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2. Apresentação do caso de estudo: O Bairro da Torre

2.2 A evolução do lugar

A organização do território no Concelho de Loures evidencia a existência de múltiplas fron- teiras espaciais e sociais. Rápidos olhares sobre mapas históricos, cartas militares e foto- grafias aéreas levam a entender o quanto este conjunto de fronteiras é significativo para a circunscrição dos seus bairros em enclaves de diferentes tipologias urbanísticas: desde as ilegais, como bairros clandestinos e bairros autoproduzidos, até as legais, como os bairros de promoção pública de habitação16. Como já é do conhecimento geral, o nascimento e o

crescimento destas tipologias, que reconfiguraram os Concelho de Lisboa e de Loures, de- vem-se aos grandes fluxos migratórios: um primeiro ocorreu entre o final dos anos 50 e os anos 60 com as migrações de famílias portuguesas do interior do país para o seu litoral, e sobretudo para a capital; um segundo, do pós 25 de Abril até o início dos anos 80, deu-se com o movimento dos retornados da ex-colónias (portugueses e do outras etnias), quer logo depois da descolonização ou após as guerras em alguns países irem se acentuando; e um terceiro, mais recente, entre os finais dos anos oitenta até agora, que descreve o processo de imigração, ainda a decorrer, de trabalhadores oriundos (na sua maioria, PALOPS’s) à procura de trabalho, fugidos de guerras ou de condições económicas difíceis nos seus países de ori- gem (Freitas, 1994).

Assim, no início dos anos 80 havia cerca de 230 mil fogos clandestinos. Foi a partir dos anos 60, nos diversos conselhos da Área Metropolitana de Lisboa, que as Áreas Urbanas de Gé- nese Ilegal (AUGI) começam a aparecer com mais frequência, pela necessidade de habitação para os migrantes que se estabilizavam na Capital e a qual o Estado não conseguia enfrentar, que crescia ao sabor da industrialização do período final do Estado Novo. Estas tipologia urbanísticas surgem portanto, muitas vezes associadas aos processos de industrialização na AML e à afirmação dos processos de suburbanização e metropolização (Cachado, 2011). Observando o mapa das AUGI dos conselhos de Lisboa e Loures (Anexo), repara-se como as AUGI, e com elas, os abarracamentos, localizam-se mais para o norte, afastados do centro da cidade, junto com as linhas de água e as grande obras infraestruturais. Provavelmente, a escolha deste território deve-se também pela proximidade da Estrada Militar. Como afirmado

16 A diferença principal entre as designações bairros sociais e bairros económicos é relacionada com o

Programa e o período histórico no qual surgiram. O conceito de Bairro económico nasce no período do Estado Novo e é o reflexo da sua política. O conceito de Bairro social surge com o Programa Especial de Realojamento-PER. Ambos são Bairros de promoção pública de habitação.

por Rita d'Ávila Cachado “O surgimento de bairros de construção informal nas antigas trinchei- ras da Estrada Militar é uma constante naquela que poderia ser a história da construção infor- mal na AML, sendo um facto que muitas casas puderam ser erigidas devido ao alheamento das autoridades. Assim, controlo e um certo grau de resistência parecem estar em jogo; uma antiga linha de defesa está marcada por milhares de moradores que tiveram, até ao surgi- mento das politicas multiculturais, um acolhimento limitado na cidade onde escolheram morar” (Cachado, 2011). A localização da estrada militar afastada do centro, a facilidade de construir ali pela incerteza sobre quem fosse responsável por estes territórios (“os territórios em cima da Estrada Militar eram de responsabilidade militar ou civil?”) (Cachado, 2011), a dificuldade de vigiar as populações que construíam as próprias casas noite após noite e o facto que estes territórios se localizassem em terrenos de quintas, às vezes em parte abandonados, contri- buíam para o crescimento destes bairros.

A seguir, observando a Carta Antiga de Loures do 1903, nota-se como a mesma zona, no passado, foi ocupada por quintas cuja lógica de implantação deve ter sido impulsionada por diversos fatores, “... a fertilidade das terras, a abundância das águas e a pureza dos ares do campo deram corpo a esta região saloia que, desde D. Afonso Henriques até ao reinado de D. Maria II, se englobou no termo da cidade de Lisboa. Por todas estas razões, muitos monarcas e nobres construíram as suas quintas e palacetes nestas terras, que elegeram como locais de lazer, de descanso e de fuga a doenças e pestes. A evolução da cidade de Lisboa e do seu termo, bem como a crescente importância económica do território, permitiram que, no dia 26 de Julho de 1886, Loures fosse, por decreto real, elevado a Concelho” (Câmara Municipal de Loures).

