outras realizadas com o objetivo de obter efeitos positivos sobre o meio ambiente, quer reduzindo ou eliminando os danos ou problemas causados pelas ações humanas, quer evitando que eles surjam.

No âmbito das organizações, a gestão ambiental empresarial se apresenta como um conjunto de políticas, programas e práticas administrativas (traduzidas em ferramentas) e operacionais que buscam a eliminação, redução e mitigação dos impactos ambientais decorrentes das atividades de planejamento, organização, direção e controle das atividades empresariais, considerando-se todas as fases do ciclo de vida de um produto.