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A exclusividade investigatória criminal da Polícia Judiciária

2 A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO FRENTE O

2.2 A exclusividade investigatória criminal da Polícia Judiciária

Também merece relevo o fato de a Lei Maior ter atribuído a investigação criminal preliminar às Polícias Judiciárias. Não admitindo a realização de investigações por órgãos diversos, além daquelas exceções previstas pela própria lei, que autorizou determinados órgãos administrativos conduzir investigações.

Estes órgãos policiais foram dotados de estrutura e recursos humanos a fim de desempenhar com eficiência e imparcialidade a coleta de provas preliminares. Os delegados e agentes policiais são submetidos a constantes treinamentos de aperfeiçoamento para que possam atuar de maneira correta e eficaz, produzindo assim os resultados esperados pela sociedade.

Destaca-se que tal tarefa é árdua, pois há um contato direto com a criminalidade, exigindo muito dos policiais, que não raras vezes trabalham em condições desumanas, com um imenso acúmulo de trabalho, sofrendo com a falta de investimento na atividade. O que ainda tem provocado certo descrédito na instituição, pois tem seu trabalho rotulado como ineficaz.

Todavia, apesar de os órgãos policiais estarem sobrecarregados de trabalho, com insuficiência de recursos humanos e tecnológicos e baixa remuneração, não é aconselhável dotar outros órgãos de poderes investigatórios, contrariando as disposições constitucionais, sob a alegação de que assim será resolvido o problema da impunidade. É necessária uma política de maior valorização das Polícias e mais investimento nesta atividade.

Além do mais, deve se levar em conta que no sistema acusatório as funções jurisdicionais são divididas entre os diferentes órgãos jurisdicionais. Devendo a investigação preliminar ser realizada por órgão imparcial, respeitando assim todas as garantias constitucionais.

Tendo em vista que a legislação pátria se filia ao modelo acusatório é que ficou estabelecido constitucionalmente que os órgãos encarregados de realizar a apuração de crimes são as Polícias Civis dos Estados e a Polícia Federal, exceto nos casos de crimes militares, e ainda, ressalvada a competência dos órgãos administrativos. Vejamos as lições de Guilherme de Souza Nucci (2012, p. 84).

A Constituição Federal foi clara ao estabelecer as funções da polícia – federal e civil – para investigar e servir de órgão auxiliar do Poder Judiciário – daí o nome polícia judiciária -, na atribuição de apurar a ocorrência e a autoria de crimes e contravenções penais (artigo 144). Ao Ministério Público foi reservada a titularidade da ação penal, ou seja, a exclusividade no seu ajuizamento.

Estes ensinamentos nos reportam a uma análise da redação do artigo 144 da Constituição da República, que deixa explícita a competência investigatória preliminar, quando o legislador constitucional aduz que “a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares”.

Ainda, os parágrafos deste artigo não deixam qualquer dúvida quando instituem as competências investigatórias das polícias judiciárias, estabelecendo que: “§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. [...] §

4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares".

O que se percebe da leitura deste artigo é que não houve nenhuma ressalva com relação ao poder de investigação ao Parquet. Percebe-se que não há qualquer referência ao órgão ministerial. O que permite concluir que as funções do MP são aquelas elencadas no artigo 129 da Carta Magna.

Acerca do tema, importa mencionar o ensinamento de Ada Pellegrini Grinover (apud BITENCOURT, 2011):

Não tenho dúvida de que o desenho constitucional atribui a função de Polícia Judiciária e a apuração das infrações penais à Polícia Federal e às Polícias Civis, sendo que a primeira exerce, com exclusividade, as funções de Polícia Judiciária da União (art. 144). Parece-me evidente, também, que a referida exclusividade se refere à repartição de atribuições entre Polícia da União e Policia Estadual, indicando a indelegabilidade das funções da primeira às Polícias dos Estados.

Assim, deve-se destacar também, que existem outros entes autorizados por lei de realizar investigações. Dentre estes podemos citar: a Receita Federal, Comissões Parlamentares de Inquérito, os Tribunais de Contas, Banco Central, no entanto, estes tem essa atribuição expressa pela própria Constituição, nesse sentido continua a autora supracitada:

A própria Constituição, como é sabido, atribui o poder de investigar a outros órgãos, como as Comissões Parlamentares de Inquérito – CPIs e os tribunais. E também é sabido que não confere expressamente essa função ao MP, sendo oportuno lembrar que as emendas à Constituição de 1988 que pretendiam atribuir funções investigativas penais ao Parquet foram rejeitadas, deixando portanto a salvo a estrutura constitucional acima descrita. (GRINOVER, apud BITENCOURT, 2011)

Ainda, a dispensabilidade do Inquérito Policial não tem qualquer relação com a possibilidade de se buscarem as provas indiciárias de maneira autônoma pelo MP. A possibilidade de o ente ministerial oferecer denúncia sem a presença de expediente policial não autoriza a produção autônoma de provas por este órgão. Deve se levar em conta que poderão ser ajuizadas ações penais embasadas nos indícios colhidos pelos órgãos administrativos, autorizados a realizar procedimentos investigatórios.

Reforçando a idéia de exclusividade investigatória da Polícia Judiciária segue colacionado acórdão da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região:

HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. REPRESENTANTE DOPARQUET (CF, ART. 129). REALIZAÇÃO DIREITA DE PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIOS. NÃO CABIMENTO. POLÍCIA (CF, ART. 144,, § 1º, IV). ORIENTAÇÃO DO PRETÓRIO EXCELSO. - (CF, art. 144, § 1º, IV); - "Pode o Ministério Público, O Ministério Público, como dominus litis, é o verdadeiro das investigações preparatórias da ação penal, cabendo a operacionalização das mesmas, de forma exclusiva, pela polícia Judiciária portanto, presentes as normas do inc. VIII, do art. 129, da CF, requisitar diligências e investigatórias e requisitar a instauração de inquérito policial, indicando os fundamentos jurídicos de suas manisfestações processuais. As diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial deverão ser requisitadas, obviamente, à autoridade policial"(STF - RE 215.301-CE, 2ª Turma, Rel. Min. CARLOSVELLOSOS, informativo-STF 145, DJ 28/05/99, p. 1303); - Diante da falta de atribuição legal ao Ministério Público Federal par promoverdiretamente atos investigastórios, há que ser reconhecida a ilegalidade das provas coligidas, sob pena de violação ao princípio do due process of law. - Habeas corpus concedido. (BRASIL, 2000, grifo nosso)

Percebe-se na ementa acima colacionada, de acordo com a redação constitucional do artigo 144, a operacionalização de investigações é tarefa exclusiva da Polícia Judiciária. Devendo o Ministério Público requisitar a realização das investigações à Polícia, e não realizá-la de forma concorrente.

Portanto, conforme, já referido anteriormente, os órgãos públicos somente podem realizar aquilo que a lei permite. E a investigação criminal autônoma não foi atribuída ao MP.

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