Isso permite-nos pensar que existe uma relação direta entre a matriz agrícola deste terri- tório e a sua nova conformação em conjunto de enclaves de génese ilegal e que a primeira, influenciou as mesmas tipologias habitacionais dos bairros de génese ilegal, que ainda man- têm um forte carácter agrícola pela presença de elementos arquitectónicos como os pátios e as hortas. Sinal disso são os nomes que uma vez denominavam as quintas e que agora se tornaram os nomes dos bairros de construção informal, onde se inclui a Quinta da Vitória, a Quinta da Fonte, a Quinta do Mocho, etc. Sendo assim, a palavra quinta se perdeu mas foi substituída pela palavra bairro, como é o caso do Bairro da Torre e do Bairro das Loureiras.

Fig6.7.8.9. Diagrama comparativo: individuação das antigas quintas e da Estrada Militar (7) a partir da Carta Antiga de Loures, escala 1/50000, 1903. Fonte: Direção-Geral do Ter- ritório (6). Individuação de: AUGI, Bairros de promoção publica de habitação, bairros au- toproduzidos (9) na Fotografia aérea do 1995 da zona do aeroporto. Fonte: Direção-Geral do Território (8). Alguns destes últimos bairros, nasceram nos terrenos das quintas. To- davia, na Carta Antiga não aparecem todas as quintas obstaculizando o mapeamento de muitos bairros existentes.

Segundo a mesma lógica de ocupação, o Bairro da Torre,17 na freguesia de Camarate,

Unhas e Apelação, no Concelho de Loures, é um núcleo residencial autoproduzido, que se encaixa perfeitamente na caraterização dos enclaves e das quintas apresentada ante- riormente. O Bairro da Torre surge no terreno onde outrora se localizava a Quinta da Torre e a Vila da Torrinha, assim chamadas pela existência de uma antiga torre na propriedade. A construção do Aeroporto Humberto Delgado, a sua ativação em 1942 e construção das infraestruturas necessárias para aceder ao perímetro do aeroporto mudaram a configuração do território a sua volta, do qual também a Quinta da Torre fazia parte e onde, sucessivamen- te, foram construídas, pelo mesmo aeroporto, algumas habitações operárias para os seus trabalhadores. Não se tem conhecimento sobre a data certa de ocupação dos terrenos da Quinta da Torre mas, como representado na Carta Militar do 1991, neste ano, o Bairro da Torre aparece como um assentamento de muitas barracas, construídas principalmente de madeira e lonas de publicidade, onde moravam famílias portuguesas, africanas e roma18.

17 A reconstrução da história do Bairro da Torre baseia-se na interpretação da carta cadastral (1951), da

carta militar (1991), dos ortofotomapas, nas entrevistas informais feitas pessoalmente com os próprios moradores (entre os quais, a representante da associação Torre Amiga, Ricardina Cuthbert ), nas pe- squisas feitas pelo Grupo de Estudos Sócio-Territoriais, Urbanos e de Ação Local (GESTUAL) e nas reuniões com a Associação Habita.

O GESTUAL- Grupo de Estudos Sócio-Territoriais, Urbanos e de Ação Local nasceu informalmente em 2007como grupo de docentes, estudantes e profissionais em torno de um projeto coletivo de in- vestigação sobre os bairros de génese ilegal em Portugal, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e integrado ao CIAUD (Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design) da então FAUTL (Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa atual Universidade de Li- sboa). Oficialmente, em 2013, o Gestual foi oficialmente reconhecido como um Grupo de Investigação da Faculdade de Arquitetura, do qual a professora e arquiteta-urbanista Isabel Raposo è coordenadora. Seguindo uma linha de investigação que se associa à matriz do pensamento crítico de Henri Lefebvre, privilegia a investigação aplicada e a investigação-ação ou a ação-investigação principalmente em lo- cais como os subúrbios, as periferias, os territórios ditos informais, ilegais ou irregulares, classificados como semi-urbanizados ou autoproduzidos, bem como os de promoção pública e outros territórios em transformação, como núcleos históricos ou áreas rurais.

Fig11. Fotografia aérea da zona do Aeroporto de Loures, 1965. Fonte: Direção-Geral do Território 1965

Fig12. Carta Militar, Loures, sem escala, 1991. Fonte: Direção-Geral do Território 1991

Resumidamente, a configuração do Bairro da Torre mudou no decurso do tempo com a chegada das diferentes populações que o compõem. Mas foi com a primeira ação de de- molição de 2006 e com a segunda de 2012 e com os processos de realojamento do Pro- grama Especial de Realojamento (PER) que o bairro sofreu um forte alteração. À se- melhança de outros bairros de barracas, o Bairro da Torre foi inscrito no programa PER, programa legislado no início dos anos 90 que se configura como a política de habitação social de maior calibre depois do SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local), “visando o realojamento de dezenas de milhares de famílias moradoras em casas construídas in- formalmente às portas das grandes cidades nas últimas décadas”19 20 (Cachado, 2011).

As demolições contribuíram para que a configuração da ocupação ficasse ainda mais dispersa e precária pelos estragos causados ás casas, no sistema de esgoto, de eletricidade e de água, tendo destruídos os chafarizes onde a população se abastecia, gerando, portan- to, conflitos entre os moradores. A abertura de uma via, no centro do bairro, para permitir o acesso dos camiões às instalações da Empresa Alves Ribeiro enfatizou a separação do bairro em duas parte, que a partir de agora definiremos como a parte nascente e a parte poente.

19 Segundo afirmado por Rita d’Ávila Cachado, “O PER foi legislado no início dos anos 90 (DL 163/93 de

7 de Maio) e, após a assinatura da decisão governamental, os municípios aliaram-se ao PER através de protocolos com o Instituto Nacional de Habitação (INH), comprometendo-se a realojar as famílias mal alojadas em bairros de habitação social e a demolir as barracas. O município de Loures firmou o seu compromisso em 1995 e, desde então, realojou 2300 agregados familiares em fogos de habitação social, especialmente construídos para o efeito, correspondendo a quase 60% da taxa de concreti- zação” (Cachado, 2011).

20 No seu artigo Rodrigues evidencia que “O Bairro da Torre foi entretanto abrangido pelo PER e os seus

moradores recenseados no âmbito deste programa em 1993 foram realojados no Bairro Quinta das Mós, concluído em 2007. Os moradores que não haviam sido recenseados permanecem no bairro de barracas e têm sido alvo de processos de demolição e expulsão” (Rodrigues, 2014).

Fig13. Diagramas da evolução do Bairro da Torre antes entre e depois das demolições, anos: 2006,2009,2017

2006

2009

Para entender a evolução do bairro, segundo uma linha temporal, será necessário, a seguir, apresentar as perspectivas que repõem no bairro e portanto será clarificado o que prevê o Plano Diretor Municipal de Loures e a situação cadastral.

Hoje em dia, de um ponto de vista legislativo o Plano Diretor Municipal de Loures, ratificado no 14 de Maio de 2015 21, que identifica Camarate como SUOPG 15 (Subunidade Operativa de

Planeamento e Gestão), inscrita no UOPG E-ORIENTAL (Unidade Operativa de Planeamento e Gestão), define, no Artigo 202.º dentro do Conteúdo Programático das SUOPG, os objetivos programáticos da SUOPG15 como “Reconversão e qualificação do tecido urbano de Camarate; a reestruturação do sistema viário interno, com a integração na rede viária municipal e na- cional; a intervenção no solo urbanizado a reestruturar e legalizar, correspondente às AUGI e às áreas suscetíveis de reconversão, garantindo a sua coesão interna e a sua articulação com os restantes espaços urbanizados de Camarate; a renovação e reestruturação do tecido urbano terciário mediante a criação de novos espaços públicos qualificados; a criação de um modelo de rede de equipamentos interligando acessibilidades, transportes públicos e núcleos populacionais; a concretização da estrutura ecológica urbana, promovendo a qualificação ambiental e definição de uma estrutura verde urbana com forte componente de utilização pública” (Câmara Municipal de Loures, 2015).

Na Planta de Ordenamento, o Bairro da Torre é classificado nas Classes e Categoria do Espaço como Solo Urbano (em Anexo) na categoria operativa de Solo Urbanizado na qual se definem, entre outras, as cartas da Classificação e qualificação do Solo, Estrutura Ecológica Municipal, Riscos ao Uso do Solo II e Classificação Acústica. Na carta da Classificação e qualificação do solo, as subcategorias que se enquadram no território do Bairro da Torre são: “indústria e terciário a reestruturar” (dentro da categoria funcional do Espaços de atividades económicas) e “Verde de proteção e enquadramento” (dentro da categoria funcional Espaços Verdes). Na categoria funcional Espaços de atividades económicas, segundo o artigo 80.º, considera-se compatível, entre outros, o uso “Equipamentos de utilização coletiva” e, segundo o Artigo 85.º, entre o âmbito e os objetivos, ”Pretende-se a reestruturação destas áreas através da introdução de no- vos elementos estruturadores do tecido urbano e de intervenções que promovam a demolição de

21 “Deliberação. Revisão do Plano Diretor Municipal de Loures. Diário da República, 2.a série — Nº 117

— 18 de Junho de 2015. Plano Proposta nº 177/2015 — Aprovação da Revisão do Plano Diretor Muni- cipal (PDM). (Aprovação ao abrigo do disposto no nº 1 do artigo 79.o do Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de setembro, conjugado com a alínea r) do nº 1 do artigo 25.o do Anexo I da Lei nº 75/2013, de 12 de setembro). Proposta da Câmara Municipal. 14 de maio de 2015. A Presidente da Assembleia Municipal de Loures, Fernanda Santos“ (Câmara Municipal de Loures, 2015).

elementos degradados ou dissonantes, substituição de usos obsoletos e a melhoria do si- stema viário, dos equipamentos e espaços verdes.” No entanto, na categoria funcional da Secção IV, Espaços Verdes, segundo o artigo 101º, os espaços verdes podem ser, dentro do Âmbito e Identificação, como “Verde de proteção e enquadramento” ou “Verde de recreio e lazer”. Segundo o artigo 102º”, as áreas destinadas a verde de proteção e enquadramento visam funções de proteção a recursos naturais, de transição entre os espaços rural e urbano e de enquadramento a infraestruturas urbanas às quais está associado um regime legal non aedificandi. ”Segundo o artigo 103º, entre os usos, “Nestas áreas, sem prejuízo do regime legal da REN ou de outras servidões e restrições de utilidade pública aplicáveis, é permitida a construção de pequenos equipamentos de recreio e lazer não cobertos, mobiliário urbano e pequenas unidades de restauração e de bebidas e outros serviços de apoio complementa- res”(Câmara Municipal de Loures, 2015).

Sempre dentro das cartas de ordenamento, segundo a Carta da Estrutura Ecológica Municipal (em Anexo) o Bairro da Torre é previsto na estrutura Ecológica Municipal. Pelas plantas de condicionantes, no entanto, o bairro não é incluído nem na RAN (Reserva Agrícola Nacional) e nem na REN (Reserva Ecológica Nacional) (em Anexo). Pela Carta das Condicionantes I, Equipamentos e Infraestruturas, essa área està sujeita à Servidão militar e aeronáutica, ou seja, “Trata-se de uma área restritiva no uso de materiais e construção do espaço público e edificado; é necessário um levantamento topográfico para as entidades responsáveis po- derem verificar se é possível a implementação arquitectónica e se sim, a altura máxima de construção na área de Servidão; qualquer tipo de trabalho deverá ser comunicado à entidade responsável pela Servidão, “a fiscalização de qualquer trabalho é da responsabilidade da en- tidade responsável pela Servidão” (Gestual, 2016).

Segundo a Planta Cadastral do 1951 (Fig10), o Bairro da Torre divide-se em uma parte de terreno público, portanto do Estado, dada a expropriação no ano 1960 (Artigo 25ºD) e uma parte de terreno privado cuja compra foi efetuada em 1959 e depois da qual não se detém outra informação. A parte de terreno público relativo ao artigo 25ºD está sujeito à Servidão das entidades INAC e NAV.

Os acontecimentos do Bairro na última década, entre os quais as demolições e o processo de realojamento, ainda a ocorrer, as intenções do Concelho de Loures entendíveis no Plano Diretor Municipal e a condicionante da Servidão do Aeroporto, são fortes resistências à possi- bilidade de permanência dos moradores do Bairro da Torre.

Além de pretender a erradicação das barracas, através do PER, pretendia-se diminuir a estigmatização social “por via do acesso à habitação condigna, alcançável através da

habitação social. Este objectivo parece decorrer de uma estigmatização apriorística sobre a vida e as condições socioculturais dos moradores dos bairros degradados, que sugere a sobreposição das condições habitacionais deficitárias e de supostas mas condições sociais“. Mas, como já foi plenamente demostrado pela comunidade académica, a segregação espa- cial e social dos bairros de promoção pública de habitação, a dificuldade de enraizamento dos seus moradores, a forte estigmatização em que vivem, vêm acarretar, após o realojamento dos moradores dos bairros autoproduzidos, uma segregação ainda maior. No realojamento, a mudança de casa, desde um bairro para um outro, é feita de forma isolada e não em conjunto com outras famílias, dinâmica que contribui a comprometer os laços sociais entre as pessoas. No caso do Bairro da Torre, ocorreram formas de resistência a estas soluções, estre as quais o retorno dos moradores à sua residência inicial por não ter conseguido se adaptar aos novos contextos.

2.3. Análise do sítio

Analise demográfica e edificado

No Bairro da Torre, hoje em dia, encontra-se uma grande pluralidade cultural pela presença de famílias da comunidade são tomense e de príncipe, cabo-verdiana, rom e portuguesa. No Bairro da Torre morar 189 pessoas22 entre as quais 97 de género masculino e 92 de género fe-

minino, constituindo 55 agregados familiares. Nem todas as famílias têm a própria habitação, portanto, algum agregados familiares partilham a mesma casa, motivo pelo qual podem-se contabilizar 49 núcleos de casas.

As habitações, construídas pelos mesmos moradores, principalmente com tabuas de madei- ra, chapas, lonas de publicidade e só algumas com alvenaria de tijolo, distribuem-se no sítio em forma dispersa e enquanto algumas se localizam próximas de percursos principais, outras aparecem menos acessíveis por serem mais isoladas e escondidas no meio da vegetação. È possível identificar duas tipologias habitacionais: a casa em forma solitária e algumas or- ganizadas por agradados cujas famílias partilham, às vezes, a mesma entrada, os mesmos corredores e os mesmos pátios ou alpendres. Quase todas as casas apresentam problemas de infiltração, mas apenas em 16 foram encontradas patologias graves nas coberturas, as quais, estando em avançado estado de degradação, têm uma alta probabilidade de ruir e causar danos.

Há famílias, dentro do bairro, que dispõem de algumas atividades económicas informais. Existem, portanto, três restaurantes, um espaço de festas, uma oficina mecânica, por isso algumas famílias tiveram que acrescentar ou modificar a habitação, melhorando e embele- zando os seus espaços. Ou outros habitantes se dedicam a diferentes profissões, sendo as mais comuns as voltadas para a construção civil e a limpeza doméstica.

Não todos os fogos dispõem de serviços higiénicos: 25 famílias (ou 82 indivíduos) são, por- tanto, obrigadas a fazer as suas necessidades básicas fora das casas. Aqui, o alpendre, como será aprofundado em seguida, tem um papel fundamental, sendo também usado como espaço onde as pessoas cuidam da própria higiene, portanto, está equipado com uma série de elementos necessários para desempenhar estas funções.

Infraestrutura e problemáticas relacionadas

O Bairro é dotado de uma rede de esgoto (em Anexo) que, após as demolições, apresentou estragos junto com a rede da eletricidade e com alguns chafarizes pré-existentes. Após terem sido fechados temporariamente pela Câmara Municipal de Loures, dois pontos de água fo- ram de seguida reativados pela mesma, um na zona nascente do bairro, um na zona poente, gerando grandes conflitos entre os moradores, por não disponibilizarem água suficiente para responder às necessidades dos moradores.

Para além dos problemas em relação ao esgoto e à rede de água (em Anexo), a questão da falta de energia elétrica foi, provavelmente, um dos piores problemas por comprometer, para além da iluminação das casas, a possibilidade de conservar os alimentos23.

23 Antes das demolições, no âmbito do realojamento do PER, o bairro tinha abastecimento elétrico e

cada casa tinha o próprio contador individual. Desde as últimas demolições, que ocorreram no ano 2012, a empresa EDP cortou a ligação à rede de abastecimento elétrico que restou do antigo bairro.

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